Como preparar uma salada de rock a 3ºC

5 de agosto de 2011
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Fotos por Diogo Zambello
Por Jayme Rosica

Noite de quarta-feira, meio de semana, e o Shiva Bar recebe mais uma edição do Quarta Dimensão, com show dos “ex-ingleses” da The Salad Maker. Pensei, sinceramente, que a noite cruelmente fria de Bauru, aonde os termômetros chegaram a marcar 3,2º C pela madrugada espantaria boa parte do público que sempre marca presença nos eventos do Enxame. Ledo engano, um bom número de pessoas compareceu ao bar, ignorando as minhas previsões quase que sempre furadas e aquecendo o ambiente com todo o calor humano de quem se dispõe a enfrentar as temperaturas baixas em prol do objetivo maior de esquentar os ouvidos com um som de qualidade.

A The Salad Maker toca um rock’n roll contagiante, com letras cantadas em inglês e demonstra claras influências do ritmo dançante do indie rock e um pouco da levada cru do punk. A galera presente curtiu e assimilou bem a proposta musical da banda que tocou em grande parte sons próprios, mas também mandou alguns covers.


O quarteto de São Bernardo apresentou um entrosamento bem maior do que na última vez que os vi tocando pelas terras “baurulinas”, em meados de 2010 no finado Pub Área 51. A bateria e o baixo apesar de executarem linhas simples mostram muita criatividade, que somada ao “feeling” do vocalista que contagia o público cantando a plenos pulmões resultam numa qualidade indiscutível, demonstrando que não é preciso
fazer firula para se tocar boas músicas.

Assim mais uma vez me convenço de uma idéia que sempre defendi: virtuosismo demais não é um requisito essencial para se julgar qualidade. Tocar um zilhão de notas por segundo mas com a presença de palco e entusiasmo de uma estátua de praça não faz de ninguém um grande instrumentista. Música boa, não é música
difícil. (divagações de um eterno punkzinho juvenil traidor do movimento)

Prova disso foi que a simplicidade sonora e o entusiasmo dos “fazedores de salada” foi muito bem reconhecido pelo pessoal presente no Shiva desde os primeiros acordes. E o frio?? Frio?? Esse ficou para fora das portas do bar. Já que diversas dancinhas enérgicas e por vezes descoordenadas tomaram conta do ambiente.



Voltando ao show em si, os sons próprios que a banda destilou demonstram uma proposta bem visceral de se fazer um rock leve (às vezes nem tanto) e agradável porém sem soar clichê. Inclusive, para minha felicidade, uma das músicas tocadas, “Bigger than this” tem uma introdução que lembra (e muito) “Beat on the Brat” dos Ramones.

Em alguns momentos o rock mais enérgico era deixado de lado em canções um pouco mais introspectivas, porém em nenhum momento tediosas, que preenchiam bem e sossegadamente os espaços entre uma dose de pinga e outra. (noite meio fria para ficar somente na cerveja sabe...)

Além das composições próprias, o repertório tinha dois covers dos Beatles (Revolution e Please Mr. Postman) e é lógico que quem assistia curtiu demais, valendo até lembrar que nesse momento reparei em minha volta e não consegui enxergar nenhuma boca fechada, afinal, mandar um cover de Beatles bem feito é garantia de que 99,99% dos presentes cantem junto. (detalhe que dava mais fidelidade a esses covers era a guitarra semi-acústica clara do vocalista Renato Vanzella que se parecia muito com a Epiphone usada por John Lennon na lendária e derradeira apresentação dos Beatles no terraço dos estúdios da Apple)

No final, a banda encerrou com um outro cover, dessa vez dos Killers, “All these things that I’ve done”, o ápice da noite, uma escolha precisa, que encaixou perfeitamente no clima do Quarta Dimensão, finalizando com a galera pulando e cantarolando o repetido refrão “I got soul, but I’m not a soldier”. (que continua
martelando na minha mente até esse momento)

Com o fim do show, entrou em cena uma sagaz discotecagem, enrolei um pouco e parti de volta para o mundo real de três dimensões, deixando a Quarta para trás, com a sensação de ter aproveitado ao máximo uma quarta-feira que antes parecia destinada ao marasmo dessa mini era glacial bauruense salva por um show e um ambiente de qualidade e diversão pura.

Reencontros, tequilas e o frio
Por Ana Laura Mosquera


Foi no clima de reencontros após curtas férias que uma (pouca) galera ocupou o pequeno espaço entre as mesas no Shiva Bar na última edição do Quarta Dimensão. Apesar de ter que assumir que o bar não estava tão cheio quanto esperava para uma primeira semana de aula, do começo ao fim, os grupos pareciam se adensar no aconchegante Shiva. Na noite em que muitos desistiram de sair de casa por causa do frio, os que enfrentaram o frio para estar lá fizeram a noite valer a pena. E foi para essas pessoas debaixo de alguns
casacos e cachecóis que a The Salad Maker fez a noite valer MESMO a pena.

Estilosos, sem serem caricatos, esses paulistas de Londres (ou esses londrinos de São Paulo, não sei bem como chamá-los - risos) subiram ao palco para fazer um som talvez não único, porém uníssono. Era possível prestar atenção em cada instrumento separado, mas em conjunto, a precisão nos acordes trazia uma harmonia tão grande que parecia uma coisa só. Mas uma coisa só “limpa”.



No primeiro e no segundo (mini e inesperado, mas sem deixar a desejar) bloco, como o vocalista Renato Vanzella disse, os caras souberam “puxar” a galera, como dessa vez quem falou foi o baixista da banda, Thiago Romano. Em uma mistura (ou numa verdadeira salada) de covers e músicas próprias, mais uma vez minha teoria se comprova: música muito boa é aquela que você ouve, pensa que conhece e, quando vai ver, é desconhecida e de autoria da própria banda.

E foi entre as tequilas (para mim, a coisa mais ouvida e tomada da noite) do vocalista, a visivelmente sincera e profunda dedicação do baixista, as batidas fortes (porém seguras e certeiras) do misterioso bateirista Ricardo Pandorf e a revelação final do tímido guitarrista Dênis Viégas cantando (e representando motivadamente) “All these things that I’ve done”, do The Killers, que a The Salad Maker tirou sorrisos, danças e brindes de reencontro de quem resolveu dar uma chance e sair em uma das noites mais frias de Bauru nos últimos anos.



Para surpresa de todos, ainda rolou uma canja da banda de Bauru, Aleluia, Bitch, antes de voltar a discotecagem. Mesmo diferente do estilo da banda desse Quarta, o Léo soube fazer sua própria salada de gêneros e batuques da nossa brasilidade muito bem, como sempre. A galera ainda contou com uma rápida participação do nosso querido Gabriel Ruiz, o Barba. E, no final, ficam as dicas do João Paulo Monteiro “para tocar sempre muito Do Amor” e de um cara da fila do caixa, que “manda muito bem tocando Criolo”.


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