Não à vingança

22 de abril de 2012
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Por Luís Morais
Fotos por Wilian Olivato

Nessa semana está rolando a II Jornada de Direitos Humanos de Bauru, e eu, despretensiosamente fui à primeira mesa redonda, na segunda feira.

Sentavam a mesa, ao lado do mediador Profº Clodoaldo Meneguello, o teatrólogo Paulo Neves, o deputado estadual do PT Adriano Diogo e o historiador da Unesp Assis João Francisco Tidei Lima.

Mesa mediada pelo professor Clodoaldo Meneguello


Esse lidezinho padrão inicial é apenas para mostrar como foi o começo: uma abertura solene, com um belo vídeo inaugural mostrando a repressão artística e social dos tempos da ditadura, para depois uma série de histórias que chocaram e emocionaram o público.

Seu João Francisco foi o primeiro a falar, a lá historiador mesmo, perceptível pela maneira coesa de contar uma. Ex-professor de história da USC e da Unesp Assis, já botou todos em choque ao criticar duramente a ditadura militar. Lembrou que “reformas necessárias ao país foram deixadas de lado” por pessoas “que sequer um projeto de governo tinham”.

Foram apenas uns 20 minutos de apresentação, e a bola foi passada para Paulo Neves. “Arte é desafiar”, frase utilizada pelo próprio, define bem os causos contado pelo próprio (EPA, causos? Não era uma mesa-redonda de discussão sobre política? Claro que era, meu caro que está lendo isso. Antes de mais nada, foi uma noite de contextualização. E ela, por si só, dita uma verdade – se é a que concordamos ou não, é outra questão).



Marília Pera que o diga sobre tais causos. Houve uma apresentação na nossa springfieldiana Bauru da peça “Apareceu a Margarida” que teve até empresário no palco por ser contra a peça – por sua vez, contra a ditadura militar. Resultado: briga no palco, nos bastidores, polícia no local. A atriz até hoje é receosa em voltar para a cidade – e por um tempo vários atores globais ficaram longe daqui por causa do episódio.

Por último, o deputado estadual Adriano Diogo fez sua “apresentação'. Foi breve nas palavras, para mostrar uma série de vídeos – a maioria pela metade, pois acabou a bateria do notebook que estava sendo utilizado, e não sei se a organização perdeu o cabo de força ou algo do tipo, mas foi uma bola fora.

Um desses vídeos foi um discurso do grande geógrafo Aziz Ab'saber, de como o próprio era “vigiado” durante o regime militar. Além de uma reportagem especial da Globo News, sobre o caso da explosão da bomba no Rio Centro.

Depois da exibição dos vídeos, foi aberto o espaço para a galera presente perguntar. O primeiro foi Valente,concordando com as opiniões expostas – e que tem um blog interessante. Alguns amigos de Adriano Diogo o cutucaram, para contar uma das mais impressionantes e tristes histórias que já ouvi.

O “Mug”, como era seu apelido na faculdade, tinha um amigo, o “Minhoca”. Para os ditadores, apenas dois comunistas escrotos. E o verbo “ter” conjugado no passado foi, infelizmente, proposital: seu amigo foi morto por ser um opositor ao regime. E o Mug quase foi junto.

Adriano Diogo poderia dizer que quer vingança, que quer ver o sargento (que infelizmente não marquei o nome), hoje major, o qual matou seu amigo, morto. Entretanto, não. Diogo quer apenas sua identificação, apenas a condenação moral que o próprio povo poderia ditar sobre o ser, após saber quem era. Apenas mostrar quem era um assassino do povo brasileiro.

Eram 22:30 e a mesa-redonda se encerrou. Em meio à seriedade da própria jornada, nas palavras-chaves “memória, verdade, cidadania”. A memória precisa ser resgatada. É necessário, sim, entender os erros do passado. Não podemos escondê-lo. E sim, corrigi-los.

Com violência?

Não.

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