Ô marinheiro que barca é essa?

2 de setembro de 2012
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Mariana Caires
Foto: Jessica Mobílio


O belzebu convidava a galera acomodada no parque Vitória Régia a ir de encontro ao Teatro Athos pra assistir “A barca do inferno”. Convite do diabo? Será que presta? Pra quem já queimava sob o sol da tarde de Bauru, mal é que não ia fazer!

E assim, a estranha roda cercada por barbante, maletas, atabaques e chocalhos, se preenchia de gente do rap, do raggae, do parque, do Canja, do nada. Apreciadores do teatro de rua ou não, todos entraram na barca e remaram sobre a onda de Gil Vicente. Teve quem perdeu a garrafa de bebida pro diabo e até mesmo quem acabou jurado pro céu, como a Nathália. Nada ruim, se calcularmos o tanto de gente que pelas regras dessa peça acabaria no inferno.


Dom Felipe, o fidalgo, foi o primeiro réu do Sr. Diabo. De roupa e lacaio na mão, nada foi capaz de levar o filho de algo a alguma salvação divina. A dona da barca da Glória, dita anja, que mais estava pra baiana de Oxalá, é que não ia se meter a levar um nobre de graça pro céu. Então o Diabo solta a palavra de ordem dos mais velhos tempos.





DEMOcracia.



Onzeneiro, frade, todos disfarçados de homem de hoje em dia. Raça assim acaba embarcando no batel infernal, pois voz do povo é voz de Deus. E o júri popular presente no tribunal do Vitória Régia decidiu pela acusação. 53% dos votos sem dó nem piedade levaram o frade pro fogaréu. Na companhia de Brígida Vaz e suas raparigas, até que o religioso não se sentiria tão sozinho naqueles lados.



E desse Canja, onde todos se esforçam para ser alguém, surgiu um personagem que se definia um ninguém. Ingênuo, é o único que no fim rema pela barca da Glória. Talvez não seja tão simples assim. Não dizem que a cada dia o céu mais perto do inferno está? Vai que amanhã essas barcas se cruzam, batem, e céu, terra e inferno não passam de ninguéns disfarçados.

Essa foi a peça “A Barca do Inferno”, pelo Teatro de Rua Athos. Eles vieram de Batatais para participar do Canja e adoraram a oportunidade de atrair diferentes públicos para o teatro de rua. Faz três anos que o grupo trabalha com a proposta do teatro sem microfones e sem paredes entre palco e público. Foi um show de arte com música, dança e teatro que valeu a pena nessa tarde de sábado.

Amanhã tem mais, pessoal! Tem bicicletada, o “Canja no Parque” e muito mais! Confira o link da programação e bora se integrar! http://bit.ly/PUfYHN

  1. Muito bom para quem permite ceder alguns minutos dessa vida corrida para acrescentar cultura e lazer... Adorei a matéria e fotos!!! Parabéns

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  2. Se nos pedissem para explicar o espetáculo "A Barca do Inferno". não a faríamos melhor do que as palavras de Mariana Caires. A arte da palavra é para poucos, pois não exige apenas talento, mas também de muita dedicação. Isso é visivelmente percebido na Resenha dessa exímia escritora. E as fotos então... Sem comentários. Nosso muito obrigado pelo carinho.
    E se nos permite, gostaríamos de nos apropriar desta frase "Vai que amanhã essas barcas se cruzam, batem, e céu, terra e inferno não passam de ninguéns disfarçados". Genial.

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  3. É realmente muito bom ter esse tempo reservado para a cultura, Fabiana, muito obrigada pelos elogios!
    E ao Teatro Athos, obrigada pela inspiração que me deram para realizar essa cobertura! É claro que podem se apropriar da frase, minha resenha é também de todos vocês do grupo. Agradeço de coração!

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