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Silver Bracelet - Entrevista Nemphis Belle (Parte 2)

24 de julho de 2012
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Luís Morais e Jessica Mobílio conversaram com o Léo Vituri da banda Nemphis Belle, de Porto Ferreira, que você pôde conferir ontem aqui no e-Colab, num papo sobre o início da banda, inspiração, a perspectiva de tocar músicas em inglês e as influências que a banda carrega. Hoje a conversa continua falando sobre o Coletivo Mogi, dos meninos da Nemphis em companhia de um amigo, Noites Fora do Eixo e cachês.



e-Colab: E como que está o Coletivo Mogi? Vocês que são os idealizadores ali. 

Léo: O Coletivo é a Nemphis Belle mais o Rafael Fávaro, o Flor. O Flor é o “líder”, na parte estrutural, organização, financeira... ele é a parte mais séria dentro do Coletivo. E a gente sobreviveu nesse período [início de 2012 até hoje] meio a altos e baixos. Nós começamos bem, fizemos um Grito Rock muito bom, lotou, bandas muito boas, só que depois do Grito Rock nós tivemos umas duas Noites Fora do Eixo que não tivemos sorte com as bandas que trouxemos. As bandas da cidade foram lá e tocaram benzaço e as bandas de fora não agradaram – não que elas fossem ruins, mas o público não gostou. E tivemos dois pontos negativos com essas duas Noites Fora do Eixo. Só que organizamos uma exposição de artes muito boa, bastante gente passou por lá. Foram dois dias, um sábado e um domingo. Artistas plásticos da cidade e de fora expondo, fotógrafos, varal de poesias... Um evento que trouxe muitos pontos positivos não só para o Coletivo mas para a galera associada ao Coletivo e para a cidade também. 

A gente ainda não consegue se dedicar totalmente a isso, então é difícil acertar sempre, mas o Grito Rock e a exposição foram os pontos principais. 

e-Colab: Dentro do coletivo tem alguém que mexe com essas artes? 

Léo: O Rafael Fávaro é fotógrafo. O Zinho é poeta. E além de escrever poesias, vai também pro lado da crônica... ele é escritor. Eu também sou escritor, mas nunca publiquei nada, to tentando finalizar um romance, espero que ele fique pronto até o final deste ano com qualidade para publicar. E tinham poesias minha no varal, que são dos personagens do romance. Então apesar de eu e o Zinho sermos Nemphis Belle e do rock, temos um pé na literatura. Ele mais pro lado da filosofia, com uma literatura mais ácida e contestadora. E eu vou pro lado mais da arte, tentando fazer romances mais representativos de sentimentos e destinos. 

Então essa exposição de arte mostra o outro lado, não da música, mas que a gente é artista também. Por exemplo: tenho um curta metragem, e na próxima exposição de arte gostaria que ele fosse exibido lá, porque eu achei que meu curta pode dialogar muito com de um dos expositores, do Andrey Rossi. 

e-Colab: E apareceu gente nessa exposição querendo demonstrar o trabalho deles? 

Léo: Apareceu um casal de irmãos, bem novinhos, que são desenhistas, pediram para da próxima vez chamar eles... Tem uma outra fotógrafa, namorada de um cara que expôs e da próxima vez devemos chamar ela. A exposição reuniu alguns artistas que estavam “desunidos” e serviu como espaço de vivência dos artistas da cidade: Beto Bellini, um poeta de Porto Ferreira muito premiado; Rafael Marin, formado na USP em viola caipira e é poeta também. Muita gente legal no mesmo espaço. Foram dois dias inesquecíveis para muitos artistas na cidade. 

e-Colab: E quais eram as bandas da região que mandaram bem na Noite Fora do Eixo? 

Léo: Uma foi a Funileiros do Fiat 147, que é uma banda muito massa. Eles não levam o som deles muito a sério, levam mais pro lado da comédia e curtição. Instrumentalmente é muito bom e as letras são engraçadas. Eles levam pra um lado meio Velhas Virgens – mas eu prefiro muito mais os Funileiros do que Velhas Virgens porque eles não apelam nas letras, são mais “inocentes”. 

