Não poderia a organização do FACE, o Festival de Artes Cênicas de Bauru, ter escolhido lugar melhor para encerrar o evento se não a Praça Rui Barbosa, localizada no centro da cidade. Certo que não é um local comum para se encerrar festivais, ainda mais de arte cênicas; mas, se a própria visa imitar, projetar ou incitar a uma interpretação da chamada realidade, não existiria cenário melhor.
Certamente a população de pombos, desabrigados e outros poucos munícipes, que normalmente habitam o ambiente aos domingos a tarde, estranhou a movimentação daquele fim de tarde. Quase cinco horas e ali estava erguido um cenário peculiar, onde o ferro dava forma a uma árvore, carregada de frutas. Atrás, artistas já se posicionavam. Logo chegava o público daqueles atores, avisados ou não, cerceando o cenário com aquela expressão de interrogação, suitando perfeitamente para a ocasião.
Por Higor Boconcelo |
A primeira a ser nos apresentada é a árvore, que logo é escalada por dois pivetes de mais de dois metros de altura, sedentos por alguma(s) daquelas pêras suculentas de papel dobrado. Em seguida, carrancuda, surge Tia Miséria, expulsando-os de lá juntamente com seu cão, nomeado de Sem Nome. O drama da velha senhora (“embora não pareça, eu sou mulher”) se resume à busca de seu filho perdido, Fome, conhecido do mundo inteiro, que some sem deixar pistas de onde quer que vá parar. No desenlace da trama, Tia Miséria divide sua lamúria entre as buscas do filho, tocar os fedelhos de sua árvore, proteger suas frutas, impor-se sobre seu cão amigo e a ajudar a um pobre mendigo. Sua rotina muda ao topar com a Morte, “naturalmente necessária para um mundo em que novas possibilidades não param de nascer”. Ao sofrer a ameaça de ser levada com a nova amiga, a velha carrancuda arma um de seus truques, prendento até a Morte em sua querida árvore. A pereira da Tia prendia ali, naquele fim de tarde, a única certeza da humanidade. Tia Miséria a libertaria, somente na condição de que esta pudesse escolher o momento em que sairia às voltas com aquela que a encurralou.
Por Paulo Infante |
“Da abóbora faz melão, do melão faz melancia. Da abóbora faz melão, do melão faz melancia...”.
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