Visitantes da Quarta Dimensão

10 de julho de 2011
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Guarda-roupa relido. Coletes, botons, chapéus, jaquetas de couro. Combinações indies de estilos e músicas. Pegada mais desses street rock limpinho-dançantes do que tropical. Abrigados no ambiente rústico do Shiva, os Visitantes tocaram após a discotecagem do Árido Groove, representado por Segal. Visitantes desta (quarta) Quarta Dimensão, eles trazem no nome de batismo o caminho que todas as bandas fazem, de cidade em cidade, de palco em palco, visitando platéias e seguindo pela estrada em uma nova visita.

Lutando contra o frio, a animação dessa vez estava não estava – como de costume – concentrada nos colados ao palco; mas ao fundo, na área de fumantes, que saltava e pirava em certas músicas.

Sucesso é “Castelinho”...
“...DA RUA APÁÁÁÁÁ”.

Aliás, sucesso desses que não permitem, depois de uma audição, continuar a viver sem se pegar cantando o começo da música.

Intervalo durante o show, discotecagem. Depois de uma pequena pausa, os integrantes do Visitantes retornaram ao palco com o tema instrumental “Jambo!”, que tá rolando na MTV. Preparada, a casa estava para os roquinhos, com passinhos prontos e cabelos esvoaçantes nas cabeças das meninas. E, lá no palco, vez em quando, em roques mais corporais, os Visitantes perdiam o controle sobre seus corpos sob influência de seus instrumentos. Junto às meninas descabeladas estavam alguns representantes da organização e apoios do ENEA Bauru – fazendo barulho, pra variar.

Depois do show (e de mais Árido Groove), restaram os ecos chiclete de quem não conseguiu parar de repetir o “Castelinho” e seu “pam-pam-pam” antes da noite acabar.


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Dança dos Trompetes

3 de julho de 2011
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Por Laís Semis
Fotos por Diogo Zambello

Dois meses se passaram desde a última Noite Fora do Eixo ao Extremo bauruense. E agora com o Clarence Full Dead no palco...

- Aqui na frente é só bagunça!

O pedido foi atendido assim que os primeiros acordes saíram das caixas de som. Era uma bagunça, uma movimentação intensa, uma dança de moléculas aquecidas incontroláveis formando uma rodinha punk.

A casa estava ensurdecedora. Vi moicanos, franjões e uns penteados mais roots.
No palco, o rock na frente, os trompetes e saxofone ao fundo, alinhados.

O que tava rolando era uma noite de extrema energia. Quando o vocalista soltou um “vamos agitar?”, tive receio das proporções que o agito poderia tomar. Não deu outra.

Boa parte da balada aderiu a rodinha próxima ao palco. Fãs da banda, que por ser da cidade e por estar aí desde 98 fazendo som, trouxeram bastante gente pra casa, gente que tentava fazer mais barulho do que as caixas de som. E o que pareciam sibilos de letras, na verdade eram gritos vindos do estômago por fãs fora de si.

Algumas músicas eram mais rock. Mas outras abusaram de elementos desses que fazem o corpo ganhar vida.

A blusa amarrada na cintura do vocalista dava um ar mais noventista ao ambiente. A rodinha punk em partes de músicas se dissolvia para erguer as mãos em discurso de promessas ou de convencimento e vomitar letras do fundo dos pulmões. Os ápices da agitação ficaram por conta dos trompetes.

Ficou claro que tinha muito fã dedicado do Clarence Full Dead ali. A banda sabia bem. “Ah, isso aqui faz valer a pena sair de casa, sem vocês a gente não seria nada! Valeu vocês, de coração, de coração.”

Loucura.
As luzes do palco se apagaram.



Dejavu
Por João Paloso

Já estive aqui antes. Nessa mesma ciranda de maluco.
Com esses mesmos malucos. Com essa mesma energia.
Flash-back.
Fritei minha cabeça ontem.

Clarence Full Dead me fez viajar no tempo.

Cá estou eu, pedalando minha bike, sentindo a brisa no rosto.
Fones no ouvido. Hardcore no ar. O destino é a Lua.
Meus amigos também tão aqui.
Com a mesma garrafa na mão. Com a mesma vontade de fuder com tudo.
Alguém botou um ska. Chamei uma mina pra dançar.
Alguém soltou um reggae. Fumaça no ar. Um reggae pra relaxar.
Uma pankadaria pra bater a cabeça e lembrar que a vida ainda é extrema.
Tudo vale a pena quando a alma não é pequena.
Fala ae, De Buenas...


Os drags voltaram, nós suamos de novo!


