Bastidores de um sábado na OAB

31 de maio de 2012
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Por Jaderson Souza
Foto: Renan Simão

Quando estava descendo a rua de casa em direção à sede bauruense da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) para acompanhar a visita do ministro do Esporte Aldo Rebelo, duas coisas me passavam pela cabeça: o que um ministro fazia em uma cidade de interior em pleno sábado à tarde e onde estavam as pessoas que fariam o protesto contra o novo Código Florestal? (Código esse que sofrera 12 vetos da presidente Dilma Rousseff, segundo anúncio feito no dia anterior). 

Na entrada da OAB, várias pessoas já estavam à espera do evento: advogados (obviamente), políticos, jornalistas e esportistas. Em um canto, estavam algumas atletas de futebol do Palmeiras. Anne Barros, uma das jogadoras, conta que o time veio saber do ministro a respeito da possível organização, com parceria do governo federal, de um campeonato de futebol feminino para o segundo semestre. Quando pergunto sobre a esperança que elas têm de que isso aconteça, algumas suspiram com um ar de desilusão. Daqueles de quem já escutou esse tipo de promessa, mas que não a viu cumprida. 

Assim como as meninas palmeirenses, todos que estavam ali provavelmente tinham algum tipo de interesse, seja ele de natureza nobre ou não. Até aquele momento, nenhum sinal de Aldo Rebelo e nem dos manifestantes. 

Como o ministro não chegava, fui para a rua. Perguntei a duas jovens se elas sabiam de algo sobre o protesto. Elas respondem que vieram justamente para o ato, mas que ainda não haviam encontrado ninguém. Foi quando o celular de uma delas tocou; do outro lado da linha, alguém avisando que a concentração de manifestantes estava na Praça da Paz. Eram pouco mais de 10 pessoas pintando faixas, fazendo cartazes e construindo cornetas a partir de garrafas plásticas. Como já foi dito, o ato seria um protesto contra o novo Código Florestal cujo relator do projeto de lei foi o próprio Rebelo, quando ainda era deputado. 

Antes da chegada do ministro, uma cena emblemática: já na frente da OAB, duas senhoras se dirigem a uma manifestante e perguntam a razão do protesto. Mal ouve o motivo do ato, uma delas responde de forma arrogante: 

- Mas os ambientalistas que eram contra o código ficaram satisfeitos com os vetos. 

- Não é bem assim – explicou a moça. 

- E outra coisa, o Aldo veio pra Bauru pra falar sobre a Copa – desconversou a distinta senhora. 

Antes que a moça pudesse responder, a senhora foi embora deixando a jovem falando sozinha. Não sem antes dar uma baforada no rosto da manifestante e jogar sua bituca de cigarro e seu copinho vazio de café no chão. Nas entrelinhas, parece que ela queria dizer: “ambientalistas, olha o que eu penso de vocês”. Realmente, já sabemos o que ela pensa. 

Com uma hora e meia de atraso em relação ao horário anunciado (16 horas), Aldo Rebelo chega à OAB e é “recepcionado” pelos manifestantes. Ele veio à cidade para falar sobre a Copa do Mundo de 2014: como anda o cronograma das obras, o tal legado que a competição trará ao país e aquela conversa que você já deve ter visto na televisão. Essa visita tem mais a ver com a pretensão de Bauru em ser uma subsede durante a Copa: durante a competição, uma seleção participante poderia se instalar por aqui. Pensando bem, a Copa também poderia ser uma fonte para protestos. Não se esqueça das obras atrasadas e de valor superfaturado. O ministro não é um cara de sorte. Sai de um problema para cair em outro. 

No final do evento, foi servido um pequeno coffee break para os presentes. Na verdade, para mim, era uma refeição farta se for considerada a fome. O momento da comida é legal porque é a hora em que todas as pessoas se igualam, desde a esnobe madame até o pobre estudante (quem será esse cara hein?). Enquanto isso, o ministro conversava com as jogadoras do Palmeiras, aquelas citadas no início do texto. Talvez ele estivesse esclarecendo a história do campeonato de futebol feminino, talvez ele estivesse fazendo promessa mesmo. 

Saindo do OAB, Aldo percebeu que o grupo de 10 manifestantes tinha aumentado. Mais pessoas chegaram para protestar e de forma mais veemente (no total, eram pouco mais de 20 pessoas protestando). Nessa hora, o ministro é “ovacionado” por um dos presentes. Para quem ainda não sabe da história, um dos manifestantes tentou atirou três ovos na direção de Rebelo. Ele errou todas as tentativas e a passagem de Aldo em terras bauruenses ganhou os jornais. Realmente, o ministro não é um cara de sorte. Para alguns tantos, talvez não a mereça ter.

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SEDA | #Pós-TV

fotos e texto por Jessica Mobílio

Código Florestal, Rio+20 e cerrado bauruense, os temas da #Pós-TV que encerraram a SEDA 2012.

Dentre a polêmica do "VETA, Dilma" ou "VETA TUDO, Dilma" que infestaram as redes sociais nos últimos dias, chegamos ao Enxame Coletivo para debater o Código Florestal. "Afinal, como conscientizar as pessoas do que está acontecendo?", disse Katarini Miguel, jornalista ambiental.


Antes de entrarmos na Pós-TV é importante lembrar que a presidente Dilma Rousseff vetou 12 itens e fez 30 alterações na redação do novo Código Florestal e espera conciliar o crescimento do país com o meio ambiente.

1,2,3 no ar...

Bauru foi colocada em primeiro plano da discussão, já que possui áreas de preservação do Bioma Cerrado. Mesmo sem relação direta com o Código Florestal, as terras têm sofrido repressão por parte de empreendedores locais e constantes incêndios (criminosos ou não). Os movimentos Acorda Bauru e o SOS Cerrado trabalham para conter o uso indevido das áreas preservadas. 

A vinda do ministro do Esporte foi lembrada por Camila Turtelli, antes deste programa ir ao ar, Aldo Rebelo (que também foi relator do novo projeto do Código Florestal) foi recebido com 'ovos e protestos' na OAB da cidade. Os manifestantes organizaram o protesto através das redes sociais, poucos compareceram a ação, mas foi o suficiente para abalar uma visita de rotina.

Rio+20conferência sobre desenvolvimento sustentável, foi divergência entre os convidados. Alguns acreditam que seja a hora mais oportuna para apresentar soluções e outros lembraram do impasse das últimas conferências ambientais. Paralela a conferência Rio+20 que abraça a "economia verde", acontece a Cúpula dos Povos de 15 a 23 de junho. Renata Takashi lembrou da expectativa desse evento para pressionar os debates da Rio+20.

Durante a Pós-TV, os internautas lançaram questões via internet, "e como fica a situação de Bauru em relação ao código?" e "o que fazer a partir de agora com os vetos parciais?".

Relembre trechos da Pós-TV:

"O novo Código Florestal oferece anistia aos desmatadores. Diminui as áreas de preservação legal, dando aos proprietários a não obrigatoriedade de recuperar as terras que sofreram desmatamento. O veto parcial ao código é uma resposta à população e a Rio+20", enfatizou Katarini.

"O único veto que imagino é o restabelecimento do tamanho das áreas de preservação permanente. Que isso não seja um veto, mas uma ressalva. O código foi bem amarrado para não sofrer alterações", Clodoaldo Gazetta do PV.

"Faltam pessoas e equipamentos para fiscalização do código que já existia. Se o foco da discussão fosse a busca por uma política ambiental rumo ao desenvolvimento sustentável do Brasil, seria diferente", Renata Takashi, ONG Vidágua.

