Lourenço Mutarelli... Já ouvi falar desse maluco!

28 de abril de 2012
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Por Pablo Marques
Fotos: Renan Simão

Conheci Lourenço Mutarelli por meio da minha professora de História da Arte, Lucimar Mutarelli. Uma simpática e inteligente professora que tentava ensinar Arte e Cultura em uma escola que conseguia enxergar apenas clientes e os grandes vestibulares no final do ano. Lembro-me do dia em que fui visitá-la pela primeira vez. Nunca tinha ido à casa de uma professora minha muito menos de um artista.

Quando toquei a companhia, quem atendeu foi Lourenço, com sua tradicional camisa xadrez de flanela e uma cafeteira italiana na mão.  Ao entrar, uma casa muito aconchegante. Dois sofás, uma poltrona, um gato, muitos livros e uma parede repleta de quadros com desenhos dele ou de amigos. Foi nesse local que comecei a conhecer o casal mais inteligente, culto e bem humorado que já tive contato.

Após seis anos, Lourenço retribuiu minha visita. O mais surreal é que há dois anos e meio atrás não imaginava que isso aconteceria na minha República, a Oásis, em Bauru, onde faço faculdade.  Dessa vez fui eu quem abri a porta, os papeis se inverteram, mas os dois estão exatamente iguais. Com o único diferencial que na primeira vez eu ainda não era um universitário e ele ainda não era ator. Por sinal foram essas duas mudanças que favoreceram a visita. Ele veio participar de um debate organizado por um projeto, que eu participo na universidade, sobre o filme, no qual ele é o ator principal, “O Natimorto”.

A Visita
Abri o portão, ele me cumprimentou e entrou para a sala, enquanto eu trancava a porta já estava com uma peruca Black Power conversando com três dos oito moleques que moram comigo. Foi melhor assim, não queria que fosse nada formal essa visita. Servimos uma dose de uísque. Mostrei a parede na qual gostaria de ganhar um desenho de presente. Ele olhou o espaço escolheu uma caneta e em poucos minutos já existia um autorretrato, em tamanho real, na parede da minha casa. Após a pintura e uma homenagem para mim no balão da fala do desenho, sentamos para uma entrevista para o e-Colab. Na verdade uma conversa informal que seria gravada.

Não vou transcrever a entrevista, porque como uma boa conversa de bar, existem dilemas da vida que devem ficar apenas entre os presentes, mas contarei algumas das impressões que guardei na memória com um auxílio de um ponto ou outro que foi gravado, apenas para lembrar detalhes. Achei que escutar ou ver as gravações inteiras iria mais atrapalhar do que ajudar na construção desse texto. Ao som de Jazz sugestão do meu amigo, desde os tempos de cursinho, Pedro Cabral, e na companhia de Reydi Kamimura e Danilo Vinhote tentamos desvendar e entender Lourenço Mutarelli em duas horas, um maço e alguns goles.


A Conversa
Existe uma lenda que Lourenço Mutarelli não gosta de ser fotografado. Vai uma dica, caso algum fotógrafo esteja lendo esse texto: Não é que ele não goste. Ele apenas não é modelo de retrato, se a mão atrapalhou, se o sorriso não saiu, se os óculos refletiram... Apenas tente novamente. Não peça para ele voltar à posição que mais te agradou.

Acertado esse problema, começamos a conversar na sala de casa. Ele em uma engraçada poltrona de couro com o assento de chita e nós de frente para ele enquanto o Renan Simão produzia o conteúdo audiovisual. Logo de início, descobrimos qual foi um dos medos e um dos sonhos de Lourenço. O primeiro foi de perder o movimento da mão, quando teve uma tendinite provocada por excesso de trabalho. “Como estava na moda fazer seguro de bunda e outras partes do corpo eu resolvi fazer um seguro da minha mão também”.  E o sonho... Esse é o mais legal que já escutei. Você pode imaginar que o sonho era material ou talvez um reconhecimento profissional ou a eternidade não... O sonho de Mutarelli era ter em uma de suas publicações um código de barra. A primeira vez que viu um foi em quadrinhos e livro importados, mas não sabia qual era a real função daquilo. Então, quando teve o sonho realizado, no fanzine “O Dobro de Cinco” chegou à conclusão que dali pra frente tudo seria lucro.

A produção de Mutarelli é muito intensa, exige exclusividade. Por isso, mal consegue ler, pois automaticamente começa a fazer uma análise e a leitura para de ser prazerosa. Quando inicia a construção de uma obra ele aplica uma técnica semelhante a que usa para a leitura. Se não fluir em alguns dias e ele perceber que está forçando desiste. Diz que todo seu trabalho começa como umas brasinha e precisa esperar um pouco para ver se incendeia. Ele escreve como se estivesse contando uma historia para ele mesmo, por isso essa semelhança entre o Mutarelli escritor e leitor.

Sua inspiração pode vir até mesmo de trabalhos anteriores. Uma vez encontrou nos seus caderninhos de desenho a frase: “A dor nunca passa, nós apenas nos acostumamos com ela”. E a partir disso surgiu o livro “Por que sinto tanto prazer pela dor?”.  Então descobri a visão dele sobre a atividade de criar. Com frequência ele pega os seus desenhos e textos anteriores e fala “Puta... Que bosta!”, mas ele se consola pensando que era o que dava para fazer na época. Se não existia o domínio da técnica que ele gostaria, não teria como ficar melhor. Daí vem a um conselho: ”Se você sempre tentar chegar no que idealizou nunca vai realmente produzir alguma coisa. Então o jeito é continuar fazendo, porque nesse momento é o que você podia fazer. A Técnica é igual dominar um animal selvagem: você toma coice e tal, mas uma hora você começa a dominar e esse registro é importante”.

























Lourenço é conhecido por sua estética do horror e do sujo. Essa forma de ver o mundo surgiu desde muito cedo. Filho de delegado, Lourenço aprendeu a ver beleza nas fotos das perícias e nos livros de Medicina Legal que encontrava na biblioteca do pai. Costumava debater alguns casos com ele também e assim ele diz: “Foi meu pai quem me mostrou o que é o mundo cão”. Ao ser questionado se os “dinossauros” dos quadrinhos teriam preconceitos com o trabalho dele por causa desses enredos às vezes mórbidos, ele afirma que não acredita ser esse o problema, mas o fato dos caras estarem consolidados no mercado já há dez anos quando ele surgiu. Confessa que ficou chateado por, como ele diz, sofrer bullying. Chegou a ser sacaneado ao pedirem para ele fazer e refazer uns quadrinhos durante um mês e nunca publicaram nada. Virou praticamente uma piada. Já recebeu até desculpas públicas, já dividiu mesas com eles, já publicou com alguns... Não guarda magoa, mas descobriu que quem passa por essas situações fica mal. Isso marcou o estilo de ser do artista.

