O Shiva Bar foi, novamente, palco pra canja de quinta. Correndo o risco de soar repetitiva: mais intervenção teatral e música independente fizeram um barulho ensurdecedor e a noite, mesmo que mais íntima do que ontem, não decepcionou.
Foi um dia de descobertas. As histórias, a temática, a poesia das pessoas não deveria ser simplesmente expressada em palavras. É uma responsabilidade muito grande falar sobre a grandeza ou a fragilidade delas, mas foi assim que a noite começou a se desenrolar dentro do pequeno quarto improvisado para o Grupo Teatral Solar.
A cena teve início para os solares por volta das 23h30 com a apresentação intitulada “Agridoce”, que em nada se assemelhou às antes “Flores Astrais” de Ney Matogrosso. Taty Beija-flor, Rafael Maia e Li Barbosa encenaram silenciosamente um tipo de ‘ode à liberdade feminina’. Um personagem magro e esguio com o corpo coberto por tinta preta cortava o ambiente e instigava as emoções de espectadores compenetrados em compreender a mensagem do grupo. Duas mulheres se dividiam entre a vaidade compulsiva, alimentada pela sociedade, e a nostalgia de um não-sabe-se-que. Se houve conexão, houve angústia. Era impossível estar presente e não se sentir desconfortável com a presença do Medo, personificado por Rafa Maia. Buscando uma proposta diferente o grupo escolheu desta vez não deixar a sensação negativa pairando sobre o ambiente, e finalizaram o ato explicitando o poder da libertação quando há a preocupação com a ajuda mútua.
A noite era de descontração. O bate-papo foi rápido, porém intrigante. Entre algumas peças de roupas que caíam no chão, os antes personagens pareciam despir-se para dar voz ao “si mesmo”. Com o clima já típico do Grupo Solar, uma troca de abraços, uma energia boa e um até logo. Seria muita pretensão colocar mais palavras aqui do que me cabe, salvo as vezes em que elas realmente significam algo que estava explícito, antes calar. Nada naquele quarto estava explícito. Certas impressões devem ficar guardadas de forma boa, mas só na memória. Depois fomos todos nos perder mais uma vez entre as pessoas do bar.
Era possível transitar por entre os ambientes sem precisar se sentir desconfortável. A discotecagem ficou na responsabilidade do DJ Natã que investiu nas mixagens de rock e hardcore durante boa parte da noite. Não muito depois, o show começou. A banda brasiliense, Lafusa, queria ver a galera ferver! Tocando com uma energia enlouquecedora desde o começo da apresentação, a banda manteve a formação original por algumas músicas, depois os papéis se confundiram e passado um minuto: tecladista na guitarra, guitarrista fazendo a gaita. Pequena consideração: uma gaita bem tocada sabe ganhar fãs. Boa parte da platéia alternava os ambientes, muitas vezes a frente do palco chegava a ficar quase vazia. Bom pra quem queria curtir com exclusividade o som de peso do quinteto.
Eu particularmente estava hipnotizada pelo vocalista que dedilhava sem palheta. O som bruto da guitarra marcada pelos dedos que corriam pelas cordas reproduzia uma característica identidade ‘lafusiana’.
Após a apresentação com as músicas do EP “Quadricolôr" (que foi distribuído gratuitamente) e as faixas inéditas do primeiro CD da banda “O Preço do Horizonte” uma pausa de alguns minutos, uma conversa rápida e de volta ao palco. O “segundo ato” foi um presente para os próprios brasilienses. “Eles falaram pra gente ficar livre pra tocar o que quiser. Aí a gente colocou a Maria Cotovelo na roda!” O apelido surgiu pra quando os 5 brincavam de tocar os instrumentos alheios. E a ‘bagunça’ ficou organizada, e o nome pegou.
Quando a Maria Cotovelo entrou em cena: blues, muito blues! Um Homem-Bomba no sax e um corajoso que arriscou movimentos na guitarra também fizeram parte da banda por alguns minutos. A galera foi a loucura com o grand finale. O quinteto provocou com “Out of My Mind” e logo em seguida aplicou uma dose violenta de John Mayer ao reproduzir fielmente a versão de “Gravity” do DVD “Where The Light Is”. Digno de tietagem. Pra quem conhece o trabalho de onde saiu a interpretação de trás pra frente foi um golpe certo. Quem parecia não estar familiarizado também aprovou. É inegável, quando se vê um tecladista que passa pela guitarra e depois troca de lugar com o baterista, friso: tocando todos os instrumentos com exímia habilidade, você só se curva. Merece respeito.
Foi verdadeiramente uma noite de descobertas. Com o final da apresentação foi servida a “Canja verde”, pra aquecer com sustentabilidade o fim de noite. O fim claramente era pra mim, e talvez para algumas outras pessoas que queriam descansar na espera pelo resto da semana Canja que vem pela frente. Os caras claramente queriam curtir os ‘encantos de Bauru’. Eles podiam.
Por Juliana Cavalcante
Fotos: Dayvison Domingues
Por Juliana Cavalcante
Fotos: Dayvison Domingues
Arrepiei Juliana!
ResponderExcluirTaí, descobrimos mais um talento :D