Ciganos Modernos na Era do Skype

9 de junho de 2011
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Por Laís Modelli

Faz um tempinho que estou na frente do note escolhendo palavras para começar esse texto. Geralmente não tenho toda essa preocupação, mas hoje quero reunir palavras decentes para falar de dois caras legais: Rapha Evangelista e Maurício Candussi.

Fui até a palestra Como estruturar Tunês Nacionais e Internacionais por causa do tema. Lá, encontrei o pessoal da Supersônica, que foi pelo mesmo motivo e aproveitou para fazer várias perguntas do tipo “como eu consigo contato fora do país?”, “onde vocês buscam agenciadores nas cidades em que passam?”. Rapha respondia a tudo de maneira calma e com um sorrisinho de canto de boca, como se soubesse de todas aquelas respostas há anos.

Não que experiência seja contabilizada em dias e meses, mas o duo de música instrumental formado pela dupla de palestrantes existe há menos de 2 anos. Nesse biênio, o duo já viajou para inúmeros lugares, dentro e fora do país, e está em sua terceira turnê.

Para quem não sabe (igual eu há 3h atrás), Finlandia é um duo formado pelo violoncelo de um brasileiro e pelo teclado e sanfona de um argentino. O mais fantástico desse intercâmbio é que Raphael continua vivendo em São Paulo e Maurício em Córdoba. “Já chegamos a ensaiar pelo Skype”, conta o paulistano. Para resolver a distância, a ideia de turnê foi a saída: por um bom tempo do ano, a casa do Finlandia é a estrada, independente do espaço físico, independente da língua falada. Mais que casa, a estrada já virou terceiro integrante da dupla.

Viver de asfalto é sonho de muito artista. Um sonho liberal, mas com uma realidade incerta. “Eu não acredito em cachê fixo. O Brasil é tão grande e tão variável. Não posso pedir 2 mil reais para uma cidade no fundo do Ceará”. Ainda sobre o dinheiro, Rapha explica que toda vez que eles caem na estrada, cerca de 70% da turnê já está paga. Isso faz da estrada algo não tão inesperado.

O roteiro de cada turnê também é traçado detalhadamente antes de sair de casa, 100% com a ajuda da internet. Antes de entrar em contato com produtores ou cenário musical de uma cidade, o Finlandia estuda a estrutura do lugar e tenta identificar o tipo de público. “Queríamos tocar em Dubai, mas lá só tem hotel, não existe casa de show”.

Outro ponto importante de uma turnê é saber captar pessoas durante a viagem, fechando parcerias locais. No Brasil, Rapha explica que tudo se tornou mais fácil com a atuação dos coletivos do circuito Fora do Eixo. “Oi, eu vou passar pela sua cidade, tem como organizar um show ai? Um telefonema e as coisas acontecem”. Para lugares sem coletivos, o músico indica o site Toque no Brasil.

A dica que fica para bandas e artistas que também sonham em sair por aí, no estilo Quase Famosos, é que vale sentar com um caderninho e responder a perguntas como “Quais os lugares que quero ir?”, “Qual a viabilização dos meus shows nesses lugares?”, “Quanto custará toda a turnê?”.

Coisas que não foram ditas durante a palestra, mas que todos devem ter lido nas entrelinhas é que o viajante ainda é a coisa mais importante de uma viagem. Estou há um tempinho presa na universidade estudando conceitos, e ontem o duo Finlandia se fez mais claro e objetivo que qualquer teoria. Como que se um homem devesse viajar por conta para quebrar a arrogância daquilo que lhe disseram que era o mundo, sem realmente o ser. Finlandia é assim, um tipo de cigano moderno, que sabe onde pisa, que sabe para onde quer ir e determina quando quer voltar. E assim vai...

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