Canja no Parque - Sincopé e Pé de Macaco

13 de junho de 2011
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A poesia cantada do Sincopé
Por Jessica Mobílio
Fotos por Jessica Mobilio e Lígia Ferreira

A banda curitibana Sincopé se apresentou no último dia do Festival Canja 2011 agitando o público “podem se aproximar do palco”. Os cinco integrantes atraíram curiosos com suas melodias suaves e músicas de roda. O final da tarde, quase cinco e meia, ficou marcado pela mistura do acordeom, percussão, flauta transversal, viola caipira, rabeca e outros instrumentos inusitados que tinham sons bem particulares.


O jogo de copos plásticos na mesa de metal surpreendeu quem estava a olhar e ouvir o grupo. Depois da cena, a vocal disse “essa é a primeira vez que fazemos isso fora do Paraná”. As expressões faciais do quinteto também agradaram. O tom convidativo e a música de qualidade ofereceram uma energia positiva. Se de um lado acontecia a oficina de Ecobag, do outro as pessoas pintavam suas impressões no tecido branco. Harmonia? Parecia funcionar muito bem.


Falar com a Sincopé era preciso, qual era a impressão deles da cidade e do tema sustentabilidade: “É muito interessante, porque vemos muito show de rock ou rave que galera joga muito lixo no chão. Aqui vocês têm um lugar que está incentivando as pessoas a fazer exercícios e a cuidar do meio ambiente. Além de curtir música boa”.



Quanto à cena inusitada dos copos: “Foi ideia do Léo Cardoso, o percussionista. No momento de criação sempre buscamos algo diferente pra sonorizar. Vamos usar uma bicicleta e tirar um som. Então o copo, o molinete ou até mesmo um apito de passarinho”. O tom experimental e alternativo comprova isso.


Perguntei da gravação das músicas “Nós fizemos uma demo com a ajuda dos amigos. Produzimos tudo, desde a letra até a capa do disco”. Pensei na letra dessa música e parece que sintetiza a banda e o projeto Canja. “Viver é como andar de bicicleta. É necessário ter coragem para as primeiras pedalas”, Ciclovia, uma das canções do Sincopé.

A contemplação e a Pé de Macaco
Por Beatriz Almeida


De Bauru mesmo, da faculdade, ou do Enxame Coletivo que fica logo ali: Brisa, Sagui, Cambota e Pudim são conhecidos. Os meninos da casa. Foi aqui que a banda ganhou notoriedade entre quem curte música independente. Daqui pra frente a estrada é destino. Noites Fora do Eixo, ensaios e palcos improvisados. E de conversas e confraternizações que jorram cerveja e exalam fumaça, veio a inspiração para o Projeto Pé de Macaco Encontra, realizado no 2º Festival Canja.


É domingo e o parque e o Vitória Régia já começa a ficar movimentado. A cena é conhecida, como os rostos no palco. Os encontros, quase inéditos - não fossem pelos repetidos ensaios.

Pé de Macaco entra no palco depois de uma breve passagem de som. “Mercado Negro” marca o início do encontro. No palco, Bruno Rentes (BD) e João Guilherme Perussi (Mijão). Dois Homem Bomba. A familiaridade da percussão do Mijão com a banda era visível. Batidas enérgicas sintonizadas sem artificialismos. Com o sax do BD a harmonia rolou fácil. Estavam em casa. E macacos coloridos dançavam na psicodelia visual ao fundo do palco.


“Música da Nati” trouxe o ritmo efusivo da Bateria do Ouro Verde para os acordes rápidos das guitarras Brisa e Sagui. Gritos e danças do público.


A “Embaixada de Marte” tem seu encontro com a Pé de Macaco quando homens e mulheres entram em fusão com a música através da expressão corporal e faces reflexivas. Ao som de “PAC” gaitada, a cena me lembrou algum capítulo de Vidas Secas, expressão de homem, bicho, medo e desafio.

Tiago Hart, o saxofonista dos Aeromoças de Tenistas Russas acompanhou os olhos fechados dos garotos que dedilhavam seus instrumentos e pareciam sentir uma energia fora do comum em “Aruanda.”.

Nessa altura, confesso que aguardava com certa curiosidade o que ia ser do Coroné Antonio Bento com a bateria do Ouro Verde. Os primeiros acordes vieram do palco. A agradável surpresa surgiu de trás de uma plateia que já não podia parar de dançar. A Embaixada de Marte se aproximava mais uma vez - naquele mimetismo homem-bicho. – em um misto de angústia com passos firmes e ritmados. Malaca, surdo e ganzá invadiam o grupo e o público que se abriu em círculo pra receber aquela anunciação sonora. Era possível ouvir cada integrante da bateria do Ouro Verde entoar aquele refrão. Sorriam, aplaudiam e até pediam mais empolgação do público enquanto um vocalista que se dizia “muito emocionado” repetia a estrofe final de cima do palco. E ali a Pé de Macaco tocou, observou, e ganhou os merecidos parabéns.

Foto de Cássio Abreu

“Incenso” encerrou o show, regada a agradecimentos sinceros de uma banda emocionada, e aplausos incessantes de um público cativado. Quanto mais pés no palco, mais vibram os pés fora do palco. Música, teatro, malabarismo, expressão corporal. Arte: o verdadeiro encontro, pra quem vai de encontro. É contemplação.


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