E a outra banda foi a Museu do Esquecimento. Ela é um fenômeno, absurdamente boa, porque tem muitos artistas bons lá. Tem o Cleiton, que canta uns sambas muito loucos; o Cléo, que toca uns rocks muito legais; Guilherme Marin, que faz música de um modo muito diferente, meio medieval; o próprio Rafael Marin; tem o Ivo Bragante, que tocou saxofone na “It's Amazing” pra gente. Enfim, é uma coletânea de muitos músicos bons da cidade. Músicos e artistas, porque o Rafael Marin e o Cleiton são poetas, o Cléo é cartunista e eles pegam uns poemas do Beto Bellini e faz versões de música. A cultura ferreirense são eles, o Museu do Esquecimento. Eu cheguei a tocar um tempo com eles, em uma outra formação chamada Sapato Chapéu, fizemos um show e antigamente eles tinham uma banda, uma das melhores que já teve na cidade, chamada Plágio. Um dos melhores shows que já vi. Eu tinha visto Cachorro Grande um mês antes e vi o show do Plágio e falei “mais animado que Cachorro Grande”. 

e-Colab: ...acho que você tem um preconceito contra essas bandas mais conhecidas 

Léo: Não, é que eu acho que tem muita boa que a galera não conhece. Eu gosto de Cachorro Grande, é uma puta banda, já ouvi bastante, mas as vezes o que faz sucesso não é o que tem de melhor. 

e-Colab: Outra pergunta clichê então: o que você tem ouvido ultimamente? 

Léo: Complicado falar o que eu tenho ouvido, porque vou falar de Eric Saade, Choupadi, aquelas coisas nada a ver do rock. Mas tem muita coisa legal de independente no Brasil hoje. Tem a Suéteres, de Pirassununga, que faz um rock em português massa – apesar de eu ter falado mal do rock em português, tem coisas legais, como Suéteres e Cachorro Grande. Uma banda de São Paulo que gostei muito se chama Tokyo Savannah. O Black Drawing Chalks, não é muito minha vibe de som mas considero bom. Tem também a Monkberry de Londrina. 

Então se você for garimpar o que tem no Brasil, você acha coisas legais. Mas infelizmente essas bandas não conseguem ter um suporte para estourar, para fazer o sucesso que mereciam fazer. Tem bandas horríveis, para rock, que tão na MTV, que dão entrevista, todo mundo conhece, porém tirando Lá menor pouco sabem de nada. O próprio circuito Fora do Eixo mostra isso (bandas que que não fazem sucesso e são muito boas). Tem bandas legais, como Aeromoças e Tenistas Russas, os Rélpis, Fenícia – um estilo meio Pitty, não é muito a minha cara mas o show deles é muito bom -, tem também o Volveles, banda de alguns amigos que fazem músicas muito legais. Banda boa tem, é só ter boa vontade da galera, parar de ouvir só Beatles e começar a ver o que tá acontecendo ao seu lado. Os caras são 90% mídia e 10% qualidade, mas esses 10% são muito bons, álbuns como Abbey Road e Let It Be são geniais. Mas tem coisa boa que não teve a mesma mídia. Tentar abrir a cabeça, não sair a noite procurando ouvir as mesmas músicas que você ouve na sua casa. Porque a década de 60 acabou. Apesar da gente fazer som da década de 60, estamos fazendo nos anos 2000. 



e-Colab: E desde quando a banda tem esse contato com a rede Fora do Eixo? Quando aconteceu essa aproximação? Vocês divulgavam a banda antes disso? 

Léo: O Fora do Eixo salvou a nossa vida. Muita gente critica, mas em termos pessoais, o Fora do Eixo foi muito bom pra Nemphis Belle e pra mim como pessoa. A gente não conseguia sair daquele perímetro nosso de 50 km de Porto Ferreira. Geralmente era shows de cover... E depois do show em Bauru, depois que o Enxame apareceu, mudou completamente. Tocamos em Poços de Calda, Piracicaba, Londrina, Ribeirão Preto, São Paulo... vamos tocar em Serrana. O Fora do Eixo libertou a gente. E os vejo como uma salvadora de muitas bandas, possibilitando que elas possam rodar, mostrar seu som, se tornar banda de verdade. Que não fiquem como a gente era antes, só ensaiando no fundo de casa e tocava de vez em quando. Hoje somos uma banda que tá lançando CD, muito mais shows marcados. E uma percepção melhor de estética. Por exemplo: nós tínhamos uma capa do primeiro CD, que eu mesmo tinha feito, era toda laranja, um horror... e eu vi uma banquinha Fora do Eixo aqui em Bauru e pensei “que merda é a nossa capa, preciso ir atrás de uma melhor”. 