Por Guilherme ‘De Buenas’
(com impressões de Laís Bellini)

Uma vez eu ganhei uma camiseta legal.

Massa, felicidade. Devia ser cara só porque tinha uma logomarquinha anexada.

Comecinho de julho de Dois mil e onze. Eis que os jovens caboclos daquela tal de Lisabi aportavam mais uma vez na sesmaria bauruense. Eu, que tive o nobre prazer de acompanhá-los no show do Grito Rock deste ano, já conhecia a potência sonora dos rapazes.

(o show dos caras no Grito Rock foi muita loucura... no dia. Eu cobria a banda que até então era mais uma ali entre tantas. Fiquei de cara com o show. Tá tudo aqui: Os drags voltavam!)

Fui pro show. Era a pegada do sabadão.
Numa boa, sem caô. Já que eu tinha uma camiseta legal, por que não utilizá-la.
Primeiro show, Clarence Full Dead ... Fera. Entretanto, as impressões ficam por outras mãos.

Intervalo. Ótima hora para trocar uma ideia com uma galera responsa, nego que sabe de onde e para onde ir. O Enxame tem lá também seus grandes vícios, dentre os quais, conglomerar uma galera inteligente que faz com que você não se canse do papo. O grande problema é quando o show tem lá seu início. Eu sabia pra onde ir, a frente me chamava.

Contagiante é coisa pouca.
A banda Lisabi retornava com grande estilo a nossos palcos.
Um integrante a menos, a mesma energia de antes.

(um integrante a menos, o público sentiu falta, o De Buenas gritou perguntando pelo cara... “cadê, ta faltando um!”, e o show mal tinha começado. Os caras mostraram que a energia ta ali ainda, mesmo faltando esse um!)

O som dos caras entrava por um ouvido e insistia em não sair pelo outro. Não vou mentir, meu inglês nunca foi lá o ápice de minhas virtudes, mas naquele momento, ele não fazia falta. Eu SENTIA o show. Letra, melodia e vibração. Tudo reverberando numa boa.

(é, o inglês deles é frenético. Meu inglês não alcançou, mas me diverti e entendi o que podia! Adorava quando eles piravam em mais de um instrumento ao mesmo tempo... guita e teclado com o cabelo, por exemplo! Demais!)


A grande roda abriu.
Não aquela dos festejos juninos, mas o bate-cabeça comum-contemporâneo-da sonzera.
Eu estava com aquela camiseta legal. Imagine que eu iria suar a minha camiseta de patrão naquela situação. Deu a lógica, caí pra dentro. O som começou a fazer mais sentido com toda aquela galera vibrando na mesma frequência e aproveitando da mesma forma. Eu pedi “Share”, música que aprendi no Grito Rock e aglutinei para minha coletânea das melhores músicas das melhores bandas que já passaram por cá. A camiseta, claro, recebeu lá sua dose de suor. Suor, som e sinestesia.



(O ‘De Buenas’ jogou o casaco dele pra mim. Tirou a camisa e rodou pra cima. Eu estava prestando a atenção no show enquanto ele estava se divertindo. Duas visões. Ele foi o responsável por criar muitas das rodas que existiram ali. Chamou o B.O., chamou o Mel, que geralmente são mais quietos nessas situações. Todos que estavam parados foram tomados pela contagiante empolgação do De Buenas, todos partiram pro bate-cabeça. Eu me diverti vendo tudo aquilo de longe. Estava demais.)

Vibração pro ar e som com qualidade.

(Batidas frenéticas, um ska que atordoa!)

Parabéns aos nobres companheiros da Lisabi, não pelo som, mas por todo o transtorno sonoro que vocês causam, causaram e causarão nessa tal de Bauru. Que a turnê que se inicia nesse espaço dos dias que nunca se vão, seja frenética. Com ou sem um integrante, a banda deve seguir sua epopéia jogando para frente ótimas vibrações e fazendo com que o ciclo se complete e muitas camisetas voltem suadas e dirijam-se às máquinas de lavar.

(Todas as roupas de ontem foram pra máquina. Todas as músicas e todas as pessoas também. Uma lambança de som, homens, mulheres e calor. Batemos tudo junto ontem e deu uma pira de Lisabi novamente por Bauru. A gente espera a próxima vinda dos drags pra suar mais e bater mais cabeças).


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Vamos mexer Bauru!

1 de julho de 2011
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Por Aline Ramos
Fotos por Jorge Raulli

Quarta é dia de alcançar a Quarta Dimensão no Shiva Bar. E não foi diferente no último dia 29 de junho. O dia mais frio dos últimos 11 anos em Bauru terminou aquecido para quem esteve na terceira edição do evento que contou com a participação de Johnny Sue (Araraquara/SP) e Juca Culatra e os Piranhas Preta (Belém/PA).

