ONDE OS MINUTOS SOBREPÕE SEUS INSTANTES

31 de março de 2012
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Por Mr. Charles e seu Rancor amestrado
Fotos por Lucas Adriano

Meu tempo é precioso demais para perdê-lo assistindo TV ou fazendo qualquer outra porra no sábado a noite.

Sábado é o dia da semana em que espero para expulsar os demônios do corpo, ou não...

Minutos Menores abrindo o show do Garage Fuzz. Porra!!! Nada melhor que um som rápido, cruel e insano para começar o role.

A cabeça viaja na velocidade da música, é porrada, é martelada, é o instinto do rancor puro se sobressaindo aos instantes monótonos que acumulamos durante a semana.

Saio da boca do palco com um saldo bem positivo, um corte na canela, um roxo no braço, e um leve torcicolo após uma roda incessante e porradaria no grau.

Não esperava nada mais que isso. Nunca espero. Auto-implosão em acordes, e um grande foda-se para quem se sentir chocado.



ANTES QUE O MUNDO SE ACABE EM POUCOS, E EM POGO...
Por Jayme Rosica

Pogo até o caroço, Garage Fuzz em Bauru mais uma vez, o Jack Music Pub recebia uma lenda do hardcore no país.

O Garage, proveniente da baixada santista, consegue ser uma banda que mudou durante o tempo, porém sem nunca perder a essência, a inspiração nítida do hardcore californiano.

Tocando hits e alguns sons nem tão famosos da carreira, o show foi uma catarse, uma apresentação com ar de nostalgia, com cheiro de role de skate pelas ruas. Camisas xadrez e os anos 90. Califórnia e Santos na cidade sanduíche.

O bar vindo a baixo com “Dear Cinnamon Tea”, a faixa mais marcante do show. Ao fim, expressões de satisfação é o que se via por todos os cantos. Não é sempre que temos oportunidades como essa.

Pogo, stage dive, camisetas encharcadas... é disso que se alimenta o underground..

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Quarta B – um genuíno filme b

29 de março de 2012
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Em tempos de marchas a favor e repreensões contra, a maconha dificilmente é tratada pelo cinema como elemento coadjuvante de um filme. Por vezes caminha tão somente pela simples ideologia panfletária ou pelo afã do politicamente correto. Uma exceção a essas regras é o filme Quarta B (2005), exibido na última terça-feira dentro do CinePet da Unesp-Bauru. Abordando o tema controverso com humor, Quarta B fala mais de aspectos da natureza humana do que da cannabis em si. Após a sessão, Flávio Queiroz, 2º assistente de direção do filme, bateu um papo com os estudantes presentes.

Por Renan Simão

O filme
Diretores de uma escola primária da quarta série convocam os pais dos alunos para uma reunião em pleno domingo. O assunto: foi encontrado um pacote (muito grande) de maconha na sala, er, 4ª B. A partir daí o diretor Marcelo Galvão trabalha os estereótipos de pais (e seres humanos) que todos imaginam: a perua rica, a depressiva, a mãe “perfeita” que não sabe que o filho é gay, os pais idosos, o pai bicho-grilo, o pai politicamente correto e preconceituoso, o nerd, o psicólogo, o zelador pobre e negro, o diretor de baixa auto-estima, e outros mais... Todos reunidos nessa sala. Cada um tem um embate com todos os outros, sempre acusando o filho alheio de ser maconheiro. Até que por alguma razão (divertidíssima) os pais decidem fumar a maconha e ver o efeito. Daí em diante as relações mudam e revelações sobre as vidas dos envolvidos começam a ser abordadas.

De maneira inteligente, Marcelo Galvão consegue prender nossa atenção somente com diálogos. Com três câmeras na sala movendo-se nervosas a cada fala, sempre mirando os rostos dos atores, o filme se torna ágil. Os cortes bruscos e certeiros foram frutos de uma edição de se admirar. Foram seis dias de filmagem, 12 horas por dia, três câmeras. Faça as contas.

Com orçamento baixíssimo (R$ 30 mil, é tipo... nada), sem apoio de editais do governo e tirando tudo do bolso, a produção teve na improvisação seu maior trunfo. “Nós não tínhamos grana para uma trilha sonora própria, aí o Marcelo descobriu na internet alguns direitos autorais de temas do Tchaikovski por 300 contos (risos). E até hoje a música do filme é elogiada”, conta Flávio Queiroz.