Uma vez um dos seus chefes negou a ensinar o retoque americano, uma técnica de retoque fotográfico antecessor ao Photoshop, e a resposta foi: “Se vira nunca ninguém me ensinou nada!”. Hoje ele ensina tudo que sabe. Nas suas aulas e oficinas ele entrega os truques sem qualquer problema. “Acho importante abrir o caminho para quem está vindo”. Diz que ninguém ficou rico com os HQ’s todo mundo batalha muito ainda. “Para você ser quadrinista ou você tem dois empregos, ou uma mulher que trabalha. Então, porque não ajudar?”

Depois de muitas histórias e muitas risadas, faltava perguntar sobre dois elementos que para mim estão muito associados à figura de Lourenço Mutarelli.

Perguntei primeiro sobre a admiração pelos gatos. Hoje em sua casa vivem cinco gatos. Descobri que tudo começou com um ataque de um gato preto. Ele passava pela rua quando o gato se assustou e pulou nas suas costas, o feriu bastante. Ao contrário da maior das pessoas, ao invés de criar fobia, o ataque gerou fascínio. Por coincidência o primeiro animal de estimação que o seu filho teve foi um gato preto, o Nanquim, aquele gato que eu conheci na minha primeira visita, que foi seu xodó durante cinco anos. “O Nanquim até conversava comigo”.

A última pergunta foi sobre a sua mulher, Lucimar Mutarelli, e a resposta foi sucinta, mas clara: “Ela é a minha primeira leitora, uma das principais criticas e maior incentivadora do meu trabalho e que quando nós começamos namorar eu tinha certeza que era com ela que eu ia casar, tanto é que namoramos só três meses”.

A conversa foi muito produtiva regada a uísque e a nicotina. Se ele não tivesse um compromisso pela manhã e nós não tivéssemos produzido mais de 20 Gb de material, com certeza a conversa duraria ainda mais. Agora você pode falar: “Lourenço Mutarelli... Já ouvi falar desse maluco!”.

Agradeço ao Lourenço Mutarelli pela visita, pela entrevista e pelo desenho. 
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Lourenço Mutarelli na Unesp – “Ver um filme como se estivesse preparado para sonhar”

27 de abril de 2012
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Texto e foto por Renan Simão

Após ver os filmes “O Cheiro do Ralo” e “O Natimorto” e saber da natureza sórdida dos quadrinhos de Lourenço Mutarelli, esperava encontrar um velho arredio e introspectivo para o bate-papo da última terça-feira na Unesp-Bauru. Fumando um Marlboro vermelho ele anteciparia com um breve sorriso que, apesar de ter escrito algumas estórias de origens autobiográficas, mantém uma distância dos personagens: “não tenho nada a ver com eles”.

(Ao cumprimentá-lo, olhei o verso do maço que fumava. Não resisti. Advertia: ”Fumar causa câncer de pulmão”).

“O Natimorto”, filme exibido pelo CinePet, é a adaptação de “O Natimorto – Um Musical Silencioso” livro do quadrinista e escritor, e narra as relações doentias de um agente de talentos (Lourenço Mutarelli) e sua cantora-musa (Simone Spoladore) em um quarto de hotel. O fio da narrativa são os maços de cigarros e as mensagens de advertência atrás deles que, segundo o agente, cruzam sinais de cartas de tarô e podem ser um presságio do seu destino. A cada dia, um símbolo trazendo paranoia, ansiedade e misticismo move a relação obsessiva do casal. O cigarro e o seu sentido contido nos maços andam lado a lado com uma atração doentia dos personagens, todos na mesma condição de vício.

No entanto, durante a exibição do filme, podia-se ouvir risos do público, reforçando a advertência de Mutarelli antes do início do longa: “Não se esqueçam de que o filme é uma comédia romântica”. Lourenço diz isso pois o livro tem natureza tragicômica e esse efeito, em poucos momentos, aparece na trama em forma de diálogos irônicos.

A exemplo de “O Cheiro do Ralo”, outro filme em que atua e tem roteiro adaptado de um livro de Mutarelli, os protagonistas são guiados pelas obsessões. A ver: a Bunda (com B maiúsculo mesmo), o cheiro do ralo, o olho, os maços de cigarro, o tarô, o sexo. Todos aparecem como elementos protagonistas das histórias que guiam seus personagens principais à decadência moral ou existencial. “Eu tenho mesmo um apego à personagens problemáticos e repugnantes, mas enfim, essa é a nossa condição, né?”, afirma, retórico.  

Ao final, como em todo bom filme, poucas respostas e muitas interpretações. Somente resta a sensação de que devemos construir melhor o filme e deixar-se levar em suas possibilidades de interpretação.

“Sempre gosto quando outros veem outras relações que eu não vi. A minha obra é aberta, é experimental. Gostaria que entendessem o que faço como alguém já disse um dia: ver um filme como se estivesse preparado para sonhar”.


Parêntesis:

(O texto acabou, mas fique calmo, caro leitor. Em outro texto que vai sair logo mais, vamos falar da vida do Lourenço, de sua obra em HQs, Transubstanciação, Maurício de Souza, Angeli e Glauco, começo, literatura, filmes, Nanquim, código de barras e a vida. Não perca por esperar).

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Se cê for sangue bão, levanta a mão

25 de abril de 2012
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Por Ana Beatriz Assam
Fotos: Bruno Christophalo

Se alguém me dissesse há uns anos atrás que eu sairia de casa num domingo a noite pra ir num show de rap, nem eu mesma botaria fé.

Sem preconceitos. Até porque um dia, lá atrás, o rap fez parte de minha formação musical. Mas foi sendo esquecido aos poucos, preterido primeiramente por solos de guitarra e, mais tarde, pelo choro da cuíca.

Até agora.

Ou melhor, até ano passado.

Meu arrebatamento se deu, de fato, durante o show do Criolo no festival Contato. Até então, eu caminhava a passos lentos. Já tinha retomado certo contato com o gênero, mas ainda assim torci um pouco o nariz ao ver o Emicida no Canja. Mas acontece que o estranhamento deu lugar a certo fascínio e o mesmo cara que antes eu torci o nariz, é hoje uma das estrelas desse texto.

Acho que o lance é que eu gosto de música, de arte, de poesia, de frases de impacto. E por mais que eu seja parte da galera criada a sucrilhos no prato, quanto tudo isso se juntou, bem na minha frente, não consegui resistir.

E se eu tinha dúvidas quanto a estar ali, elas foram sanadas aos primeiros versos de Nova Ordem.

