Mídia x mídia: é para ficar esperto

27 de agosto de 2012
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Por Renan Simão
Fotos  por Laís Semis

Neste último sábado foi realizado o 18º Fórum de Hip Hop do Inteior Paulista, espaço de debates, oficinas e discussão sobre o movimento Hip Hop entre representantes de cidades da região. De cunho estritamente de articulação, o evento teve o objetivo de estimular agentes culturais a repensarem as ações do movimento. E fui lá cobrir texto pelo e-Colab e vídeo pela equipe do Programa Atalho da Unesp.

Mas, além das inúmeras trocas de experiências que o fórum fomentou, gostaria de relatar uma situação emblemática que a equipe do Atalho presenciou no início de atividades do Fórum, fato esse que pode, creio, ilustrar novos desafios para o Hip Hop, tendo em vista seu notável crescimento.



Vamos à história.

Chegamos ao Automóvel Clube de Bauru e fomos falar com o Renato Magú, um dos responsáveis pela organização do fórum. Muito atencioso, deu as coordenadas para que o trabalho da equipe fluísse bem, mostrou todo o ambiente, ofereceu marmita (!) e disse que a equipe de mídia do Fórum (subsidiada pelo Instituto Acesso Popular Hip Hop) tinha um espaço para entrevistas e filmagens e que nós poderíamos usar os espaço. Pô, demais, os caras foram muito gente fina.

Entramos na sala. Magú tirou algumas mochilas do caminho e fomos entrando quietos. Salvo alguns “opas” meus para a rapaziada, não cumprimentamos formalmente o pessoal que estava trabalhando ali. Falha nossa, é claro. 

Estávamos arrumando nossos equipamentos e fomos interrompidos por um discurso proferido diretamente a gente. Mais que um puxão de orelha, foi um esporro mesmo.

Murfy, agente cultural do movimento Hip Hop em Araraquara, perguntou o que estudávamos. Respondemos: jornalismo e rádio e TV. A partir daí começou a dissertar sobre o papel da grande mídia na cobertura do Hip Hop, dizendo que sempre mostra as ações de forma distanciada, sem se integrar ao movimento, aproveitando-se da situação para fazer uma matéria e ir embora. (O que, na maioria das vezes, é verdade). Disse num tom empostado, deixando bem claro que estávamos num espaço deles, e que entramos lá sem “cumprimentar ninguém, sem trocar ideia com ninguém”.

Não sabíamos onde enfiar a cara. É claro que ele estava certo. Nossa atitude, apesar de passar longe da arrogância (foi mais timidez mesmo), foi no mínimo, não educada. Principalmente num espaço que não era nosso, e que foi gentilmente compartilhado com nossa equipe.

Mas é aí, na relação da mídia do movimento com a mídia de fora (não necessariamente “grande”) que reside a questão emblemática. O movimento Hip Hop cresce cada vez mais em seus mais variados aspectos (artístico, social e midiático) e expande-se de dentro para fora. Criando cultura, renda e mídia próprias. Aspectos esses historicamente negligenciados pela grande mídia que tratou (e trata) o Hip Hop como cultura marginal quando é, na verdade, de massa e diversa. E dentro desse crescimento, principalmente da mídia-independente, é que o movimento tem que, cada vez mais, que se relacionar com gente de fora (nós da situação acima, por exemplo) querendo falar ainda mais sobre Hip Hop.

E no nosso caso, é claro que não queremos mostrar as questões do Hip Hop como exóticas ou menores como rotineiramente são cobertas. Queremos mostrar como essas pluralidades culturais do rap, do break, do grafite, da discotecagem, das gírias, de estilo e de suas próprias organizações sociais funcionam e se alastram por toda a sociedade brasileira criando identidades variadas.

Nós não estávamos certos em não cumprimentá-los formalmente, óbvio. O Murfy também não deveria soltar um discurso de “apropriação do Hip Hop pela grande mídia” sem conhecer a gente e o nosso trabalho. 

Mas na verdade, ele mostrou que é preciso mesmo ficar esperto. Ficar esperto, ressabiado, sempre estar atento a tudo. E isso vale para qualquer manifestação menor ou mesmo uma cultura inteira como a do Hip Hop que tem de cada vez mais conversar com muito mais gente, fazer mais mídia, e vivenciar essa relação entre a mídia local-independente com as mídias externas.

É ficar esperto para os grandes não tomarem o lugar que a mídia local conquistou e também ficar esperto para saber que as diferenças entre as mídias não necessariamente geram oposição, mas criatividade em novos trabalhos.

Ah, e depois o Murfy cumprimentou a gente (haha) e o trabalho fluiu bem demais. Agradecemos  a todos que participaram da organização do Fórum!


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