E NÃO OUSE ROTULAR A ARTE COM PALAVRAS

4 de novembro de 2011
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Texto por Jayme Rosica
Fotos por Bianca Dias

Os olhos de uma águia me recebem na noite de sábado. Olhos que encaram, olhos que induzem, olhos que funcionam como uma porta para outra percepção.

O som flutua na cabeça, ecoa na mente, um notebook na porta que recepciona os viajantes da nave #DNA 00.

Dentro dela as idéias fluem, os padrões caem, são reduzidos à insignificância. A essência que resplandece, ofusca os olhos, frases em cores surgem em meio ao preto, as pessoas pintam as muralhas de colorido, muralhas imaginárias, que só existem para quem quer enxergá-las como tal. Não há separação, os imãs de cada um nos unem, não há nada que nos separe de nosso elo humano.



As correntes aparecem, mas não como algo que nos prende, mas sim como nossa diversão em quebrá-las, em surfar por cima delas. Nos prendemos diariamente a correntes invisíveis ao olho comum, é da nossa natureza nos fixar ao que é mais fácil, a um porto seguro, a um sofá aconchegante, assistindo TV e jogando fora cada segundo da importância do presente. Mas nosso presente é hoje, e é o ontem, e é o amanhã. Precisamos aprender a extravasar, fugir da rotina, mudar o presente é tomar as rédeas do futuro.

Arte é bem mais que aquilo contido nos livros didáticos, é o extravasar do âmago do ser humano, é se deixar guiar pelo prazer do acaso.

E o mural preto ainda ficará muito tempo na lembrança, a frase escrita nele resume tudo o que se pode escrever sobre um sábado a noite: “Foda-se o mundo, você é mais importante que tudo isso!”



A CONJECTURA DO UNIVERSO

Texto por Aline Ramos

Os corpos estavam frios, quentes por dentro. Vagavam vagarosamente sob o lufar vibrante. Vvvvvvvvv. Véspera de feriado. Onde é que você pode nos levar, vento bauruense? Vvvvvvvv. 


Casa cheia, Universo Elegante no palco, um palhaço circulando, era o João Lucas. A energia não vinha somente do palco. Ela era multilateral. Era o público, era o bar, era a fila na rua, eram os grafites, artistas. Tudo compactado no Jack, querendo explodir. 

- Desculpe o alto astral! 

É isso mesmo Universo? Vocês estão se desculpando por isso? Eu não posso acreditar. Tudo bem, a galera olhava meio torto. Não é todo dia que ouvimos músicas tão diferentes como “Arquitetura da Destruição” e “Manifesto Comunista”.

 Perdoem o NOSSO estranhamento, não estamos acostumados com tanta elegância. Mas não peçam desculpas. Peçam palmas, paciência, uma original pro David Calleja (baixo), pro Gustavo Richieri (guitarra) e pro Thiago Rodrigues (bateria). Uma Schweppes Citrus pro Luis Paulo (vocal), mas não desculpas.

Os corpos balançavam com acordes universais. Os ouvidos estavam atentos, afinal, o que mais estava por vir? Naquela noite, o Universo era o Jack. No interior mais fundo de cada lata, copo, pele, tinta, suor, vibram cordas como as de um instrumento musical. Naquele momento, tudo o que existia e acontecia no Jack, no nosso Universo, surgia de vibrações de centenas de bilhões de vezes menores que o núcleo de um átomo. 

No mundo inteiro há físicos e matemáticos que deixam o café se espalhar sobre suas anotações já exaustos trabalhando na “teoria das cordas”. Isso não é de hoje, essa mesma teoria pode ser chamada de “teoria do campo unificado”, sonho do elegante Einstein. Os matemáticos também são revolucionários, esse principio, quando descoberto, poderá explicar a enormidade dos espaços siderais e as ínfimas proporções do microcosmo, como o DNA. 