Outra situação inusitada é a invasão do set de filmagem pela polícia, que é usada no filme. Após denúncias dos vizinhos, a polícia queria prender os “usuários film-makers. “Foi apenas um mal entendido que no final só ajudou no filme.A gente perdeu muito tempo, é verdade, mas o ambiente até ficou melhor”, esclarece Flávio.

Para segurar somente com diálogos um filme de 90 minutos não é fácil. E talvez seja nessa dificuldade que aparecem os erros e acertos do filme. Os trunfos são as transgressões de cada personagem, mostrando suas fraquezas e desejos mais escondidos. O fracasso profissional, alguma tara sexual, um amor não compreendido. E em alguns desses difíceis campos do roteiro, o filme perde a velocidade do início e às vezes não sai do lugar, alguns temas ficam batidos. Contudo contém um(alguns) final(is) surpreendente(s).

Quarta B é simples, criativo, e feito sem dinheiro. Um genuíno filme B.

O bate-papo
Foi uma boa conversa com o simpático Flávio Queiroz. Falou de aspectos da produção do filme, cinema nacional e editais do MinC. Mal filtrando a conversa, destaco três links de filmes indicados pelo Flávio e uma frase do nosso convidado que é quase um “Always protect yourself”. Segue:

Lado B (2007): como se fazer um longa sem grana no Brasil

“Se eu tenho alguma coisa para falar a vocês é: tenham o seu sustento. Essa vida de cinema é legal pelo sonho e até pelo glamour, mas chega uma hora que você se vê sem dinheiro e esse não é um negócio que dá dinheiro. Tenham algo fixo, alguma coisa para se sustentar e aí sim, batalhe para chegar no seu sonho.”  

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e-Colab Lança Edital Multimídia

27 de março de 2012
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A partir da prática e da troca de experiências entre a equipe, o e-Colab pretende ajudar na capacitação de colaboradores multimídias, que consigam desenvolver materiais textuais, audiovisuais e fotográficos e que se sintam livres também para experimentar novos formatos e trazer pautas que envolvam a cidade, a cultura e as pessoas.



Procurando reformular o blog, ir atrás de pautas além da cobertura cultural e trabalhar com um intercâmbio maior de áreas, o e-Colab decidiu abrir este Edital Multimídia. Nós estamos abrindo vagas nas áreas de Audiovisual, Design, Fotografia, Jornalismo e Relações Públicas. Mas você não precisa necessariamente fazer um desses cursos pra se inscrever no nosso Edital. E se você não se sentiu contemplado por nenhuma dessas áreas e acha que poderia desenvolver algum trabalho com a gente, mande um e-mail para nós!

Para conhecer as regras e se inscrever, acesse o Edital Multimídia (ele fica aberto até dia 10 de Abril!) e para esclarecimento de dúvidas ou qualquer outra coisa, nosso e-mail é ecolab.bauru@gmail.com.

E para você que não conhece muito do nosso trabalho, mas ficou na curiosidade, a gente recomenda esse vídeo:



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The Vain lança clipe para "Close To The Fire"

Por Vinícius Pacheco

O quarteto de Taubaté que comemora 10 anos de carreira neste ano, lança nesta segunda-feira, 26 de março, o clipe da música "Close To The Fire" do álbum "Panda" (2011).

Em um ambiente lindo onde as cores e as imagens rápidas são o que ditam o clima do clipe, um brinde é exatamente o que a banda e os demais envolvidos nesse projeto, fazem nesse ano tão importante de sua carreira.

Gravado em Sto Antônio do Pinhal pelo também Músico e Diretor Zélino Lanfranchi Jr.




Director: Zé Lino Lanfranchi
Make-up/Costumes: Rita Oliva
Casting: Julito Cavalcante
Model: Charry Jin

Confira as próximas datas do The Vain:
30/03 - Hocus pocus - São José dos Campos
13/04 - Café Brasil DJ SET - Taubaté
14/04 - Alley DJ SET - São Paulo
15/04 - Casa do Mancha - São Paulo
19/04 - BECO203 - Porto Alegre
12/05 - Festival 012 - São José dos Campos
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InstruMentalize

24 de março de 2012
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Os olhares estão mudando

Por Luana Rodriguez
Foto por Jessica Mobílio
-Vai lá no Jack?
- Ah, sei lá, é instrumental, né?

