Por Juliana Cavalcante
e Jessica Mobílio
Fotos por Dayvison Domingues
Fotos por Dayvison Domingues
Como de costume, todas as ocasiões em que se fala sobre “primeira” tem um ar mítico. Se a expectativa não fosse tão grande poderíamos até negar a premissa. Não foi o caso. A segunda edição do Festival Canja começou e a primeira noite não desfez a impressão.
Shiva Bar, 22h30. O clima frio começava a virar calor humano dentro dos íntimos metros quadrados iluminados pelas cores quentes do ambiente indiano. Uma parte da galera, já aquecida pelo show do Macaco Bong, tentava manter o ritmo insano que pairou no SESC pra prestigiar a intervenção teatral do Grupo Solar e o som do Duo Finlândia. A outra parte esperava pra ser instigada.
Chegamos pouco antes da interação teatral do Grupo Solar, e quando vimos, um espaço se abriu dentre as mesas, pessoas e cadeiras, uma roda se formou. E ao som de Ney Matogrosso, “Flores Astrais”, seis corpos pintados entraram em cena, seis almas inquietas dançavam os movimentos marcados e livres ao mesmo tempo, levaram a platéia a uma experiência particular. Encenação da feminilidade, espiritualidade e do instinto. Cada um poderia interpretar aquilo de forma diferente. Os aplausos foram longos. O clima estava formado.
Estávamos tão interessadas na relação da música, dança e do teatro que conversamos com um dos integrantes, "espiritualidade e feminilidade traduz o que foi feito aqui, transmitimos a nossa energia". Foram cinco minutos que nos lembraram aquela liberdade e expressão dos anos 70, os hippies, as cores fortes mais os desenhos marcados no corpo. Já podíamos esperar uma noite intensa e de trocas e diversão pra quem procura o incomum.
Dez e pouco já começou a rolar um som. O discotecário Leandro Fontana, o “Lelão”, lançava o “jazz for robot”: uma mistura de jazz eletrônico e funk que levantou a galera e deu boas vindas a quem estava ali pra curtir o som do Finlândia. Lelão considera: “O estilo house também é uma referência pra nós, uma grande mistura de metais e voz” e o pessoal aprovou. “Achei que contextualizou bem o ambiente e a banda que se apresentou completou a esfera sonora. A galera estava bem animada”, completa. A verdade é que foi, indiscutivelmente, uma das melhoras partes da noite. Depois do som massa do duo, Lelão voltou a dar o tom da noite.
Estávamos tão interessadas na relação da música, dança e do teatro que conversamos com um dos integrantes, "espiritualidade e feminilidade traduz o que foi feito aqui, transmitimos a nossa energia". Foram cinco minutos que nos lembraram aquela liberdade e expressão dos anos 70, os hippies, as cores fortes mais os desenhos marcados no corpo. Já podíamos esperar uma noite intensa e de trocas e diversão pra quem procura o incomum.
Dez e pouco já começou a rolar um som. O discotecário Leandro Fontana, o “Lelão”, lançava o “jazz for robot”: uma mistura de jazz eletrônico e funk que levantou a galera e deu boas vindas a quem estava ali pra curtir o som do Finlândia. Lelão considera: “O estilo house também é uma referência pra nós, uma grande mistura de metais e voz” e o pessoal aprovou. “Achei que contextualizou bem o ambiente e a banda que se apresentou completou a esfera sonora. A galera estava bem animada”, completa. A verdade é que foi, indiscutivelmente, uma das melhoras partes da noite. Depois do som massa do duo, Lelão voltou a dar o tom da noite.
Quem chegava foi, aos poucos, completando os vazios que ainda se via do lado de cá. Parecia não caber mais gente. Entre um gole e algumas palavras a platéia crescia, até que sem se notar, já era mais de 00h30. Na espera da apresentação do Projeto Finlândia, a casa lotou. Subiram discretamente ao palco o argentino Mauricio Candussi e o brasileiro Raphael Evangelista munidos de piano, acordeon e violoncelo, respectivamente.
As pessoas estavam tímidas, e tentavam se identificar com o som e o compasso da dupla. Estávamos atrás, e pensamos ‘precisamos ver isso de perto’. A sintonia dos caras e a atmosfera que se formou mostraram uns pés inquietos, braços soltos e palmas. Olhávamos de um lado, alguns movimentos desconexos e do outro, o típico ritmo brasileiro, casais, rodas e solitários. A mistura de estilos agradou, era o baião, o eletrônico, o samba mais o violoncelo, e ainda o tango?
Nem todos tem seus ouvidos acostumados à música instrumental, então as três primeiras músicas fizeram o papel de aquecer a platéia para o que ainda estava por vir. Sentados no canto direito do palco dois homens pareciam hipnotizados pela forma como Raphael tirava palavras das notas do violoncelo. Nenhum comentário entre os visivelmente amigos foi feito. Talvez não fosse a vez nem a hora desse tipo de som e acabei também ficando centrada no que quer que eles estavam experienciando.
Repentinamente um aglomerado de pessoas, a princípio dispersas, parecia ser regido pelo som do Projeto Finlândia. A cada canto do bar, um passo estimulava ainda mais a dupla. Das formas mais excêntricas aos passos mais tímidos o Shiva foi ganhando uma energia muito particular. Todos queriam fazer parte de alguma forma daquele momento. Cada um contextualizando o som como lhe apetecia. Você olhava para o lado e pensava que talvez a pessoa que estava ali não tinha nenhum pensamento em comum com o seu. Curioso isso. Se pensava muito ali, ou talvez não pensassem em nada, apenas o sentisse estava presente.
Rafael Evangelista, o violoncelista, fala no microfone “estamos tocando em Bauru pela segunda vez e queremos todo mundo dançando”. Ouvimos dizer que o tom instrumental do Finlândia se encaixou no Shiva, como se o lugar ideal fosse aquele mesmo. “O povo brasileiro é o mais receptivo e essa é a diferença, levar o ritmo daqui para outros países, misturar com o desconhecido. Nunca tínhamos tocado em um lugar indiano, foi muito bom”.
A noite parecia não chegar ao fim, o duo Finlândia desceu do palco e foi divulgar o seu CD mais recente, "Carnavales". O som uma hora acabou mas a aura intimista continuava ali, como se a música e as sensações fossem um segredo partilhado. Havia pessoas ainda com a energia do show, e continuaram a dançar com a discotecagem da casa. Todos queriam conhecer mais de quem escreveu essa história sem letra, ou só queriam comprar um CD.
A noite também chegava ao fim mas terminou com uma agradável conversa. Duas amigas, um Macaco Bong e uma parte do quase indivisível duo Finlândia falavam sobre artes integradas e música independente. Boa forma de começar a “primeira” com conceito, coerência e pé direito. Quando o Festival se propõe a circular banda independente e arte visual, acaba divulgando material novo. Colocar o argentino e brasileiro pra tocar juntos, um grupo teatral com pura liberdade de expressão e discotecagem que combina jazz e eletrônico. Tudo isso na mesma noite. É buscar o que essa gente tem pra oferecer e fazer uma troca com o público, uma influencia mútua dentre os artistas. Saímos com a impressão de que o Festival Canja seria muito mais que difusão de cultura, e sim uma maneira de interagir com o desconhecido e ver o que tem lá fora.
Nenhum comentário:
Postar um comentário