No palco, na minha frente, os Os Três Temores: Rashid, Emicida e Projota. No chão, ao meu lado, um público que pouco me lembra aquele do show do Criolo, que aconteceu há um mês nesse mesmo lugar. Mais sincero seria a palavra? Não sei. Não venho aqui para julgar os outros.

Uma a uma as músicas vão se interligando, sendo entoadas pela metade. Como se fossem uma só. Não dá pra saber direito quem canta qual, quem canta o quê. E por mais que o lugar não esteja cheio, a voz da platéia cantando em uníssono surpreende.



























“Tem mulher na casa?” pergunta Rashid, dando início a sessão de músicas românticas.

Tem sim. Daquelas que gritam enlouquecidas.

E já que é pra ser sincera, Emicida e Rashid que me perdoem, mas elas gritam pelo Projota.

Chuva de Novembro foi a prova que eu precisava.

Mas o Emicida também fez bonito. Com um microfone estilo antigo, cantou sua já freqüente junção de Ela Diz e Eu gosto dela.

Findada a sessão derrete-coração, mais pedradas. E dessa vez as músicas vinham “mais inteiras”, por assim dizer. Os maiores sucessos dos três rappers vieram aí, pra ferver de vez o público.

“Essa é minha última música solo”, anuncia o queridinho-da-platéia-feminina.

E ao fim de Samurai, dá um mergulho no meio de sua platéia delirante. Por um momento, achei que ele não ia voltar. Ou melhor, não ia conseguir voltar. E pelo jeito não foi só eu. “Ô galera, devolve aí o irmão” pede Emicida.

Assim que Projota volta ao palco, erguido pela galera, os três emendam Triunfo, que vem seguida por Ainda Ontem, a última.

“Obrigado, Bauru.”

Essa pequena parcela de Bauru aqui presente também agrade.

São só meninos, não muito mais velhos do que eu. Mas dão a cara a tapa de uma forma que eu nunca teria coragem.


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“Esse seu… Show foi feito pra mim! Então me deixe... Ouvir, até o fim!”




Texto e fotos por Aline Antunes

Que papo é esse de emoção?
Eu to falando é de 25 anos de banda, de rock independente. De 25 anos de música, mulheres e noites. To falando de cerveja nova, to falando de Velhas Virgens Indie Rockin´Beer.

21 de Abril foi uma noite bêbada de muito amor e sacanagem no Jack Music Pub. A banda Velhas Virgens apresentou a Bauru sua turnê em comemoração aos 25 anos de carreira independente e brindou com o público a estréia de sua cerveja.

O contato palco/platéia era fortíssimo. Sem invasões ou brigas, músicos e fãs reforçavam as palavras de Paulão “O sentido da nossa existência são vocês.”



E assim se deu o início da noite: “Esta primeira parte do show é acústica para a gente poder ficar mais pertinho. E poder trocar algumas idéias que a gente nunca conseguiu trocar ao longo desses 25 anos.” 

O show ia se desenrolando, e sempre situando o público aos fatos que aconteceram no ano em que a banda se formava. 

“Os Velhas Virgens começaram em 1986, e em 86 o mundo era muito diferente de hoje (...), por exemplo, aconteceu um acidente nuclear em Chernobyl (...) teve um acidente muito pior lá no México, porque a Argentina foi Bi campeã na Copa do Mundo (...). Em 86 o Cometa Halley era visível aqui na Terra. (...) O presidente do Brasil era José Sarney (...) Lula era deputado Federal e a Dilma era Secretária da Fazenda lá em Porto Alegre. Em 86 Barack Obama ajudava uma comunidade carente em Chicago, e Jorge W. Bush vendia Petróleo, mas o mais importante é que em 86 o Osama Bin Laden trabalhava para a CIA.” 

A maior e mais antiga banda independente do Brasil leva isso como um grande troféu “Esses recordes nos dão muito mais orgulho que prêmio na MTV”. 



Paulão ainda mandava recado aos que acham que os Velhas são machistas dizendo que a banda apóia o amor e a liberdade sexual, amam as mulheres e ainda mais as que amam outras mulheres. 

E quem não acredita que esses bêbados, roucos e loucos também amam, ficava a seguinte mensagem: “Nós vamos explicar como é que a gente pode gostar de Motorhead e ao mesmo tempo mandar flores para a nossa namorada, explicar como é que a gente pode amar AC/DC e fazer poemas para a mulher amada!” 

Foi uma noite para homens e mulheres cantarem sem preconceitos e tabus. Beber cerveja, curtir e quem sabe descolar alguém com uma “química, lance de pele”.

Que a cerveja seria boa, eu sabia desde o começo, só faltava saber quanto R$.

E fica a dica: “Quem bebeu, bebeu, quem não bebeu...”

“Era para ser uma marchinha de carnaval, mas a gente bebe tequila demais!”





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O malabrás

24 de abril de 2012
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Por Laís Semis
Fotos por Lucas Grilli


- Oi, Príncipe! - disse a menininha ruiva com duas rosas presas no cabelo fino quando o Príncipe se apresentou ao entrar em cena.

Manhã de domingo - a segunda de quatro em que o Jardim Cultural apresenta eventos ao ar livre na cidade; Praça Copaíba, Bosque da Comunidade, Jardim Botânico (que acontece no dia 29/04) e o Parque Vitória Régia (06/05) integram esse circuito cultural proposto pelo Jardim. A proposta é essa mesma: integrar artistas e público aos domingos de manhã em Bauru.

Pra cima da USP, caminhando pelo Bosque da Comunidade, encontro algumas pessoas vestidas adequadamente para correr entre as árvores. O chão sinaliza: aqui não é permitido apenas andar de bicicleta, aqui existe ciclovia, ciclistas!

E as árvores que regem o caminho da entrada até o palco-trem seguem com fotografias expostas nelas. E entre príncipes, princesas e fadas, as crianças sabem mais ou menos o que pode vir por aí.

Eis a versão do "Lobo Mau" e o menino da primeira fila
na missão de destruí-lo
- Também vai aparecer o Lobo Mau - entrega a menininha ruiva para o seu mais novo amigo, ainda menor que ela antes mesmo da peça começar. É... na verdade, o que viria é um Lobo Mau beeeem mais ou menos, menininha ruiva.

Mas a melhor parte desses teatros infantis é que as crianças não hesitam em atravessar os diálogos e interferir no que está acontecendo a sua frente.

- Hum... e o que seria esse chá? - se pergunta o Príncipe ao se deparar com uma poção deixada pela fada para se transformar num Bruxo. O menino da primeira fila se apressa em responder. - Calma, calma, eu não posso saber agora. -. E pra desfazer o feitiço aqui só com “malabras” sobrevoando pinos sobre o morto, macarena e um menino cutucando o nariz (?). Ok.

