Linha, sombra e madeira

22 de abril de 2013
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III Festival Internacional de Teatro de Bonecos começa em Bauru

 Texto e fotos por Higor Boconcelo



 

É empolgante a situação em que Bauru se encontra quando se trata de promulgação cultural. Seja por iniciativas de grupos privados, com ou sem fins lucrativos, ou até mesmo pela ação da Secretaria Municipal de Cultura (SMC), a cidade tem sido frequentemente adubada de boas opções de lazer, mesmo que isso não dê fim as reclamações de cidadãos chatos (mais educado chamar assim), que continuam afirmando que “em Bauru nunca há nada para se fazer”. Deixemos a falácia de lado e vamos ao que interessa: no último sábado foi apresentada a primeira peça do Festival Boneco Gira Boneco, terceiro Festival Internacional de Teatro de Bonecos que a SMC promove.

O espetáculo aconteceu no Teatro Municipal, e a abertura ficou por conta de um personagem já conhecido de feição e cara pintada para os bauruenses de longa data. Carlos Alfredo Fogaça era figura garantida no Calçadão da Batista de Carvalho nos anos 80, que alegrava aos transeuntes (sempre em correria) com suas palhaçadas. Suas não, Carlos não. Era Palhaço Paraqueda, a maior referência de artista titereiro (que lida com bonecos de animação) que a população conhece – dançava sempre com sua companheira, uma mulata de madeira e vestido vermelho.

Sua introdução ao espetáculo principal da noite foi breve, sim, mas sem deixar de arrancar as costumeiras risadas. Nada difícil para quem há décadas trabalha a arte. Talvez o difícil para o Palhaço Paraqueda foi segurar a emoção do que veio depois: a organização o presenteou com um prêmio-homenagem (uma caricatura do próprio Paraqueda pendurado por fios de fantoche fazia parte do que mais parecia um troféu), agradecendo por tudo que fez e por todos a quem divertiu. Feita a homenagem, entrou em cena o próximo espetáculo. No escuro.



Faça-se a luz! Calma, nem tanta!

A cabine que jazia no palco mostrou-se ao público de maneira pronta e rápida, uma vez que as cortinas que iam se abrindo nada mais iriam revelar. Vale citar a cara de surpresa e estranhamento das crianças, mesmo que isso seja sempre subentendido. Mais que rapidamente, o dramaturgo e diretor uruguaio Rafael Curci e o ator Lucas Rodrigues surgem para explicar o que estava prestes a acontecer naquele palco. “Pedimos que desliguem celular e tudo que faça iluminação no palco, assim como pedimos também para não usarem flashes nas fotos e tomarem cuidado com a luz laranja de suas câmeras”, avisa Lucas. Juntos formam a Cia. Fios de Sombra (São Paulo-SP), formada em 2011, que conta também com a bailarina e atriz Paloma Barreto, ausente nesse espetáculo. Logo que os dois entram na cabine a escuridão toma conta do Teatro.

Assim que o espetáculo começa, é possível notar uma coisa: não é todo dia que um trabalho desses aparece em Bauru. A técnica dos artistas, talvez inédita para a maioria do público presente, consistia em usar figuras (ora de PVC, ora transparências) e partes do corpo para montar cenário e personagens da peça, iluminados de dentro da cabine, refletindo a arte de maneira ímpar na tela da cabine. Complicado? Obviamente, mas o resultado é tão genuíno que a atenção de seu público não desvia-se do que está sendo exibido. No caso, a primeira peça da compania, Anjo de Papel.

A história gira em torno de Clara, uma senhora sem-teto que vive numa espécie de lixão de papel. Seu maior sonho era ser mãe, mas a única coisa que tinha na vida era um par de tesouras. Sendo assim, Clara passava a maioria de suas horas recortando bonequinhos de papel, dos mais diferentes formatos e tamanhos. Nariguda e de cabelos crespos, Clara vive uma transformação em sua vida quando, “num belo dia”, um pequeno anjo feito de papel cai onde a velha senhora mora. Como sua asa se encontra quebrada, Clara decide adotar o anjo e cuidar do pequeno. A partir daí, a história dos dias de Clara e do anjo é narrada de forma leve, com a voz do narrador quase que fazendo carinho nos ouvidos do público. O desenrolar da peça não será contado aqui na esperança de que algum dia todos os leitores irão assistir a esse trabalho.
 
 
Mesmo com um vocabulário denso e complicado para crianças de pouca idade (“mãe, o que é semear?”), a peça encanta tanto os pequenos quanto os adultos. É uma amostra do que a criatividade humana é capaz, e também do que podemos esperar do festival Boneco Gira Boneco.

Conheça melhor o trabalho da Cia. Fios de Sombra e da peça Anjo de Papel assistindo ao vídeo abaixo.



A programação completa do Festival encontra-se disponível aqui.

 Confira também a cobertura fotográfica!
  1. Texto poético como soa a peça. Infelizmente não pude ir, mas deu uma baita vontade ao ler.

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