Entrevista e foto por Renan Simão
Colaboração: Amanda Melo
Colaboração: Amanda Melo
Após o show da última sexta no Sesc Bauru (veja como foi), o trio Metá Metá falou com o e-Colab. Os três muito gente fina, tiveram um tempo para falar com a gente sobre a negação do afrosamba, identidade, o avesso do afrobeat e o disco Metá Metá (2011). Confira:
Muitas resenhas ligam o som de vocês ao Afrobeat e Afrosamba. Mas claramente no disco não dá pra ver uma relação com esses gêneros. Vocês falam de religião e ritmo africanos, mas também de São Paulo e crônicas.
Kiko Dinucci: É, cara. Tipo o Afrosambas. Ninguém de nós três temos o disco do Vinícius [de Moraes] em casa. Em nenhum momento a gente pensou em fazer afrosambas. Aí o cara vai lá e vê que tem a ver com música africana, tem a ver com orixá... o cara lembra do Vinícius. Mas teve mais gente que fez isso antes: o Moacir Santos, o Abigail Moura. Acho que eu tenho mais influência do Edu Lobo do que dos Afrosambas.
Vocês tem uma sonoridade bem crua. Voz, sax/flauta e violão. Cada instrumento com uma intensidade certa pra destacar a voz. Essa foi a intenção desde o começo?
Juçara Marçal: Acho que foi experimentando. A gente começou a tocar junto porque gostava de tocar junto. E começamos a explorar os vazios, diálogo aqui, diálogo aqui...
Kiko: Mas não foi uma coisa assim: vamos tocar assim. Foi, tipo, toca. E experimenta né, toca, toca, toca. E o que ficou legal a gente vai dando save. (risos)
Thiago França: E a gente já mudou muito desde o nosso primeiro encontro. A gente mudou muito no meio do caminho.
As músicas do disco todas ou são de parceiros ou de parcerias com o Kiko. Como foi a escolha das composições?
Juçara: Nossa a gente não pensou assim, não. (risos)
Kiko: Todas as canções que a gente colocou são de amigos nossos e que gente é fã dos caras. Então é assim, a gente já é amigo, já é fã, e gosta de cantar as músicas deles lavando louça, aí só mais um motivo pra cantar mais.
Mas a primeira parte é mais história, crônica. Depois na segunda parte vai mais para o ritmo, batida.
Kiko: A gente só viu que o disco tinha duas partes depois de masterizar. O disco acaba mudando também quando entram as minhas músicas, parece que ganha uma outra unidade. Mas ainda dá pra ver muito dos universos dos compositores, mesmo que tenha um pouco a nossa cara. A do Siba [“Vale do Jucá”] é ele. A do Maurício Pereira [“Trovoa”].
Juçara: E tem uma coisa do show ser feito por muito tempo. A gente teve muito tempo pra experimentar, pra burilar e escolher. E essa coisa de um trabalho invadir o outro... A coisa da banda [completa] foi porque a gente abriu um show do Femi Kuti , por exemplo, que aí tinha uma banda. Aí a gente ouviu “Oranian” com uma outra pegada.
O silêncio e o violão e o sax como ritmos percussivos seriam uma marca do Metá Metá?
Kiko: É o Metá trabalha o silêncio. Mesmo porque o silêncio é um elemento necessário pro ritmo, né.
Mas você mesmo [Kiko], dá pra perceber que você dá a batida mais forte, a toada.
Kiko: Acho que somos muito nós dois [Thiago]. Tem uma coisa de contraponto, de pergunta e resposta. E o silêncio, né. Que vai dando as quebras, que vai deixando o ritmo manco. E é o silêncio que deixa a Juçara na frente e possibilitar o trabalho de que a letra venha em primeiro lugar. Quando o pessoal escuta, principalmente a primeira parte do disco, presta mais atenção na letra. É bem narrativo.
Thiago: Dá pra falar que o silêncio é uma marca, mas não a identidade do Metá Metá. Como a gente tem muitos parceiros fora do grupo, cada um está sempre num foco diferente. A gente não tem muito apego a nada e tá sempre experimentando.
Kiko: Até ponto de ver uma formula que deu certo ser negada no meio do processo. A gente, por exemplo, tem dois formatos de show: tem um com o trio, que é mais barato pra viajar... Que vocês viram hoje, mais em teatro; tem com a banda e o trio e tem só com a banda. Esse [último] é cacetada, que a gente não gosta em teatro, porque tem que fazer a galera dançar. E esse é show de rock, cacetada do começo ao fim, e já tá dando pista de como vai ser o próximo trabalho: o Metal Metal. (risos gerais) Só pancadaria. Vai estourar seus tímpanos. Cadê o silêncio agora?
Juçara: O que tá pintando é que são cantigas curtas que tem um groove que encaminha isso.
Thiago: É, a coisa fica ali rolando. E é muito louco, o nosso afrobeat é o avesso do afrobeat. O que é isso? Acho que a única coisa que a gente pegou do afrobeat foi assim: ‘Putz, a música tem 15 minutos! A gente pode fazer uma música de 15 minutos também.’ O Afrobeat tem os elementos muito definidos, a levada de batera, as dinâmicas. O Fela [Kuti] é muito performático, a composição dos arranjos é muita coisa de performance. Faz muito sentido você assistindo. É meio cênico e tal. E a gente não tem isso, é uma coisa mais orgânica. É muito mais misturadão, é mais orgia, é meio selvagem. (risos) Mas é, tem hora que o Kiko fica cismando de fazer um negócio [no violão] e eu: ‘Pode fazer o seu. Não me enche o saco. Depois a gente se encontra lá no final’.
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