Entre putas elegantes e santos poetas

27 de setembro de 2011
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Captação e edição de vídeo por  Nicole Corradi e Ligia Motta




Fotos por Bruno Christophalo
Texto por Ana  Beatriz Assam


BAURU CHIC*

Uma bateria sem tons, uma flauta transversal, um violino, um baixo, uma guitarra e uma voz. Preciso confessar: era minha primeira vez no Shiva. Bela escolha para minha estréia. Em cima do palco e fora dele, rostos conhecidos. É sempre assim quando você nasceu em Bauru, cresceu em Bauru e ficou em Bauru. Será que morro por aqui?

O show começou logo. Mas o bar ainda não estava completamente lotado, como ficaria mais tarde. Ainda não tava difícil de respirar. Melhor assim. A Universo Elegante tinha algo, que não combinava com lotação. E teve quem fosse só pra ver a banda. Uns até chegaram tarde demais. Não ficaram. Os motivos eram totalmente justificáveis.

Oito músicas próprias. Letras inteligentes e inusitadas. Um cover do Tim Maia. “Você”. Aquela do você-é-algo-assim-é-tudo-pra-mim. Só que com um arranjo diferente. A banda a chama de Linda Monique. Por quê? Nem eles sabem.

Mas ainda tinha aquele algo. Não é clima, não é feeling. É algo. Um algo poético, dá pra arriscar dizer. Corrijam-me se eu estiver errada. O show acabou logo. Uma pena. Mas é só o segundo que a banda faz, então a gente dá um desconto.

Fato consumado, algumas informações chegariam aos poucos. Já no show da Aleluia, Bitch, segunda banda da noite, puxei papo com a Paula Buceli, a menina da flauta. “A formação atual tem menos de um mês”. Conta outra! E o pior é que é verdade.

Além da Paula, o rosto da violinista Renata Wolff também era novo pra mim na cena musical bauruense. Mas os outros músicos ali já eram conhecidos. Figurinha carimbada. Então vou dar outro desconto. O Gustavo Richieri mesmo foi o guitarrista da noite. Tocou nas duas bandas.

Outro era o David Calleja. Da Baurets, lembra? Mas dessa vez ele tava no baixo. Ainda faltam dois integrantes. Dois ex-Norman Bates: Thiago Rodrigues e Luis Paulo Domingues. O Thiago é o baterista da bateria sem os tons. Bateria minimalista.

E o Luis Paulo? Cantava, profetizava, poetizava. Olha aí o meu algo poético. Todas as letras foram compostas por ele. E agora pescando na memória conto pra vocês que esse Luis Paulo é aquele mesmo Luis Paulo que me deu umas aulas no colegial. Falou de movimento hippie e prometeu que em seguida viria o punk. Os alunos reclamaram até conseguirem ‘depor’ o cara. Aquela história do gênio mal compreendido. Pra mim, só gênio.



*Nota: Você sabia que antes de abrigar o Shiva, aquele predinho ao lado do shopping era o Bauru Chic?

ALELUIA, IRMÃOS
Texto por Aline Ramos


Eu sai de casa para ir a um show e acabei parando num culto. É, eu sei, você fez uma careta. Tudo bem, eu compreendo. Mas cerca de 200 pessoas podem confirmar essa história. É, eu garanto isso, só me deixa explicar?

Estava ventando muito em Bauru. Ele me abraçou e me deu seu último beijo sabor nicotina. Apressei meus passos, já estava atrasada. Ufa! Cheguei no Shiva, já na portaria podia sentir o calor que emanava daquele lugar.

“Som, sooooom. Porra, chama o David aí”. É, eles não estavam de brincadeira. Já na passagem de som mostraram que Aleluia, Bitch era formada por putinhas. Boas putinhas, mas impacientes. Elas eram responsáveis pela liturgia da noite. Novamente você fez essa cara de espanto. Calma ai pow. É que assim, o Gustavo Richieri, o Guilherme Alquati, o João Ricardo e o Roberto Soares iam guiar o louvor na segunda parte do culto. Eles são jovens respeitáveis e exemplares, mas só até o show começar. No palco se transformam na Maria Madalena do rock alternativo sob a alcunha de “Aleluia, Bitch”.

Espera ai, me deixa chegar perto do palco. Meu deus, como esse lugar está cheio de fiéis. O show já vai começar. 1, 2, 3! All Star no pé, sorriso no rosto. Opa, a galera está animada mesmo! Tem um menino fritando do meu lado. Legal. Os corpos se movimentam, alguns pulam, outros dançam. Mãos para cima, olhos fechados. Qual é a sua prece?

O Velho Testamento é aberto e os patriarcas do indie rock são relembrados. Aleluia! Vamos para o próximo versículo. Os heróis alternativos são lembrados. Já no Novo Testamento, muitos deles transformaram vadiagem em rock. Outros multiplicaram a calça skinny e a camisa xadrez.

Estamos chegando ao Apocalipse e o menino que fritava ainda não se cansou. O Golias da bateria, Guilherme Alquati, é pura animação e caretas. O João Ricardo anuncia o fim do mundo, há quem não goste. O performático Roberto Soares, aka, Wii, já está com os cabelos molhados. E o Gustavo Richieri tá com a bola toda. Mamãe chegou pra assistir.

























Nossa, aquele menino ainda está fritando. De onde tirou tanta energia? Ele é o tiete mais fervoroso. O João anuncia mais uma vez que o Apocalipse está chegando, mas a congregação pede misericórdia. Mas não tem como, eles são santas putinhas que desejam alcançar a salvação.

Num acorde final, conseguem o perdão por tantos covers. Antes do show prometeram que esse seria o último assim, no próximo mostrarão do que são feitas as putas do indie. Amém, irmãos!


Nota: Shiva é um bar, mas quando sai, era um Templo. Você vai dizer que eu poderia ter me tocado ao ver a oração a Shiva [divindade indiana] ao lado da porta. Mas me dei conta de que o Shiva sempre é um Templo da boa música.

  1. Não conhecia nenhuma das bandas e me surpreendi como a muito tempo não acontecia! Universo Elegante me deixou perplexa! Amei! Aleluia, Bitch me deu um gás! A noite foi perfeita. Mandaram muito bem!
    Boa cobertura querido! Bjons!

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