Mais que pipoca, cinema é inclusão social

30 de novembro de 2010
0


Por Renan Simão
Fotos por Mariana Duré

Oito da noite, uma noite quente. A criançada brincando na rua parou para ver que alguma coisa diferente estava acontecendo no Centro Comunitário do bairro Ouro Verde. Pessoas estranhas a eles chegavam com equipamentos bonitos e grandes. A lousa velha e rabiscada avisava: “Inauguração do cineclube – o filme ‘Lula, o filho do Brasil’”. 

A molecada veio ressabiada, mas atraída pela curiosidade de ver um cinema perto de casa e o cheiro de pipoca. Aos poucos alguns senhores chegavam para bater papo, passar o tempo e ver como estava indo os preparativos da primeira sessão do Cine Ouro Verde. Pode parecer pouco, mas o cineminha de terça-feira pode representar muito para quem mora lá. 

 “É importante manter a criançada aqui dentro, não deixar na rua. Mostrar alguma coisa diferente para elas”, afirma Gilberto, ex-aluno do projeto Amigos da Cultura, e monitor das atividades do Ouro Verde 100% Arte. O projeto existe desde 2002 e oferece aulas de desenho, maracatu, capoeira e percussão a cerca de cinquenta crianças.

O filme começou, muita gente foi só para comer pipoca e saiu. Menos de 20 pessoas acompanharam às duas horas de duração da sessão. No entanto, a inauguração do Cine Ouro Verde representa uma iniciativa efetiva de inclusão social. 

Fornecer alternativas para consumo de cultura dentro do bairro é criar uma identidade para quem vive no Ouro Verde, uma comunidade deslocada do centro de Bauru. Se algum jovem quiser ver um filme ou for ao shopping ele pode (e tem o direito) de ir, porém sempre pode haver um resquício de exclusão, pois o lugar onde ele mora não oferece (ou oferecia) isso. 

Iniciativas como o Cine Ouro Verde fortalecem a criação de uma identidade do bairro e da formação de um sentimento de pertencimento da comunidade.

“Anos atrás, olhando a situação do bairro, dava vergonha do Ouro Verde. Agora mudou, tenho orgulho daqui. E o centro é muito importante nessa mudança. Ele mostra o bairro que ninguém nunca viu”, diz cheio de convicção Daniel Cavalcante, voluntário do projeto. 

Para continuar a explorar o potencial da comunidade, o projeto conta apenas com ajuda voluntária e de iniciativas como a do Enxame Coletivo. Em outras palavras, segundo Adriano, mão-de-obra e verba saem “do bolso e do coração”. A criançada agradece.

Nenhum comentário:

Postar um comentário