Por Bruno Christophalo
Apesar do típico céu cinzento de
São Paulo, o que pairava no ar do Centro da cidade naquele momento, não era
poluição. Era cultura, circulando por todos os lados, na forma de sons, imagens
e sensações.
Para alguém que não é acostumado
a andar por aquelas ruas, carregadas de história, sujeira e pichações, o rolê
se torna ainda mais interessante. Experiências como sair de um show de jazz,
ver a dança moderna do Balé da Cidade de São Paulo e se deparar com uma
performance de suspensão corporal ao cruzar a esquina, acontecem durante a
noite e são motivo de estranhamentos.
A música é parte fundamental da
Virada, e se manifesta desde as ruas, onde grupos bolivianos tocam suas
“músicas folclóricas” em playback e vendem seus discos, até aos palcos
principais, de onde emanam Rock, Blues, Jazz, Funk, Afrobeat, Reggae e diversos
outros estilos, tocados por artistas do mundo inteiro.
No palco República, concertos dos
jazzistas americanos como McCoy Tyner, Lou Donaldson, e Roy Ayers inebriaram a noite
de sábado. Donaldson, tocando com vigor seu sax alto no auge dos seus 85 anos e
com uma inconfundível voz de bluesman, contava a história de sua mulher que
bebia muito uísque, com sua banda acompanhando e improvisando ao fundo. Na
frente do palco, o artista plástico paulistano Ricardo Negro, 23, grafitava um
painel ao som de Lou Donaldson.
Segundo ele, a arte era influenciada pela música que tocava no momento. “Este grafite é relacionado com o jazz que vem do palco. Eu estava com várias ideias, mas tudo foi construído na hora, com elementos da cultura negra. A mulher representada está à vontade, como se estivesse ‘ouvindo’ o som que rola agora. Tem também as casinhas do fundo, que se relacionam com as comunidades onde surgiu o jazz e as cores quentes que passam uma vibração forte”, conta. Sobre a Virada, Ricardo acredita ser extremamente importante um evento cultural desse porte na cidade, porém afirma que falta divulgação na periferia. “Eu sou do Grajaú e eu vejo que lá muita gente não sabe o que está acontecendo aqui hoje. A Virada é uma oportunidade única para se ter cultura de qualidade sem pagar nada, mas falta essa estrutura de divulgar melhor nos subúrbios para mais gente poder ter acesso”, conta.
Foto: Danila Santos |
Segundo ele, a arte era influenciada pela música que tocava no momento. “Este grafite é relacionado com o jazz que vem do palco. Eu estava com várias ideias, mas tudo foi construído na hora, com elementos da cultura negra. A mulher representada está à vontade, como se estivesse ‘ouvindo’ o som que rola agora. Tem também as casinhas do fundo, que se relacionam com as comunidades onde surgiu o jazz e as cores quentes que passam uma vibração forte”, conta. Sobre a Virada, Ricardo acredita ser extremamente importante um evento cultural desse porte na cidade, porém afirma que falta divulgação na periferia. “Eu sou do Grajaú e eu vejo que lá muita gente não sabe o que está acontecendo aqui hoje. A Virada é uma oportunidade única para se ter cultura de qualidade sem pagar nada, mas falta essa estrutura de divulgar melhor nos subúrbios para mais gente poder ter acesso”, conta.
Às duas da manhã no palco Júlio Prestes, dedicado à música africana, entra em cena uma das atrações mais esperadas da Virada: Seun Kuti, filho do lendário músico nigeriano Fela Kuti, liderando uma das antigas bandas de seu pai, a Egypt 80. Desferindo o clássico “Zombie”, a Egypt 80 mostrou que ainda domina totalmente o poder do afrobeat, e Seun nada deve ao seu pai no comando do saxofone, embora não tenha herdado tanto o lado performático de Fela. A banda era composta por quatro instrumentistas comandando os metais, dois guitarristas, um baixista, um baterista, três percussionistas e duas backing vocals (donas de fortes vozes e de incríveis rebolados, sincronizados com a marcação da música). Antes de tocar “The Good Leaf”, Seun discursou a favor da legalização da maconha e afirmou fazer uso da planta.
No dia seguinte, o americano Charles Bradley levava a explosão da funk music para o palco República. Com trejeitos de James Brown (inclusive por ter começado sua carreira como cover do Padrinho do Soul) e voz de Otis Redding, Charles Bradley despejou black music para quem estava presente na praça durante aquela tarde. Indo do groove do funk ao feeling do soul, e passando até mesmo por um cover de “Heart of Gold”, de Neil Young. Durante o show, aproveitou uma das diversas jams instrumentais para apresentar os membros de sua banda e pedir um solo de cada um. Muitas vezes emocionado, com os olhos mareados, gritava “I love you” para a platéia e se reverenciava, comovido. Ao acabar a apresentação, extremamente aplaudido pelo público, Charles Bradley desceu do palco e, chorando, cumprimentou todos que estavam próximos da grade que separava a multidão da área de imprensa, chegando até mesmo a carregar uma criança no colo. Ovacionado, Mr. Charles se despediu após uma tarde intensa de música e emoção, sem dúvida um dos melhores shows por mim vistos na Virada.
Após uma caminhada de volta para o
palco Júlio Prestes rumo ao show de Gilberto Gil, um imprevisto. A área de
imprensa estava lotada e por este motivo não foi possível o registro
fotográfico do show de um dos grandes nomes da música brasileira. Gil encerrou
a Virada passeando pelo forró e reggae de seus grandes clássicos, como “Não
Chore Mais (No Woman No Cry)”, “Esperando na Janela ” e finalizando com “Toda
Menina Baiana”, diante de uma praça Júlio Prestes lotada.
Vinte e quatro horas cheias de
cultura depois acabava a Virada Cultural, esvaziando o centro antigo de São
Paulo e trazendo de volta o caos habitual àquelas ruas. O zumbido no ouvido
refletia as horas em frente ao palco, acompanhando de perto, colado às caixas e
envolvido pela massa sonora, toda aquela movimentação cultural ininterrupta. O
cansaço chegava após a maratona de shows, pouco sono e algumas latas de
cerveja, mas a satisfação de poder apreciar diversos espetáculos em seguida ao
custo único de uma sola de tênis é inestimável.
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