Entre muitos rostos conhecidos e outros nem tanto, era possível ver de longe uma toca listrada com as cores vermelho, amarelo e verde. Ela passeava de um canto a outro do bar, enquanto seu dono com uma câmera na mão registrava cada momento, sorria, brincava e cumprimentava quem estivesse no caminho. O clima pro show que o Juca faria logo depois, estava sendo preparado por ele mesmo. Mas também pela discotecagem da noite, que estava por conta do Coletivo Árido Groove.

Foi em meio a bons drinks, copos de cerveja, sorrisos, flertes, conversa, muita conversa, que Johnny Sue subiu ao palco. Com um jeito meio tímido de quem tá fora de casa, Ekena apresentou sua voz e silenciou algumas rodinhas. Johnny Sue não é só a voz da moça de nome estranho e com um alargador enorme com um violão em mãos. Johnny Sue também é Miguel (baixo), Péricles (bateria) e Cássio (percussão) fazendo um som folk indie.



A banda de nome que homenageia uma de suas maiores influências, Johnny Cash, tocou para ouvidos atentos o show intitulado “The Pockets of my Dresses”. Johnny Sue apresentou um repertório autoral que fala de amor e das idas e vindas dos relacionamentos humanos. Agradou aos ouvidos e nos fez sentir em casa. Ou melhor, criou um ambiente de churrasco entre amigos e família, que por ironia é o momento em que as principais decisões da banda são tomadas, como conta uma sorridente Ekena. Com um ano de banda, Johnny Sue já tem EP e já foi pro estúdio gravar seu primeiro CD. O lançamento está para outubro desse ano.


A discotecagem de Leandro Fontana volta a tomar o ambiente do Shiva. Sua base era o afrobeat com uma mistura de bandas de jazz, funk e dub. Tudo com muito metal, muito mesmo. E segundo Leandro, a escolha foi feita para “entrar no clima do Juca”. E este por sua vez, fazia seu aquecimento logo ao lado do palco. Com uma camisa da seleção brasileira, Juca mais parecia se aquecer para uma partida de futebol. Aquele era o Aquecimento Culatral, “fundamental antes de qualquer show”, afirma Juca.

Logo em seguida com um só salto Juca pula pro palco e a banda começa a tocar. A dúvida que logo surge é se Os Piranhas Preta acompanham o ritmo de Juca, ou o contrário. Ninguém precisa responder, o grupo mostra que um complementa o outro. O reggae, ska e dub tomaram conta do ambiente, os corpos íam e voltavam, os ombros se balançavam. E eis que Juca começou: “criolo doido, muito doido da cabeça... criolo doido doido doido”. Quem não conhecia, ficou intrigado com os gestos e caretas de Juca, mas para quem já tinha acompanhado a apresentação no Grito Rock 2010 sabia que aquilo era o Juca sentindo o que cantava.
Com letras que criticam a degradação do meio ambiente, a situação política no país e com mensagens de verdade, amor e paz, Juca lançou um “viva a Marcha da Liberdade!”. Logo um público fiel tomou a frente do palco que não arredou dali até o fim do show. Acompanharam a loucura de Juca, dançaram, ouviram suas músicas autorais e um cover de “Loirinha Americana” da banda Mundo Livre S/A.



Mas o clímax foi alcançado quando Juca perguntou “E para presidente do Brasil o que? O que?”. No que foi respondido “Juca Culatraaaaa”. Distribuiu CDs entre a plateia dizendo que como “bom político” estava comprando o voto da galera. Cantou “Amanhã vou me candidatar” e no final deu o toque: “fica a crítica pra quem vota sem consciência”. E foi na euforia que estava banda e público que Juca derrubou algumas garrafas do palco. Mas naquela altura do show ninguém se importou, tudo era festa. A plateia bateu palma. Juca cantou mais, brincou de estátua, mas também pediu para Bauru se mexer e se mexeu junto.

Visceral, palavra que não saiu da minha cabeça durante todo o show. E também é a palavra que continuou ao ouvir de Juca que vir para Bauru pela segunda vez e saber que havia uma galera aguardando por isso é saber que o “negócio” está funcionando. E sobre a sua crítica, Juca simplesmente resume que essa é a sua forma de se comunicar. “Cada um tem a sua maneira de falar, a minha é a música”. Visceral!



E se você perdeu tudo isso, o Juca colocou o áudio do show inteiro aqui.

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