Existe um certo de tipo de preconceito quando se fala em música instrumental. Não é todo mundo que curte. E a noite de ontem do Jack foi um prato cheio quem gosta desse gênero musical.

No palco, o quarteto “Assopro” se apresentava. Um baixo, uma bateria e duas guitarras (uma delas com as cordas arrebentadas) tocavam um tipo de rock progressivo meio psicodélico.


E pouco a pouco o Jack foi enchendo, a galera foi se aproximando do palco e o som preenchendo o ambiente... O público parecia gostar.

“Quem ouviu, por favor, não se incomode em ouvir de novo” disse um dos meninos da banda antes de tocar “Cambarás”, talvez uma das melhores músicas do grupo. “Essa música é foda”, nas palavras de uma amiga minha.

“O ‘baguio’ é meio tenebroso, se vocês não entenderem é porque vocês tem uma mente muito pequeninha”, disse o guitarrista antes da banda tocar “Baby Beef” uma das músicas mais provocativas dos meninos. E, talvez por isso, nesse momento tenha me ocorrido um pensamento. Lembrei do filme “O Artista”, aquele que ganhou o Oscar esse ano, e me ocorreu que, resguardada as devidas proporções, e sem querer comparar uma coisa a outra, eles tem algo de parecido. Se um filme em branco e preto, e mudo, pode ser bonito, por que uma banda sem vocalista não pode ser boa?

Sabe aquela sensação de que música instrumental é tudo igual? Então, não teve. Exceto pelo baixista e pelo guitarrista e até eram meio parecidos (fisicamente). E foi assim que, música por música, os meninos conquistaram o público do Jack. Quando o show acabou ficou a expectativa de que muito mais ainda estava por vir...


Oitava Partida (na Cidade)
Por Laís Semis
Foto por Lígia Ferreira

É preciso despertar vida pra se deixar conquistar pelo instrumental.

Esse é o 5º show da turnê do disco Kadmirra que eu prestigio. E é incrível como cada vez que eu vejo as Aeromoças e Tenistas Russas tocando tenho a certeza de que eles estão ainda melhores do que da última vez que os vi.

Sem mesmo precisar se permitir, é uma música que te suga para dentro dela. Pra sua própria dimensão. Ventilavam músicas pelas caixas de som transcendendo alucinadamente pelo ar. Deste lado, seduzidos pelo saxofone, condenados à eterna hipinose de uma junção encantadora. Do outro, eles, completamente tomados por Kadmirra. 


Como pode um sax ser tão íntimo?
E não há nada a fazer, senão se entregar.

E falando em outras dimensões, olha quem decidiu ressurgir por essas bandas: dos confins de um mundo paralelo, o nosso caro João Paloso. E quanto tempo que não nos encontramos? Agora, ele só aparece em noites especiais.

Essa é a primeira edição do projeto InstruMentalize, noites de música instrumental farão mais amigos agora. Casa cheia. Derretendo entre luzes coloridas a piscar e narizes de palhaço que dançavam com bboys, fazendo um show a parte, todos muito juntos do palco.

Num visual cada vez mais oitentista do baterista combinando com o clima, as luzes coloridas em círculos e o ambiente esfumaçado, compondo o visual: a pitadinha de tenista na testa e pulsos, enquanto os mullets voam.

Nessa noite, mais do que nunca, somos todos serpentes encantadas pela beleza instrumental das ATRs. E não adianta dar esse play aí. Não há nada, nada como estar ao vivo diante desse som.

Bang-Bang instrumental
Por Luís Morais
Foto por Jessica Mobílio

Fechando o primeiro InstruMentalize, uma banda da casa. Os bauruenses do Vilão do Groove entram em palco já eram praticamente 3 horas da manhã, e ainda continua um público legal no Jack Music Pub. Que é recompensado pela “carona” no Rock Blues do trio.



O show começa e se abre uma roda na frente para uns arriscados passes de dança. O começo com distorções um pouco psicodélicas até bate bem com o clima deixado pelo Aeromoças. Aos poucos o Vilão do Groove ia se impondo. Mas não pense algo sobre a banda apenas pelo nome. Groove era o que não faltava.

O virtuosismo do power trio era evidente. A guitarra de Horne com bons riffs, a batera de Rodrigues dando uma rítmica imponente – e sem aquelas “fritadas” comuns de bateristas – e o maior destaque era as linhas de baixo de Ribeiro, mesclando várias escalas com slaps. Tanto virtuosismo que em certas horas era exagerado.
Horne, na metade do show, explica um pouco do show instrumental da Vilão do Groove: “nossas músicas contam história somente pela sonoridade, não precisa de palavras”. E o público reagia de acordo, dançando e sentindo as melodias, algumas bastante familiares.

E em meio a homenagem a Chico Anysio e uma certa crítica ao que estou fazendo nesse momento - “para fazer crítica musica precisa aguçar os ouvidos” - a primeira noite do InstruMentalize ia se encerrando pouco mais de 4 horas da manhã. O saldo foi muito mais que positivo. Shows instrumentais não costumam agradar o público em geral, e o Vilão do Groove foi mantendo um povo até o final de seu show. Ao som do rock blues original do Faroeste Paulista.

Fotos Lígia Ferreira e Jessica Mobílio
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Palhaço.Doc - a história de como se fez




Por Renan Simão
Fotos: Divulgação

Um documentário em sua natureza pressupõe uma narrativa, por mais simples que seja. Um making-off é o registro do processo de trabalho de uma obra de cinema. Marcelo Pontes, diretor de Palhaço.doc, tenta criar é um híbrido entre os dois recursos em 46 minutos de takes descartados, entrevistas e imagens para contar o processo de criação e produção de O Palhaço, filme que levou mais de um milhão de pessoas ao cinema em 2011. Marcelo estava no Sesc Bauru na última terça-feira para contar sobre o trabalho.

Como não poderia deixar de ser o personagem central de Palhaço.Doc é Selton Mello. O diretor e protagonista, ao lado de Paulo José, é o eixo da narrativa. Ele conta desde a fagulha da ideia de fazer um palhaço com crise de identidade até o último take do filme, passando por dois anos de pesquisa, escolha de set de filmagem, produção, elenco, e o sentimento de atuar e dirigir.

“Não era fácil gravar. Sempre existe uma resistência da equipe e do elenco em serem filmados enquanto estão trabalhando. O próprio Selton em algumas vezes me chamava pra gravar, em outras me olhava e eu já sabia que era pra sair dali.”, conta Marcelo. Ele ainda diz que há situações em que não se pode registrar tudo. Divisões de equipes de filmagem, falta de lugar no carro e desentendimentos fizeram parte da rotina do documentarista.



“Num dos dias mais emocionantes, quando todo mundo chorou na despedida do [personagem] Benjamin, eu tive que ir pra Campinas arrumar a câmera. Fazer o quê? Perdi.”, resignado, o diretor carioca fala que é preciso ter desapego com as imagens. “Tem coisas sensacionais que vão pro lixo mesmo. Mas você precisa ter a sensibilidade de lembrar do produto final, somente ele”.

Além de fazer o documentário, Marcelo participou da pesquisa do filme. Viajou boa parte do Brasil por dois anos procurando circos, conversando com artistas e captando histórias. Experiências essas que posteriormente virariam cenas e falas. Parêntesis:

(Quando você vir a divertida cena do “morto” no filme, saiba que essa foi uma história coletada nessa pesquisa).

Em relação ao processo das entrevistas, Marcelo destaca mais uma vez a sensibilidade. Vindo do teatro e do cinema ficcional, ele lembra que técnicas de interpretação como as do dramaturgo Stanislavski podem ajudar o entrevistador a conseguir o que quer do entrevistado, e não o contrário, ser dominado por ele.

O auditório do Sesc tinha um bom público para uma terça-feira. Eram trinta pessoas, em sua maioria estudantes de Produção Audiovisual da FIB de Bauru. E, ao final do longo bate-papo, Marcelo parte para as questões técnicas e relembra, com certa gratificação, os tempos do negativo, da fita, dos obstáculos em se fazer cinema, e avisa:

“Antes eu tinha que ver a imagem antes de tirar a foto. Precisava saber exatamente a composição da cena antes de filmar. Agora é erro e tentativa, você erra demais para acertar uma vez. Se tenho alguma coisa para falar para vocês é: vejam antes de clicar; pensem antes de fazer.

Dá pra conferir um trecho do documentário aqui. Na íntegra, só como extra do DVD.



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Legalê + Criolo

21 de março de 2012
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UMA RAIZ MUSICAL E SUAS RAMIFICAÇÕES

Fotos por Bruno Christophalo
Texto por Jessica Mobílio
SALVE, SALVE BAURU! 

