Oito badaladas para abençoar - Universo Elegante

16 de abril de 2012
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Por Renan Simão

Fui lá pra Piratininga nesse sábado, cidadezinha simpática que fica 20 minutos de Bauru. Eu, a Lou, o Artur e o Grilo fomos ver o lançamento do CD da Universo Elegante, Era dos Extremos. Encontramos sem problemas a praça principal e a igreja da cidade. Não que seja difícil né, cidade pequena...

O show estava marcado para às 18h, mas atrasou e às 19h tinha missa. Por respeito aos religiosos, esperamos acabar o encontro eclesiástico. Enquanto as orações eram feitas, fomos conhecer o lugar. Era sábado à noite e a praça se tornava ponto de encontro ou de passagem. Era comum ver alguém ressabiado passando e olhando os equipamentos de som ou outro que senta no banquinho de concreto apenas para ver o movimento (que não era muito, tinham 30 pessoas ali e olhe lá).

Parêntesis:

(O Luís Paulo, vocalista da Universo, falou que perto dali tem um cinema legal, mas um cara mora lá, o Omar, e ele não deixa ninguém entrar lá. Tem uma telona, espaço grande, mas é dele: o “CineOmar”. Queria ir falar com ele. Imagina morar num cinema? Que louco.)

Ninguém ficou incomodado com o atraso.Tomamos duas cervejas, comemos doces da padaria. Tava gostoso, sabadão, calor e vento gelado.

Vamos ao show. Os caras queriam começar depois das badaladas na igreja. Curti, cria algo solene, imponderável no ambiente. Vinte segundos antes das 20h, silêncio. 20h em ponto: oito badaladas e... rock.  

A Universo Elegante em boa parte do show caminha direto para a introspecção existencial, seja no som (às vezes chato) ou nas letras (bem legais às vezes). Propositalmente arrastado, o som da banda é camada de emoção que faz às vezes de coadjuvante, sem querer interferir com solos exagerados ou mudanças de velocidade. Isso acontece, mas é raro. Quase todas as canções seguem o mesmo tempo, a mesma obsessão. A guitarra é a expressão pop da dor, o baixo o pulso latejando e a bateria cada gole ritmado de uísque. Ao todo, a impressão de que devemos pensar mais na poética das músicas do que no som é constante.

O protagonista é Luís Paulo e suas histórias são nitidamente autorais. Ele fala do Eskinão de Bauru em uma terça-feira desprezível; ou da Monique, uma moça bonita da escola D’incao. O cenário para esses personagens são as desilusões do homem pós-moderno, que é o Luís Paulo. E ele ostenta isso. Fala de consumismo, carros, catástrofes, antivírus, mansões nuas, neuroses. Problemas característicos do Homem dos anos dez.

Contudo, mais do que confusão existencial a Universo Elegante professa a segurança do impossível, uma certeza de que as coisas não são como são e podem ser melhores. Podem estar fodidos, mas querem fazer arte, querem criticar, fazer.

Olha a igrejona, aí.
Como na Teoria do Universo Elegante, que muito basicamente, é o arranjo perfeito dos processos, algo unificado onde o material e o imaterial possam fazer sentido... a sinergia entre Teoria da Relatividade de Einstein e a mecânica quântica. É utopia para uns, para outros é um caminho a seguir. É não acreditar nas instituições mas nas doutrinas. Tudo está um caos mas orna pra cada um de acordo com as suas convicções, que talvez não tenham lógica, mas funcionam.

Mesmo tocando pra pouca gente (incluindo os amigos) e fazendo as escolhas das músicas na hora, podia-se perceber uma vontade maior para bradar contra o sistema e afirmar loucuras que fazem sentido para eles (e eu). E a imagem da banda esperando a benção das oito badaladas da igreja na cidadezinha de Piratininga volta à minha mente. Mesmo sem crença, sem religião, eles acreditavam naquele momento e a racionalidade era mera coadjuvante.

Mesmo sem propósito aquele momento fez sentido. E foi bonito.

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