Enquanto Os Cordados tocavam no palco-trem pelo fim da manhã, no parquinho a contadora de histórias apresentava “O Rouxinol” para as crianças. No Dia da Terra, criado com o objetivo de conscientizar sobre a conservação do planeta, nada melhor do que procurar um verde para lembrar como é isso; o odor, o frescor, a cor. E o ser criança.

Apresentação do "Rouxinol"




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É... Lourenço Mutarelli na Unesp-Bauru. Conheça-o.

23 de abril de 2012
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Por Pablo Marques
Foto: Divulgação

Lourenço Mutarelli nasceu em 1964, paulistano da Vila Mariana e com passagens fundamentais para sua formação como artista por Itaim Paulista e Tatuapé. Formado em Artes Plásticas, fumante convicto, leitor compulsivo, quadrinista underground, escritor e ator de cinema e de teatro. São tantas facetas, tantas profissões que é difícil dizer qual a sua principal atividade e qual o seu hobbie, já que ambos se confundem.

Começou fazendo quadrinhos com tiragem limitada a 500 exemplares e distribuídas por ele nas ruas. Trabalhou para Maurício de Souza, mas logo sentiu a necessidade de criar livremente. Escreveu e desenhou seu primeiro fanzine em 1991, o “Transubstanciação”, com uma importante relevância para a historia em quadrinho nacional. A trilogia, de quatro livros, o “Dobro de Cinco” também fez sucesso entre o público dos HQ’s com um detetive completamente fora do padrão, um clássico herói de Lourenço. Em 2002, publicou o “Cheiro do Ralo” escrito em um feriado de carnaval e que foi adaptado por Heitor Dhália para o cinema onde teve cerca de 200 mil espectadores. Já ganhou tantos prêmios HQ Mix que mal consegue contabilizar.

Começou escrever livros por influência da sua mulher. Tornou-se ator, ou galã como ele gosta de dizer, quando estudantes de audiovisual da ECA-USP o chamaram para participar de um filme. Criador em tempo integral, com um humor peculiar e ousado revolucionou a literatura mudando um pouco o estilo do cinema nacional. Seu estilo é urbano e sujo com personagens de um psicológico denso e sempre com uma relação familiar complexa. Seu estilo de escrever lembra livro em quadrinhos sem imagens. Referência para uma geração de jovens desenhistas, Lourenço tem uma legião de fãs e também de críticos. É conhecido por ser polêmico, por ter histórias que não são idealizadas e possíveis de acontecer a qualquer momento no centro ou na periferia de uma grande cidade.

O livro “O Natimorto”, de 2002, foi adaptado ao teatro por Mário Bortolotto, é também o filme mais recente da carreira de Lourenço. Uma história onde o protagonista não tem vergonha de fumar e baseia todo o seu dia a partir da foto do primeiro maço que compra. O enredo também é composto por uma talentosa cantora sem voz e um hotel em decadência de São Paulo. Se você ainda não viu essa película não é o único! O filme teve uma distribuição restrita a poucos cinemas de capitais brasileiras.

Quem perdeu a exibição nas telonas teve como opções as locadoras mais alternativas ou as bancas de filme da Rua Augusta, em São Paulo, durante a madrugada. Se você não foi um desses, aproveite e seja um dos poucos privilegiados a ter contato com essa história e depois pode até bater um papo com o Lourenço Mutarelli no CINEPET– UNESP BAURU amanhã, 24/04, às 19h.

A gente vai. E você?



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Não à vingança

22 de abril de 2012
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Por Luís Morais
Fotos por Wilian Olivato

Nessa semana está rolando a II Jornada de Direitos Humanos de Bauru, e eu, despretensiosamente fui à primeira mesa redonda, na segunda feira.

Sentavam a mesa, ao lado do mediador Profº Clodoaldo Meneguello, o teatrólogo Paulo Neves, o deputado estadual do PT Adriano Diogo e o historiador da Unesp Assis João Francisco Tidei Lima.

Mesa mediada pelo professor Clodoaldo Meneguello


Esse lidezinho padrão inicial é apenas para mostrar como foi o começo: uma abertura solene, com um belo vídeo inaugural mostrando a repressão artística e social dos tempos da ditadura, para depois uma série de histórias que chocaram e emocionaram o público.

Seu João Francisco foi o primeiro a falar, a lá historiador mesmo, perceptível pela maneira coesa de contar uma. Ex-professor de história da USC e da Unesp Assis, já botou todos em choque ao criticar duramente a ditadura militar. Lembrou que “reformas necessárias ao país foram deixadas de lado” por pessoas “que sequer um projeto de governo tinham”.

Foram apenas uns 20 minutos de apresentação, e a bola foi passada para Paulo Neves. “Arte é desafiar”, frase utilizada pelo próprio, define bem os causos contado pelo próprio (EPA, causos? Não era uma mesa-redonda de discussão sobre política? Claro que era, meu caro que está lendo isso. Antes de mais nada, foi uma noite de contextualização. E ela, por si só, dita uma verdade – se é a que concordamos ou não, é outra questão).



Marília Pera que o diga sobre tais causos. Houve uma apresentação na nossa springfieldiana Bauru da peça “Apareceu a Margarida” que teve até empresário no palco por ser contra a peça – por sua vez, contra a ditadura militar. Resultado: briga no palco, nos bastidores, polícia no local. A atriz até hoje é receosa em voltar para a cidade – e por um tempo vários atores globais ficaram longe daqui por causa do episódio.

Por último, o deputado estadual Adriano Diogo fez sua “apresentação'. Foi breve nas palavras, para mostrar uma série de vídeos – a maioria pela metade, pois acabou a bateria do notebook que estava sendo utilizado, e não sei se a organização perdeu o cabo de força ou algo do tipo, mas foi uma bola fora.

Um desses vídeos foi um discurso do grande geógrafo Aziz Ab'saber, de como o próprio era “vigiado” durante o regime militar. Além de uma reportagem especial da Globo News, sobre o caso da explosão da bomba no Rio Centro.

Depois da exibição dos vídeos, foi aberto o espaço para a galera presente perguntar. O primeiro foi Valente,concordando com as opiniões expostas – e que tem um blog interessante. Alguns amigos de Adriano Diogo o cutucaram, para contar uma das mais impressionantes e tristes histórias que já ouvi.

O “Mug”, como era seu apelido na faculdade, tinha um amigo, o “Minhoca”. Para os ditadores, apenas dois comunistas escrotos. E o verbo “ter” conjugado no passado foi, infelizmente, proposital: seu amigo foi morto por ser um opositor ao regime. E o Mug quase foi junto.