E a turma fala mal do Fora do Eixo não pagar cachê, mas a gente tocou em alguns lugares sem ser do Fora do Eixo e não pagaram também. Esse mercado de cachê tá meio falido, só carta marcada, só bandinha mais famosa que recebe. Banda de música própria que tá começando não tem lugar que tenha dinheiro pra ficar dando cachê. No Beco mesmo na Rua Augusta, com todo o glamour, ganhamos menos que em um monte de lugar do Fora do Eixo, como em Poços de Calda. Então esses caras tipo o China, esses caras tem que ser ridicularizados mesmo. Se ele quer grana vai trabalhar. Se quer tocar música toque por amor. 

E o Fora do Eixo foi pra mim como pessoa porque pude aprender a organizar eventos, a dialogar com bandas e lugares a negociar. Eu cresci, a Nemphis Belle cresceu e espero que o Fora do Eixo faça outras bandas e pessoas crescerem também.

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It's Amazing! - Entrevista Nemphis Belle

22 de julho de 2012
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Por Luís Morais e Jessica Mobílio 
Fotos por Eduardo Kenji

Lançar o primeiro disco é sempre um marco na carreira de qualquer banda. Com a Nemphis Belle não seria diferente. O conjunto da pequenina e movimentada Porto Ferreira, que recém lançou o álbum “It's Amazing” é representada nessa entrevista exclusiva pro e-Colab pelo baixista Léo Vituri, que nas horas vagas estuda Rádio e TV na Unesp de Bauru. 

E foi dentro do campus, com direito a um hamburgão da minha parte no começo (eu estava com fome, pô), uma mesa de cantina com 3 e-colabers ao seu redor, que Léo falou da banda, do lançamento do disco, do Coletivo Mogi (no qual é um dos responsáveis), e, lógico, de música e arte. Com direito a cornetada em Legião Urbana e nas bandas midiáticas atuais. 

A quase uma hora de conversa está toda transcrita aqui. E dividida em duas partes: a primeira sobre a própria Nemphis Belle e a segunda sobre o Coletivo Mogi e o Fora do Eixo. E antes de ler, já deixo de cara o site da bandaem que você pode baixar o disco e ouvir um bom rock sessentista

 Parte 1 – It's Amazing! 

e-Colab: Sempre que eu começo uma entrevista, começo com a pergunta mais clichê de todas: por que “Nemphis Belle”? 

Léo: Na verdade é uma pergunta que tem que ser feita melhor pro Zinho (Renan Martins, guitarrista da banda). Ele tinha visto um filme chamado “Memphis Belle”. E falou que queria montar uma banda chamada “Nemphis Belle”. Falei “vamos!”. E aí, em outubro de 2004, primeiro ensaio e tamos até hoje. Vamos fazer 8 anos agora em outubro. 

E como foi a entrada do resto da galera? No caso do [Rodrigo] Francalacci, vocês chegaram no estúdio dele e falaram “vamos ensaiar” e deu liga... como foi? 

Na cidade [Porto Ferreira], todo mundo que era envolvido com música o conhecia. Ele grava desde os 14 anos, no fundo da casa dele, e quando eu e o Zinho começamos a frequentar eventos de música, lá por 2002 nós vimos ele tocando num festival de música própria – ele ainda cantava em português, era bem diferente do que é hoje – e naquela época eu e o Zinho éramos metaleiros. Pouco tempo depois a gente começou a compor também, nós tínhamos uma banda de Thrash Metal – o Zinho tinha 13 anos quando fez a primeira música – então desde 2002 já queríamos compor, e o Francalacci, além de já compor rock, ele também já gravava. 

