Cerrado bauruense e desenvolvimento sustentável foram temas de debate

30 de agosto de 2012
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Por Thatianna e Oliveira
Fotos por Laura Luz


Nesta quarta-feira (29), ocorreu um debate sobre a preservação do cerrado de Bauru e o crescimento da cidade. Desde a aprovação da Lei do Cerrado, em 2009, surgiu uma polêmica entre os empresários e os ambientalistas bauruenses. A discussão gira em torno de áreas de preservação que atrapalham a expansão urbana e industrial da cidade. Em uma sala do SENAC, com pouco mais de vinte pessoas foram discutidos temas imprescindíveis para o futuro de Bauru.

Os convidados para a discussão do tema foram Kláudio Cóffani Nunes e Amilton Max Pereira , seguindo essa ordem de discurso. O estudante de Engenharia Ambiental, Leonardo Magnin, intermediou os debatedores e as perguntas do público. Kláudio Cóffani é advogado, geólogo e consultor em sustentabilidade empresarial e começou sua apresentação com mapas e definições de cerrado e de Bauru. 

Kláudio criticou as universidades, dizendo que não há uma academia verde. Os engenheiros ambientalistas, os economistas, os agronomos, todos são formados com visões voltadas para a economia. Defendeu a importância da conscientização social e debates como o de hoje. Disse que Legislação (regulamentação) e pressão social são fundamentais para a preservação do meio ambiente. Brincou com os espectadores, principalmente com a estudante Isis Rangel. “Você tem 19 anos? Tem carinha de 15.” E mais tarde, ao fazer uma metáfora da duração do ambiente com a duração do amor, brincou mais uma vez com a estudante de Jornalismo “essa foto é para você que tem cara de 15 anos.” Isis riu. 

Entre brincadeiras e casos pessoais, Cóffani contou que antes de existir uma Lei de Proteção ao Cerrado, ambientalistas chegaram a fotografar lobos empalhados em áreas de cerrado para alegar que o local possuía animais em extinção para evitar sua degradação. Essas artimanhas não são usadas somente em prol do meio ambiente. Muitos construtores se baseam em brechas contitucionais ou utilizam de documentos falsos para conseguirem construir em terrenos resguardados. Há ainda casos de proprietários que mandavam cortar os arbustos característicos do cerrado para que a área não fosse reconhecida e não fosse preservada. 

Isso sugere uma questão ainda mais complexa: o caso da vigilância. Não há um controle sobre as áreas de florestas. Ao ser interregado sobre quem seria responsável por esse controle sobre as áreas preservadas, Kláudio responde “A fiscalização acontece por parte do cidadão e dos orgãos ambientalistas. A Polícia Ambiental e a CETESB farão a autuação.” Restam apenas 7% do cerrado no território nacional, sendo que dos 14% presentes em São Paulo, hoje, só existem 0,84%. Dessa pequena porcentagem que soma 211 mil hectares, apenas 17,195 são protegidos. 

Outro ponto que impede a expansão industrial na cidade é que Bauru está sobre os Aquiferos Bauru e Guarani. Não pode haver desmatamento em áreas de recargas de aquíferos, a não ser que sejam obras de utilidade pública, como escolas e hospitais. É importante lembrar que a Lei do Cerrado só atinge áreas remanescentes de vegetação e que, a partir do momento que uma área passa a ser uma APA (Área de Preservacao Ambiental), nenhum tipo de degradação muda sua condição. Ou seja, queimadas propositais ou invasões fingidas não devolvem aos proprietários o direito de fazer o que bem entenderem com essas terras.


Amilton Max Pereira , presidente da ONG SOS Cerrado, veio depois. Com um discurso breve e pessoal, falou sobre a preocupação da SOS Cerrado em recuperar a vegetação cerradeira. Perguntei qual seria a solução para esse impasse de Bauru, ele opinou: “Existem áreas próprias para a indústria. Tem alí o Distrito Industrial IV, perto do Mary Dota. Nessa área é permitida a construção de indústrias.” Cóffani ressalvou que no perímetro rural há áreas não preservadas, onde a implantação de indústrias também seria possível. 

Ao ser interrogado sobre em quem votaria para prefeito , Amilton se manteve imparcial e disse que a SOS Cerrado não era partidária. Já Kláudio declarou sua escolha “Voto no (Clodoaldo) Gazzeta ou no Rodrigo (Agostinho), convivi com os dois no Vidagua.” 

Pelo pouco tempo que restou para perguntas e questionamentos, após termos nos alongado até perto das 22:00, o debate foi encerrado. Com muitas palavras de Kláudio Cóffani e poucas palavras de Amilton Max Pereira, saímos com um bom panorama sobre as questões ambientais que cercam Bauru. Se fosse possível atrelar interesses econômicos, questões sociais e preservação ambiental, alcançaríamos o desenvolvimento sustentável. Agora é prestar atenção nas propostas políticas, cobrar os eleitos e lutar pela sustentabilidade. 

  1. Sou aluna do Senac, faço curso técnico em Meio Ambiente e estive presente no debate. Foi ótimo ouvir as explicações de Kláudio, que por sinal é um homem inteligentíssimo, tem argumentos de sobra e dignos de um parar para pensar. Amilton falou pouco mas disse muito. Parabéns pelo blog, e pela escrita, relatou muito bem os assuntos, e, quem perdeu, consegue ter ideia uma de que foi mesmo bom!
    Estou acompanhando ;)

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