Caipirice e nostalgia alheia

11 de março de 2013
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De volta a Bauru, Mercado de Peixe marca a segunda noite do 5° Grito Rock 

Por Higor Boconcelo
Fotos por Luis Germano

“Então você vai cobrir Mercado de Peixe? Nossa, que responsa hein”. Talvez o impacto dessa frase tenha sido nulo a princípio, principalmente para quem desconhece a história, músicas e fama do grupo. Na fila do Jack MusicPub, a alguns instantes de começar a segunda noite do 5° Grito Rock Bauru, recebo mais informações sobre o grupo. “É bem massa, eles têm aquela música que diz ‘ai que saudade do trem, ai que saudade da Eny’... eu curto bastante”. Ao ouvir a letra, pensei: “mais bauruense impossível”. 

Quem acompanhou as coberturas do e-Colab sobre o festival até agora está cansado de ler frases como “a casa estava cheia e o público empolgado”, e outra vez isso foi uma constante. Logo que o som começou a rolar no palco do Jack, vale dizer que ao passo que as músicas iam rolando e o show da Lavoura acontecendo, minha curiosidade sobre Mercado de Peixe ia aumentando, afinal, parecia que eu era um dos poucos presentes a desconhecer a banda. 

Para aqueles que esperam, o tempo é aliado – quanto mais esperam, menos tem que fazê-lo. E no que agora é uma piscadela, a banda foi anunciada e seus músicos assumiram seus lugares. Mais do que rapidamente, a aglomeração frente ao palco já vibrava. Frequento a casa há consideráveis anos, e poucas vezes vi uma vibe tão intensa quanto a do público naquela noite. Tão intensa que não tive vergonha de pegar um pouco emprestada. 

Num estilo singular, onde são misturados viola, sanfona e toda a parafernalha do rock, a banda conduziu o público ao delírio em vários momentos do show. Talvez porque tenham sumido dos palcos bauruenses nos últimos anos, matar a saudade naquele momento era prioridade dos fãs. Uma galera ensandecida a cada troca de música. Algumas moças só paravam de dançar quando precisavam aplaudir os músicos. 



Não demorou pra eu conhecer um pouco mais da história e entender a razão pela qual aquilo estava acontecendo. O grupo foi formado no final da década de 90 por estudantes da Unesp de Bauru, e sua proposta era “misturar música pop moderna com elementos da cultura caipira”. A inovação e a peculiaridade do estilo da banda a levou, rapidamente, a conquistar grande público pelo interior paulista. Principalmente onde havia unespianos. O sucesso também abriu portas para shows em outros estados, como o Rio de Janeiro, descendo ao Paraná e Rio Grande do Sul. Mercado de Peixe chegou também a participar do programa Altas Horas da TV Globo. 

Ao descobrir que a banda lançou em 2006 o EP “Territórios Interioranos”, onde ensaiavam uma “aproximação com o afro beat, eletro, psicodelia e samba”, sou transportado imediatamente para a última madrugada de sábado. Revejo novamente a sensação que essa mistura provocava em seu público, agora sabendo dar nome aos bois. 

Prestes a terminar a apresentação, o grupo chama ao palco João Lima, parceiro das antigas, e o menino Coruja BC1, estrela ascendente do hip-hop independente bauruense. O garoto sobe ao palco e emenda em toda essa mistura de grooves sua rima. Era como casar a vibe do que estava rolando com a esperança de que ainda vem por aí muita coisa boa para a cultura da cidade, que muitos consideram cambaleante. A esperança de que nesse “mercado” ainda sejam fisgados muitos peixes. 



  1. Muito bacana a matéria, foi uma noite mais do que especial mesmo, que venham outras!!! Valeu Hugo valeu Luis!!!

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