Luís Morais e Jessica Mobílio conversaram com o Léo Vituri da banda Nemphis Belle, de Porto Ferreira, que você pôde conferir ontem aqui no e-Colab, num papo sobre o início da banda, inspiração, a perspectiva de tocar músicas em inglês e as influências que a banda carrega. Hoje a conversa continua falando sobre o Coletivo Mogi, dos meninos da Nemphis em companhia de um amigo, Noites Fora do Eixo e cachês.
e-Colab: E como que está o Coletivo Mogi? Vocês que são os idealizadores ali.
Léo: O Coletivo é a Nemphis Belle mais o Rafael Fávaro, o Flor. O Flor é o “líder”, na parte estrutural, organização, financeira... ele é a parte mais séria dentro do Coletivo. E a gente sobreviveu nesse período [início de 2012 até hoje] meio a altos e baixos. Nós começamos bem, fizemos um Grito Rock muito bom, lotou, bandas muito boas, só que depois do Grito Rock nós tivemos umas duas Noites Fora do Eixo que não tivemos sorte com as bandas que trouxemos. As bandas da cidade foram lá e tocaram benzaço e as bandas de fora não agradaram – não que elas fossem ruins, mas o público não gostou. E tivemos dois pontos negativos com essas duas Noites Fora do Eixo. Só que organizamos uma exposição de artes muito boa, bastante gente passou por lá. Foram dois dias, um sábado e um domingo. Artistas plásticos da cidade e de fora expondo, fotógrafos, varal de poesias... Um evento que trouxe muitos pontos positivos não só para o Coletivo mas para a galera associada ao Coletivo e para a cidade também.
A gente ainda não consegue se dedicar totalmente a isso, então é difícil acertar sempre, mas o Grito Rock e a exposição foram os pontos principais.
e-Colab: Dentro do coletivo tem alguém que mexe com essas artes?
Léo: O Rafael Fávaro é fotógrafo. O Zinho é poeta. E além de escrever poesias, vai também pro lado da crônica... ele é escritor. Eu também sou escritor, mas nunca publiquei nada, to tentando finalizar um romance, espero que ele fique pronto até o final deste ano com qualidade para publicar. E tinham poesias minha no varal, que são dos personagens do romance. Então apesar de eu e o Zinho sermos Nemphis Belle e do rock, temos um pé na literatura. Ele mais pro lado da filosofia, com uma literatura mais ácida e contestadora. E eu vou pro lado mais da arte, tentando fazer romances mais representativos de sentimentos e destinos.
Então essa exposição de arte mostra o outro lado, não da música, mas que a gente é artista também. Por exemplo: tenho um curta metragem, e na próxima exposição de arte gostaria que ele fosse exibido lá, porque eu achei que meu curta pode dialogar muito com de um dos expositores, do Andrey Rossi.
e-Colab: E apareceu gente nessa exposição querendo demonstrar o trabalho deles?
Léo: Apareceu um casal de irmãos, bem novinhos, que são desenhistas, pediram para da próxima vez chamar eles... Tem uma outra fotógrafa, namorada de um cara que expôs e da próxima vez devemos chamar ela. A exposição reuniu alguns artistas que estavam “desunidos” e serviu como espaço de vivência dos artistas da cidade: Beto Bellini, um poeta de Porto Ferreira muito premiado; Rafael Marin, formado na USP em viola caipira e é poeta também. Muita gente legal no mesmo espaço. Foram dois dias inesquecíveis para muitos artistas na cidade.
e-Colab: E quais eram as bandas da região que mandaram bem na Noite Fora do Eixo?
Léo: Uma foi a Funileiros do Fiat 147, que é uma banda muito massa. Eles não levam o som deles muito a sério, levam mais pro lado da comédia e curtição. Instrumentalmente é muito bom e as letras são engraçadas. Eles levam pra um lado meio Velhas Virgens – mas eu prefiro muito mais os Funileiros do que Velhas Virgens porque eles não apelam nas letras, são mais “inocentes”.
E a outra banda foi a Museu do Esquecimento. Ela é um fenômeno, absurdamente boa, porque tem muitos artistas bons lá. Tem o Cleiton, que canta uns sambas muito loucos; o Cléo, que toca uns rocks muito legais; Guilherme Marin, que faz música de um modo muito diferente, meio medieval; o próprio Rafael Marin; tem o Ivo Bragante, que tocou saxofone na “It's Amazing” pra gente. Enfim, é uma coletânea de muitos músicos bons da cidade. Músicos e artistas, porque o Rafael Marin e o Cleiton são poetas, o Cléo é cartunista e eles pegam uns poemas do Beto Bellini e faz versões de música. A cultura ferreirense são eles, o Museu do Esquecimento. Eu cheguei a tocar um tempo com eles, em uma outra formação chamada Sapato Chapéu, fizemos um show e antigamente eles tinham uma banda, uma das melhores que já teve na cidade, chamada Plágio. Um dos melhores shows que já vi. Eu tinha visto Cachorro Grande um mês antes e vi o show do Plágio e falei “mais animado que Cachorro Grande”.
e-Colab: ...acho que você tem um preconceito contra essas bandas mais conhecidas
Léo: Não, é que eu acho que tem muita boa que a galera não conhece. Eu gosto de Cachorro Grande, é uma puta banda, já ouvi bastante, mas as vezes o que faz sucesso não é o que tem de melhor.
e-Colab: Outra pergunta clichê então: o que você tem ouvido ultimamente?
