Por Laís Modelli
Fui até a palestra Como estruturar Tunês Nacionais e Internacionais por causa do tema. Lá, encontrei o pessoal da Supersônica, que foi pelo mesmo motivo e aproveitou para fazer várias perguntas do tipo “como eu consigo contato fora do país?”, “onde vocês buscam agenciadores nas cidades em que passam?”. Rapha respondia a tudo de maneira calma e com um sorrisinho de canto de boca, como se soubesse de todas aquelas respostas há anos.
Não que experiência seja contabilizada em dias e meses, mas o duo de música instrumental formado pela dupla de palestrantes existe há menos de 2 anos. Nesse biênio, o duo já viajou para inúmeros lugares, dentro e fora do país, e está em sua terceira turnê.
Para quem não sabe (igual eu há 3h atrás), Finlandia é um duo formado pelo violoncelo de um brasileiro e pelo teclado e sanfona de um argentino. O mais fantástico desse intercâmbio é que Raphael continua vivendo em São Paulo e Maurício em Córdoba. “Já chegamos a ensaiar pelo Skype”, conta o paulistano. Para resolver a distância, a ideia de turnê foi a saída: por um bom tempo do ano, a casa do Finlandia é a estrada, independente do espaço físico, independente da língua falada. Mais que casa, a estrada já virou terceiro integrante da dupla.
Viver de asfalto é sonho de muito artista. Um sonho liberal, mas com uma realidade incerta. “Eu não acredito em cachê fixo. O Brasil é tão grande e tão variável. Não posso pedir 2 mil reais para uma cidade no fundo do Ceará”. Ainda sobre o dinheiro, Rapha explica que toda vez que eles caem na estrada, cerca de 70% da turnê já está paga. Isso faz da estrada algo não tão inesperado.
O roteiro de cada turnê também é traçado detalhadamente antes de sair de casa, 100% com a ajuda da internet. Antes de entrar em contato com produtores ou cenário musical de uma cidade, o Finlandia estuda a estrutura do lugar e tenta identificar o tipo de público. “Queríamos tocar em Dubai, mas lá só tem hotel, não existe casa de show”.
Outro ponto importante de uma turnê é saber captar pessoas durante a viagem, fechando parcerias locais. No Brasil, Rapha explica que tudo se tornou mais fácil com a atuação dos coletivos do circuito Fora do Eixo. “Oi, eu vou passar pela sua cidade, tem como organizar um show ai? Um telefonema e as coisas acontecem”. Para lugares sem coletivos, o músico indica o site Toque no Brasil.
A dica que fica para bandas e artistas que também sonham em sair por aí, no estilo Quase Famosos, é que vale sentar com um caderninho e responder a perguntas como “Quais os lugares que quero ir?”, “Qual a viabilização dos meus shows nesses lugares?”, “Quanto custará toda a turnê?”.
Coisas que não foram ditas durante a palestra, mas que todos devem ter lido nas entrelinhas é que o viajante ainda é a coisa mais importante de uma viagem. Estou há um tempinho presa na universidade estudando conceitos, e ontem o duo Finlandia se fez mais claro e objetivo que qualquer teoria. Como que se um homem devesse viajar por conta para quebrar a arrogância daquilo que lhe disseram que era o mundo, sem realmente o ser. Finlandia é assim, um tipo de cigano moderno, que sabe onde pisa, que sabe para onde quer ir e determina quando quer voltar. E assim vai...
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