Por Keytyane Medeiros
Fotos: Arquivo Pessoal/Silo Sotil
Desde que li “O Cortiço” nada e nem
ninguém me tira da cabeça que domingo é dia de samba. Mas samba mesmo, de raiz;
com pandeiro, viola e gente dançando ao redor. E a cada dia é mais difícil ver
essa cena, principalmente se você não mora nas proximidades do bairro de
Anhangabaú em São Paulo, ou em Campinas. Explico: em São Paulo, o bairro
central costuma receber vários artistas em seus barzinhos durante os fins de
semana, um esquema parecido acontece na cidade do interior paulista.
Em Campinas, Casa Caiada
é um desses grupos que alegra os fins de semana da cidade, mas para eles, se
apresentar em casas de show nunca foi um apenas um hobbie. Sempre foi um
trabalho, mas mais do que isso, o samba para eles é estilo de vida.
Silo Sotil, vocalista do Casa, conta
que o grupo surgiu da necessidade de criar um grupo para a manutenção do
projeto “Escuta o Cheiro” da prefeitura de Campinas. Deu tão certo que em
outubro o grupo completa quatro anos. O nome curioso tem a ver com a identidade
musical do grupo, que segundo eles mesmos, é “bastante crua e verdadeira”, na
tentativa de diminuir a necessidade de retoques artificiais no trabalho final,
tal qual os velhos sambas de roda.
O primeiro CD da banda, está recheado de arranjos tradicionais, mas em suas letras, o grupo destrói alguns estereótipos recorrentes no samba. Um exemplo disso é a canção Malandro Honesto. Apesar do trecho “sou dono de mim, faço o que quero, vou onde desejo, não tenho compromisso, nem levanto cedo. Só quando acaba a grana é que eu arranjo emprego”, a música narra a história de um homem que faz o que quer, mas não precisa sacanear ninguém para isso, paga suas dívidas e cumpre o que promete, mas o seu único defeito é gostar da vida.
Outra canção anti-estereótipos é Fora de sim, já que além de culpar a
moça por não ser mais capaz de amar, a personagem da música toma uma decisão
contrária à que muitos sambistas e sertanejos normalmente tomam, se recusando a
tentar uma reconciliação.
Silo diz que detesta estereótipos, “já
se foi o tempo em que ser malandro, ficar dando golpe em gente honesta, ou
gastar tudo em cachaça (não que eu não gaste um pouco...). Acho que a
importância de se compor é justamente a oportunidade de recriar, retratar o
momento.”. Para ele, a realidade social do Brasil é diferente da época dos
grandes compositores brasileiros, como Cartola, Noel Rosa ou Wilson Batista e
isso acaba influenciando a composição das músicas e das ideias passadas através
delas. “O malandro honesto é o típico exemplo de um retrato de um cara que não
gosta de fazer o que não gosta, mas nem por isso precisa roubar ou extorquir.”
A banda passou por várias alterações
ao longo de sua existência, mas influência do samba de roda, samba clássico
nunca saiu de cena na vida dos artistas do Casa Caiada. Artistas como Nelson
Cavaquinho, Mestre Candeia, João Nogueira e músicas de roda compõem o
repertório cultural do grupo. Silo ainda reforça a autonomia criativa da turma
de Campinas, “é fundamental que se conheça samba para se fazer samba, mas não
precisamos necessariamente repetir um monte de coisa que já foi dita.”.
Certos que de “nossa realidade
política nos roubou muito dinheiro e romantismo”, o Casa
Caiada traz para a
nossa vida hiperconectada, fechada em paredes do quarto e à base do ar-condicinado, toda a leveza das rodas de samba não-televisionadas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário