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Sobre gritos, porões e autenticidade

12 de setembro de 2011
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Foto por Paula Mello, Gabriel Coiso e Marco Milani
Texto por Aline Ramos, Jayme Rosica e Paula Mello

Aline: Pé na estrada. Bauru cada vez mais ficava distante. Eu e o Jayme seguíamos rumo a Marilia. Uma noite de muita pedrada nos aguardava na 12ª edição do HC na Cidade.

Jayme: Ao chegar na casa onde rolaria o som, o Cão Pererê, fomos muito bem recepcionados pelo pessoal do Coletivo Desdobra, galera muito gente boa, além do pessoal de Assis que também veio contribuir com a cobertura.




Aline: Só pra lembrar, antes que todos eles, um gato nos disse oi logo quando adentramos o lugar. Mas saiu correndo, não deu tempo de perguntar seu nome. Só sei que era preto.

Jayme: O Cão Pererê é um lugar com cara de hardcore, um ambiente num estilo underground, com três níveis. Chegando pela porta o andar térreo é bem aconchegante, com algumas mesas e um balcão para se adquirir a passagem do estado sóbrio para o alcoolizado.

Paula: E nesse mesmo bar, rolava uma exposição. Quem entrava no 12º HC na Cidade já se deparava com o clima do evento exposto além do som. Literalmente, os três artistas convidados, Denão, Digão e Rodrigo Salomão, tatuaram as paredes do Cão Pererê. Traços feitos por agulhas estavam ali em quadros, ilustrações, desenhos, body suits, stencils. E nos corpos de muitos presentes. Por que não? A interação das artes gritava e ecoava com os ritmos intensos e não parava nas pausas para aguardar o próximo show. Não dava pra passar batido por tanta tinta, tanta vida e no decorrer da noite descobria-se um detalhe, uma cor, uma nota. Técnicas e escolas diferentes se misturavam em trabalhos autorais bem marcados. O espaço aberto não só para ver, mas também sentir. As pulsações e expressões que não se limitaram a uma plataforma, um título.



Jayme: A confluência das linguagens dava uma sensação de movimento. Nas laterais duas escadas, uma para um andar de cima, onde fica o palco, e a outra levava para o porão, funcionando como um portal de passagem para o mundo da cobertura colaborativa onde rolava a troca de ideias e onde o pessoal fritava na cobertura via Twitter e Facebook.




Aline: Logo me senti em casa. Um porão com tanta cara, com tanta opinião. Lá tinha sido o Cola Aqui que a Paula já havia me contado. Aquele lugar tinha personalidade. Aceitava tudo, conversas, livros, música, pessoas, arte e até uma sessão amadora de fotos “a la book” da banda Epcos.



Jayme: Mas falando agora propriamente dos shows a primeira banda a entrar em cena foi a D.O.S. conterrâneos de Bauru. Uma velha conhecida da cena da música extrema, que existe desde 1999, segundo me contava o guitarrista Virtu, “essa idéia de dar espaço para a barulheira é muito boa, esse som dificilmente arrumaria espaço sem essa iniciativa dos coletivos.”


A apresentação foi insana, a gritaria e a pancadaria musical soavam uma sincronia perfeita, servindo como uma abertura perfeita para o que ainda viria pela noite.

Aline: Quando subi um pouquinho no show deles, logo ouvi “Que goela é essa?”, acho que resume a reação da galera.




Paula: É mesmo, o pessoal fica atônito. Tentando entender, sacar qual é a do som.

Aline: E você reparou nas garrafinhas de água? Será que alguém pegou isso nas fotos?

Paula: É mesmo, show regado a água. A graça era o cantil.

Jayme: Na sequência, a Zefirina Bomba subiu ao palco, tocando seu som simples e direto, com muita interação com o público, contando diversas histórias e mandando um discurso politizado a respeito da atual situação de letargia do país.



Em certas bandas, acho que isso soa meio demagógico. Porém, com a Zefirina percebe-se que isso é algo que representa uma grande autenticidade da banda que demonstra levar mesmo a série a vertente política e ideológica.




Não posso deixar de registrar que achei o show fantástico. A banda mandou sons rápidos, às vezes emendando uma música na outra, empolgando o público, não conseguia manter atenção em mais nada além da energia que esbanjavam. O encerramento foi com um cover de Nirvana, justamente com a maior porradaria já criado pela banda de Seattle, “Territorial Pissings”.

Aline: E logo em seguida subiu a EPCOS no palco do Cão Pererê. O trocadilho de que o show foi épico é inevitável. Com uma proposta diferente, o som instrumental de Johnny Guit (guitarra), Thiago Correia (Contra-Baixo) e Rodrigo Correia (Bateria) não precisava de voz pra dizer. A todo momento me questionava pra onde corriam. O som progressivo cada vez mais me deixava ansiosa. Alguma coisa estava para acontecer, era preciso correr junto para acompanhar.



Chegaram com “Expresso Dinamite”, nos mostraram “Horizonte” e homenagearam o Baião com “Catuama Beach”. E foi na música seguinte que entendi o que estava para irromper. Quando não era mais possível enxergar os dedos que percorriam o contra-baixo, quando a bateria gritava, a guitarra que dava graça a tudo aquilo, decidiu piar. O ampli com mal contato, não sei bem, não permitia que Johnny executasse aquilo que tanto queria, tocar! Mesmo assim o show continuou, os gêmeos epcos seguraram a barra. Arriscaram mais uma. Johnny anunciou que não dava mais. Quando vi, sua guitarra estava no chão. “No penúltimo show da turnê, a primeira vez que dá problema. Mas faz parte”, explicou depois do show.



Paula: Você já viu? Acho que a Minutos Menores começa daqui a pouco Aline.



Aline: Dificil mesmo seria ser simples para a Minutos Menores. Não que haja muita invenção em cima de suas músicas. Como eles mesmos dizem, “hard core old school”. Mesmo que menores, os minutos são intensos. O público mais ainda. O pogo começou, alguns bauruenses perdidos no meio me faziam lembrar do show na cidade sem limites no mês passado. A galera fritando no bate cabeça, o vocalista Diego Max se entregando, não resisti. Entrei. E entendi tudo, não era uma questão de violência como há quem queira estereotipar, mas sim, de uma dança que expressa tudo o que se queira dizer. Como diz uma das músicas do Planet Hemp, “atitude e HC”. As meninas pediram “mais um”, os minutos ficaram maiores. Não havia jeito melhor pra acabar um show de hard core.


Paula: Aline, tem uma foto muito da hora sua na hora que você entrou na roda.



Aline: Opa, foi genial, há tempos que queria isso.

Jayme: Cabeças pensando juntas, pensam melhor. Uma noite de bom som, de boas lembranças e de bons frutos, é a somatória geral do encontro entre a cidade-sanduíche e a terra da bolacha.

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