"A nossa casa é o planeta como um todo. Não só o lugar que habitamos, o imposto que pagamos" Juliana Souza, ONG Acorda Bauru.

"Temos que ter o cuidado para que as mobilizações não fiquem só na rede. Muitos se sentem acomodados,  joguei um #vetadilma no Twitter, e é o suficiente. Mas não é bem assim", Camila Turtelli do jornal Bom Dia. 

As redes sociais já são consideradas palco de reivindicação popular. E como ultrapassar a barreira do virtual para o real? Conheça algumas das ONGs:


A #Pós-TV contou com a presença das ONGs Vidágua e Acorda Bauru, do Grupo Agr, Jornal Bom Dia, Clodoaldo Gazetta do PV e mediação de Lino Bocchini, do programa "Desculpe a Nossa Falha", da casa FDE São Paulo. 




Assista ao programa:
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O Terno, me convida?

Por Aline Antunes

Lembro de O Terno convidar todos os feras para os seus shows, e eu pensava: Me chama, também? 

Minha vontade de conhecer a banda só aumentava com a presença de alguns dos meus queridinhos da música, como: Rafael Castro, Tulipa Ruiz, Marcelo Jeneci, e por aí vai. Além, é claro, da sempre marcante e importante presença de Maurício Pereira. 

E foi assim que lá por setembro do ano passado, no Festival de Artes da Unicamp (FEIA-2011) esses assassinos compulsivos me levaram ao embalo quente, que é de 66! 

Divulgação


Esse Power trio é formado por jovens muito jovens de São Paulo. São eles: Tim Bernardes, 20 (voz e guitarra), Guilherme “Peixe”, 21 (baixo) e Victor Chaves, 20 (bateria). Apenas 20 anos, uma banda e um clipe! 

Um clipe carregado de sarcasmo e talvez um humor ácido. Assumindo o risco de até do que é novo falam mal, a banda se joga e no imerso mostra seu Rock n’ Roll moderno e enraizado nos 60’s. 

Menos de um mês da estréia do clipe 66 e esse Terno já está vestindo gente em todo canto. Até mesmo um blog inglês (onedayasong) já compartilhou o som dos brasucas. 

2012 parece uma espécie de ano aposta de O Terno. Eles se apresentaram na Virada Cultural de São Paulo (palco MTV), lançaram clipe e já estão com um álbum na manga. 

Já deixo registrado aqui que além de 66, os bolsos internos deste terno escondem mais coisas, e quando acharem, parar de cantarolar “Enterrei vivo o meu amor...” será tarefa árdua! 

Tim se despediria dizendo: “Que bom que curte o nosso som! Tamo feliz com as coisas que tão rolando.” 

A Equipe 66 é:
Direção: Marco Lafer e Gustavo Moraes
Produção: Alaska Filmes
Direção de arte: Coyote Produções



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Doc. de Animação: subjetividade para mostrar o real

30 de maio de 2012
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Por Renan Simão

Antes de começar esse texto, copio uma frase do jornalista e documentarista Bruno Natal sobre documentários:

“… porque documentário não um gênero, é uma linguagem.”


Posto isso, vamos ao texto.


Na última terça-feira, durante a Semana de Rádio e Tv da Unesp, foi realizada a palestra: “A expansão do cinema documentário: novas relações entre documentário e ficção” ministrada por Jenifer Serra, na sala 1 da FAAC. Não se atendo ao título genérico da palestra, Jenifer, formada em Produção Cultural e mestranda do programa Multimeios da Unicamp, aprofundou-se por um gênero de documentário: o de animação.

Formato caro ao cinema documental contemporâneo, o documentário de animação se tornou famoso em dois filmes: Valsa com Bashir (2008), Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro e Ryan (2004), vencedor do Oscar de animação. Tais produções têm em comum o fato utilizarem a animação para contar uma história real. Sim, a realidade pode ser representada de forma subjetiva e mostrar aspectos que o documentário objetivo não pode atingir. Esse foi o ponto da palestra.

Definições, Magritte e Ryan
Para delimitar seu campo de atuação Jenifer diz que o documentário é o cinema “que busca interrogar o real, o mundo histórico”. Também fala que a animação aparece “tradicionalmente como imaginativa, irreal”, mas utiliza recursos do cinema clássico para contar uma história. Por fim, define o documentário de animação: “linguagem que usa a representação subjetiva [persongens animados, bonecos, etc.] para mostrar temas, aspectos, histórias e sentimentos objetivos”.

René Magritte, pintor surrealista que confundiu os limites entre realidade e ficção, mostrava que tudo é representação: realidade e subjetividade caminham juntas. Um quadro, um texto ou um documentário são representações da realidade, sendo assim, impedidas de mostrar o real como um todo. Se não podemos mostrar a realidade como seu todo num documentário clássico, porque não lançar mão de recursos subjetivos da animação para representar aspectos objetivos que são impossíveis de se ver num filme convencional? Esse é o alvo do documentário de animação.

Como exemplo da discussão, Jenifer exibiu o curta-documentário de animação Ryan, com direção de Chris Landreth, de 2004. O filme faz uso de esquetes, pintura e animação 3D para contar a história real de Ryan Larkin. Larkin, um talentoso animador canadense que nos anos 80 criou peças de animação inovadoras de grande influência na produção de filmes de seu país sofreu com o fracasso profissional e 30 anos depois era facilmente encontrado morando nas ruas de Montreal devido ao vício em álcool e cocaína. Por meio de entrevistas e depoimentos verídicos, a animação conta a trajetória de Ryan, dialogando com seus amores, amigos, crises de criatividade, vícios e pobreza.

Mas o detalhe mais impressionante do curta é a representação dos personagens. Desfigurações do rosto mostram a degradação moral, demonstrações de raiva são tentáculos vermelhos que saem do cérebro e contornos roxos sobre o rosto lembram o amor dos entrevistados animados. “A imagem vista na tela é fruto das impressões coletadas nas entrevistas. Os detalhes dos corpos e expressões são subjetivos sim, mas tem profunda ligação objetiva com a história real”, observa Jenifer. Ela ainda conta que essa aproximação de realidade fantástica é chamada por pesquisadores de psicorrealismo.

Com convicção, a mestranda afirma que o documentário de animação deve ter uma leitura documentalizante, não se atendo à imaginação somente, e que “animação pode ser subjetiva mas tem compromisso sobre o real".

Agora, lembrando da frase do Bruno Natal lá de cima, realmente o documentário pode transitar por vários gêneros devido à sua linguagem abrangente e não se prender ao seu rótulo limitador de objetivo.

Veja na íntegra o curta-metragem Ryan:
 
 
 


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CinExtinção: Retratos de fanzine




Por Jaderson Souza
Foto 1: divulgação / Foto 2: Renan Simão

“Quem faz isso não pode pensar em lucro”. 

A frase sintetiza o abnegado trabalho de um fanzineiro. Histórias desse trabalho são mostradas no documentário Fanzineiros do Século Passado, exibido no último sábado no CinExtinção em Bauru. 

Fanzine é uma revista editada por um fã. O objeto de idolatria desse fã, que vira editor, é o tema das publicações: uma banda, uma expressão artística, um movimento político, etc. Não há pretensão econômica, mas o nível de qualidade gráfica do fanzine depende muito do poder financeiro do editor, que vira e que ainda é fã desde o primeiro momento. 