Léo: Complicado falar o que eu tenho ouvido, porque vou falar de Eric Saade, Choupadi, aquelas coisas nada a ver do rock. Mas tem muita coisa legal de independente no Brasil hoje. Tem a Suéteres, de Pirassununga, que faz um rock em português massa – apesar de eu ter falado mal do rock em português, tem coisas legais, como Suéteres e Cachorro Grande. Uma banda de São Paulo que gostei muito se chama Tokyo Savannah. O Black Drawing Chalks, não é muito minha vibe de som mas considero bom. Tem também a Monkberry de Londrina.
Então se você for garimpar o que tem no Brasil, você acha coisas legais. Mas infelizmente essas bandas não conseguem ter um suporte para estourar, para fazer o sucesso que mereciam fazer. Tem bandas horríveis, para rock, que tão na MTV, que dão entrevista, todo mundo conhece, porém tirando Lá menor pouco sabem de nada. O próprio circuito Fora do Eixo mostra isso (bandas que que não fazem sucesso e são muito boas). Tem bandas legais, como Aeromoças e Tenistas Russas, os Rélpis, Fenícia – um estilo meio Pitty, não é muito a minha cara mas o show deles é muito bom -, tem também o Volveles, banda de alguns amigos que fazem músicas muito legais. Banda boa tem, é só ter boa vontade da galera, parar de ouvir só Beatles e começar a ver o que tá acontecendo ao seu lado. Os caras são 90% mídia e 10% qualidade, mas esses 10% são muito bons, álbuns como Abbey Road e Let It Be são geniais. Mas tem coisa boa que não teve a mesma mídia. Tentar abrir a cabeça, não sair a noite procurando ouvir as mesmas músicas que você ouve na sua casa. Porque a década de 60 acabou. Apesar da gente fazer som da década de 60, estamos fazendo nos anos 2000.
e-Colab: E desde quando a banda tem esse contato com a rede Fora do Eixo? Quando aconteceu essa aproximação? Vocês divulgavam a banda antes disso?
Léo: O Fora do Eixo salvou a nossa vida. Muita gente critica, mas em termos pessoais, o Fora do Eixo foi muito bom pra Nemphis Belle e pra mim como pessoa. A gente não conseguia sair daquele perímetro nosso de 50 km de Porto Ferreira. Geralmente era shows de cover... E depois do show em Bauru, depois que o Enxame apareceu, mudou completamente. Tocamos em Poços de Calda, Piracicaba, Londrina, Ribeirão Preto, São Paulo... vamos tocar em Serrana. O Fora do Eixo libertou a gente. E os vejo como uma salvadora de muitas bandas, possibilitando que elas possam rodar, mostrar seu som, se tornar banda de verdade. Que não fiquem como a gente era antes, só ensaiando no fundo de casa e tocava de vez em quando. Hoje somos uma banda que tá lançando CD, muito mais shows marcados. E uma percepção melhor de estética. Por exemplo: nós tínhamos uma capa do primeiro CD, que eu mesmo tinha feito, era toda laranja, um horror... e eu vi uma banquinha Fora do Eixo aqui em Bauru e pensei “que merda é a nossa capa, preciso ir atrás de uma melhor”.
E a turma fala mal do Fora do Eixo não pagar cachê, mas a gente tocou em alguns lugares sem ser do Fora do Eixo e não pagaram também. Esse mercado de cachê tá meio falido, só carta marcada, só bandinha mais famosa que recebe. Banda de música própria que tá começando não tem lugar que tenha dinheiro pra ficar dando cachê. No Beco mesmo na Rua Augusta, com todo o glamour, ganhamos menos que em um monte de lugar do Fora do Eixo, como em Poços de Calda. Então esses caras tipo o China, esses caras tem que ser ridicularizados mesmo. Se ele quer grana vai trabalhar. Se quer tocar música toque por amor.
E o Fora do Eixo foi pra mim como pessoa porque pude aprender a organizar eventos, a dialogar com bandas e lugares a negociar. Eu cresci, a Nemphis Belle cresceu e espero que o Fora do Eixo faça outras bandas e pessoas crescerem também.