Por Renan Simão
Fotos do feice da Universo Elegante
Fui lá pra Piratininga nesse sábado, cidadezinha simpática que fica 20 minutos de Bauru. Eu, a Lou, o Artur e o Grilo fomos ver o lançamento do CD da Universo Elegante, Era dos Extremos. Encontramos sem problemas a praça principal e a igreja da cidade. Não que seja difícil né, cidade pequena...
O show estava marcado para às 18h, mas atrasou e às 19h tinha missa. Por respeito aos religiosos, esperamos acabar o encontro eclesiástico. Enquanto as orações eram feitas, fomos conhecer o lugar. Era sábado à noite e a praça se tornava ponto de encontro ou de passagem. Era comum ver alguém ressabiado passando e olhando os equipamentos de som ou outro que senta no banquinho de concreto apenas para ver o movimento (que não era muito, tinham 30 pessoas ali e olhe lá).
Parêntesis:
(O Luís Paulo, vocalista da Universo, falou que perto dali tem um cinema legal, mas
um cara mora lá, o Omar, e ele não deixa ninguém entrar lá. Tem uma telona,
espaço grande, mas é dele: o “CineOmar”. Queria ir falar com ele. Imagina morar
num cinema? Que louco.)
Ninguém ficou incomodado com o atraso.Tomamos duas cervejas,
comemos doces da padaria. Tava gostoso, sabadão, calor e vento gelado.
Vamos ao show. Os
caras queriam começar depois das badaladas na igreja. Curti, cria algo solene,
imponderável no ambiente. Vinte segundos antes das 20h, silêncio. 20h em ponto: oito badaladas e... rock.
A Universo Elegante em boa parte do show caminha direto para
a introspecção existencial, seja no som (às vezes chato) ou nas letras (bem legais às vezes). Propositalmente
arrastado, o som da banda é camada de emoção que faz às vezes de coadjuvante,
sem querer interferir com solos exagerados ou mudanças de velocidade. Isso
acontece, mas é raro. Quase todas as canções seguem o mesmo tempo, a mesma obsessão. A guitarra
é a expressão pop da dor, o baixo o pulso latejando e a bateria cada gole ritmado de
uísque. Ao todo, a impressão de que devemos pensar mais na poética das músicas do que no som é
constante.
O protagonista é Luís Paulo e suas histórias são nitidamente autorais. Ele fala do Eskinão de Bauru em uma terça-feira
desprezível; ou da Monique, uma moça bonita da escola D’incao. O cenário para esses personagens são as
desilusões do homem pós-moderno, que é o Luís Paulo. E ele ostenta isso. Fala
de consumismo, carros, catástrofes, antivírus, mansões nuas, neuroses. Problemas
característicos do Homem dos anos dez.
Contudo, mais do que confusão existencial a Universo
Elegante professa a segurança do impossível, uma certeza de que as coisas não
são como são e podem ser melhores. Podem estar fodidos, mas querem fazer arte,
querem criticar, fazer.
Olha a igrejona, aí. |
Mesmo tocando pra pouca gente (incluindo os amigos) e fazendo as escolhas das músicas na hora, podia-se perceber uma vontade maior para bradar contra o sistema e afirmar loucuras que fazem sentido para eles (e eu). E a imagem da banda esperando a benção das oito badaladas da igreja na cidadezinha de Piratininga volta à minha mente. Mesmo sem crença, sem religião, eles acreditavam naquele momento e a racionalidade era mera coadjuvante.
Mesmo sem propósito aquele momento fez sentido. E foi bonito.
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