Sobre cinco reais numa nova esperança

23 de janeiro de 2013
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Texto por Higor Boconcelo
Fotos por Jayme Rosica





       “A cena do rock underground deu uma estacionada por cerca de dez anos aqui na cidade, há uns dois anos começou a voltar”, conta Aran Carriel, vocalista da banda Autoboneco. Sons autorais e o grande leque de subvertentes do gênero são alguns dos ingredientes que não podem faltar ao bom rolê underground, somando também cerveja gelada e barata. Em sua quinta edição, a Festa do Exílio na Avenida Principal trouxe o que era preciso e um pouco mais (lê-se mais som bom e mais bebida barata).
      Com portaria acessível e espaço adequado, a antiga república que agora dá espaço ao 
Exílio ArtPub recebeu seu público fiel no último sábado prometendo nada mais que os ingredientes citados acima, o que para os presentes já estava de excelente tamanho.
      A primeira banda a impregnar o ambiente com som autoral inspirado desde grupos consagrados como Melvins, The Cure e Pixies à mangue-beat e trilhas sonoras de videogame foi a bauruense 
Dhámma. O baterista do grupo, Khalil Axcar, aprova a iniciativa do pub uma vez que “a apresentação de propostas de meios de expressão que não sejam os mesmos batidos de sempre, que respondem a outras demandas é algo absolutamente necessário para a formação crítica-cultural de uma pessoa, principalmente na faixa etária presente no evento (adolescentes e adultos)”.

Sobre cinco reais numa nova esperança
    Além do aditivo cultural, ele também afirma que o último sábado serviu como oportunidade de reencontros de amigos e chances para re-estabelecer laços, “principalmente pela localização do Exílio, um ponto crucial do desenvolvimento underground bauruense”. Falemos dela então.




A Avenida Principal e o Underground

 Facilmente perceptível a pluralidade da tal 
Avenida Principal. Ora, se o vizinho do Exílio já não fora danceteria, casa de pagode, rap, balada sertaneja e hoje se resume a uma síntese de todos os estilos passados?! Mas, em sua extensão, a Avenida já abrigou também dezenas de snoocker bars e pubs (quando não os dois ao mesmo tempo), que deram espaço ao cenário underground e que uma jovem memória consegue lembrar.
   Opções para todas as idades. O falecido Under Rock Bar era a casa das bandas independentes dos adolescentes bauruenses e também palco de vários shows de bandas conhecidas dos fãs, mas desconhecidas das fm’s, como também as conhecidas das fm’s mas odiadas pelos pais. Ficava a menos de um quarteirão da Avenida, enquanto esta abrigava na mesma época (2009) o também falecido Area 51, que abrangia um público mais adulto, ao apresentar bandas independentes de som pesado. Predecessor do antigo Area, o Áudio Galaxy também foi por anos palco de bandas independentes com estilos variados (destaque para o metal e o hardcore), servindo bebida gelada e cobrando barato a entrada.
    Persistindo como um dos mais longevos pubs da Avenida Principal, o Jack Music Pub, talvez mais lembrado e conhecido do que os outros, também é responsável atualmente por dar espaço a bandas independentes não somente de Bauru mas de outras partes do país.
   Em suma: o affair entre a avenida e o rock existe e não é de hoje, mas continuemos no 10-26.

Exilando os covers

     Desviando da fumaça e chamando a galera, apresentaram-se também a banda 
Recusa (regada a punk e hardcore), com mais de dez anos de estrada.
     Em meio aos shows, a 
Autoboneco de Aran subiu aos palcos trazendo seu autoral pós-punk com improvisações noises. E roubou a atenção de quem escreve. Mindfucking, a banda está prestes a completar 20 anos de estrada e conta com mais de dez álbuns. Sobre o nome da banda, ele explica que não é nada além da pura essência de seu símbolo, criado pelo vocalista aos 13 anos.

    Aran, assim como Khalil, comemora a iniciativa do Exílio em promover esse tipo de evento, dando oportunidade às bandas de usarem um bom espaço e fazer o que tem de ser feito. Como o músico mesmo disse, a cena está voltando a progredir na cidade, e aponta que “uma grande cagada das bandas, público e locais é lotar a casa com shows cover, mas não pagar as bandas autorais, essa desvalorização servil”. A banda reafirma dentro e fora dos palcos a importância do autoral quanto à personalidade e identidade da banda, e mostra que seguir seus ideais na música é plenamente alcançável.
   E para uma noite de sábado, em Bauru, na Avenida Principal, o único desejo que sobra é que o exílio continue.
  1. Importante iniciativa. A cena precisa abranger vertentes variadas. Bauru precisa de espaço para o desenvolvimento de artistas locais. Já foi, há anos atrás muito evidenciada por bandas independentes com composições autorais. Nada contra o cover, mas Bauru anseia por artistas próprios, e o pessoal novo precisa aprender a valorizar isso!!!
    As bandas de composições próprias precisam se unir e realizar mais festivais!!! Independente do estilo, tem que rolar esses crossovers em prol de todas as cenas que se encaixem no underground.

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  2. Legal o exilio dar espaço para as bandas de sons autorais. Hoje em dia é muito difícil encontrar lugares onde a galera realmente escuta o que você tem a tocar/dizer... É foda.

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