O documentário, produzido e dirigido pelo também fanzineiro Márcio Sno, é dividido em dois capítulos. No primeiro, aparecem relatos de fanzineiros que mantiveram zines nas décadas de 80 e 90 (alguns deles os mantêm até hoje). As entrevistas foram gravadas entre abril e novembro de 2010. Várias histórias em comum, como o modo de produção e distribuição dos zines, algumas delas bem engraçadas como a do selo e a da carta social, duas estratégias utilizadas pela maioria dos fanzineiros (há quem negue, mas vai saber né?) para diminuir custos de distribuição. A montagem do documentário é um dos detalhes mais interessantes, sobretudo nesse capítulo. O corte das imagens das entrevistas e o fato dos fanzineiros contarem praticamente as mesmas histórias dão a impressão de que uma única pessoa está nos contando a história dos zines. Seria uma espécie de “entidade fanzineira” ou alguma coisa do gênero. 

Mas a parte mais legal do filme estava guardada para o capítulo 2. Ele é subdividido em quatro partes que abordam desde a importância do fanzine para o rock até o panorama atual dos fanzines. 

No começo deste capítulo, aparecem duas importantes figuras do Zinismo nacional: o professor Henrique Magalhães, pioneiro no estudo acadêmico dos fanzines, e o quadrinista Gualberto Costa, que ministrou oficinas sobre fanzines e foi um dos fundadores do Prêmio HQ Mix. Em seguida, vários nomes do rock brasileiro (Gabriel Thomaz e Bacalhau do Autoramas, BNegão, Wander Wildner e Rodrigo Lima do Dead Fish) relatam que já tiveram seus próprios fanzines e falam como essas publicações foram importantes para a divulgação de seus trabalhos enquanto músicos. Eles inclusive brincam que os fanzineiros faziam perguntas clássicas - “qual o tema das músicas?”, “quais as influências?” e “quais os planos para o futuro?” – que resultavam em respostas decoradas. Apesar desses deslizes, eles consideram o fanzine uma mídia bastante positiva, Wildner chega a compará-la, junto com a fita cassete, com a internet de hoje. 

Falando em internet, o filme aborda a chegada da tecnologia no universo fanzineiro. No início, funcionando como um braço da versão impressa, a web facilitou e acelerou o processo de fabricação dos zines. Pouco a pouco, a ordem começa a se inverter; a internet consegue uma autonomia ou, até mesmo, uma independência em relação às publicações impressas. É o nascimento dos blogs que podem ou não coexistir com suas versões impressas. Se no primeiro capítulo do filme, as vozes foram uníssonas, aqui começa a haver o debate em torno do futuro dos fanzines: uns acham que o fanzine vai acabar; para outros, o fim chegará para publicações de grande tiragem; enquanto para outra ala complementa afirmando que o registro em papel é melhor em virtude da volatilidade da internet.


Atualmente existe uma preocupação maior com a qualidade dos fanzines e não apenas com a divulgação dos seus objetos de admiração. No fundo, a discussão sobre o Zinismo é bem parecida ao debate a respeito da função dos jornais impressos. Hoje há um cuidado especial quanto à estética dos zines e também em oferecer um conteúdo textual de ordem mais analítica. Qualquer semelhança pode não ser mera coincidência. 

Muitos defendem que o impresso ainda deve existir, afinal de contas, “ler em um tablet é um saco” (este que vos fala tem a mesma sensação ao ler qualquer coisa no PC). Brincadeiras à parte, o cenário atual aponta o crescimento do intercâmbio entre fanzineiros. Algo que já acontecia décadas atrás via correspondência, pode ocorrer agora tanto física como virtualmente. O documentário ilustra isso com alguns exemplos: a Fanzinoteca Mutação, de Rio Grande (RS); o Tour de Zines, que abrange a produção de fanzines nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Minas Gerais; o Zine-se, de Fortaleza (CE); a HQ Mix, uma livraria que vende fanzines na cidade de São Paulo; o Zinescópio, site que disponibiliza fanzines em arquivo PDF e, por fim, a UGRA, uma espécie de cooperativa de fanzineiros com sede no Rio Grande do Sul. Esse grupo é um dos que defendem com maior veemência a continuidade dos zines impressos, estratégia bem diferente do Zinescópio, porém todos esses grupos tentam preservar, cada um à sua maneira, o universo dos fanzines. 

No final do filme, surgem imagens da Ugrazine Fest, encontro organizado pela UGRA que reúne fanzineiros de todo o país, inclusive muitos que deixaram seu depoimento durante o documentário estavam lá. Se no começo do filme, os fãs+editores+produtores estavam distantes territorialmente e próximos quanto às suas histórias, agora eles estão perto uns dos outros em todos os sentidos. Antes, a história dos fanzineiros parecia uma só; hoje, todos os atores dessa história estão reunidos em um mesmo lugar.

Veja as duas partes do documentário Fanzineiros do Século Passado:






As sessões de cinema alternativo do CinExtinção acontecem todo sábado às 19h. Apareça lá.

Se quiser conhecer mais sobre fanzine, os caminhos estão abaixo:







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Entrevista: Lucas Santtana

28 de maio de 2012
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Por Renan Simão e Sérgio Viana
Fotos de Sérgio Viana com exceção da foto 3, de Renan Simão 


Durante a Virada Cultural Paulista de Botucatu, o e-Colab conversou com Lucas Santtana. Um dos destaques da nova geração da música brasileira, Lucas transita entre artistas como Céu, Curumim, Instituto e Do Amor com participações e composições. Mais que isso, ele se firma ainda mais como artista pop após o disco bem recebido pela crítica "O Deus Que Devasta Mas Tem Cura" (2012), com no mínimo 5 músicas fáceis para assoviar e cantar. Meia hora antes do começo do seu show, sentado na poltrona do teatro Paratodos em Botucatu, Lucas Santtana conta sobre os processos de criação e produção de seu disco, da importância da rádio na música popular, hits, de Caetano e Gil e as grandes gravadoras, pesquisa musical, da música para e com o seu filho, do incentivo do Estado para a música e do livro mais incrível de sua vida: Grande Sertão Veredas. Confira a entrevista a seguir e ao final as fotos do show.


Sérgio Viana: O pessoal fala muito na inspiração do seu disco, que fica muito naquela história da sua separação, mas ouvindo o disco não é só isso... Tem "Jogos Madrugais" que é sobre videogame e "Ela é Belém" sobre a cidade de Belém, por exemplo. Como foi o método da criação pra construção do disco?
Na verdade o método de criação acontece de várias maneiras, não tenho um método que sempre se repete, assim. Uma coisa que se repetiu nos quatro primeiros discos é que todos eles nasceram primeiramente de ideias musicais. De querer trabalhar com Dub, do lance da mixagem do Dub, do universo do reggae né, jamaicano. No Sem Nostalgia (2009) eu queria fazer um voz e violão, mas que não soasse assim. Esse último [O Deus que Devasta Mas Não Tem Cura (2012)] foi o primeiro que nasceu das canções, eu fiz todas as canções num período curto de tempo e percebi que todas elas tinham uma coisa em comum e por terem sido feitas num mesmo tempo elas formavam uma família, elas eram um disco. E essa característica é justamente o fato delas todas terem uma coisa cronista, descrevem coisas que eu tava vivendo ou vendo, ser bem real assim ou bem próximo do real. Você faz um autorretrato. Aquilo é real, mas ao mesmo tempo já é outra coisa, mas enfim, baseado na realidade.

Sérgio: E "Pra Onde Irá Essa Noite" [balada romântica do disco], como é que foi? Curiosidade.
O “Pra Onde Irá...” aconteceu em São Paulo, e foi pra uma moça lá de sampa, mas, por exemplo, não foi exatamente como aconteceu. Aconteceu e a partir daquilo eu desenvolvi uma ficção do que seria se tivesse acontecido, sabe?

