Por Sérgio Viana
Fotos de Renan Simão e Sérgio Viana
Chegamos afoitos adentrando os camarins improvisados da Virada, em Botucatu, perguntando: Cadê o Luiz? O Luiz já chegou?
Havia um
compromisso. Durante a semana anterior tivemos que marcar, declarar, o horário exato
em que estaríamos prontos para entrevistá-lo. E já haviam se passado uns 13
minutos. Porque foi difícil convencer um ao outro que era mesmo necessário deixar o show do Lucas Santtana.
Para nossa, não
tão grande, surpresa. Não. O Luiz não havia chegado.
Ótimo. Mais um
tempinho para pensar em como organizar as ideias na hora de fazer as perguntas.
Ficamos tão imersos na entrevista com Santtana e com a própria Virada, que por
um momento esquecemos que o próximo era, nada menos, que o Melodia, o garoto do
Estácio.
O atraso estava
de bom tamanho. Conseguimos organizar um pouco melhor as ideias e conversar com
a produção, só para garantir que a entrevista estava em pé.
Quando ele chega
é um pequeno alvoroço. Nós comportados, como dois experientes jornalistas,
ficamos de lado aguardando, enquanto uma equipe de uma TV local acendia a luz e
apertava o REC na cara de Melodia. Depois disso ainda esperar alguns fãs
baterem fotos e relatar que alguém da família sempre foi muito fã do cara. E
pra finalizar o próprio apresentador do evento, que também é radialista, põe o
gravador em cena.
Não tinha porque
achar ruim. A produção assegurou que na nossa hora ele ia falar mais
tranquilamente.
E foi o que
aconteceu. Em um dos camarins, de frente com Luiz Melodia.
Já faz alguns anos que você está com o show
do disco “Estação Melodia”. Como você escolheu as canções do álbum e o por que
de reviver essa época, de 30, 40...?
Pois é, veio a
acontecer a gravação dessas músicas – esses sambas de 30, 40 e 50 -. Isso
porque, eu quando garoto ouvia muito esses sambas, através de meu pai, meus
tios, vizinhos lá no Estácio, onde eu nasci e fui criado. Então, com o decorrer
do tempo, eu falei comigo mesmo: Pô, um dia eu vou gravar, vou prestar uma
homenagem a esses grandes compositores, que foram os caras que fizeram o samba
brasileiro, da maior importância pra mim e acho que pra muitos brasileiros.
E por ser
marcante, eu entrei em estúdio em 2007, gravei o disco e o resultado foi muito
bacana. Tanto que ta aí até hoje. Eu vou fazer uma turnê, agora em junho, na
Europa, em umas sete cidades. E vou com o Estação Melodia, com esses sambas.
Isso é um privilégio pra nossa música e uma satisfação imensa, um prazer
enorme, de tá levando esses sambas pra rapaziada da Europa, pros ingleses verem.
Não é primeira vez que você homenageia seu
próprio pai. Li, que você começou ali, vendo ele tocar com seus tios. Como você
via seu pai ali criando e isso te transformar num músico também?
É que você,
dentro de casa vendo seu pai tocando e tal... ainda bebê, ainda garoto, ele
tocava violão e eu, é lógico moleque, ficava curioso. E desde então eu comecei
a ter influência, a gostar da música. Ele foi a grande influência. Alguns
sambas que eu já compus tem a essência dele. Na barriga da minha mãe eu já ouvia.
E meu é a
grande... a grande.. essência musical, que fez com que eu enveredasse. Embora
ele nunca deu muita força para que eu seguisse pelo caminho musical. Ele achava
que dava pano, pra, pra, pra... tem um ditado que eu até esqueci agora. Pano
pra renda?.. (sopro do fotógrafo) Pano pra manga! (hahahaha). Mas eu insisti,
então não tinha outro jeito. Ele queria muito
que eu fizesse medicina e eu num dei certo.
Nos anos 70 e 80 você, junto com Sérgio
Sampaio, Jards Macalé e outros, foram classificados como marginais. Algo que
muitos nunca aceitaram e nem viam sentido naquilo. Como você olha hoje para essa
classificação?
Eu creio que o
meu estilo de vida, por ser jovem, tinha-se uma rebeldia natural. Uma relação
com a indústria fonográfica diferente. Pelo menos eu não cabia naqueles
padrões, então me rebelava contra aquilo. Tanto escrevendo, quanto em reação,
em agir de maneira diferente. Era toda uma mistura, tanto em relação ao lance
político. A minha rebeldia vinha em atitude. Então os jornais começaram a
intitular. E essa coisa de título, de rótulo, aliás, não me incomodava, mas eu
acho uma coisa absurda. Acho que tinha que se compreender um cara que tava
acontecendo, as suas razões e etc., mas nunca me incomodou, pelo contrário, só
me fortificou.
(Apressados pelos produtores que depois nos
culparam de atrasar a Virada) E hoje, você bebe das fontes de hoje, das músicas
novas?
Nesse disco eu
não bebi nada, na verdade eu prestei uma homenagem. Mas a música brasileira é
rica, então, acho que desde que eu comecei a compor, eu venho bebendo, me vendo
como um brasileiro. Nossa música é tão rica, desde o nordeste ao sul, por que
não beber de todas as fontes? Acho que a gente tem que fazer o melhor possível.
Fazer o mais bacana, para que gerações vindouras possam participar.
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