II Semana Municipal do Hip-hop invade o Geisel no feriado
Texto e fotos
por Higor Boconcelo
“Em pleno feriado, meio dia, o cara me passa com essa música no último?”, reclama Gu, quando, como de costume, um carro qualquer corta a Alziro Zarur com o som “estourando”. Não que ele tivesse muita coisa contra Demi Lovato, mas aquele definitivamente não era dia para a música pop no Geisel, já que a II Semana Municipal de Hip-Hop tomava o bairro como palco para as atividades de seu quarto dia de programação.
Du é um dos grafiteiros escalados para exercer sua arte no muro da biblioteca ramal do bairro. Já estava fazendo seu trabalho havia quase meia hora quando o carro passou, o distraindo. Enquanto isso, o outro artista responsável pela grafitagem continuava a manejar a tinta spray. Paulistano, Sergio Oliveira atua na arte há mais de sete anos. Ambos experientes, porém jovens, estavam trabalhando em uma nova “cara” para a biblioteca, atividade que fazia parte da programação do evento.
E ainda bem que o fazia. A obra não estava nem metade pronta e já arrancava elogios dos moradores que cruzavam por lá. “Isso nem parecia uma biblioteca! Olha como uma pinturinha já muda tudo”, comentou uma senhora do outro lado da rua. Não houve sequer uma criança que passasse em frente ao ramal sem voltar sua atenção para os jovens que grafitavam.
Poucas horas depois, as palavras Biblioteca Ramal já ganhavam seus retoques finais pelos sprays de Sergio, e a obra de Du também estava quase pronta.
Mas se essa rapidez podia ser aplicada ao grafite dos garotos, certamente não era o caso para o que logo ia começar a rolar a poucos metros dali, no Bosque da Comunidade do Geisel. Lá, “o baguio ia estourar a tarde inteira”. Com o grafite já finalizado, ambos foram convidados pela organização à pintar um largo muro do bosque. Se estivessem pensando que seu trabalho estava chegando ao fim, certamente estariam se enganando.
A selva tomada
Um palco, duas caixas de som e uma lona por cima formavam uma espécie de tenda, onde iriam subir vários MC’s durante a tarde. O Projeto Ensaio no Bosque estava marcado para começar às 15h, e se dependesse de público, poderia começar até antes.
Em meio às árvores do local havia todo o tipo de morador para prestigiar o evento. Crianças, famílias com seus cães, jovens e a dupla de grafiteiros, que já reiniciava sua arte nos muros da selva urbana.
O primeiro a mandar as rimas e as batidas foi o MC Vurto, abrindo a tarde de apresentações. A quadra de basquete onde o palco estava montado logo começou a ser preenchida de gente, vinda ora do próprio bosque (diga-se de passagem, grande), ora das próprias ruas do bairro.
Em cima de um tapete quadriculado, os adeptos da dança break não paravam de rodar. Meia dúzia jogavam basquete na outra metade livre da quadra. As cabeças reagindo de maneira positiva às rimas que se propagavam.
Era assim com cada MC que subia naquele palco para executar suas próprias rimas. O rap independente mostrava naquela tarde a sua força – a maioria do público conhecia as letras compostas pelos artistas que, há alguns minutos atrás, também estavam curtindo outro MC rimar.
Seguiu rimando o MC Thigor, dando lugar depois para Betim. Após, foi a vez do Rap Nobre emendar rimas que protestavam contra a futilidade presente nas músicas comerciais e nos costumes da sociedade em geral.
Já conhecido do público, Coruja BC1 subiu ao palco junto do parceiro Dom Black e da dupla Além da Rima, em duas apresentações que mexeram com a galera presente. Ao fim da tarde, subia ao palco mais uma vez para rimar suas composições.
Mais de nove atrações mandaram suas rimas, beats e pensamentos para o público presente no bosque. Os rappers saldaram seus parceiros que vieram os assistir de vários bairros de Bauru, como também de outras cidades. A família do rap comemorou estar reunida novamente, e além disso, a realização da Semana pela prefeitura. Abrir espaço para uma festa de rap independente mostra que os artistas não estão trabalhando em vão, e mesmo que o preconceito ainda exista, os MCs continuam fazendo sua voz subir mais alto que ele. Tão alto que até Geisel deve ter ouvido.
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