Quando deixamos de ser metaleiros, pensamos “vamos montar uma banda de rock”. Fomos na casa do Francalacci, o chamamos e ele aceitou. Tínhamos outro baterista, e o Régis acabou entrando depois – e entrou na melhor fase da banda. Começamos a compor músicas melhores, a fazer bastante shows – de covers na época -, e depois entrou o Matheus no teclado e agora saiu – tá para entrar outro tecladista. 

Mas não sei se a banda começou comigo e com o Zinho, ou com o Francalacci gravando na casa dele desde novo. Acho que a banda começou dessa união: eu e o Zinho há muito tempo tocando junto com um cara [Rodrigo Francalacci] que já sabia gravar e compor, que cantava e tocava muito bem. 

Dessa banda de thrash metal, que você ensaiava na garagem da sua vó – Léo corrige: “na garagem da vó do Zinho” - vocês tinham um batera lá por exemplo. Aonde foi parar esse batera e o resto da galera que tocava? 

Esse batera se chamava Marquinho na época. Ele tava em São Paulo fazendo Relações Internacionais na USP, não temos mais tanto contato com ele, mas era um cara que a gente gostava muito de tocar junto na época. Depois começamos a tocar Death Metal com o Victor, que acabou sendo o primeiro baterista da Nemphis Belle

Quando fui na garagem do Francalacci, vi posters do The Who e dos Rolling Stones. E antes vocês curtiam um metal. Como vocês chegaram nesse som atual? 

Quando conhecemos o Francalacci, ele só ouvia Beatles praticamente. As influências dele eram poucas. Então tudo que ele fazia era meio Beatles. Só que eu e o Zinho não gostávamos muito de Beatles – até depois começamos a gostar – mas quando você é metaleiro, você tem a mania de se aprofundar muito, ouvir muita coisa e tá sempre buscando coisa nova. Então eu e o Zinho seguimos essa tendência de ouvir um monte de coisa. E começamos a mostrar coisas pro Francalacci, como Led, Velvet Underground – que deu muita influência para umas músicas antigas – mas eu acho que a sonoridade de hoje surgiu dele ser fã dos Beatles por muito tempo; dele ter começado a namorar uma menina, Daniela, que era muito fã do Stones; um pouco de Bob Dylan (que os três gostam); e uma grande influência nesse segundo CD que vamos lançar é Led Zeppelin, uma banda que fui fã por muito tempo e sou até hoje – e o Régis também é muito fã. 





E essa ideia de separar o disco em Lado A/Lado B, foi uma influência disso que vocês curtiam? 

No rock, depois da década de 80 pra frente, a gente não gosta de praticamente nada. É pouca coisa que a gente gosta de verdade. Década de 70 tem coisas que nós gostamos, mas que acabam influindo no som não são tantas. Então o nosso som é mais voltado para a década de 60, que é o som que a gente gosta de ouvir, e nessa época era vinil, por isso na contra capa do CD eu pensei de ter Lado A e Lado B e as músicas foram divididas para dar 20 minutos para um lado e 20 minutos pro outro, pensando em como as músicas seriam divididas se fosse um disco de verdade. O lado A começa com “Silver Bracelet”, uma música que a gente acha legal de abrir, e encerrando tem “Good Bye”, que fechou nossos shows por muito tempo. E abrindo o Lado B é “It's Amazing”, que dá o título do disco. E fechando tem uma bem interessante, “Stand In Your Heart”, uma música totalmente gravada pelo Francalacci. A batera, baixo, tudo que tem nela foi gravada e composta por ele. É a música especial dele nesse disco e ele sempre disse que achava que soava como final de disco. 

E falando sobre essa “Stand In Your Heart”, como foi? Ele já falou “eu tenho uma música pronta e vou botar ela aqui”, como foi esse processo? 

Léo: Teve uma fase que a gente compunha muito junto. Só que aí entrou o Régis na bateria e ele não gosta muito de ensaiar e isso não deixou a gente compor tanto junto, como era antes. Aí teve uma época que a banda estava em crise, não conseguia mais compor músicas boas porque tava difícil de ensaiar. Mas o Francalacci começou a bolar uma carreira solo. Então muito das músicas desse primeiro CD são canções que ele pensou para a carreira solo dele. E “Stand in Your Heart” seria uma música a entrar no primeiro disco solo dele. E foi uma época em que ele se concretizou como compositor, começou a compor muita coisa boa. Então teve uma época que tinha um monte de música boa que era só a gente sentar e tocar. 