Adriano Diogo poderia dizer que quer vingança, que quer ver o sargento (que infelizmente não marquei o nome), hoje major, o qual matou seu amigo, morto. Entretanto, não. Diogo quer apenas sua identificação, apenas a condenação moral que o próprio povo poderia ditar sobre o ser, após saber quem era. Apenas mostrar quem era um assassino do povo brasileiro.

Eram 22:30 e a mesa-redonda se encerrou. Em meio à seriedade da própria jornada, nas palavras-chaves “memória, verdade, cidadania”. A memória precisa ser resgatada. É necessário, sim, entender os erros do passado. Não podemos escondê-lo. E sim, corrigi-los.

Com violência?

Não.
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O SESC caiu, o Criado Mudo virou

20 de abril de 2012
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Por Aline Antunes


“(...) Uma relação tão intima, porque dentro da gavetinha de cada um deles tem um pouco da nossa vida, da nossa história. Quanta coisa a gente não guarda dentro da gavetinha do nosso criado mudo? (...)” 

Assim, chegando de mansinho e tornando o público cada vez mais íntimo, Danilo Moraes e os Criados Mudos fizeram da noite de quarta algo mais que agradável. Um show repleto de poesia e balanço, deixando todos à vontade sob a luz de seu abajur.



Apresentando canções de seu disco lançado em 2011, mas que como ele mesmo disse “continua atualíssimo”, Danilo contava sobre as músicas e sem cansar de dizer o quanto estava gostando de tocar novamente no SESC Bauru. E completava “Tá tudo bem aí gente? Estão confortáveis? Então tá bom, porque eu estou também.” 

Talvez o artista preferisse ver o público um pouco mais de perto, quem sabe dançando, em pé, aproveitando músicas de romance... Mas os aplausos arrancados ao fim de toda música tirava qualquer dúvida que ele pudesse ter quanto a aprovação da platéia. 

Os Criados Mudos Caio Lopes (bateria) e Duda Lima (contrabaixo) acompanham Danilo e suas histórias de gavetinha sem perder o compasso, a cozinha está muito bem composta! 

O final do show vem com canções mais antigas apresentadas apenas por Danilo no palco, as luzes diminuem e o cantor, compositor e guitarrista expões toda sua bagagem ao público. Possuindo parcerias com Chico César, Zeca Baleiro, Rodrigo Campos, Giba Nascimento, Céu, Anelis Assunpção, e outros, o que não deve faltar é uma boa coleção de canções e histórias na gaveta de Danilo. 

O paulistano em questão deve concordar comigo quando digo: 

“Danilo Moraes e os Criados Mudos: Cousa linda!!!”


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A Guerra de Pietrovit - Protótipo Tópico

17 de abril de 2012
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Captação e Edição por Paulo Soucheff

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Lucas Santtana?



Por Sérgio Viana
Fotos: Divulgação

— E aí, vamos curtir o Lucas Santtana na Virada Cultural, em Botucatu?
― (*-*) Não sabia que ia rolar até sertanejo universitário!

Não sei se é só no interior de São Paulo, mas ouvir um papo parecido com esse, infelizmente, não é tão difícil por aqui. Pra quem não sabe, Lucas Santtana é uma coisa e Luan Santana outra. Totalmente diferente. Vamos deixar as semelhanças só por conta do batismo, ok?

Santtana (com dois tês) tem 42 anos e pertence a outro estilo musical, talvez inominável por enquanto. Ele vem da infindável safra artística baiana, exatamente de Salvador, porém se radicou no Rio de Janeiro há mais de 20 anos e passou a lançar sua sonoridade oficialmente em 2000, com o álbum Eletro Bem Dodô. Hoje mais quatro discos completam sua discografia – Parada de Lucas (2003), Lucas Santtana & Seleção Natural (2006), Sem Nostalgia (2009) e O Deus Que Devasta Mas Também Cura, lançado em março deste ano. Tudo pode ser baixado no site do cara.

Com certeza, Lucas bebeu muito de seus conterrâneos tropicalistas, mas suas influências talvez não possam ser tão sintetizadas quanto suas canções, que carregam batidas eletrônicas, levadas de violão, dub, funk (carioca também), rock e samba – muitas vezes numa só juntas. Além de letras com energias alternadas a cada álbum, sempre numa linguagem solta, contemporânea, “menina me dê seu jeitinho vulgar/ de topzinho, chinelinho ou calção/ é barato de ter é baratinho venha ver” ou “you know I look so smart/ look so great/ it hurts me”. Tem que conferir pra tentar entender.

Resumindo: esse cara se apresentará na Virada Cultural de Botucatu (que, modéstia a parte tem a melhor programação de 2012), no palco principal, dia 19 de maio. Até lá quem não conhece, ou ainda confunde o Luan, pode botar esse som e aumentar o volume à vontade. Abaixo o videoclipe que dá nome ao disco:





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Para deixar a mente aberta ou a alma cheia

Apresentação do Grupo Teatral  Futuro Telescópio, vinculado a Secretaria Municipal de Cultura de Bauru, encenando a peça "O Rinoceronte de Renda ou Bigode Surreal de Dali". O grupo sediado em Bauru desde 2009 é composto por: Caique Rufatto, Larissa Ávila, Leticia Ravanini, Rafael Maia e Xyko Peres.


Por Ana Lígia Corrêa

“Escola de samba não é nada surrealista”, penso eu ao acompanhar o início da apresentação da peça de teatro às 20h de sábado, dia 31 de março, ali mesmo na calçada próxima a entrada do Teatro Municipal. Descendo a esquina da Avenida Nações Unidas, chamando a atenção de carros e pedestres, a equipe escola de samba 100% Arte, batuca e dança enquanto alguns seres estranhos e alegóricos desfilam no meio da criançada de uniforme brilhante. Um menino que parece pássaro fica meio perdido, um estranho de pé de pato anda em movimentos marcados e a moça de vermelho chama a atenção com bandeira e apito. O começo é isso.



A apresentação, que invade teatro adentro, é algo ritmado, treinado, bem diferente da proposta do surrealismo, em usar o inconsciente e o irreal. Mas esse “pré-conceito” logo cai, e penso que o batuque (aquele mais simples mesmo, em que tampas de panela viram música) é algo que a gente aprende e pratica fácil porque, como muitos poetas dizem por aí, se assemelha às batidas do coração. E essas batidas fortes são capazes de provocar certo misto de alegria e bem-estar, como num sonho. E aquilo que parece muito real e milimetricamente planejado, na verdade é leve e solto como o pensamento humano e chega a ser um pouco irracional também, tamanha a rapidez com que os jovenzinhos batem em seus instrumentos. Coisas que só vendo e sentindo pra saber.

