Pois eu transformo água em vinho

20 de março de 2012
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Por Luís Morais
Foto por Fabio Shirazawa

Enquanto o Jack Music Pub estava curtindo o rock do OverHead em um palco alternativo, muitos chegavam perto do principal, aguardando o show seguinte. Não que a banda de Bauru fosse ruim, pelo contrário – com covers de Lynyrd Skynyrd, Bon Jovi e músicas próprias, o OverHead agradou o público. Mas estava por vir Marcelo Nova.

Às 1:20, quando o ex-vocalista do Camisa de Vênus entra no palco, a galera delira. “Bota pra fuder!” ecoava pelo ambiente, quando “Faça a Coisa Certa” abre o show. A aula de rock'n roll continua com “Ninguém Vai Sair Vivo Daqui”, da época da banda baiana.

Até essa altura, a guitarra de Drake Nova – de acordo com o pai Marcelo, saindo direto de seus testículos – estava um pouco baixa, mas em “Cocaína” o problema parece já resolvido e seus solos começam a enlouquecer. Em “Gotham City” vem a confirmação.

E quando Marcelo Nova puxa “Carpinteiro do Universo”, uma teoria lanço em minha mente: se Raul estivesse vivo até hoje, as pessoas nem lembrariam de suas músicas. O famoso “Toca Raul” é talvez o grito mais deprimente para sua própria carreira. Ele é da mesma época de Marcelo Nova, hoje lembrado apenas como “pai de uma VJ”. Lançaram disco juntos. Trabalharam juntos. Um morreu pobre, na miséria, só depois foi reconhecido. O outro continua sua saga, trazendo o rock'n roll na veia e homenageando seu velho amigo.

Entretanto, Marcelo Nova não é Raul Seixas. E também não matou Joana D'arc. Foi somente na sétima canção que o show começou de verdade, segundo o próprio. Foi quando “acabou o ensaio”.

E os bate-cabeças? Desnecessário. A hora ali era de curtir o melhor do rock, em sua essência, com rockabilly desde as linhas (excelentes) de baixo de Leandro Dalle às danças no palco de Nova. Tivemos até uma palhinha de “Satisfaction”, apresentando Mick Jagger em carne e osso. Ops, era o apresentador do show apenas.

O disco mais tocado foi “Panela do Diabo” - o último de Raulzito, também. E “Rock'n Roll” surge com direito até com improviso de “Highway To Hell” no meio. “Vocês estão visivelmente cansados, podem ir embora”, ironicamente dizia o baiano. Ele sabia que a galera queria mais.

E no final surge um maestro no palco. Não era preciso cantar “Hoje”, “My Way” ou “Pastor João e a Igreja Invisível”. O público fazia isso. Quem tava lá, tava para apreciar uma lenda viva do rock'n roll brasileiro. Tinha gente com vinil na mão desesperado por um autógrafo, e quando conseguiu, surtou de alegria. 

Marcelo Nova botou pra fuder em Bauru.

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