Sérgio: Você falou do estilo né, por exemplo, do Sem Nostalgia, onde você falou tais coisas. Cada dia é uma experimentação diferente ou você tem consolidado certas coisas. Porque ouvindo o último disco "O Deus...", particularmente eu o vejo como uma coisa bem mais densa, ele parece que tem uma estrutura mais consistente no sentido de que são músicas mais pesadas, que pegam o sentimento.
Não se isso vai ser uma coisa que vai permanecer nos outros discos, realmente nesse disco tem, como eu falei, esse lado de falar dos sentimentos, falar de um lugar mais dentro, pessoal, mais confessional, mais cronista. Como você falou não é só a minha relação, é falar de relacionamentos, de coisas que acontecem com qualquer um. Na verdade muita gente se identifica com esse disco por isso, porque toca coisas que elas vivenciam, já vivenciaram ou tão vivenciando. Não sei.

Todos eles são diferentes, todos acabam sendo contaminados por coisas ou universos musicais que eu tô vivendo naquele momento. Não da pra dizer se isso é uma coisa que vai sempre rolar, esse tipo de canção, de sonoridade. O Sem Nostalgia foi um disco que eu tive que me impor um limite, só podia ter dois instrumentos. Esse disco eu quis abrir usando sinfônicos, isso que você tá falando, dar esse peso, essa carga emocional.

Sérgio: Nessas respostas você já citou, por exemplo, Dub, música clássica, e numa entrevista sua pra Folha de São Paulo, o próprio jornalista não classifica você em nenhum estilo, MPB, Dub, eletrônico.  Você concorda, acha que seu som não tem mesmo classificação, você procura mesmo não ter isso? 
Eu não procuro não, mas como eu falei, em cada disco eu curto me aventurar em um universo musical, naquilo que eu to ouvindo, e pelo menos dessa maneira eu sempre to aprendendo, porque no 3 Sessions [in a Greenhouse, disco (2006)] tava rolando muita festa Dub no Rio e eu ia com meus amigos, e comecei a fazer uma pesquisa grande sobre música jamaicana.

Sérgio: Pesquisa que você fala é o quê?
É pesquisar, estudar, ir lá, buscar os nomes, sair dos nomes padrões e buscar outros nomes que você não conhece. De um nome você vai chegando a outro, enfim, você pesquisar mesmo, e correr atrás de todo aquele universo e fazer uma coisa meio voz/violão. Aí eu peguei todos os vinis e fui buscando coisas do Caetano, do Caimmy, João Gilberto, Baden Powell, Gilberto Gil, Germano Reis... Todos os momentos que eles estivessem tocando violão sem outro instrumento, sem estar cantando. Aí eu fiz uma playlist, fui montando um banco de dados. Aí eu fui pesquisando o tipo de microfone pra gravar voz, já que é um disco de voz e violão é uma voz que em cada faixa vai ganhar um tipo de sonoridade, textura diferente, enfim, é pesquisa mesmo. No "Who Can Say [Which Way]" usei um gravador de arame, que você grava no arame, é um gravador dos anos 50, aí a voz fica bem crua, saturada, e isso dá um timbre diferente. Enfim, é pesquisa mesmo, correr atrás do som.


Sérgio: Puxando para outro lado, hoje em dia não só você, mas outros músicos como o Curumim fazem muitas parcerias na hora de gravar. Como que se dá isso? Por que antes com as grandes gravadoras parecia que não tinha tanto isso entre os músicos. E como se dá isso na hora da gravação, você tinha sua música pronta, e eles inserem uma coisa deles... ou não, você já tem algo pronto?

Renan Simão: Você gravou com os caras Do Amor né, como é que foi?
Eles fizeram parte da minha banda desde o show do Sem Nostalgia. Quer dizer, o Ricardinho e o Benjão que fazem parte Do Amor, eles já tocam comigo desde o show do Parada de Lucas (2003), ou seja, antes do 3 Sessions. Eles tão comigo desde 2009. Então foi fácil gravar.

Na real eu acho que essas colaborações já rolavam. Se você vai no Youtube e digita João Gilberto e Rita Lee tem uma música; Gilberto Gil e não sei quem, tem uma música. Mas acho que eram menos colaborações, todos eles já tinham nome, era outro momento da música popular, já tinham uma certa consagração. Aí dificulta porque aí vira um  encontro do consagrações. E na nossa geração não tem muita gravadora, então esse glamour todo se perdeu um pouco, não existe muito isso, todo mundo é meio operário.

Sérgio: Isso é positivo?
Acho isso extremamente positivo, porque todo mundo fica focado na música, ninguém perde tempo com glamour, tipo "ah, eu quero que o camarim seja todo verde", essas frescuras assim, não tem nada a ver com música, é só loucura pessoal mesmo.

Sérgio: Num outro texto de um jornalista da Record que ele critica um pouco essa nova geração da música brasileira, que apesar de fazer música boa, ele reconhece, não é uma música que todo mundo ouve, não é uma música que toca em rádio, que vai pra TV...
Isso é uma questão central da nossa geração, porque nossa geração, a meu ver, a gente compõe músicas populares também. Tipo o Curumim que acabou de lançar um disco, e tem uma música chamada “Princesa” [sic]. Parece do Roupa Nova de tão hit que é a música, aquela música que se botasse na rádio, na novela, viraria hit.

Renan: Também tem aquela lá do Curumim, “Passarinho”, que parece muito Roberto Carlos.
É essa que eu to falando. Não é “Princesa”, é “Passarinho”, viajei. E é muito bom, é muito hit. Sei lá, um disco da Céu, meus discos, sempre tem músicas que poderiam ser hits radiofônicos. E aí a maneira como “Leãozinho”, ou sei lá, “Andar com fé”, do Gil, acho que essas músicas em nível de letra, melodia, são do mesmo nível, tem potencial pra ser hit, a questão é que na nossa geração não tem rádio. O rádio já era comercial, e tá cada vez mais difícil, então foi criado um gap dessa geração. Essa geração tem músicas que são extremamente radiofônicas só que elas não entram no subconsciente coletivo, por uma questão mercadológica, não tem mais a gravadora pra pagar aquela grana pra aquela música tocar.

Porque talvez na época do Caetano e do Gil, se não tivesse a gravadora que pagasse jabá pras músicas deles tocarem, talvez muitas dessas músicas não tivessem entrado no subconsciente coletivo. Porque o rádio no Brasil ainda tem esse poder muito grande, sempre teve, então essa geração só não é popular porque o rádio faz esse bloqueio mercadológico em termos de grana. O problema não são as canções.

Sérgio: É lógico que a internet é a principal ferramenta que vocês usam pra espalhar o trabalho de vocês, mas o que vocês fazem além da internet?
Tem rádios que tocam, mas são poucas. Elas também tocam espaçadamente, não tocam todo dia, então fica difícil daquela música pegar no rádio. E na verdade acaba que a geração que faz todos os programas de TV, que faz o Jô Soares, o Altas Horas, em termos de imprensa também, na verdade, essa geração tem mais respeito e mais espaço do que a geração mais velha. E na verdade a questão é de fato o rádio, e o rádio é tão importante que, eu vivi uma experiência tão importante a última vez que eu fui ao Altas Horas, que foi muito claro nesse sentido.