Já no palco os artistas entram, aplaudem e dão início ao hino tema da peça “nós somos surrealistas”. Começo a anotar a sequência da apresentação por que não estou acostumada a fazer cobertura de peças de teatro. Assim, posso me orientar e seguir uma sequencia lógica para, depois, descrever as impressões, tecer as críticas e escrever o que mais for pertinente.

Vozes ecoam ao fundo e, junto com um fundo musical tênue, os personagens são apresentados. O Salvador Dalí, o René Magritte, o Max Ernst, a Gala e a Dama Surrealista nos acompanharão pelas próximas duas horas. Há uma primeira cena tensa, profunda e com luz forte, acesa por um fósforo gigante. Logo em seguida, um diálogo engraçado de duas velhas loucas. O cenário fica vazio e nos é apresentado uma dança maluca de duas bailarinas muito brancas e saltitantes e não se sabe se elas estão felizes ou tristes...

Mas, anotar as sensações estranhas e felizes que aquilo me despertava - porque eu precisava tentar interpretar o que acontecia no palco - começou a atrapalhar o verdadeiro sentido (acredito eu) do projeto proposto: desprender-se do real, da lógica, se aproximar do que é abstrato e ir além da consciência cotidiana, cheia de amarras e toda quadradinha. Precisei, pelo menos nesse momento, ser mais livre e deixar me levar pelo que eu sentia. E, na hora de escrever o texto, lembrar, daquilo que o inconsciente me permitir trazer ao consciente.

Assim, seguiu-se uma miscelânea de alegria, de riso, de cômico, e do que pode ser engraçado no exagero, como esses programas de auditório que nos premiam com “um milhão de surreais” cada vez que alguém da a sorte de ligar e ser atendido pelos apresentadores charmosos e simpáticos. Ou quando a gente vai ser feliz, indo à praia de perucas coloridas, salto alto e levando um grande isopor, por exemplo.

Claro que nesse misto de cenas com risadas da plateia, existiram os momentos tensos, profundos e angustiantes, como quando aquela luz que fica em nossa cabeça (a luz da razão talvez?) começa a piscar de maneira tão intermitente e rápida, que o melhor a fazer talvez seja desligá-la e tentar recomeçar, tentando o desprendimento ou o abandono do que não foi bom, ou apenas consertando a pilha ou o fio que liga essa lâmpada chamada consciência.

Farinha, água, gritos, guache, ovo quebrado e a morte estavam lá, como tudo que nos cerca na realidade ou no imaginário, formando uma bela receita de um pavê surrealista.

A verdade é que foi uma grande alternância entre a tragédia X comédia, o real X imaginário, a vida X a morte. Mas, mesmo sendo paradoxos eles se interligavam de tal maneira que não se percebia onde terminava uma manifestação e onde começava outra. Porque um berrante não é só um berrante, ele pode ser a dor eufórica de alguém ou a alegria angustiante de várias pessoas.

E a proposta de um grupo de artistas locais em adaptar o movimento surrealista em uma versão brazuca-bauruense, que durou mais de dois anos para ser realizada entre ensaio e preparação, é prova de que a gente pode ser e fazer aquilo que a gente quer, basta deixar a mente aberta e ser um pouco assim surreal.


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Oito badaladas para abençoar - Universo Elegante

16 de abril de 2012
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Por Renan Simão

Fui lá pra Piratininga nesse sábado, cidadezinha simpática que fica 20 minutos de Bauru. Eu, a Lou, o Artur e o Grilo fomos ver o lançamento do CD da Universo Elegante, Era dos Extremos. Encontramos sem problemas a praça principal e a igreja da cidade. Não que seja difícil né, cidade pequena...

O show estava marcado para às 18h, mas atrasou e às 19h tinha missa. Por respeito aos religiosos, esperamos acabar o encontro eclesiástico. Enquanto as orações eram feitas, fomos conhecer o lugar. Era sábado à noite e a praça se tornava ponto de encontro ou de passagem. Era comum ver alguém ressabiado passando e olhando os equipamentos de som ou outro que senta no banquinho de concreto apenas para ver o movimento (que não era muito, tinham 30 pessoas ali e olhe lá).

Parêntesis:

(O Luís Paulo, vocalista da Universo, falou que perto dali tem um cinema legal, mas um cara mora lá, o Omar, e ele não deixa ninguém entrar lá. Tem uma telona, espaço grande, mas é dele: o “CineOmar”. Queria ir falar com ele. Imagina morar num cinema? Que louco.)

Ninguém ficou incomodado com o atraso.Tomamos duas cervejas, comemos doces da padaria. Tava gostoso, sabadão, calor e vento gelado.

Vamos ao show. Os caras queriam começar depois das badaladas na igreja. Curti, cria algo solene, imponderável no ambiente. Vinte segundos antes das 20h, silêncio. 20h em ponto: oito badaladas e... rock.  

A Universo Elegante em boa parte do show caminha direto para a introspecção existencial, seja no som (às vezes chato) ou nas letras (bem legais às vezes). Propositalmente arrastado, o som da banda é camada de emoção que faz às vezes de coadjuvante, sem querer interferir com solos exagerados ou mudanças de velocidade. Isso acontece, mas é raro. Quase todas as canções seguem o mesmo tempo, a mesma obsessão. A guitarra é a expressão pop da dor, o baixo o pulso latejando e a bateria cada gole ritmado de uísque. Ao todo, a impressão de que devemos pensar mais na poética das músicas do que no som é constante.

O protagonista é Luís Paulo e suas histórias são nitidamente autorais. Ele fala do Eskinão de Bauru em uma terça-feira desprezível; ou da Monique, uma moça bonita da escola D’incao. O cenário para esses personagens são as desilusões do homem pós-moderno, que é o Luís Paulo. E ele ostenta isso. Fala de consumismo, carros, catástrofes, antivírus, mansões nuas, neuroses. Problemas característicos do Homem dos anos dez.

Contudo, mais do que confusão existencial a Universo Elegante professa a segurança do impossível, uma certeza de que as coisas não são como são e podem ser melhores. Podem estar fodidos, mas querem fazer arte, querem criticar, fazer.

Olha a igrejona, aí.
Como na Teoria do Universo Elegante, que muito basicamente, é o arranjo perfeito dos processos, algo unificado onde o material e o imaterial possam fazer sentido... a sinergia entre Teoria da Relatividade de Einstein e a mecânica quântica. É utopia para uns, para outros é um caminho a seguir. É não acreditar nas instituições mas nas doutrinas. Tudo está um caos mas orna pra cada um de acordo com as suas convicções, que talvez não tenham lógica, mas funcionam.

