Entrevista: Keytyane Medeiros
Imagens: Divulgação
e-Colab: D’Bronx, como começou a sua relação com o rap, quando começou a ouvir, cantar, produzir?
Rodrigo Caetano Faustino, mais conhecido pelas quebradas de Bauru como D’Bronx, é rapper e produtor audiovisual. Em outubro de 2013 lançou seu quinto CD, intitulado “Coragem é o que a vida quer de mim” e no início do ano participou da produção e da realização do clipe “Favela” do rapper Vurto MC, também bauruense.
O CD de D’Bronx é bastante mesclado. Tem levadas mais R&B, como “Já te amava” que conta com a participação de Thigor MC, outras canções que referenciam jargões próprios do rap paulista como em “Interior tem voz”, produzido por Felipe Canela e outras mais étnicas como “Posse sangrenta”, feita em homenagem aos índios Guarani Kaiowá e que já está na boca do povo. Nossa equipe conversou com o cara saber qual que é a do novo trabalho.
D’Bronx: Eu faço rap desde criança. Meu tio era DJ e meu primeiro contato com a música foi com o samba, mas como meu tio era DJ, ele me apresentou um CD do Racionais MCs (Homem na Estrada) e aí eu comecei a escutar bastante rap. E eu comecei a relatar, com as minhas palavras, algumas coisas que aconteciam na minha quebrada e comecei a montar meus grupos ali, sem muita pretensão, só para cantar em escola e praças mesmo. Montei meu primeiro grupo entre 2002 e 2003 e em 2005, eu lancei o primeiro CD. O meu primeiro grupo chamava “Sobreviventes do Gueto” e o segundo chamava “Guerreiros da Luz”. Nesse último éramos em 5 integrantes e começamos a misturar rap com soul, colocar um pouco mais de musicalidade na parada. Tivemos ajuda do produtor Kleber Gaudencio, que toca piano e foi aí que nosso estilo começou a se diferenciar do rap que se faz aqui em Bauru.
e-Colab: Quais as influências musicais para compor o CD “Coragem é o que a vida quer de mim”, já que ele possui várias texturas sonoras?
D’Bronx: Eu trabalho com diversas pessoas e essas pessoas me influenciam com samba, jazz, soul. E eu procuro respeitar todos esses estilos e extrair um pouco de todos eles. Não escuto rap o dia todo, pelo contrário, rap é o que eu menos ouço no meu dia a dia. E cada CD que eu lancei, tinha uma linhagem diferente. Uns mais pro lado do soul, do rap mesmo, com mais beats, mas sempre procurando enriquecer o trabalho e refletir aquilo que eu escuto no dia a dia também.
e-Colab: Como foi o processo de produção desse último CD?
D'Bronx: Nesse CD, eu escolhi alguns amigos que também são produtores para me ajudar. Cada faixa vem com uma produção de uma pessoa diferente, tem o Caio Santos, o Rodrigo Dhakor, Thigor MC, TH Beats. Então cada faixa um coloquei de um parceiro ali, então não segue uma linha só de produção. Foi um lance que eu experimentei fazer mais rap, com uns beats mais pesados. Mas a ideia era explorar outras coisas, um beat mais pegada jazz, música em homenagem aos índios Guarani-Kaiowa, com uns batuques mais étnicos, outros com beats mais pesados, como a música que o Canela fez...
D'Bronx: Eu trabalho bastante com a questão da auto-estima. Eu penso que não adianta eu atacar o sistema sem estar bem comigo mesmo. Não adianta eu criticar a polícia, a violência e a sociedade, sendo que eu ainda não me valorizei como pessoa ainda, não to bem em casa, com a família, com a vizinhança antes. Tento passar uma mensagem positiva, de esperança, de respeito, sem fazer distinção de raça, religião, estilo musical. Por isso, a necessidade de fazer parceria com outros rappers e outros cantores. Às vezes a pessoa curte um jazz, mas não ouve rap, aí no rap vê um lance de jazz. A ideia é essa, trabalhar com autoestima e respeito, é o que me motiva mais. Porque não adianta instigar o ódio entre as pessoas. Não é porque eu não falo sobre crime ou revolução que meu rap é melhor ou pior que o de outro rapper, mas a gente se complementa, ele pode falar coisas que eu não cito e vice-versa. Uma coisa complementa a outra, nós não vivemos violência o tempo todo, a gente desfruta de felicidade, alegria, a gente luta por isso e todo mundo se complementa.
O rapper também é dono de uma produtora audiovisual, a Bronx Filmes. A história de D’Bronx com o audiovisual começou quando Rodrigo trabalhava na ONG SOS Global e prestava socorro para vítimas de catástrofes naturais em outros estados e, ao perceber uma ausência de vídeos sobre esses acidentes, decidiu que ele mesmo faria registros dos resgates e das famílias atingidas. Assim que produziu os primeiros vídeos, ainda com uma câmera compacta simples, D’Bronx recebeu ajuda do amigo e coordenador da ONG, Enilson Comono, com alguns equipamentos e passou a direcionar as produções para trabalhos musicais, em clipes dele próprio, da Abanka Forte, de Vurto e também para grupos de São José do Rio Preto.
A proposta de D’Bronx parece interessante à medida que se propõe a criar um ambiente de boas energias e autoestima para o ouvinte de rap, deixá-lo mais confiante e seguro de si. Nesse ponto, sem dúvidas, D’Bronx acerta. É realmente importante se conhecer bem, enquanto individuo para também se reconhecer cidadão, ser político, cultural e social nesses nossos tempos líquidos.
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