Fotos por Keyty Medeiros e Larissa Cabelo
Texto por Keyty Medeiros
Na segunda-feira, 17 de junho, meu curso entrou em greve na UNESP Bauru. Eu estava na mesa ajudando a controlar o tempo e as inscrições de fala durante a assembleia e por isso não pude ir ao 1º Ato Contra o Aumento da Passagem de ônibus em Bauru. Ouvi muitos relatos e minha vontade de participar cresceu muito. Os rapazes que moram comigo disseram que ali o povo bauruense estava enfim reunido em torno de uma causa e que reivindicavam por melhorias. O Higor também fez um relato aqui no e-Colab e isso me encheu de esperanças para o próximo ato, marcado para o dia 20.
Na quinta-feira, a tarifa de ônibus de São Paulo havia sido reduzida em seus famigerados 20 centavos e voltaria a custar R$3 na semana seguinte. Uma vitória popular. Imaginei como a manifestação nacional reagiria a isso, se comemoraria ou se levaria para as ruas as outras pautas, “muito além dos R$ 0,20”. Como toda pessoa que conhece minimamente a história de seu país e como jornalista, minha preocupação era que as pautas do Movimento fossem seqüestradas pela classe média, pela mídia conservadora ou por organizações que se dizem representantes de movimentos sociais, sem necessariamente ser. Minhas dúvidas tinham (e ainda tem) algum fundamento.
Poucas frases puxadas pelo carro de som durante toda a manifestação fizeram sentido ou foram legítimas às outras pautas do movimento social que emergiu no dia 13 de junho, na capital paulista. Ouvimos desde “Brasil, vamo acordar, o professor vale mais do que o Neymar”, o machista “Dilma Sapatão” e claro, o inflamado hino nacional e o já clássico “Vem pra rua, vem!”.
Em Bauru o trajeto partiu da praça Rui Barbosa, seguiu pela Nações Unidas, subiu até a Duque de Caxias e empacou na Getúlio Vargas. Lá, os manifestantes queriam cortar a Rodovia Marechal Rondon, mas não sei bem o porquê, o carro de som resolveu voltar para a Nações Unidas e depois para o ponto de partida. Adentrando as ruas de Bauru, os gritos foram vários e por isso mesmo, não tinham caráter de protesto e sim de passeio coletivo, ainda mais se levarmos em consideração que metade das atividades econômicas da cidade se encerram às 18h e, portanto a cidade estava já meio parada no meio da manifestação.
O que muitos dizem é que #oGiganteAcordou. Pra começar, tenho receio do uso de uma única hashtag pra a criação e adesão a um movimento social. Há grupos que fazem isso desde 2005 e que a adesão popular e os princípios devem sim ser questionados, já que a ausência de uma hashtag única no dia 13 em São Paulo comprova que aquele era de fato um momento de emergência social e, portanto, fruto de uma manifestação genuína. Agora, o que dizer de um protesto que não encontrou sua pauta? As minorias no Brasil já encontraram suas reivindicações há muito tempo e já estavam acordadas, apanhando da PM, muito antes dos editoriais dos jornalões brasileiros (lê-se Folha e Estadão) decidirem concordar com o manifesto.
O Gigante acordou, será mesmo? Estive no protesto contra a PEC 37 na Paulista, no último sábado, 22 de junho. Aquela seria a primeira oportunidade do Brasil mostrar que aprendeu e que de agora em diante vai tomar as ruas toda vez que se sentir lesado de alguma forma. Mas não, o Brasil não acordou. Não houve protesto, me senti passeando pela Paulista a tarde, livre de carros, olhando pra cartazes bizarros de “Joaquim Barbosa Presidente” e “Impeachment na Dilma”. Bizarros não porque minhas causas são declaradamente progressistas, mas porque mostram que os manifestantes perderam o cunho político de suas manifestações, tiveram suas pautas seqüestradas e não compreendem minimamente as instâncias de deliberação política no Brasil. Joaquim Barbosa agrediu jornalistas no início do ano, impediu que decisões de importância social fossem tomadas e é um dos piores ministros do STF que o país já teve. E o impeachment? Sinceramente, é risível. Para haver impeachment deve haver ilegalidade nas ações da presidente, no mínimo falta de decoro parlamentar como aconteceu com Collor em 92. A Dilma foi eleita democraticamente em 2010 e até agora ninguém conseguiu comprovar ilegalidade ou ilegitimidade de suas ações.
Tudo isso reforça a impressão que tive na noite de quinta-feira em Bauru, que o que cresce é o movimento #VemPraRua e nada mais. E confesso aqui que nunca torci tanto pelo meu próprio erro.
Para mim, sempre ficou a pergunta: Vem pra rua fazer o quê?
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