E nesse segundo CD: as músicas são mais o Francalacci compondo ou já voltou a banda toda junta? 


Ainda continuou o Francalacci. Nessa linguagem rock sessentista, vai ser sempre ele que vai puxar a frente da Nemphis Belle. Por mais que eu tenha algumas músicas na cabeça e o Zinho algumas na dele, não tem a quantidade que o Francalacci tem. Enquanto eu demoro seis meses para pensar numa música, ele faz seis músicas em uma semana. Ele é muito produtivo e criativo. O Zinho compõe também, mas para outro lado. Ou é mais pesado, que na época do metal ele era um ótimo compositor pro Death Metal - para a idade que ele tinha e o lugar que estávamos, ele era tipo um fenômeno pro Death Metal. Ou ele compõe em português. 

Na Nemphis Belle, o Francalacci domina essa linguagem do rock sessentista e consegue produzir bastante. Então por mais que a gente volte a compor junto, a cada 4 músicas no máximo que a gente vai chegar é duas nossa e duas dele. Por ele ter esse domínio da linguagem, essa facilidade e criatividade, e saber o que faz com a inspiração. Porque inspiração todo mundo tem, mas saber pegá-la, lapidar e transformar numa coisa tocável, são poucos que conseguem. E ele consegue. Ele se inspira num bar, e no outro dia chega com a música pronta. 

Tem alguma música desse CD que tem um significado diferente? 

Pra mim é a “It's Amazing”, que eu e o Francalacci fizemos a letra e eu fiz pra minha namorada, numa época que a gente não tava junto, eu tava meio mal... e pra mim representa coisas entre eu e ela. 




E como “It's Amazing” chegou a ser o nome do álbum? 

Foi sem querer. A gente queria que não tivesse nome o álbum. Eu mandei pro Túlio, um amigo meu que fez a capa, no Gmail uma música só e não deu pra anexar uma quantidade, porque elas estavam grandes e só cabia uma música. E mandei “It's Amazing”, ele gostou e colocou na capa. E isso virou um slogan. O show foi muito bom e a galera fala “It's Amazing”! A galera começou falar quase como um jargão publicitário. 

Já que nem todos da banda moram no mesmo lugar, como vocês ensaiam? 

Teoricamente não moramos todos no mesmo lugar mas todo final de semana estamos em Porto Ferreira. O Régis, de sábado, estuda em Campinas e faz aula de bateria avançada lá. Então a gente praticamente só ensaia nas férias. Eu por exemplo, quando está perto dos shows, fico tocando as músicas sozinho em casa como se fosse um ensaio. 

Eu sinto falta disso, eu ganho mais segurança pra tocar quando tá ensaiado. Mas já que não dá, fazer o que, tem que treinar sozinho e seguir em frente. 

Vocês vão tocar só música em inglês mesmo? É uma espécie de filosofia da banda ou um dia irão tocar em português também? 

Pode ser que mude no futuro, mas com o nome Nemphis Belle, com a nossa configuração atual, acho que português é uma coisa difícil da gente cantar, porque eu não acredito muito em rock em português. Rock é uma coisa que surgiu na Inglaterra, nos Estados Unidos, é uma coisa de lá, o inglês se encaixa na rítmica do rock, o que não acontece com as línguas latinas, acho muito complicado, por conjugação verbal, pelo tamanho das palavras, etc. 

Vamos supor... no português você fala “e-le faz”, no inglês é “he do”. As coisas saem muito mais fáceis. 

E não só pela rítmica do rock, mas pela identidade da banda também, vamos cantar sempre em inglês, se formos para fazer algo em português vai ser com outro nome, outra perspectiva. 

E como é a recepção do público de uma banda autoral em inglês? Já tocaram em algum lugar que a galera não os receberam muito bem? 