Mesmo tocando pra pouca gente (incluindo os amigos) e fazendo as escolhas das músicas na hora, podia-se perceber uma vontade maior para bradar contra o sistema e afirmar loucuras que fazem sentido para eles (e eu). E a imagem da banda esperando a benção das oito badaladas da igreja na cidadezinha de Piratininga volta à minha mente. Mesmo sem crença, sem religião, eles acreditavam naquele momento e a racionalidade era mera coadjuvante.

Mesmo sem propósito aquele momento fez sentido. E foi bonito.
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Aquela velha boemia

Por Luana Rodriguez

Ah, aquela mesa de bar onde amigos se encontram. Aquele reduto de boemia e idéias geniais. O reduto do samba, d'Os Boêmios de Adoniran.

E é assim que as coisas acontecem. Nos bairros mais tradicionais de Sampa, João, Joca, Mato Grosso vivem numa “ Saudosa Maloca” e saúdam o mais popular dos ritmos brasileiros, o Samba. Formam um grupo de música, são convidados a tocar um “Samba pro Arnesto”, e entre olhares e flechas que parecem uma brincadeira de “Tiro ao Álvaro”, se apaixonam pela “Minha Nega”, pegam um “Trem das onze”, com destino a Jaçanã e sofrem com a perda da doce “Iracema”.



Ok. Pode não ser bem assim que as coisas acontecem. Pode não ser essa a ordem corretas das músicas e pode até não ser esse o enredo da história. Mas a verdade é que transformar a cultura popular de Adoniran em uma peça teatral e trazer a tona a sensibilidade do mais paulista dos sambistas é genial.

E não há na platéia uma única pessoa que não saiba cantar pelo menos um verso de uma das músicas do “sambista do povo”. Nem que seja um único verso de qualquer uma das mais conhecidas como “não posso ficar nem mais um minuto com você”, “saudosa maloca, maloca querida” ou “de tanto levar flechada do seu olhar, meu peito até, parece sabe o que? (...)”

A peça, que na verdade conta a história de João, que trinta anos depois volta à Rua Aurora a procura de seu velho amigo, e acaba encontrando o turco Jacó apresenta digreções digressões ao fazer com que João reviva a história de sua vida através das conversas com o velho, e pão duro, turco.

E é no fluxo de idéias e versos que você pensa o quão bacana se dá a mistura do popular e do elitista. Do samba com o teatro. E pensa também o quão contraditório é transformar o popular em elitista. Encarecer (R$) a cultura. Pena que no Brasil o acesso à arte, às vezes não é fácil...

Mas, ah, se fica alguma coisa disso tudo é aquele reduto de boemia. Aquela mesa de bar com os amigos.

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O melhor show da minha vida

10 de abril de 2012
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Por Luís Morais
Foto por Vitor Garcia

Há momentos de tamanha êxtase em nossas vidas que obviamente nos marcarão para sempre. Nesse sábado, dia 7 de abril, fui ao Lollapalooza, desinteressado em quase todos os shows. Menos em um, o último, de um tal Foo Fighters.

Lamento de ter chego tarde e perdidos excelentes shows como de Cage The Elephant e Marcelo Nova, mas isso não é problema. Ao contrário, foi até planejado, para que as 20:30 o cansaço não falasse mais alto. Uma fila monstruosa que durou exatamente o show inteiro de Band of Horses foi bem vinda pelo fato de ter assistido um ótimo show, compacto e bem feito.

Assisti uma parte de Joan Jett and the Blackhearts, que começou interessante, mas já na expectativa de ir para o palco Cidade Jardim, que ficava do outro lado do Jockey Club. Uma longa caminhada, perdendo-se da companhia – mas encontrando outras.

Eram 20:29. A pele começava a ficar arrepiada já. Talvez foi o minuto mais longo e rápido ao mesmo tempo de minha vida. Não sabia o que pensar direito. Só tinha a dúvida de “será que vão abrir com Bridge Burning?”



E foi com “All My Life”, uma das primeiras músicas que conheci do Foo Fighters, a abertura. E logo em seguida “Times Like These” e “Rope”. Era inacreditável. Eu estava longe do palco, observava quase que a banda como formigas. Não importava.

E quando veio “The Pretender” já tinha certeza de que estava no melhor show da minha vida. E desculpe os imparciais de plantão, mas eu estava lá para curtir o show. Se eu fosse cobrir, com papel e caneta na mão, não seria a mesma coisa. Lamento por quem teve que trabalhar nesse momento.

E era tanto hit, tanta música foda, que eu não sei escolher qual a melhor. Infelizmente, nem tudo é perfeito. Dave Grohl ficou sem voz em alguns momentos, mais claramente em “White Limo” e “Hey, Johnny Park”. Mas era um momento tão “fucking” especial (a palavra em aspas foi a mais usada em todo o show), que isso não era problema. Aliás, Dave ignorava seu cisto na garganta gritando loucamente no intervalo das músicas – e fez até piada com isso.

Vale um parágrafo para Pat Smear. O cara quebrou sua guitarra, tacou outra nas caixas de som arrebentando as cordas, fez as danças mais esquisitas da noite e mesmo não sendo o solo, chamou mais a atenção do que o competente Chris Shiflett.

A maior emoção veio em “Best Of You”. Tanto para a galera, quanto para a própria banda. O momento dos gritos de “oh oh oh” do povo mesmo após a música parar, ficou na memória. Assim como o resto do show.

O encerramento, com Joan Jett no palco para duas músicas da cantora e depois o maior sucesso da banda, “Everlong”, foi para deixar com um gosto de “quero mais”, que dificilmente sairá um dia da mente dos 75 mil presentes.

Assim como a imagem caótica na volta para casa, com serviços públicos obviamente não preparados para o festival. Só entrei no metrô 2 horas e meia depois que o show acabou, depois de muitos empurrões e confusões com a polícia e funcionários. E nem isso foi o suficiente para diminuir minha alegria de ter, finalmente, visto O show do Foo Fighters.
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Tomboy: Para repensar conceitos

6 de abril de 2012
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Cineclube Unesp Bauru - "Tomboy".
Terça-feira, 3 de abril.
18h, auditório da Biblioteca.

Por Tamires Trindade

Engenhosa em sua maneira de tratar do tema, a diretora francesa Céline Sciamma, atinge em Tomboy um desenvolver plenamente peculiar. Laura, uma menina de dez anos que mudou-se para um novo bairro, não tem nada de convencional. Possui um jeito próprio de se vestir e o faz por que se sente bem. Ao se apresentar a vizinhança do bairro, quase que por acidente, decide fingir ser um garoto e vai a fundo na questão, se empenhando para manter a farsa com muito jogo de cintura para encarar os pequenos obstáculos causados por situações corriqueiras.



