Por Renan Simão
Foto: Sérgio Viana
Sou suspeito para falar do Lucas Santtana. Escutei demais seu último disco desde que saiu nesse ano, “O Deus Que Devasta Mas Também Tem Cura” (2012). Eu vivia um tempo de introspecção, de observação, de ver detalhes de um lugar novo em pessoas novas... Era uma viagem. As letras ora autobiográficas ora sensoriais me levavam para espaços que nunca tinha visto, mas que geravam uma identificação. E tudo isso voltou quando vi da primeira fileira o show de Lucas na Virada de Botucatu, no teatro Paratodos (que nome para um teatro...). A vida tinha mudado, mas as canções reproduzidas pela Seleção Natural, banda de Lucas, retomavam um vazio de um tempo que não volta mais, percepções que tem fins em si próprias, mas que no fundo da mente encontram seu lugar para descansar e voltar à vida quando se encontram com algum estímulo. Nesse caso foi a música daquela noite.
Triste e esperançosa, a faixa-título abriu o show como abre o disco. Memórias me vêm do vidro do ônibus de madrugada quando não conseguia enxergar a paisagem, somente via um jardim: “Há de florescer o jardim de plantas e papeis”.
“Músico” e “Jogos Madrugais” me remetem a pessoas, toques, vozes e sorrisos. As sensações afloram e a memória implacável reproduz cada reflexo de movimento vivido. Pensava: “que merda de nostalgia”. Quando vi Lucas sorrindo para o lado direito do teatro, surpreso, olhei para trás e vi que as fileiras do local haviam virado pista de dança. Não se importando com as regras ou com olhares reprovadores, moleques, como eu, dançavam. “Era isso”, pensei e sorri.
Fui lá. Rolava agora “Who can say which way”, de Sem Nostalgia (2009), e o “go go go” do refrão era o que eles pediam para dançar. A sensação de estar bem era geral. Indies e criancinhas deixando-se levar pelo som e querendo ser ridículos. Depois veio “Dia de Furar Onda no Mar”, um sambinha sobre um dia na praia com os filhos quando as obrigações não existem e o tempo passa espaçado.
A partir daí o tempo passa diferente, vocês sabem. As memórias se confundem com a realidade e o sorriso é o que sobra. “É sempre bom se lembrar” e “Para onde irá essa noite” pareciam acalmar uns sentidos e acordar outros. São baladas tristes, românticas e sujadas pelos sintetizadores. “Se pá Ska Pá”, cruel e atraente volta com o ritmo e a frase “Eu disse sós, não disse sozinho” gera mais um fragmento de história que não volta: saudade.
No meio da música, o Bodão fala que temos que ir. A obrigação interrompe a torrente de memória, realidade e prazer. Tínhamos que entrevistar Luiz Melodia que tocaria dali a meia hora. Pedi para esperar por mais uma música. Passou rápido. Hesitei por mais um momento e disse, resignado: “Merda, vâmo”.
Antes do show, Lucas me disse que ao ler Grande Sertão Veredas de Guimarães Rosa, ele se sentia como um cangaceiro, sempre uma frase do livro na cabeça quando percorria caminhos difíceis. E lembrei dela. Tive que ir, o som rolando, eu cantando, saindo do teatro e virando a esquina com apenas uma certeza na cabeça: “O que deus quer da gente é coragem”.
Pô, parece até que eu acabei com o barato total ahhahaha.. Massa mano! é nóis!
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