O rock de fadas, tenistas e aeromoças

5 de setembro de 2011
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Jack de portas abertas. Gabriel Ruiz e Jayme Rosica circulavam pela casa. Também havia uma menina loira desbravando sua câmera, era a Laís Semis. Três repórteres, três gostos, três formas de registrar mais uma Noite Fora do Eixo. Não reparem se Mavka e Aeromoças e Tenistas Russas saírem um pouco tremidos. Há quem diga que é emoção misturada com estilo.

Tenho pena dos padrões que insistem em nos impor
Por Jayme Rosica

Sábado a noite e se aproxima mais uma Noite Fora do Eixo no Jack com apresentações das bandas Mavka e Aeromoças e Tenistas Russas. Chegando cedo ao bar deu pra perceber que o feriado já espantou alguns dos estudantes da cidade, já que vários rostos conhecidos e que batem cartão nas Noites Fora do Eixo não estavam presentes.

Trombo alguns conhecidos e a discotecagem já mostra para que veio, um som divertido demais servindo de um entretenimento bacana para os tabagistas de plantão (como esse que vos fala) passarem um tempo jogando papo fora na área de fumantes.

Na seqüência, com o bar já mais povoado, entra em cena a banda Mavka, que, confesso, apesar de ter escutado alguma coisa na internet, não conhecia direito.
A banda vem de Sorocaba, e é um quarteto que conta com duas garotas na formação, nos teclados e no baixo. O som é bem diferente dos padrões que a galera costuma ver por aí, remetendo muito ao ar mais soturno do post-punk oitentista a lá Joy Division mesclada com alguns momentos um pouco mais acelerados, porém ainda com uma pegada dos anos oitenta uma levada meio Husker Dü.O som também é marcado por um certo experimentalismo, que com baixo feminino fica quase impossível não comparar com Sonic Youth (SWU ta chegando).

As músicas tem como grande sacada uma fuga da mesmice e de padrões estético-musicais que assolam um cenário brasileiro que cada vez mais necessita urgentemente dessa originalidade proposta, talvez por isso até muita gente do público não entendeu a proposta apresentada no som (assim como vi o mesmo acontecer recentemente no show do Jair Naves).

Gostei muito da proposta e do som da banda, (post-punk me agrada e muito) ao fugir desse padrão de fazer música pra agradar gregos e troianos, os padrões atuais que nos impõe que rock se resume a fazer musiquinha dançante e alegre pra embalar gente “cool” dançando na pista e inflar egos “indies” que pensam não existir música boa antes dos Strokes.

Parabéns aos sorocabanos por propor algo diferente do padrão mc-rock-feliz que insiste em travar a mente da molecada. Obviedade nunca! Jamais!

*A Bea Rodrigues e Duda Caciatori curtiram o rolê em Bauru e também colocaram suas impressões no blog da Mavka

**Origem do nome Mavka: No Folclore Eslavo, as Mavkas são uma variedade de Rusalkas, que também são associadas com as Ondinas. Elas têm o cabelo muito longo, loiro e liso, tem corpo, mas não é refletido na água e nem possuem sombra.



Russas e João Paloso em campo
Por Gabriel Ruiz

Prestes a lançar seu primeiro álbum cheio, o quarteto Aeromoças e Tenistas Russas entrou em campo praticamente com o jogo ganho, mesmo com o esquema tático diferente. “Mudamos a ordem do repertório, foi a primeira vez que tocamos assim, abrindo exatamente com a primeira faixa e single do novo disco: a Kadmirra” - revela Thiago Hard, guitarra e sax.

Aqui vale um parênteses. Durante a troca de palco, o DJ (e Abel) Renato Crisóstomo segurava a pista cheia, flambando geral com um set vibrante. “O set do ExtraCo buscou raizes no AfroBeat e passeou entre latinidades com influencia de músicos como Fela Anikulapo Ransome Kut”, conta Renato.

Assim, no primeiro acorde, o público já chegava junto e esboçava os primeiras passinhos. O repertório fluiu e energizou bastante, seguiu-se com Insomne, Smonkey Skulls, Saguis e aí a frente do palco já estava tomada. 

O show representou também um visível amadurecimento da banda, o som e a identidade estão completamente cimentados, reflexo de conquistas (e de estrada) como a Feira da Música de Fortaleza 2011, Festival PIB 2010 (Produto Instrumental Bruto), Festival Calango 2010, Virada Cultural Paulista 2010, Mostra Instrumental de Música Contemporânea 2011 (RJ) e os outros mais de 50 shows só no ano passado.

Além do esquema tático, o comandante da espaço-nave mexeu também no time. Eduardo Porto (ex-Pé de Macaco) - novíssimo integrante do grupo - se apresentou pela segunda vez como Aeromoça. Claro que jogando em casa é sempre favorável, a torcida estimulada, a equipe na base e, embora não haja torcedor que resista quando as jogadas não saem, a execução de Porto foi impecável. Além de manter o ritmo, Eduardo inevitavelmente deu cara nova ao grupo, um peso a mais na bateria, aquela pegada que a gente já conhece da “Música da Nat”.

Foi então que me encontrei com o João Paloso no Jack. Que honra.- Como vamos? - abracei-o saudosamente, como quem revê um grande amigo. Faz tempo que não leio João: aprecio a sua arte gonzo. - Aceita? Quando vi já estava com o copo de wiskie tunado nas mãos. Conforme as goladas, tudo ficava mais colorido e eu entrava naqueles tons e naqueles diálogos sem voz que aqueles quatro caras comunicavam. Caralho. Olha essas mina pirando no som, tá demais aqui. Não sei se eu ou se João que disse esta última frase. 

A intensidade do show ia aumentando, pela tranquilidade e confiança que vinha do palco e pela empolgação e entusiasmo da platéia, que interagia demais. E dançava. Começava o segundo tempo. Entrosados, jogando soltos, os gols continuavam saindo com “Perseguida”, da conterrânea Malditas Ovelhas, “Sex Sugestion” e seu climão malevolente, e as viajantes, “Jacques Villenueve Experience” e, “Solarística”, além de “Cremossita”, outra faixa inédita do disco. 

Cada vez mais à vontade, as pessoas se soltavam, outras fechavam os olhos, ensaiavam passos tortos (como as curvas que os teclados de Gustavo Hoolis emanavam), sentavam à beira, ao lado do palco para contemplar, de olhar fixo e sorriso de satisfação, tipo a Aline Paes, fã confessa (como este redator). 

Quando o show do ATR acaba quase nunca o público está satisfeito, mas o Juliano estava. “Cara, acredito que foi o show mais vibe que já fizemos em Bauru” - disse-me suado o baixista, logo após a quinta apresentação da banda na cidade, primeira no Jack.

Quando é que sai mesmo o disco?