Dance, cante, grafite, enfim, questione. Isso é hiphop

6 de junho de 2011
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texto por Laís Bellini
fotos por Diogo Azuma

Fui para a escola onde rolou o “Vozes da Periferia” umas 2 da tarde. Isso faz 3 semanas. Era
sábado. Não tinha quase ninguém lá quando cheguei. Depois da palestra da manhã, a galera
tinha saído para almoçar. Sentei na arquibancada que tinha no pátio e tocava um som que a
meia dúzia de garotos que estavam ali curtiam dançando. Era um hiphop. Eu estava com sono,
mas não consegui dormir. Estava entretida com os meninos. 5, 6, 10 anos e uma ginga que eu
não tenho aos 22.

Junto dos pequenos, uma galera mais velha, chuto que tinham a minha idade. Cada um na
sua, e em alguns minutos todos juntos. Os meninos queriam mais que só a ginga. Queriam os
passos. E os mais velhos, assim como já devem ter aprendido há anos, passaram a ensinar. E
eu fiquei ali só olhando, pedi a câmera do João Paloso para tirar umas fotos. Não que eu manje
de tirá-las de uma maneira encantadora, mas eu fiquei com vontade de guardar aquilo que eu
estava olhando. Eu achei muito massa. Os meninos em fileira e os caras do lado demonstrando
como se faz o movimento que eles curtiram.

O tempo passou sem que eu percebesse. Meu sono estava indo embora. Eu estava muito
cansada, mas aquele role que eu resolvi fazer no dia estava muito diferente, uma realidade, no
mínimo, curiosa. Ali os caras se juntaram para falar da realidade em que vivem, é um protesto
musical, artístico. É arte para contestar e para eles. Chegou mais um pessoal, tinha pouca
gente, mas era uma galera curiosa, interessada, o que for, era um pessoal a fim de ouvir o que
os caras queriam falar.

Um garotinho me chamou a atenção. Eles estava de calça jeans e levantava a toda hora da
arquibancada para dançar. Ele mandava muito bem e dançava para ele. Quando alguém ficava
olhando demais, ele parava e voltava para o seu canto. Eu parei de olhar diretamente pra ele,
queria que ele se soltasse, não tivesse vergonha, coisas de criança!

O DJ Gorpo veio de Sampa e ficou tocando até começar o Rap. Aí, quem passou a cuidar do
som foi o Segal, do Árido Groove. As batidas começaram e duraram umas 2 horas. Vários
Grupos tocando. Fua - São Paulo, Anonimo – São Paulo, Dom Black – Bauru, D’Quebra – São
Paulo e Comics Crew – Sãu Paulo/Bauru. Os caras protestam com a voz, se opõem ao sistema,
clamam pela fé, querem proteção às crianças, são contra as drogas e o tráfico.



Os Bandidos da Harmonia foram os primeiros a cantar. “Tome cuidado porque o mundo tá
embaçado”. “Quem não canta dança, quem não dança canta. Vem que eu quero ver não vai
tremer, dance um break que eu quero ver”.

Depois deles, o Dom Black subiu no palquinho e convidou o Tigor, um cara também de Bauru
para fazer uma participação. O Tigor chamou demais minha atenção. Eu fiquei pirada na voz
dele e na letra das músicas. Ele começou dizendo “espero que vocês se identifiquem com a
ideia, espero acrescentar algo de positivo na vida de vocês”. Junto com Dom Black, cantaram
pedindo que as pessoas tenham esperança.



É legal ouvir o rap porque você já sabe o que aconteceu na vida dos caras, o que eles
defendem, por o que lutam. É uma entrevista pronta! O Tigor, por exemplo, cantou uma
música que ele escreveu pro irmão que morreu “Nem tudo é como a gente quer, mas o que a
gente tem já é suficiente para nos fazer feliz”. Essa música era linda.

O Maloquero Anonimo subiu no palco, “segura o teto que a casa ta caindo, uma hora
você tem tudo, uma hora você tem nada”. Foi assim durante a tarde toda, vários caras,
um ajudando o outro e respeitando o som de cada um. Todos tinham muito o que dizer e
todos também queriam ouvir, várias vidas e uma só realidade. Clichê ou não, isso é bem
verdade, a identificação pelas letras é o que atrai muita galera que vive ou já viveu realidades
aproximadas das dos caras.

Rolou dança, música, voz, e um grafite, pra completar o role hiphop. O grafiteiro Matheus Marques deixou o garoto que dançava também grafitar um pouquinho! Esse garoto nasceu
pro hiphop! Matheus ficou um tempo lá na parede atrás de uma árvore. Fiquei curiosa,
porque fazer atrás da árvore? Ao mesmo tempo isso também criava curiosidade na cabeça das
pessoas e estas torciam suas cabeças para enxergar a arte.

Guardei um pedaço legal aqui da galera do rap: “no verde e amarelo manchado de sangue e
suor, desigualdade, política injusta”. Mais do que ouvir de jornalistas e cientistas sociais, ouvir
a galera que vive nas condições em que essa realidade está na cara é muito mais vivo, é a
sensação de que isso existe, claro, mas que também é sentido. Os caras falam do que sentem,
não só do que sabem que existe.



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