O Rei Ubu

9 de junho de 2014
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Texto por Pâmela Antunes
Fotos por Julia Gottschalk


No último domingo (08), o Parque Vitória Régia, foi palco do espetáculo Ubu Rei. Realizado pela Cia Teatral Boccaccione, de Ribeiro Preto. A vinda até Bauru está dentro do projeto ‘UBU REI – A rua como espaço cênico e de formação artística’ e contou com a parceria do grupo Protótipo Tópico da cidade.

A oficina

Antes do espetáculo a Cia Teatral Boccaccione ministrou uma oficina onde os participantes integraram o elenco da peça. A oficina começou por voltas das 15h15, e contou com a participação de quinze pessoas. Quem iniciou a atividade foi o ator João Paulo, fazendo um circulo onde cada integrante da oficina se apresentou e contou se já tinha alguma experiência com artes cênicas e peças de teatro. Logo após foi feita uma dinâmica chamada de jogo do bastão, para descontrair e tirar a timidez, a dinâmica funcionava da seguinte maneira: quem estivesse no centro da circulo com bastão estava no comando e tinha que passar o bastão para outra pessoa ocupar o lugar. Ao decorrer da atividade o ritmo foi mudando e era acrescentada mais alguma ação, como o movimento do corpo. Dando continuidade foi feito um aquecimento vocal conduzida pelo ator Marcelo que também, ensinou a letra de uma música que foi usada na peça. Seguindo com a oficina, João Paulo contou o enredo da peça, e explicou como ia funcionar a participação dos integrantes. Os quinze participantes foram divididos em dois grupos e cada um ficou com um ator que instruiu como ia ser atuação e colaboração de cada.
A oficina teve duração de duas horas e foi ministrada com muito bom humor e domínio. O intuito da oficina é mesclar atores e não-atores possibilitando a interação do público com a peça.

O espetáculo

A peça Ubu Rei acontece “Em qualquer lugar” e tem como personagem principal o Pai Ubu: um burguês ridículo e excêntrico que é empregado de Venceslas o Rei de “O Lugar”. Ubu influenciado por sua esposa Mãe Ubu mulher ambiciosa, decide se apoderar do trono do Rei e tem apoio do Capitão Bordure e de seu exército. Após matar o Rei, Ubu toma posse do trono e mostra-se malvado, grosseiro, com um pensamento político absurdo. Perante essa situação o príncipe Bougrelas herdeiro do falecido Venceslas reúne forçar no ódio que sente e na insatisfação do povo para tomar posse da coroa que lhe é de direito. Sem outra solução Pai Ubu, foge com a mesma personalidade mesquinha. O texto de Alfred Jarry traz crítica política com muito humor e inteligência. Com duração de uma hora a adaptação feita pela Cia Teatral Boccaccione é envolvente e divertida. A apresentação que teve início por volta das 17h15, em poucos minutos chamou a atenção das pessoas que estavam no parque que logo foram se aproximando para assistir a peça.

Como clássico teatro de rua, a participação do público foi intensa e essencial. Com um cenário simples com apenas um andaime, as passagem de um lugar para o outro era marcada por uma placa de identificação, fazendo o público soltar a imaginação. A peça também contou com o repertório musical de alta qualidade onde as músicas foram executadas ao vivo aproximando mais ainda plateia da apresentação. Os participantes da oficina não deixaram a desejar fizeram bonito e contribuíram para o desenvolvimento do espetáculo. Com um texto aberto que teve vários improvisos a encenação de Ubu Rei tirou várias gargalhas e deixou o domingo dos bauruenses que passaram pelo Parque Vitória Régia mais divertido.  A apresentação foi finalizada com agradecimentos e a tradicional passagem de chapéu que não pode faltar nos teatros de rua.

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Umbanda é Brasil (e é religião sim!)

3 de junho de 2014
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Documentário feito por estudantes de jornalismo da Unesp é uma experiência viva com a religião

Por Mariana Caires
Imagem: Caterina Obeid/Portal ESPM

No fim de abril, a revelação do Juiz Eugênio Rosa de Araújo de que Umbanda e Candomblé não eram religiões causou grande revolta em parte da população brasileira. A declaração de que “manifestações religiosas afro-brasileiros não se constituem religião” foi uma resposta contra a ação na justiça que pedia pela retirada de vídeos considerados ofensivos para o Candomblé.

No dia 20 de maio, após as muitas manifestações populares contra sua fala, o Juiz da 17ª Vara de Fazenda Federal do Rio de Janeiro voltou atrás na sua decisão, dizendo que “o forte apoio dado pela mídia e pela sociedade civil, demonstra, por si só, e de forma inquestionável, a crença no culto de tais religiões”. Apesar da nova declaração, os vídeos que difamam as religiões de origem africana continuam no ar.