Porque eu fiz um programa com o Chiclete com Banana. Eles tocaram os hits deles, e o estúdio só tinha fãs do Chiclete com Banana, a plateia vinha abaixo toda vez que eles tocavam. E toda vez que eu tocava, tinha acabado de lançar o Sem Nostalgia, as pessoas aplaudiam, mas era aquela coisa tímida, sabe? Aí no final do programa o Chiclete com Banana falou: "ó, a gente vai tocar uma música nova, que acabou de sair", ou seja, uma música que não tinha tocado no rádio ainda. O estúdio parecia um túmulo, um cemitério. Acabou a música as pessoas aplaudiram tipo, nada. Aí eu pensei: "ah, até o Chiclete com Banana, com fã clube, os caras tinham tocado só hit, aí os caras tocaram a música nova e os próprios fãs..." Pra você ver como a rádio é importante, sabe? Mesmo você sendo uma banda de sucesso, mesmo você estando na TV, se você toca uma música que não tá na rádio, o impacto não vai ser o mesmo, porque a rádio é muito poderosa no Brasil.

Sérgio: Para vocês mesmo, da nova geração, esse conceito de sucesso passou por uma mudança...
Claro, todos nós gostaríamos de tocar no rádio, e que essas músicas ficassem pra mais gente, todo mundo gostaria. Quando você faz uma coisa, você quer que todo o público te veja.

Sérgio: Você tava com uma turnê na Europa, o que você aprendeu? Como você acha que os caras de lá veem a música que vocês fazem?
A rádio lá fora é muito diferente daqui. Porque a rádio lá fora não tem jabá, ou se tem, tem em rádios específicas. Na verdade as rádios nacionais, a Rádio Nova, Rádio France em Paris, a WTR na Alemanha, quase todos os países tem a rádio nacional muito forte, e a população escuta essas rádios nacionais, porque a programação é boa, eles tocam o que eles querem. A BBC em Londres também... Eles tocam música do mundo todo, e as pessoas gostam de ouvir rádio. A própria população tem uma exigência estética: "eu gosto de coisa de qualidade". Então tem essa diferença. A rádio toca o que ela gosta, então, por exemplo, a gente fez dois shows em Paris, e os dois shows foram lotados, porque a rádio ficou tocando nossas músicas semanas antes, porque eles quiseram.

Sérgio: E você acha que lá, a música brasileira, não a antiga, a Bossa Nova, vocês acham que são bem vistos lá?
Acho que eles tão acompanhando bastante essa geração nova, da gente. Essa geração hoje em dia é um pouco deles. Lá eu dei entrevista pro Le Monde e pro Les Inkorruptibles, e eles acham que nós somos os herdeiros da tradição toda do Caetano, do Gil. Eles enxergam essa geração como a que está mudando essa tradição de música popular.

Renan: Voltando ao seu disco, a música "O Deus que devasta, mas não tem cura”, que você fez com o Gui Amabis, eu queria saber como foi a composição e a intenção de colocar a música no seu disco mais iluminada, diferente da versão do disco do Gui, que é mais pesada, mais triste.
É porque o disco do Gui é todo mais triste. Na verdade quando eu fiz essa música ele me deu uma base e pediu pra eu fazer a melodia, e a base dele já era muito triste, lenta e tal, e quando eu fiz essa letra foi logo depois de eu ter me separado, então eu tava triste também. E quando eu cantei no disco dele eu estava próximo de um sentimento de tristeza. Quando eu gravei minha versão, muito tempo depois é como se eu tivesse olhando aquilo com distanciamento. E eu sabia que a música ia abrir o disco, porque foi por causa dessa música que eu fiz todas as outras músicas do disco, com esse tom mais cronista. Tudo nasceu depois que eu fiz essa música, então eu sabia que ela ia dar o nome e ia abrir o disco, então eu já fiz ela num BPM mais rápido, pra não começar o disco muito arrastado e chamei o Letieres [Leite] pra fazer os arranjos. Então foi uma versão mais distanciada mesmo, por isso ficou diferente.

Renan: Queria saber daquela música "Dia de furar onda no mar" que fala sobre os seu filho.
É eu fiz pro meu filho [Josué]. No processo de composição a segunda parte da letra eu ainda tinha que fazer e eu fiquei pensando no que fazer e me lembrei de um livro que eu e a mãe dele sempre líamos pra ele, que a gente ia anotando as definições que ele, o livro, ia dando de palavras...

Renan: “Incidência é um pequeno incêndio...”
É, e eu ia usando definições dele e das que o Josué falava e eu ia usando na letra as falas dele. Então ele virou meu parceiro na música. Além de ser pra ele a música e pros meus dois sobrinhos, que são o Mateus e o Joaquim, dos meus dois irmãos.

Renan: É uma forma de registrar o momento dele? Acho que você deve ter tido a lembrança de ter saído com o seu filho pra praia e brincar. Isso seria uma maneira de registrar um momento de pai e filho?
Com certeza, cara. É, falar de coisas que a gente viveu, ele ficava me questionando porque o mar tem tanta espuma, né... Ou a gente foi ver o Príncipe da Pérsia e ele falou: “Se eu tivesse nessa época eu nunca seria o rei, porque o rei sempre é vitima, porque todo mundo quer matar e ganhar o lugar do rei”. O meu filho queria uma coisa mais simples que não estivesse que ficar na mira, né. Enfim, é uma maneira de você registrar o momento de coisas que a gente viveu pra no futuro aquilo ali de alguma maneira estiver registrado.

Renan: Eu sempre entro no seu blog d'O Esquema e tem uma frase lá do Guimarães Rosa: "O que deus quer da gente é coragem". Qual a sua relação com o Guimarães e como ele pode te influenciar?
Eu gosto muito. Não li tudo, mas li Primeiras Estórias e Grande Sertão Veredas, e esse [último] foi o livro mais incrível que eu li na vida. Eu vivia com ele na cabeça. Durante o dia eu saia pra rua resolver as coisas e ficava na cabeça, quase que tinha duas realidades, me sentia como um cangaceiro. Era muito forte. E no meio de bilhões de frases lindas do livro, que apesar de ser uma prosa tem uma essência poética, uma frase que me marcou foi essa: “O que deus quer da gente é coragem". Tipo, é uma coisa que eu sempre falo pra mim mesmo, de ter essa coragem. Às vezes você sabe que as escolhas que você fez pra sua vida não vão ser as mais fáceis, pro seu trabalho... Mas são aquelas que são verdadeiras pra você, sabe, sinceras. Então, vale a pena correr o risco.

Renan: O seu disco foi contemplado por um edital da prefeitura do Rio e ganhou incentivo financeiro. O que você acha de iniciativas do Estado para estimular a música?
Na minha geração não tem mais gravadora, não tem mais nada... Então qualquer apoio público, editais, é importante pra gente pra disponibilizar a produção. Acho que não é suficiente pra produção que é feita, mas é sempre bem vinda.



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Lenine no Sesc Bauru

Texto por Jessica Mobílio
Fotos  por Wilian Olivato

Pausa
Sinta o ‘Chão’ que te sustenta!

Esqueça-se das letras por um breve instante. Concentre-se na melodia, nos ruídos orgânicos e nas batidas eletrônicas em cadência. A sonoplastia da turnê ‘Chão’, o mais recente trabalho do músico Lenine, surpreende os fãs mais assíduos. As intervenções sonoras: canto de pássaros, barulhos de cigarras e sons cotidianos entraram na base musical. Os instrumentos de corda são colocados em primeiro plano, sem a presença de percussão. Os equipamentos eletrônicos, computadores e afins ficam responsáveis pela junção de toda a carga sonora.

