Por Renan Simão
Fotos: Divulgação
Um documentário em sua natureza pressupõe uma narrativa, por
mais simples que seja. Um making-off é o registro do processo de
trabalho de uma obra de cinema. Marcelo Pontes, diretor de Palhaço.doc,
tenta criar é um híbrido entre os dois recursos em 46 minutos de takes
descartados, entrevistas e imagens para contar o processo de criação e produção
de O Palhaço, filme que levou mais de um milhão de pessoas ao
cinema em 2011. Marcelo estava no Sesc Bauru na última terça-feira para contar
sobre o trabalho.
Como não poderia deixar de ser o personagem central de Palhaço.Doc
é Selton Mello. O diretor e protagonista, ao lado de Paulo José,
é o eixo da narrativa. Ele conta desde a fagulha da ideia de fazer um palhaço
com crise de identidade até o último take do filme, passando por dois
anos de pesquisa, escolha de set de filmagem, produção, elenco, e o sentimento
de atuar e dirigir.
“Não era fácil gravar. Sempre existe uma resistência da
equipe e do elenco em serem filmados enquanto estão trabalhando. O próprio
Selton em algumas vezes me chamava pra gravar, em outras me olhava e eu já sabia
que era pra sair dali.”, conta Marcelo. Ele ainda diz que há situações em que
não se pode registrar tudo. Divisões de equipes de filmagem, falta de lugar no
carro e desentendimentos fizeram parte da rotina do documentarista.
“Num dos dias mais emocionantes, quando todo mundo chorou na
despedida do [personagem] Benjamin, eu tive que ir pra Campinas arrumar a
câmera. Fazer o quê? Perdi.”, resignado, o diretor carioca fala que é preciso
ter desapego com as imagens. “Tem coisas sensacionais que vão pro lixo mesmo.
Mas você precisa ter a sensibilidade de lembrar do produto final, somente ele”.
Além de fazer o documentário, Marcelo participou da pesquisa
do filme. Viajou boa parte do Brasil por dois anos procurando circos,
conversando com artistas e captando histórias. Experiências essas que
posteriormente virariam cenas e falas. Parêntesis:
(Quando você vir a divertida cena do “morto” no filme, saiba
que essa foi uma história coletada nessa pesquisa).
Em relação ao processo das entrevistas, Marcelo destaca mais
uma vez a sensibilidade. Vindo do teatro e do cinema ficcional, ele lembra que técnicas
de interpretação como as do dramaturgo Stanislavski podem ajudar o
entrevistador a conseguir o que quer do entrevistado, e não o contrário, ser
dominado por ele.
O auditório do Sesc tinha um bom público para uma terça-feira.
Eram trinta pessoas, em sua maioria estudantes de Produção Audiovisual da FIB
de Bauru. E, ao final do longo bate-papo, Marcelo parte para as questões
técnicas e relembra, com certa gratificação, os tempos do negativo, da fita,
dos obstáculos em se fazer cinema, e avisa:
“Antes eu tinha que ver a imagem antes de tirar a foto.
Precisava saber exatamente a composição da cena antes de filmar. Agora é erro e
tentativa, você erra demais para acertar uma vez. Se tenho alguma coisa para
falar para vocês é: vejam antes de clicar; pensem antes de fazer.”
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