Por Mariana Caires
Imagem: Caterina Obeid/Portal ESPM
Os estudantes vivenciaram inclusive a conversa com o sacerdote durante a cerimônia e cada um comenta sua experiência no próprio vídeo
No fim de abril, a revelação do Juiz Eugênio Rosa de Araújo de que Umbanda e Candomblé não eram religiões causou grande revolta em parte da população brasileira. A declaração de que “manifestações religiosas afro-brasileiros não se constituem religião” foi uma resposta contra a ação na justiça que pedia pela retirada de vídeos considerados ofensivos para o Candomblé.
No dia 20 de maio, após as muitas manifestações populares contra sua fala, o Juiz da 17ª Vara de Fazenda Federal do Rio de Janeiro voltou atrás na sua decisão, dizendo que “o forte apoio dado pela mídia e pela sociedade civil, demonstra, por si só, e de forma inquestionável, a crença no culto de tais religiões”. Apesar da nova declaração, os vídeos que difamam as religiões de origem africana continuam no ar.
Em meio a essa declaração infeliz do juiz, cabe lembrar de um trabalho feito no começo do ano por estudantes de jornalismo da Unesp para a disciplina de Telejornalismo II, com o apoio do Professor Denis Porto Renó. O documentário Umbanda é Brasil revela a vivência que o grupo teve com a religião da Umbanda durante um dia normal de culto (chamado de Gira) e também conta com falas de dois especialistas da Umbanda: Rodrigo Queiroz, que é sacerdote umbandista e o antropólogo Cláudio Bertolli. Essa união de opiniões forma um enredo bem completo.
O objetivo do grupo com o documentário foi desmistificar olhares preconceituosos em relação à Umbanda, suas práticas religiosas e seus praticantes. As quase 30 mil pessoas que visualizaram o doc. (até o momento) também viram dados sobre o processo de formação da religião e conheceram de perto partes dos seus ritos.
O documentário é um exemplo de Jornalismo Gonzo, modalidade onde os jornalistas experenciam a temática da reportagem e levam suas sensações ao público. Jayme Rosica conta que “a escolha pelo gonzo acho que se deve justamente pelo fato de que a maior parte do grupo nunca havia frequentado”. Então, “a ideia era de mostrar ao público a descoberta dos personagens sobre o que realmente é a umbanda”, afirma.
Os estudantes vivenciaram inclusive a conversa com o sacerdote durante a cerimônia e cada um comenta sua experiência no próprio vídeo
Nos 26 minutos de documentário, o destaque fica com os momentos em que podemos experenciar a cerimônia do olhar de quem estava filmando. Gabriel Cortez explica que ”por ser o primeiro contato com a Umbanda, foi sim um pouco difícil nos primeiros momentos entender alguns “costumes” que todos que frequentam a mais tempo já sabem. No fim, o pessoal do ICA nos deixou bem à vontade, e fomos percebendo até onde podíamos ir.”
A curiosidade dos repórteres envolve quem assiste o material. Perguntado sobre como foi a filmagem, Gabriel Cortez disse que “Foi uma primeira experiência bem interessante. Pudemos circular livremente com a câmera por todo o terreiro enquanto rolavam os trabalhos. Todo mundo filmou um pouco. E, enquanto um estava filmando, outro estava sendo atendido ou esperando sua vez.”
A maior dificuldade na produção do documentário foi transformar as quatro horas de material bruto (tudo o que filmaram) em pouco mais de 25 minutos. Para quem está pensando em produzir um doc, vale saber como eles se organizaram na edição: eles decuparam (cortaram) tudo em vídeos curtos de cerca de cinco minutos. A partir disso, foram escolhendo o que valia a pena utilizar. Foram seis tardes de edição no laboratório da Unesp e ao todo, foi cerca de um mês para produzir o doc.
Agora chega de falar tanto, que é hora de assistir o brilhante material que esses estudantes produziram e já está no ar! Antes disso, só fica o incentivo do Gabriel para quem pensa ter um doc para chamar de seu: “Olha, é um trampo grandinho. Mas, ao mesmo tempo, muito prazeroso! E que acrescentou muito, pelo menos para mim, tanto como pessoa, quanto como jornalista”.
Umbanda é Brasil, um documentário de
Gabriel Cortez
Maitê Borges
Jayme Rosca
Solon Neto
Nenhum comentário:
Postar um comentário