Voltemos às canções que são verdadeiras poesias, inspiradas em contrastes sociais e manifestações culturais. Lenine é reconhecido por essa faceta. Há quem não goste dessa música tão densa (às vezes pouco compreendida a fundo) ou simplesmente pela falta de afinidade. Segue o depoimento de quem assistiu Lenine e Banda/ Lenine e Bauru. Chegamos a 23 de maio, uma quarta-feira. Ginásio do Sesc Bauru lotado. Foram 24 músicas, quase duas horas de balanço tímido para alguns e efervescente para outros.

Aquele habituado a presenciar shows mais enérgicos do cantor, encontrou um palco intimista. Isso mesmo, três pessoas com os pés na terra (quase isso) sob a pouca luz amarelada. E para quem esperava pelas velhas canções, escutou outras versões. Como em “Leão do Norte”, mas não perdeu a chance de cantar em coro “Paciência”, umas das letras mais famosas do compositor.

Três gerações: jovens, adultos e idosos acompanhavam a apresentação, cada um a seu modo. Agarrando-se naquela canção como uma memória, trilha sonora de filme ou novela. Com o grau intimista, as pessoas foram tomadas por experiências individuais (aos poucos se tornou coletiva) numa tentativa de se conectar ao show e ao final palmas.

Sabe a história do falar cantando? Foi assim que Lenine interagiu com o público. “Assim nesse clima quente, no espaço e tempo presente, meu canto eu lanço...”. Ressalva para os fãs que cantaram todas as letras, desde “Isso é só o começo” e “Chão” do disco mais recente a uma passagem rápida pela carreira de Lenine. Dentre as músicas da vez, “acredite ou não” de 1992, foi o ponto alto.

"Agradecimentos ao Sesc Bauru, a equipe de produção, a minha banda e ao público que compareceu". E como de costume, a última antes de partir. Eu que agradeço pela noite.

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Eu Canto Rap

Os primeiros a invadir a Casa Fora do Eixo São Paulo nesse Domingo foram as crianças. Correndo, falando alto, de lá pra cá, aos poucos, elas foram ocupando os puffs coloridos e se transformaram. Em silêncio, exceto pelas risadas exageradas e comentários que interagiam com os palhaços e rindo das partes que achavam engraçadas da dança conduzida por Vanessa Soares.

Foto por Suzana Magalhães



Mas a noite foi caindo e o público crescendo.

As mãos dos que se sentavam no puff perderam os copos com refrigentes e água e ganharam cerveja. As caras pintadas saíram de cena e Jota III com seu rap subiram no palco, seguido por três MCs. Mulheres.

- Eu sou cantora - Stefanie reconta ao microfone um diálogo que teve.
- Ah, e o que você canta?
- Rap.
- Ah... rap. Mas você não tem vontade de cantar outra coisa?
- Não, eu canto rap.

Foto pro Suzana Magalhães
“Os moleques já não são mais como antigamente, a menininha de hoje já não é mais tão inocente, evolução ou falta de noção, a juventude é o futuro da nação...”, ela manda no palco fazendo o público do 48º Domingo na Casa a acompanhar com palmas.

Cada uma das três MCs tem seu trabalho individual. “E pra quem quiser conhecer mais, procurem por nós na internet e nas ruas!”. Livia Cruz, Karol de Souza e Stefanie formam a AZ MCs. No palco, uma demonstração da força feminina. Três MCs, duas convidadas especiais e uma DJ. Força também presente nas vozes que falavam firme aos microfones e nas letras.

“Pensa no que você precisa pra fazer o que você mais ama. Eu só preciso de um papel, uma caneta e sai assim...”



A forma que o público reage em eventos de rap é sempre diferente. O hip hop tem algo que envolve as pessoas. Elas se permitem identificar, nas não-idealizações, libertações e nas batidas sentidas na garganta. E a noite seguiria mais leve, em uma pegada mais reggae embalada por uma explicitada positividade de Junior Dread.

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SEDA | Banho de Mídia

27 de maio de 2012
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Sábia loucura midiática

Por Jaderson Souza
Fotos por Rafael Vilela

De um lado um grupo de b-boys em uma sessão de fotos e vídeo; do outro um ensaio de stomp - percussão que se utiliza de tambores, panelas, corrimões, vassouras aliados a uma pick-up. Tudo isso dentro de um barracão que tinha uma pista de skate e paredes com intervenções em grafite. Esse era o cenário do Banho de Mídia, evento realizado na última quinta-feira durante a Semana do Audiovisual (SEDA). 

O barracão usado para o ensaio é do grupo Wise Madness (Sábia Loucura). Fundado em Bauru no ano de 2006, o Sábia Loucura oferece atividades de teatro, street-dance, disc jockey, rap, pirofagia, stomp, esportes radicais, etc. O skatista Daniel Nunes, membro do grupo, ressalta “a pegada cristã” como o espírito do Wise Madness. O objetivo é tirar os jovens das ruas e mostrar que se podem fazer coisas legais sem que as pessoas precisem perder sua essência. 

Apesar do barracão estar aberto, um reduzido público esteve presente. Porém quem adentrava ao público, olhava curioso para o cenário: enquanto os b-boys faziam o máximo possível para ficar bem nas imagens com passos, poses e piruetas sob a devida orientação do fotógrafo, as percussões de stomp funcionavam como fundo musical fazendo com que tudo virasse uma grande mistura: música, dança, grafite, skate, etc. 

Quem comandou o ensaio audiovisual foi o fotógrafo Rafael Vilela e quem protagonizava-o era o grupo Bauru Breaker’s Crew. O material será cedido aos artistas gratuitamente e servirá como portfólio para apresentações futuras do conjunto. Em vários momentos, breakers e músicos interagiram fazendo com que as poses para as fotos fossem resultado dos passos de dança. 

O Banho de Mídia já é realizado em outras cidades do país pela Rede Fora do Eixo. Lucas Grilli Maia, agente da Rede em Bauru, afirma que o objetivo do evento é “criar um produto audiovisual e textual para artistas que normalmente não teriam oportunidade de apresentar esse trabalho”.


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SEDA | Cine Ouro Verde

26 de maio de 2012
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Texto e fotos por Fabio Mouawad Luppi

A 3° Semana do Audiovisual Bauru 2012, começou nesta segunda-feira, 21 de Maio, com uma mostra de curtas infantis, no Cine Ouro Verde, com público de crianças, jovens e adultos, acompanhado a sessão.



Antes de começar a exibição, as próprias crianças fizeram um teatro de fantoche. Com início dos desenhos, muitos olhares atentos, acompanhando a sessão que contou com 10 curtas de vários estilos e temas. Após o término, distribuição de pipoca e refrigerante e visualização de fotos das crianças do Ouro Verde em outros projetos realizados por eles, como a Virada Alternativa que rolou no último sábado.



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Entrevista Bona Fortuna

25 de maio de 2012
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Entrevista por Luís Morais

Nessa semana bati um rápido papo por telefone com Filipe Oliveira, baixista do Bona Fortuna, para falar um pouco mais sobre a banda. Aquele gostoso folk de se apreciar ao por do sol tem toda uma explicação de como foi produzido e composto. 

Um álbum que ficou “parado” por mais de um ano e hoje alcança na casa dos milhares nos downloads, hoje é prioridade sonora de André Araújo (voz e guitarra), Davi Queiroz (guitarra e violino), Filipe Oliveira (baixo) e Lucas Oliveira (bateria). 

Sem mais delongas, sigam o bate papo com Filipe, o grande responsável pelo disco da Bona Fortuna. 

Então vocês são uma banda de garagem, já que gravaram em uma... 