Em meio a essa declaração infeliz do juiz, cabe lembrar de um trabalho feito no começo do ano por estudantes de jornalismo da Unesp para a disciplina de Telejornalismo II, com o apoio do Professor Denis Porto Renó. O documentário Umbanda é Brasil revela a vivência que o grupo teve com a religião da Umbanda durante um dia normal de culto (chamado de Gira) e também conta com falas de dois especialistas da Umbanda: Rodrigo Queiroz, que é sacerdote umbandista e o antropólogo Cláudio Bertolli. Essa união de opiniões forma um enredo bem completo.

O objetivo do grupo com o documentário foi desmistificar olhares preconceituosos em relação à Umbanda, suas práticas religiosas e seus praticantes. As quase 30 mil pessoas que visualizaram o doc. (até o momento) também viram dados sobre o processo de formação da religião e conheceram de perto partes dos seus ritos. 

O documentário é um exemplo de Jornalismo Gonzo, modalidade onde os jornalistas experenciam a temática da reportagem e levam suas sensações ao público. Jayme Rosica conta que “a escolha pelo gonzo acho que se deve justamente pelo fato de que a maior parte do grupo nunca havia frequentado”. Então, “a ideia era de mostrar ao público a descoberta dos personagens sobre o que realmente é a umbanda”, afirma. 





Os estudantes vivenciaram inclusive a conversa com o sacerdote durante a cerimônia e cada um comenta sua experiência no próprio vídeo

Nos 26 minutos de documentário, o destaque fica com os momentos em que podemos experenciar a cerimônia do olhar de quem estava filmando. Gabriel Cortez explica que ”por ser o primeiro contato com a Umbanda, foi sim um pouco difícil nos primeiros momentos entender alguns “costumes” que todos que frequentam a mais tempo já sabem. No fim, o pessoal do ICA nos deixou bem à vontade, e fomos percebendo até onde podíamos ir.”

A curiosidade dos repórteres envolve quem assiste o material. Perguntado sobre como foi a filmagem, Gabriel Cortez disse que “Foi uma primeira experiência bem interessante. Pudemos circular livremente com a câmera por todo o terreiro enquanto rolavam os trabalhos. Todo mundo filmou um pouco. E, enquanto um estava filmando, outro estava sendo atendido ou esperando sua vez.” 

A maior dificuldade na produção do documentário foi transformar as quatro horas de material bruto (tudo o que filmaram) em pouco mais de 25 minutos. Para quem está pensando em produzir um doc, vale saber como eles se organizaram na edição: eles decuparam (cortaram) tudo em vídeos curtos de cerca de cinco minutos. A partir disso, foram escolhendo o que valia a pena utilizar. Foram seis tardes de edição no laboratório da Unesp e ao todo, foi cerca de um mês para produzir o doc. 

Agora chega de falar tanto, que é hora de assistir o brilhante material que esses estudantes produziram e já está no ar! Antes disso, só fica o incentivo do Gabriel para quem pensa ter um doc para chamar de seu: “Olha, é um trampo grandinho. Mas, ao mesmo tempo, muito prazeroso! E que acrescentou muito, pelo menos para mim, tanto como pessoa, quanto como jornalista”.




Umbanda é Brasil, um documentário de 
Gabriel Cortez
Maitê Borges
Jayme Rosca
Solon Neto
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Light Stencil: Impressão nas imagens, imagens de impressão

2 de junho de 2014
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Light Stencil, Paulo Brazyl

Texto e Imagens: Keytyane Medeiros


Na Virada Cultural Paulista 2014, os eventos estavam bastante espalhados pelo SESC, pelo Teatro Municipal e pelo Vitória Régia, é claro. Uma das características da Virada Paulista em Bauru é que ela efetivamente, não vira. Isto é, não vira a noite com vários eventos culturais distribuídos pela cidade e não é por falta de espaço adequado, mas talvez, por falta de público.

Não que o bauruense não compareça aos eventos culturais, mas alguns quase sempre estão menos ocupados do que deveriam. Um exemplo bastante claro foi a performance de Light Stencil no Teatro Municipal, neste sábado a noite, 31 de maio, com a presença do fotógrafo Paulo Brazyl.


O fotógrafo, premiado em projetos pela Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, levou aos expectadores da noite, uma mostra de seus trabalhos com Light Stencil. A técnica, criada pelo francês Fabrice Witter em 2012, consiste em deixar a câmera com longa exposição, de 30 a 45 segundos, num cenário noturno, e em frente à câmera, posicionar uma prancha vazada com uma imagem que vai ser projetada por um flash de luz na fotografia, registrando assim, tanto o cenário noturno, quanto à imagem da prancha.

