Se cê for sangue bão, levanta a mão

25 de abril de 2012
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Por Ana Beatriz Assam
Fotos: Bruno Christophalo

Se alguém me dissesse há uns anos atrás que eu sairia de casa num domingo a noite pra ir num show de rap, nem eu mesma botaria fé.

Sem preconceitos. Até porque um dia, lá atrás, o rap fez parte de minha formação musical. Mas foi sendo esquecido aos poucos, preterido primeiramente por solos de guitarra e, mais tarde, pelo choro da cuíca.

Até agora.

Ou melhor, até ano passado.

Meu arrebatamento se deu, de fato, durante o show do Criolo no festival Contato. Até então, eu caminhava a passos lentos. Já tinha retomado certo contato com o gênero, mas ainda assim torci um pouco o nariz ao ver o Emicida no Canja. Mas acontece que o estranhamento deu lugar a certo fascínio e o mesmo cara que antes eu torci o nariz, é hoje uma das estrelas desse texto.

Acho que o lance é que eu gosto de música, de arte, de poesia, de frases de impacto. E por mais que eu seja parte da galera criada a sucrilhos no prato, quanto tudo isso se juntou, bem na minha frente, não consegui resistir.

E se eu tinha dúvidas quanto a estar ali, elas foram sanadas aos primeiros versos de Nova Ordem.

No palco, na minha frente, os Os Três Temores: Rashid, Emicida e Projota. No chão, ao meu lado, um público que pouco me lembra aquele do show do Criolo, que aconteceu há um mês nesse mesmo lugar. Mais sincero seria a palavra? Não sei. Não venho aqui para julgar os outros.

Uma a uma as músicas vão se interligando, sendo entoadas pela metade. Como se fossem uma só. Não dá pra saber direito quem canta qual, quem canta o quê. E por mais que o lugar não esteja cheio, a voz da platéia cantando em uníssono surpreende.



























“Tem mulher na casa?” pergunta Rashid, dando início a sessão de músicas românticas.

Tem sim. Daquelas que gritam enlouquecidas.

E já que é pra ser sincera, Emicida e Rashid que me perdoem, mas elas gritam pelo Projota.

Chuva de Novembro foi a prova que eu precisava.

Mas o Emicida também fez bonito. Com um microfone estilo antigo, cantou sua já freqüente junção de Ela Diz e Eu gosto dela.

Findada a sessão derrete-coração, mais pedradas. E dessa vez as músicas vinham “mais inteiras”, por assim dizer. Os maiores sucessos dos três rappers vieram aí, pra ferver de vez o público.

“Essa é minha última música solo”, anuncia o queridinho-da-platéia-feminina.

E ao fim de Samurai, dá um mergulho no meio de sua platéia delirante. Por um momento, achei que ele não ia voltar. Ou melhor, não ia conseguir voltar. E pelo jeito não foi só eu. “Ô galera, devolve aí o irmão” pede Emicida.

Assim que Projota volta ao palco, erguido pela galera, os três emendam Triunfo, que vem seguida por Ainda Ontem, a última.

“Obrigado, Bauru.”

Essa pequena parcela de Bauru aqui presente também agrade.

São só meninos, não muito mais velhos do que eu. Mas dão a cara a tapa de uma forma que eu nunca teria coragem.


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