Em português é mais fácil de fazer sucesso, mas não seria muito pra gente. A gente poderia ganhar mais dinheiro, ser mais famosos, mas super envergonhado do que estivéssemos fazendo. Se eu tivesse que ser rico e famoso, tocar algo como Legião Urbana, prefiro ser pobre e desconhecido e tocar algo como Stones. É preferível você ser feliz com você mesmo do que pensar tanto na recepção da galera. Mas rock em inglês tem muita recepção, muito público e só a gente chegar com qualidade e na hora certa, com músicas boas, que esse público irá existir. Tem uma galera que ouve essas bandas novas ingleses como The Killers, Kings of Leon, Strokes... por que não ouvir Nemphis Belle? Gostaríamos de um dia ter como gravar na mesma qualidade que eles, ter a grana pra investir, e mesmo não tendo nem um 1% do recurso deles, a gente consegue se superar em muitos pontos e fazer um rock inglês legal. 

Vocês tocaram no Beco 206 em São Paulo e também na... - Léo lembra o outro lugar - ...Casa Fora do Eixo em São Paulo. Como que foi isso? 

Na Casa Fora do Eixo não foi um show tão legal, nós chegamos atrasados o que comprometeu um pouco a nossa apresentação. E foi meio esquisito o clima, porque estávamos muito nervosos por ser a primeira vez em São Paulo. Mas no Beco levamos técnicos de som, chegamos mais calmos... foi um público só pra ver a gente, távamos tocando e tinha uma galera cantando as músicas. Foi... ah, it's amazing! 


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Pé na Estrada | Músicas próprias, lasanha e anos 60. E um público satisfeito

24 de novembro de 2011
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       Fotos  por Eduardo Kenji
Texto por Luís Morais

Ato 2


[a saga de Luís Morais começa aqui: Ato 1]


17 km separam Porto Ferreira de Pirassununga. Suficiente para que se tornem parceiras culturais. Exceção a um maldito pedágio meio a esse trajeto, só você botar umas músicas no carro, bater um rápido papo e vai de uma cidade para outra em três piscares de olhos.

Chegando em Pira, a cidade capitaneada por edifícios horizontais e praças desertas sediava o Bodeguita Bar, lugar conhecido da população local. Há 15 consecutivos anos na ativa, 12 na localização atual, o Bodeguita impressionava pelo fato de ser um prédio antigo, mas muito bem conservado. Entretanto, não era o local mais perfeito para uma banda tocar: uma parede enorme atrapalhava grande parte da visão de quem preferia ficar sentado numa mesa ou queria ir ao bar. Sem contar a acústica da casa, que deixou o som difícil de equalizar e não lá o dos melhores.

E não era só isso. O maior desafio para Os Rélpis e para o Nemphis Belle era outro: tocar suas músicas próprias e conseguir agradar um público “acostumado” a ouvir covers. Um público que sentava na mesa da frente e fica no pé da banda “essa, toca essa, essa”. A conjugação do verbo “sentar” no passado, felizmente, foi certeira.


23:34. Galera dispersa, deliciando-se de uma incrível lasanha – uma ótima dica a quem for lá – e conversando sobre corriqueiros assuntos. Em meio a um momento não lá dos mais adequados para começar a tocar, com gente ainda na portaria chegando, Os Rélpis assumem suas posições no palco e começam o show. E tudo muda.



O repertório recheado do segundo disco da banda de Araraquara, o “Do Fruto, o Escracho Monumental Caramelizado”, chamou a atenção de todo o público logo de cara. Eu estava sentado do lado de fora, numa visão outrora privilegiada de ver a banda. Tive que me levantar. A galera parou na porta, se acomodando do jeito que dava para curtir o som e a performance dos Rélpis.



Além da própria música, os músicos também chamavam a atenção. Conrado é o primeiro baterista que não usa tom que já vi tocar – e isso nem um pouco o prejudica, pelo contrário. Bortô, Barone e Caiubi comandavam a melodia da música e deixavam Garboso fazer um espetáculo a parte, através da sua voz e de ser um baita front-man (não daqueles que precisa chamar o público para bater palmas ou algo do tipo, mas sim dos que prendem a atenção de quem está lá por si só).

