Pé na Estrada | Músicas próprias, lasanha e anos 60. E um público satisfeito

24 de novembro de 2011
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       Fotos  por Eduardo Kenji
Texto por Luís Morais

Ato 2


[a saga de Luís Morais começa aqui: Ato 1]


17 km separam Porto Ferreira de Pirassununga. Suficiente para que se tornem parceiras culturais. Exceção a um maldito pedágio meio a esse trajeto, só você botar umas músicas no carro, bater um rápido papo e vai de uma cidade para outra em três piscares de olhos.

Chegando em Pira, a cidade capitaneada por edifícios horizontais e praças desertas sediava o Bodeguita Bar, lugar conhecido da população local. Há 15 consecutivos anos na ativa, 12 na localização atual, o Bodeguita impressionava pelo fato de ser um prédio antigo, mas muito bem conservado. Entretanto, não era o local mais perfeito para uma banda tocar: uma parede enorme atrapalhava grande parte da visão de quem preferia ficar sentado numa mesa ou queria ir ao bar. Sem contar a acústica da casa, que deixou o som difícil de equalizar e não lá o dos melhores.

E não era só isso. O maior desafio para Os Rélpis e para o Nemphis Belle era outro: tocar suas músicas próprias e conseguir agradar um público “acostumado” a ouvir covers. Um público que sentava na mesa da frente e fica no pé da banda “essa, toca essa, essa”. A conjugação do verbo “sentar” no passado, felizmente, foi certeira.


23:34. Galera dispersa, deliciando-se de uma incrível lasanha – uma ótima dica a quem for lá – e conversando sobre corriqueiros assuntos. Em meio a um momento não lá dos mais adequados para começar a tocar, com gente ainda na portaria chegando, Os Rélpis assumem suas posições no palco e começam o show. E tudo muda.



O repertório recheado do segundo disco da banda de Araraquara, o “Do Fruto, o Escracho Monumental Caramelizado”, chamou a atenção de todo o público logo de cara. Eu estava sentado do lado de fora, numa visão outrora privilegiada de ver a banda. Tive que me levantar. A galera parou na porta, se acomodando do jeito que dava para curtir o som e a performance dos Rélpis.



Além da própria música, os músicos também chamavam a atenção. Conrado é o primeiro baterista que não usa tom que já vi tocar – e isso nem um pouco o prejudica, pelo contrário. Bortô, Barone e Caiubi comandavam a melodia da música e deixavam Garboso fazer um espetáculo a parte, através da sua voz e de ser um baita front-man (não daqueles que precisa chamar o público para bater palmas ou algo do tipo, mas sim dos que prendem a atenção de quem está lá por si só).

E se eu fechasse os olhos, poderia me imaginar tranquilamente na década de 60. Já que a psicodelia tropicalista dos Rélpis, ao se encerrar exatamente as 0:36, deram lugar ao Nemphis Belle, banda de Porto Ferreira. O conjunto também começou com músicas próprias, tocando 10 delas, e surpreendendo novamente o público presente, que continuava curtindo.

Mas desta vez, os anos 60 iam para as terras americanas, uma influência forte e interessante de bandas como Rolling Stones e The Who. Com linhas de baixo potentes e músicas bem feitas, o Nemphis não era caracterizado somente pelo som, mas também pelo figurino. Até o guitarrista Zinho Pereira se rendeu e pela primeira vez botou um terno e gravata.

Quando era 2:02, Leo Thomazin anunciou que era a próxima música seria a última. E se você não acredita naquela crença de que hora e minutos iguais é para você fazer um pedido, pode começar a acreditar. A galera pedia mais. E a última foi somente a última das autorais. A Nemphis Belle continuou o show, agora com covers. Com direito até a participação no trompete do Bortô, do Rélpis.

E até uma improvisação de “Layla” saiu nesse final. O saldo para um pouco mais de 100 pessoas presentes certamente foi surpreendente e positivo.



Para quem foi somente curtir um som, viu duas bandas mostrarem suas próprias canções e prenderem suas atenções. Se não oficialmente, foi certamente uma noite fora do eixo. Reproduzida uma vez em Pirassununga, e agora na expectativa de que “crie filhos” e aconteça com cada vez mais frequência.

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