Filipe: Na verdade não foi garagem, foi num quartinho que a gente ensaia com a banda, que é aqui nos fundos de casa. E montei lá um computador, já mexia com gravação, já havia produzido algumas outras bandas aqui da região. Eu comecei a compor algumas músicas sem ter o intuito de gravar nem nada. Depois de um tempo comecei a gostar do resultado e decidi gravar. Gravei aqui em casa todos os instrumentos e depois chamei o André para gravar o vocal. 

Divulgação
Foi uma coisa do “destino” ter gravado então, não foi algo pensado? 

Filipe: Com certeza não. Na verdade, foi meio sem pretensão nenhuma. Nós decidimos gravar para divulgar entre amigos. Mas gravamos, começamos a divulgar, o povo começou a divulgar bastante, como nossos amigos mais próximos e parentes. Nos empolgamos com o lançamento do album pelo site Musicoteca. Porque ele ficou parado um bom tempo. Na verdade tudo isso [o processo de gravação] aconteceu no final de 2010/início de 2011. Eu gravei as músicas, compus, editei, o vocalista veio e gravou e o projeto ficou meio parado. Nós desanimamos, tínhamos vários outros projetos e bandas. Mas depois o nosso novo produtor Pedro Ferreira veio com a ideia de relançar o álbum, dando uma nova perspectiva com uma boa divulgação. E agora estamos mais com essa pretensão de divulgar. No início podemos dizer que foi algo do destino. 

E como começou essa relação com o produtor Pedro Ferreira? 

Filipe: A gente já o conhecia aqui de Mariana, e nós já nos encontramos varias vezes, ele participou da Musicoteca que é um blog bem famoso. No início desse ano ele veio com a ideia de pegar o álbum e relançar. Na verdade ele já conhecia o trabalho há um tempo, mas não sabia se a gente tinha essa ideia de divulgar. Até que ele veio, chamou a gente para uma reunião e perguntou: “o que vocês acham da gente lançar? Eu tenho muitos contatos em blogs da internet e podemos dar um jeito disso correr pelo país”. Nos animamos, ele falou que acreditava bastante no trabalho e assim foi. 

E como está o resultado dessa divulgação? 

Filipe: Em um mês e pouquinho nós já temos mais de 2 mil downloads lá no site, fora o pessoal que já tinha o CD, como nossos amigos próximos. E como a gente estuda na Universidade Federal do Rio Preto, o CD correu por lá também. E já estamos tendo muitas propostas de shows, já estamos ensaiando para o show de lançamento que a gente pretende fazer aqui em Mariana, Ouro Preto, BH e depois pelo Brasil. Então a divulgação está muito bacana, estamos saindo nesses blogs com boa reputação na música.

Divulgação


Falando em shows, vocês tem relação com algum Coletivo da região? 

Filipe: Já estamos em vários projetos com o Fora do Eixo. A gente pretende tocar em Belo Horizonte e Ouro Preto no Festival de Inverno. Aliás, o nosso produtor [Pedro Ferreira] já participou do Fora do Eixo, depois saiu porque estava mexendo com outros projetos. Nós temos um contato bem próximo com o Fora do Eixo, que em Minas é muito forte e nós pretendemos fazer vários shows com eles. Estamos em momento de ensaio, escolha de repertório, mas logo vai vir os shows e o Fora do Eixo é uma ótima oportunidade de divulgação. 

Falando mais um pouco da musicalidade do disco, vocês tem uma banda de blues com a mesma formação do Bona Fortuna. Então como que surge um CD num estilo mais folk? 

Filipe: Na verdade não consigo explicar isso muito. Eu fui compondo, e tudo que eu ouço e gosto de tocar, acaba influenciando e essa mistura acaba gerando o som da banda. Eu não posso explicar racionalmente como que vem essa composição das músicas, foi algo bem natural. Eu sou muito eclético. Gosto de rock, folk, blues, música mais alternativa, Los Hermanos, muita coisa. E tudo acaba influenciando para que saia o som e tenha a nossa cara. E foi melhor a gente ter gravado aqui em casa, porque assim conseguimos dar essa roupagem ideal, como queríamos que o som saísse e soasse a gente conseguiu, foi bem interessante isso. Enfim, eu gosto muito de folk, mas minha intenção nunca foi fazer um CD de folk. As músicas foram surgindo e deu no que deu. 

E até em relação aos instrumentos utilizados, vocês saíram do padrão guitarra-baixo-bateria e colocaram em músicas como “Parece Que Perdi A Fé” até mesmo uma forma de coral no refrão. Isso também foi natural, alguém teve a ideia de repente... como surgiu? 

Filipe: Quando eu fui compondo as músicas, só voz e violão, fui sempre pensando em arranjos possíveis como um coro na hora do refrão, uma guitarra aqui e tal, só uma percussão... Então quando comecei a gravar, deu para colocar tudo isso em prática, porque eu demorei muito tempo para gravar esse CD. Eu comecei em setembro de 2010 e acabei no início de 2011 mais ou menos, foram praticamente oito meses de trabalho, de gravação e composição. Nisso deu para fazer exatamente o que eu queria. Então essas partes dos coros, veio de vários trabalhos que eu já tinha feito de produção musical. E eu sou muito ligado nessas coisas, sempre que eu escuto alguma diferente, eu tenho interesso de fazer e levar pra frente. E acabou tudo nessa panela, essa mistura que acabou gerando o som da banda. E já estamos até pensando em novas músicas, já temos algumas em mente... 

E que coisas diferentes que influenciaram então? 

Filipe: O pessoal da banda é bem eclético, mas temos um gosto bem parecido. A gente gosta muito de rock alternativo, por exemplo Black Keys. Escutamos muito Beatles, Bob Dylan, Los Hermanos, Belchior. E fora esses clássicos, como Chico Buarque, Caetano, que eu gosto muito, tem as bandas alternativas no Brasil atualmente que eu curto muito também. Eu sempre procuro ficar por dentro, sempre que sai alguma coisa eu baixo CD. E isso tudo acaba gerando o estilo da banda. 

No caso, quais bandas alternativas? 

Filipe: Uma já acabou, infelizmente, que se chama Pullovers - bem interessante, letras sensacionais, mas que acabou esse ano. Outra que ainda tá na ativa e é muito bom é o Apanhador Só, do Rio Grande do Sul - uma banda espetacular e até vão tocar em BH no domingo agora (hoje, dia 20). E tudo que vai surgindo, saindo na mídia, nesses blogs alternativos, eu vou baixando e curtindo. 

E falando então das letras das músicas. E as letras do Bona Fortuna? Parece que são histórias sendo contadas. Foi um desabafo ou apenas inspiração, foi indo...? 

Filipe: É, foi indo. Eu sempre procuro buscar temas comuns, triviais para fazer letras. Eu não gosto de fazer coisas muito viajadas ou profundas. Minhas letras são bastante introspectivas, mas sem ser profundas. Eu gosto de temas tranquilos sob uma nova óptica, uma nova roupagem. Algumas eu tive que trabalhar bem mais, com um esforço de produção e composição imenso. “Parece que perdi a fé” é uma delas: eu fiz o refrão rapidinho, veio como uma inspiração, só que depois para fazer o resto da letra eu fiquei agarrado meses. E outras não, foram mais rápidas. Criei o refrão tranquilo e a letra também. Então depende muito. As vezes vem como uma inspiração e as vezes como trabalho.

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Virada, Racionais MC's e Polícia: “Fim de semana no parque”










Por Felipe Vaitsman 
Fotos: Carolina Rodrigues

Entre o estouro da bomba de efeito moral e a volta do meu fôlego, muita correria e medo. O garoto Washington, de 19 anos, vestia uma camiseta com os dizeres de Criolo: “pobreza não é derrota”. É o teste. “Não preciso dizer mais nada”, lamentou o jovem, acenando negativamente com a cabeça. 