E se eu fechasse os olhos, poderia me imaginar tranquilamente na década de 60. Já que a psicodelia tropicalista dos Rélpis, ao se encerrar exatamente as 0:36, deram lugar ao Nemphis Belle, banda de Porto Ferreira. O conjunto também começou com músicas próprias, tocando 10 delas, e surpreendendo novamente o público presente, que continuava curtindo.

Mas desta vez, os anos 60 iam para as terras americanas, uma influência forte e interessante de bandas como Rolling Stones e The Who. Com linhas de baixo potentes e músicas bem feitas, o Nemphis não era caracterizado somente pelo som, mas também pelo figurino. Até o guitarrista Zinho Pereira se rendeu e pela primeira vez botou um terno e gravata.

Quando era 2:02, Leo Thomazin anunciou que era a próxima música seria a última. E se você não acredita naquela crença de que hora e minutos iguais é para você fazer um pedido, pode começar a acreditar. A galera pedia mais. E a última foi somente a última das autorais. A Nemphis Belle continuou o show, agora com covers. Com direito até a participação no trompete do Bortô, do Rélpis.

E até uma improvisação de “Layla” saiu nesse final. O saldo para um pouco mais de 100 pessoas presentes certamente foi surpreendente e positivo.



Para quem foi somente curtir um som, viu duas bandas mostrarem suas próprias canções e prenderem suas atenções. Se não oficialmente, foi certamente uma noite fora do eixo. Reproduzida uma vez em Pirassununga, e agora na expectativa de que “crie filhos” e aconteça com cada vez mais frequência.

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Coloque seus coletes, botinas e suspensórios

1 de novembro de 2011
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Por Jessica Mobilio
Fotos por Eduardo Kenji

Com vocês a Nemphis Belle. Era uma daquelas noites, de alinhar identidade musical à visual. O repertório com o cheiro de rock anos 60 pairou no Jack Pub por quase uma hora. Os garotos apareceram de figurino peculiar: camisas sociais; coletes; botinas; e o preto e branco reinavam. Deixe-me apresentá-los às canções e nada de cover dos Beatles ou galanteios românticos. Só letras autorais e mesclas de rock indie. Som e vocal limpo (é difícil reunir os dois). E o público aprovou. Há quem arriscou uns braços desgarrados. 

   


Outra banda, a Monkberry era das expressões fartas de satisfação e de puro elogio a Nemphis. Com cervejas ao pé do palco, o feriado prolongado (só para os servidores públicos ou não) se acolhia. Noite chuvosa e de frio repentino (tá virando habito). E pra quem encarou como nostalgia do rock 60 foi tiro certeiro. É clichê dizer isso, mas foi um desses bons. De sentir uma atmosfera do velho e novo, ao mesmo tempo. Isso porque o estilo não morre (rock embalado e intimista). De chamar o público com refrãos “Come on, come on...”. 

Chegou hora para agradecimentos, os meninos de Porto Ferreira (SP) lembraram dos Monkberry (praticamente um culto que foi recíproco) e do Enxame Coletivo. “E viva Bauru, viva sete anos de estrada da nossa banda”. Eu queria mais, pode ser? Isso porque a noite voou ou foi só um relapso particular? Só sei que não me despedi. Deixem os anos 60 e indie mais um pouco.



E mais tarde...
























Aquele instrumento dos nemphis, “Meia Lua” é de suar os ouvidos mesmo, e aconteceu. Posso dizer que foi personificado, ganhou alma e caminhou pelo ambiente “jackeano” com os próprios pés. Tornou-se o centro de pessoas acendidas... Fez-se uma roda, cercado por saias rodadas, corpos e um colete (dos nemphis), batucadas sem letras, mas que renderam ao final da noite, ADEUS À ALTURA. 

“It was Amazing”...

EM CRISE? CRÍTICO? NÃO, SOU APENAS “CRICA” MESMO
Por Jayme Rosica

As noites chuvosas de sábado insistem em nos perseguir pela jornada musical da cidade. E o sábado não foi diferente. 
