Paulo ainda conversou com os participantes, deu detalhes de como funciona a técnica, quais as dificuldades encontradas por ele para registrar projeções em paisagens mais conturbadas, como não aparecer os movimentos do fotógrafo, entre outros. Após a mostra, vários aspirantes e entusiastas da fotografia ainda conversaram com Paulo Brazyl e tiraram dúvidas sobre outros procedimentos. A promessa de uma das produtoras da Virada Cultural e representante do Teatro Municipal é trazer Brazyl para ministrar uma oficina de Light Stencil no segundo semestre. Estaremos aguardando para aprender mais sobre essa impressionante e bela técnica de fotografia. A projeção de uma imagem, a concretização de símbolos não reais em fotografias palpáveis. Impressionante ;)


Para ver imagens de Light Stencil, clique aqui
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Um olhar além das aparências

1 de junho de 2014
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Texto e imagens: Nathalia Rocha

Seminário “Contra a Redução da Maioridade Penal” realizado neste sábado em Bauru se propõe a questionar a ideia de violência e a forma como ela é construída

Um dos marcos do meu processo de amadurecimento, de passagem da adolescência para a fase adulta, foi a percepção de que meus pais queriam o melhor para mim. Isso não impede que ainda tenhamos algumas discussões de cunho político e ideológico, mas fez com que eu compreendesse que, ainda que eu não concorde com algumas decisões e argumentos deles no que diz que respeito à minha criação, as intenções deles são estruturadas a partir de um amor imensurável. E quando não há, na criação e processo de construção da personalidade e do caráter se um indivíduo, então, uma base que o leve a tal compreensão? E quando a estrutura familiar não lhe permite chegar à mesma conclusão a que cheguei?

O Seminário “Contra a Redução da Maioridade Penal”, realizado no dia 31 de maio na Câmara Municipal de Bauru, se propôs a entender essas questões. Sair da zona de conforto e entender que problemas como a violência vão além da visão linear “ação e reação”.

“Para todo problema complexo existe sempre uma solução simples, elegante e completamente errada.”
Juliana Pasqualini

Foi com a ideia do jornalista e crítico social norte-americano Henry Louis Mencken que Juliana Pasqualini, professora do Departamento de Psicologia da Unesp Bauru, introduziu sua reflexão sobre o significado da adolescência. Segundo a professora, entender o equívoco da ideia de redução da maioridade penal envolve um olhar além das aparências, um olhar que permita à sociedade enxergar o que está por trás dos crimes cometidos por menores infratores. Indo além da visão de que a adolescência é um conceito biológico e tomando o período, também, como uma construção social e histórica, o jovem nessa fase tenderia a questionar seu papel no mundo e a projetar o seu futuro a partir desse. A partir disso, Juliana questiona o suporte que jovens infratores, majoritariamente sem base familiar e educacional, tem nesse processo de projeção e planejamento de futuro.

Usando uma linha de combate diferente, a deputada estadual Beth Sahão usou dados para desconstruir alguns dos argumentos usados na defesa da redução da maioridade penal. Segundo o Mapa da Violência 2012, o Brasil é o quarto colocado, entre 92 países, na taxa de homicídios de crianças e adolescentes. Olhando apenas para o nosso país: 129 casos de violência física ou psicológica são registrados pelo Disque-Denúncia diariamente. Dentre os menores infratores, segundo dados levantados pelo Conselho Nacional de Justiça, a maioria parou de estudar aos 14 anos.

A deputada colocou, ainda, a problemática da falta de investimentos na implantação e aplicação de políticas capazes de apoiar esses jovens. Beth Sahão diz que, além de enfrentar a falta de interessa polítco em se criar políticas que subsidiem a formação de jovens carentes, ela tem como problema também a falta de recursos que tornem possível a criação de leis e dispositivos capazes de defender esses indivíduos.

“Reduzir a maioridade penal é reconhecer a falência do Estado no trato da criança e do adolescente”

Além da deputada Beth Sahão e da professora e psicóloga Juliana Pasqualini, o seminário também contou com a presença do advogado e rmembro do Conselho Estadual da Criança e do Adolescente (Condeca) Ariel de Castro Alves, responsável pela conclusão sobre a falha do Estado, e que levantou a questão da inconstitucionalidade da maioridade penal. E com Givanildo Manoel da Silva, educador social e especialista em políticas destinadas a infanto-juventude.

Givanildo, o Giva, propos um olhar mais amplo da sociedade brasileira, de modo que mais que o combate à redução da maioridade penal, avaliássemos os danos da construção sociedade baseada no encarceramento e na punição baseada na tolerância zero.

O seminário foi organizado pelo Comitê Contra a Redução da Maioridade de Bauru e contou com a participação de diversas entidades e movimentos sociais atuantes na cidade.

Andamento da discussão no país

Segundo pesquisa realizada pela Confederação Nacional do Transporte em 2013, 92,7% da população é favorável à redução da maioridade penal. Em fevereiro deste ano, a proposta do senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) de redução da idade penal para 16 anos em casos de crimes hediondos foi rejeitada pela Comissão de Constituição e Justiça. O senador apresentou recurso à Mesa Diretora do Senado para que sua proposta de emenda à Constituição (PEC) seja apreciada pelo plenário da Casa. Aloysio recolheu as nove assinaturas necessárias para que a PEC seja analisada pelo pleno dos senadores. Com isso, a proposição entrará na pauta de votações.
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