Mas ah! A gente já descobriu tudo isso. Tinha a Universo Elegante mandando ver nas cordas, num campo extremamente unificado. O David até dedicou a música nova da banda, Terça Feira, “a todos os meus amigos”. E depois, os elegantes confirmaram, “esse foi o nosso melhor show”.

Então é isso, do que você é feito? Por que a gente encontrou o nosso DNA. Aquilo que faz com que tanta gente estranha saia de casa um dia antes do feriado de finados pra ver a arte acontecer. Com muita dança, arte, euforia, cores, diversidade, música, teatro. Acho que o universo conspirou a favor de Bauru. Eureka!

CALIFORNICATION

Texto por Ana Beatriz Assam

Para variar, cheguei atrasada. Mas dessa vez foi diferente. A fila na porta assustava. Lá dentro já estava lotado. MUITO lotado. Primeira vez que eu via o Jack assim. Alguma vó diria: “De graça? Até injeção na testa”!
Mas não era isso, aquela galera não era qualquer uma. A maioria dos rostos era conhecida do meu dia-a-dia. Unesp, E-colab, Bauru. Aquela galera de sempre. Cravada na minha (excelente) memória fotográfica. Todo mundo se espremendo.
De repente, parte do bar se ilumina. Alguém acende um slot, cegando quem estava por perto. Embaixo da luz, uma corrente amarrada entre duas pilastras. Um depois do outro, a galera começa a subir, tenta se equilibrar. Ah, é aquele Surfing chains da Redbull, sabe? Com certeza vão premiar alguém no final.
Mas peraí, surf? O resto da noite me mostraria: fazia sentido.
Da Califórnia para Bauru, o The BlankTapes já tá no palco. Uma verdadeira saga para chegar até lá, pra conseguir dar aquela olhada. Só três caras. Três caras no palco, confortavelmente sentados, umdoladodooutro. Automaticamente, pensei na praia. Sensação gostosa.


Olho pra eles, na esperança de vê-los em trajes de banho. Logo de cara, reparo no rosto conhecido à esquerda. É o Alan Santiago, do Cabana Café, tocando baixo. A calça dele é mais apertada do que a minha. No outro extremo, o Eduardo Ramos no cajon e no pandeiro com sua camisa-xadrez-toalha-de-mesa abotoada até em cima. Menino da mamãe. E bem no meio está o Matt, a mente por trás do Blank Tapes. Um senhor bigode, cabelos à la Rodrigo Agostinho e trajes todos trabalhados no azul. Cadê as sungas e as havaianas? Uma pontinha de decepção.
Tocam umas 4 músicas assim e os extremos se levantam para revezar os instrumentos. O Matt continua no meio, inerte. As melodias são gostosas e leves. Com o pandeiro, o Alan faz quase um sambinha. Tem ainda um cover. Pumped Up Kicks do Foster The People. “Para as garotas da Rep Roots”, que os acolheram.
E o show continua, de volta as músicas próprias. Matt tocando meia-lua com o pé, Eduardo sentado de perna cruzada. Tá em casa. É praia gente, vou insistir mais uma vez. Teve até surf, vocês lembram? Estamos na Califórnia!
A galera ali da frente tá colada no palco, não tem como ir mais pra trás. Da onde estou, não dá pra ver a platéia direito... Mas aqui, com os pés na areia dessa praia, consigo ver que poucos dançam de fato, só os corpos balançam de leve.
Por quê? Tive que ouvir de três outras bocas para perceber o que para outros parecia óbvio: as músicas são muito parecidas umas com as outras. Mas se não tivessem falado, acho que eu nunca teria percebido. Gostei do que vi e principalmente do que senti. Só faltou a maresia. Da próxima, a gente dá um jeito.
Nota: E no final, fuçando no Twitter dos caras, encontrei o que eu estava procurando.







Beach party style... Eu falei!






Captação e edição de Eduardo Porto
  1. Direto como um soco no estômago e sutil como uma pena carregada ao vento. Gostei MUITO disso tudo, uma cobertura não convencional, casou demais com esse dna do e-colab.
    Tamo junto.

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