O filme, lançado em uma época que a homossexualidade é presente, mais do que nunca, em mesas de discussão, se supera o modo de mostrar o assunto, fazendo que o espectador repense seus conceitos sobre sexualidade. Deixando de lado estereótipos e alardes e partindo para uma face mais singela, sincera e natural.

Nota-se ainda uma interessante tentativa de mostrar que este conflito pode acontecer sem causa aparente de sentimento de raiva, falta de atenção ou problemas familiares, ao incluir a trama em meio a uma família aparentemente perfeita, onde os pais e os filhos se relacionam muito bem a ponto de deixar que as filhas se divirtam como bem entenderem, impondo apenas os limites necessários. Como nota-se no modo de se vestir de Laure, em que a mãe não implica nem estranha, mostrando uma aceitação ao gostos da filha mais velha. Trazendo um ar de normalidade, ensina que é um processo passar por questões entre “o que eu sou” e “o que eu quero ser” mesmo que uns passem por mais dificuldade que outros.

Aberta a discussão após o filme, muitos pontos de vista foram mostrados. Como a proximidade de Laure com seu pai, mais que sua mãe, a cumplicidade entre ela e sua irmã, que aceita a decisão da irmã de se passar por garoto com facilidade e ainda leva como brincadeira e o desfecho contundente, tanto para os personagens quanto para os espectadores, ao qual o filme leva, pois mesmo que haja uma suposta solução para o “problema” no qual o filme se desenrola, fica um leque de possibilidades do que acontecerá a partir dali.

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Nem Um Dia Se Passa Sem Notícias Suas

5 de abril de 2012
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Registro de Marcelo Marques da passagem do ator Edson Celulari por Bauru, que estrelou a peça Nem Um Dia Se Passa Sem Notícias Suas.

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Sin Ayuda Lança Teaser do novo EP

4 de abril de 2012
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Oswaldo Corneti/We Shot Them

Formada por Ricardo Henrique, Julio Cavalcante, Diego Xavier e Vinicius Pacheco, num projeto que se iniciou em 2010, o Sin Ayuda, além de trazer na mala o disco de estreia "Noise Reminders", vem chegando com um novo EP, intitulado "Boat".

O quarteto vale-paraibano está lançando o teaser do seu mais novo registro. Gravado em Santa Branca (SP), o novo trabalho será lançado dia 7 de maio em parceria com os selos Popfuzz Records (AL) e Transfusão Noise Records (RJ).

Confira o teaser:

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FAQ e-Colab

3 de abril de 2012
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A equipe do e-Colab recebeu um pedido de entrevista da caloura (bixete, né) de jornalismo Marina Machuca, a Chuca, para um trabalho sobre mídias colaborativas. Nós gostamos tanto das perguntas (e das nossas respostas) que resolvemos postar aqui. Também funciona com um FAQ para os leitores do blog que ainda não conhecem o nosso trabalho. É isso, se tiverem mais perguntas mandem que a gente responde!


Por Marina Machuca

Como é feita a seleção de colaboradores para o e-Colab?
Parte primeiramente do interesse do colaborador (texto, foto, vídeo) em entrar em contato com alguém da equipe ou se cadastrar no blog. Depois de duas pautas/matérias/coberturas, nós avaliamos o comprometimento com o projeto e a qualidade do trabalho. É um acompanhamento simples baseado no interesse e disposição para colaborar.

Os eventos são escolhidos de qual maneira?
Variamos muito. Optamos pelos eventos que estão relacionados com a cultura independente, essa nova construção da cultura pop. Mas a equipe também é responsável pela escolha das pautas, todos que estão no grupo tem liberdade pra sugerir eventos ou mesmo cobri-los sem um aviso prévio e enviar o material. Não existe uma imposição de pautas, nós selecionamos as que achamos interessantes e abrimos para que os colaboradores escolham de acordo com suas afinidades. Se a pauta vai virar uma cobertura depende do grupo aderir ou não.


Os colaboradores possuem remuneração pelas coberturas desenvolvidas?
Até o momento, não haha. Ninguém ganha nada no e-Colab. Mas se um dia a gente ficar rico com isso... vai saber né. Mas, por enquanto, é um investimento na formação de cada um através de experimentar formatos e coberturas e um investimento nessa construção colaborativa.

Como foi dado o “ponta-pé” inicial do projeto?
Começou como um projeto do Enxame Coletivo na Semana de Audiovisual (SEDA) em 2010 com o objetivo de formar uma equipe definitiva de cobertura colaborativa em Bauru. Era gente disposta a expressar o que estava acontecendo na cena que era incipiente na época. Agora a cena cultural já está estruturada e nós temos mais autonomia, somos nosso próprio projeto. Queremos cada vez mais acrescentar pautas novas a esse panorama cultural de Bauru.

Quais áreas estão presentes dentro da equipe colaborativa?
Na verdade, qualquer pessoa que queria agregar à cobertura. Basicamente, textos, foto, vídeo e mídias sociais. Temos também colaboradores que atuam de outras maneiras no processo colaborativo, como Design e Sistema de Informação que trabalham com o layout, manutenção do blog e logo, por exemplo.

Há preferência entre os eventos que ocorrem em Bauru?
É mais viável, mas não quer dizer que não cobrimos eventos fora da cidade. Temos um quadro chamado “Pé na Estrada”, a ideia é botar o pé na estrada em busca da pauta,  já fizemos coberturas em Bragança Paulista, Jacareí, Ribeirão das Neves (MG), Belo Horizonte (MG), São Luiz do Paraitinga, Marília, São Carlos, Pirassununga, Porto Ferreira e São José do Rio Preto. Quando e onde pudermos ir e houver pauta, estamos indo!

Há possibilidade de estender as coberturas para cidades da região?
Sim, nossa meta é falar da cultura nacional e cobrir eventos da região e fora também. Mas acho que estender as coberturas vai acontecer naturalmente, hoje essa possibilidade é muito real com a internet, basta se ter colaboradores que não morem em Bauru. Sem contar que a tendência é que novos grupos se formem com uma proposta parecida, desenvolvendo esse trabalho e estendendo as coberturas.

Qual o papel do e-Colab junto a artistas independentes?
O e-Colab tem o papel de disseminar e mostrar para os leitores uma cultura diferente (ou um viés novo), feita por artistas novos, quase sempre independentes. Nosso papel é agregar valor a essa cultura nova, a cidade e todos que leem o nosso blog. Incondicionalmente, tudo que produzimos acaba integrando a memória cultural desse momento e desse lugar.

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