O Jack Pub não estava tão cheio, mas o rolê fluiu bem. Após um show que me surpreendeu bastante, da Nemphis Belle, era a vez de assistir pela segunda vez a apresentação da Monkberry de Londrina. O folk foi bom, bem estruturado, com uma base bem trabalhada. Confesso que o show anterior que assisti foi melhor. Desta vez a banda não demonstrou tanta empolgação.





O estilo do folk se fazia presente, porém ainda vi com olhos meio críticos a sonoridade. A musicalidade flui, mas ainda é muito engessada no estereótipo americano do estilo. Vemos hoje no país uma tendência a um “abrasileiramento” dos estilos genuinamente gringos. Porém a Monkberry ainda se mantém muito presa à linha musical do folk do Tio Sam.

O público gostou, vi muita gente comentando positiviamente a respeito. Aliás, com as ressalvas críticas já feitas, achei a apresentação tecnicamente perfeita.

Uma cerveja aqui e outra lá, presenciamos uma boa noite de música e divertimento, e compactuamos da idéia que o campo da cobertura colaborativa, seja ela crítica ou não, ainda terá uma grande área de atuação na cidade do pão com rosbife.



A volta dos Pandas
Por Laís Semis

Meninos de camisas brancas engravatados enfeitando o ambiente e pandas liberados pela alfândega na banquinha. Estamos esperando algo além desse rock fantasiado de passado.

- Já pensou em assinar um contrato milionário?


Bruno é o Obelix da insanidade. Reza a lenda de que ele também caiu no Caldeirão do Druída quando era criança e agora qualquer dose gera um super efeito no seu comportamento. Depois que os vi em cima de um palco, eu não sabia mesmo o que esperar deles hoje. Dia chuvoso, quase feriado. Depois de um show tão intenso quanto o do Canja Rock, algo tinha que acontecer. Pelo menos, um pouquinho de insanidade deve ser intrínseco dos pandas. Mas eles trouxeram coesão.

- Tocar em Bauru novamente é a melhor coisa que me aconteceu esse ano, pois - “pois” é foda... o frontman me colocou fingindo uma entrevista - pois me sinto em casa, porque as pessoas são maravilhosas e o pastel de forno do Lucas é ótimo.

Agora, quarteto de novo, o The Vain me trouxe uma nova vibe. 10 anos de banda, estrada, cumplicidade entre os integrantes, formação original. Não, não. É diferente do The Vain que ouvi antes nesse mesmo palco, mais ou menos na mesma hora 4 meses atrás. Insanidade não - pelo menos não tão explícita. Muita sobriedade regava o The Vain em sua volta à Bauru.

Vim pra sentir o pandalismo correndo dentro de mim. Chega mais. Vem pirar nessas caixas ensurdecedoras. Vem dançar nesse som alucinante que o Bruno Bottossi cria com os dedos nesse seu novo brinquedinho musical.

A passagem por Bauru deve ter marcado os Pandas tanto quanto fomos marcados por eles. Tire um tempo pra ouvir o áudio que a banda disponibilizou do show deles por Bauru. Você vai compreender melhor do que eu estou falando, muito mais do que se ouvir o CD. Mas ainda não é a mesma intensidade de estar aqui.

A construção do som é totalmente real. Não era mais o mesmo, mas era exatamente isso que eu esperava ouvir do The Vain 4 meses atrás. O The Vain me deu os shows em datas contrárias, me surpreendendo mais uma vez. Visceral desfilante, eu diria.

- Quem quiser subir no palco, pode vir. 

Tenho acompanhado as histórias da turnê pandalística através de relatos. Pessoas invadindo o palco a ponto de camuflarem os integrantes. Mas a chuva e as fantasias indies sessentistas rondando o pub nos deixou meio tímidos, The Vain.

E o motivo pelo qual me apaixonei por eles na primeira audição vem em seguida: “Close to The Fire”. O que vale uma noite é a sinceridade por trás das músicas. É, não dá pra ficar sem se envolver com os pandas tocando. Vem com eles! A troca válida é essa. Essa energia, essa intensidade, esse estar aqui agora. Fazer valer a pena é o mais gostoso despretensionismo. 

E Go, Panda, Go!


[para conferir mais fotos da Noite Fora do Eixo #22, clique aqui!]
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