Rap, cururu, chorinho, cordel, rock, afro-beat: as múltiplas facetas do Curau

7 de novembro de 2012
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Por Jaderson Souza

Quem foi no Largo dos Pescadores em Piracicaba no último sábado (03) conferir as apresentações do Festival Curau (Cultura Regional e Artes Urbanas) percebeu que as rimas se espalhavam pelos diversos estilos apresentados no dia: do rap ao cururu, passando pelo cordel e chegando ao afro-beat.

Conhecido na região de Piracicaba, o cururu é o desafio de rimas feito com acompanhamento de violas. Lembra muito os desafios com repente do Nordeste e as batalhas de MCs. Um dos cururueiros piracicabanos mais conhecidos é Moacir Siqueira. Ele canta há mais de 40 anos por cidades do interior paulista e esteve presente no Curau para um “duelo” com rappers da cidade. E, pelo jeito, Seu Moacir gostou da ideia: “Deu pra brincar bastante com os meninos. Se pudesse, ficaria mais”. Ele conta que não ensaia previamente seus versos, eles são feitos no momento. Quando conversávamos, ele até improvisou uma rima sobre as mulheres que estavam no Largo dos Pescadores curtindo a festa. O artista tem três jovens (parentes) que o acompanham durante as cantorias feitas pelo interior e deseja se apresentar em Bauru qualquer dia desses. A receita para continuar na ativa depois de tanto tempo? “Tem que fazer com amor”. 



A rima improvisada é o que une o cururueiro piracicabano com o rapper de Bauru Coruja BC1 que considera o free-style (outra alcunha para a rima improvisada) um momento único, pois, além de não estar necessariamente em algum disco, a rima vai sempre se referir a alguma particularidade da cidade onde o músico está. O free-style feito em Pira será diferente daquele que será feito em Bauru.

Pela primeira vez na cidade, Coruja achou que os piracicabanos estavam bem frios no começo do show, mas depois o público acabou se soltando. Apesar de gostar quando o público já começa o show agitado, o rapper também curtiu “esse lance da conquista”, uma vez que a galera acabou se envolvendo com a apresentação. 

A identificação entre público e artista também rolou. Prova disso é que enquanto falava com ele, várias pessoas interrompiam educadamente a conversa para parabenizar o rapper. Um homem chegou até ele e disse que se emocionou quando Coruja cantou a música “Saudade”, dedicada a seu pai, já falecido. O homem também perdera seu pai seis meses antes.

Matheus, um menino de apenas quatro anos, ensaiava vários passos de dança na frente do palco como se fosse um autêntico b-boy (ele tentou até moinho de vento). Coruja acha que essa é “a prova de que o hip hop vai permanecer”. Em seguida, Coruja chamou Matheus e mais três meninos para dançar no palco acompanhado de Pixaim, MC piracicabano que tinha se apresentado anteriormente e participou do show de Coruja.

Coruja está com a sua agenda de shows para o final de 2012 quase fechada. Por trás do artista, estão pessoas que o ajudam: produtor, rappers de apoio e demais parceiros. É com e por eles é que Coruja vai para estrada cantar seus versos. E isso tem sido bem proveitoso, pois o rapper diz que a cena hip hop está ficando cada vez mais forte no estado de São Paulo.

Além do rap e do cururu, se apresentaram no sábado o Grupo de Choro Regional Caipira, de Piracicaba, e a banda Cataia que trouxe para o Curau a sua mistura de rock e batidas africanas com pitadas de forró que deixou o público bem agitado no fim da noite. Ah, antes da Cataia, uma poeta recitou versos de literatura de cordel como uma espécie de introdução para a entrada da banda, mas talvez esses versos tenham sido mais do que isso. Foram a síntese do lema e da sigla do festival: trazer para o mesmo palco as culturas regionais e as artes urbanas.

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