Apenas aguardávamos pela saída dos Racionais MC’s, assim como mais algumas dezenas de pessoas. Não havia tumulto, mas a Polícia Militar também queria dar seu “show” na Virada Cultural. A cavalaria não pareceu o suficiente para intimidar os fãs do grupo de rap. “Estamos fazendo a segurança de vocês”, explicou o policial. O mesmo que partiu para cima do público quando foi atingido por uma garrafa plástica.

 Sobrou para quem não tinha nada a ver. Alguns apenas esperavam pelos ídolos quando a fumaça subiu e os portões do backstage se abriram. Duas vans saíram em alta velocidade no meio das pessoas e carregaram os integrantes do grupo para bem longe do Parque Vitória Régia. 

Os policiais empunhavam suas armas, ariscos, talvez pilhados pelo triste incidente de janeiro de 2005, quando o jovem Luiz Fernando da Silva Santana foi assassinado durante um show do Racionais em Bauru. E talvez por isso a PM apontasse o canhão de luz do helicóptero contra o público durante a apresentação. Os dedos do meio levantados alimentavam a tensão desnecessária criada pela hostilidade mútua. 

“O cara ouve rap e é maloqueiro, é vagabundo”, ironizava um garoto, aos berros. Preconceito e estereótipos também gritavam ao meu ouvido. Aquilo tudo era descabido. Eu fui lá para ver o show, assim como as outras milhares de pessoas, e me deparei com um conflito amplificado por discriminação e nervosismo. 

Alguns vão dizer, como o secretário municipal da cultura, Elson Reis, que “é uma zona de atrito” e isso é esperado, visto que “a banda provoca a polícia e incita o público a fazer o mesmo”. Mas nada justifica o comportamento agressivo daqueles que, supostamente, têm a função de proteger a sociedade. E até agora não consigo assimilar o motivo das vans terem arrancado tão abruptamente contra o público, mas o secretário assegurou que foi ordem do próprio grupo de rap para os motoristas. 

“Mas eles só querem paz e mesmo assim é um sonho”.
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Virada Botucatu 2012 - Entrevista : Luiz Melodia

24 de maio de 2012
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Não dê pano pra manga lá no Estácio, moleque!

Por Sérgio Viana
Fotos de Renan Simão e Sérgio Viana

Chegamos afoitos adentrando os camarins improvisados da Virada, em Botucatu, perguntando: Cadê o Luiz? O Luiz já chegou?

Havia um compromisso. Durante a semana anterior tivemos que marcar, declarar, o horário exato em que estaríamos prontos para entrevistá-lo. E já haviam se passado uns 13 minutos. Porque foi difícil convencer um ao outro que era mesmo necessário deixar o show do Lucas Santtana.
Para nossa, não tão grande, surpresa. Não. O Luiz não havia chegado.

Ótimo. Mais um tempinho para pensar em como organizar as ideias na hora de fazer as perguntas. Ficamos tão imersos na entrevista com Santtana e com a própria Virada, que por um momento esquecemos que o próximo era, nada menos, que o Melodia, o garoto do Estácio.

O atraso estava de bom tamanho. Conseguimos organizar um pouco melhor as ideias e conversar com a produção, só para garantir que a entrevista estava em pé.

Quando ele chega é um pequeno alvoroço. Nós comportados, como dois experientes jornalistas, ficamos de lado aguardando, enquanto uma equipe de uma TV local acendia a luz e apertava o REC na cara de Melodia. Depois disso ainda esperar alguns fãs baterem fotos e relatar que alguém da família sempre foi muito fã do cara. E pra finalizar o próprio apresentador do evento, que também é radialista, põe o gravador em cena.

Não tinha porque achar ruim. A produção assegurou que na nossa hora ele ia falar mais tranquilamente.

E foi o que aconteceu. Em um dos camarins, de frente com Luiz Melodia.

Já faz alguns anos que você está com o show do disco “Estação Melodia”. Como você escolheu as canções do álbum e o por que de reviver essa época, de 30, 40...?
Pois é, veio a acontecer a gravação dessas músicas – esses sambas de 30, 40 e 50 -. Isso porque, eu quando garoto ouvia muito esses sambas, através de meu pai, meus tios, vizinhos lá no Estácio, onde eu nasci e fui criado. Então, com o decorrer do tempo, eu falei comigo mesmo: Pô, um dia eu vou gravar, vou prestar uma homenagem a esses grandes compositores, que foram os caras que fizeram o samba brasileiro, da maior importância pra mim e acho que pra muitos brasileiros.

E por ser marcante, eu entrei em estúdio em 2007, gravei o disco e o resultado foi muito bacana. Tanto que ta aí até hoje. Eu vou fazer uma turnê, agora em junho, na Europa, em umas sete cidades. E vou com o Estação Melodia, com esses sambas. Isso é um privilégio pra nossa música e uma satisfação imensa, um prazer enorme, de tá levando esses sambas pra rapaziada da Europa, pros ingleses verem.

Não é primeira vez que você homenageia seu próprio pai. Li, que você começou ali, vendo ele tocar com seus tios. Como você via seu pai ali criando e isso te transformar num músico também?
É que você, dentro de casa vendo seu pai tocando e tal... ainda bebê, ainda garoto, ele tocava violão e eu, é lógico moleque, ficava curioso. E desde então eu comecei a ter influência, a gostar da música. Ele foi a grande influência. Alguns sambas que eu já compus tem a essência dele. Na barriga da minha mãe eu já ouvia.

E meu é a grande... a grande.. essência musical, que fez com que eu enveredasse. Embora ele nunca deu muita força para que eu seguisse pelo caminho musical. Ele achava que dava pano, pra, pra, pra... tem um ditado que eu até esqueci agora. Pano pra renda?.. (sopro do fotógrafo) Pano pra manga! (hahahaha). Mas eu insisti, então não tinha outro jeito. Ele queria muito que eu fizesse medicina e eu num dei certo.

Nos anos 70 e 80 você, junto com Sérgio Sampaio, Jards Macalé e outros, foram classificados como marginais. Algo que muitos nunca aceitaram e nem viam sentido naquilo. Como você olha hoje para essa classificação?
Eu creio que o meu estilo de vida, por ser jovem, tinha-se uma rebeldia natural. Uma relação com a indústria fonográfica diferente. Pelo menos eu não cabia naqueles padrões, então me rebelava contra aquilo. Tanto escrevendo, quanto em reação, em agir de maneira diferente. Era toda uma mistura, tanto em relação ao lance político. A minha rebeldia vinha em atitude. Então os jornais começaram a intitular. E essa coisa de título, de rótulo, aliás, não me incomodava, mas eu acho uma coisa absurda. Acho que tinha que se compreender um cara que tava acontecendo, as suas razões e etc., mas nunca me incomodou, pelo contrário, só me fortificou.

(Apressados pelos produtores que depois nos culparam de atrasar a Virada) E hoje, você bebe das fontes de hoje, das músicas novas?
Nesse disco eu não bebi nada, na verdade eu prestei uma homenagem. Mas a música brasileira é rica, então, acho que desde que eu comecei a compor, eu venho bebendo, me vendo como um brasileiro. Nossa música é tão rica, desde o nordeste ao sul, por que não beber de todas as fontes? Acho que a gente tem que fazer o melhor possível. Fazer o mais bacana, para que gerações vindouras possam participar.


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