Com o cumprimento simples, o domingo recebia uma dose enérgica de música, a reciprocidade da banda versus a platéia, o jogo do lá e cá. Tribos diferentes encontram se para ouvir a banda Legalê que abriria o show do tão esperado Criolo. Mas nada de estereótipos, porque a mistura de estilos da Legalê somada às letras carregadas de Criolo deixa qualquer classificação à parte. Público tão heterogêneo, dos pés pelados ao tênis hype. 


São oito da noite e sobe ao palco o reggae, o ska, o funk mais o rock. A Legalê inicia o show e percebe-se fãs marcados. Ouvia-se a cada canção, alguém que cantasse junto. A platéia começou tímida e espalhada, mas realmente aqueceu o que seria a noite das rodas de break dance e até faixa com a frase “Rap é compromisso”.  


Ritmo acelerado e picos de energia que se quebravam em viradas. Presença de palco que sintetizava a razão pela qual a banda estava ali.  Com as letras autorais, “Me diga tudo”, “Skala da Praia”, “Buca” foram os pontos altos do show. Sem mesmo mencionar os covers embutidos na apresentação, como disse o vocal, Vinícius Costa, "Vamos de Paralamas agora" ou "Não há dinheiro que pague...".

E pra quem não conhecia o som, facilmente aderiu. Afinal, porque a mescla de estilos (quase sempre) agrada, e ainda melhor quando a banda expressa isso.

E agora, com o agradecimento simples "Valeu Bauru", terminava a primeira virada do domingo.

Quase nove e meia da noite, "Cri-o-lo, cri-ooo-lo".



CRIOLO: O MÉRITO DE UNIR UNIVERSOS DISTINTOS 

por Renan Simão

Na real, o grande mérito do Criolo (e do Emicida também) é modificar a estética do rap nacional sem deixar o legado de Racionais MCs e outros clássicos para trás. Essa mudança gera um fenômeno visto na Antiga Dolce no domingo, e que acontece aonde quer que o Criolo vá: todos vão ao show dele, desde o cara que mora nas quebradas da cidade até o cara de camisa flanela e cabelo liso... Ambos não param de cantar durante o show.

Apesar de não entender a realidade do rap nacional, o boyzinho reproduz o discurso e, querendo ou não, se infiltra dentro desse universo que ele não conhece (e nunca vai entender). Só entende quem é de lá, eu não sou.


, não tem sucrilhos, isso não existe. É pão com manteiga e café de ontem para começar o dia. Tem padaria que não vende pão. Os cachorros “passa” e é “pex pex”... a rua é a casa do cara. Jogo do bixo come solto. As criançada tão de HK e “são só por Deus, viu”. Um mundão aonde “as criança” chora e a mãe não vê. (As aspas são contravenção, o que importa é dizer o que deve ser dito e gíria não deve ser explicada. Aliás, gíria não, dialeto).

Talvez por influência de Daniel Ganjaman, produtor do disco e literal regente do show, Criolo sai (de leve) do formato rima-batida e vai caminhar pelo reggae, afrobeat, samba e o brega. E varia o discurso também. Ele é a crença amor na clichê (clichê?) “Não Existe Amor em SP”. Beat dançante em Mariô e Bogotá (Fela e Mulato, didático, mas obrigatório). Sambinha de quintal na forte linha de frente  de que quem tá lá, “não pode amarelá”. E brega com “Freguês da Meia Noite” que seria um Cauby Peixoto no boteco falando de “furta-cor” e “doce”. (Os medalhões podem ser brega e o doido do Grajaú, não?).


Criolo é som de preto, de pardo, de favelado e ostenta isso. A sacada é que música é universal, né, mano. E se é boa, não importa cor, mais ou menos dinheiro e poder. Pode ser na quermesse, no campão ou na balada dos “boy”, Criolo não esquece que “Rap é compromisso” mas representa todo mundo... E quando começa a rimar não há fronteiras para entender a realidade de um outro universo. É tudo um, é música.

Fotos de Bruno Christophalo e Renan Simão
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Pois eu transformo água em vinho

20 de março de 2012
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Por Luís Morais
Foto por Fabio Shirazawa

Enquanto o Jack Music Pub estava curtindo o rock do OverHead em um palco alternativo, muitos chegavam perto do principal, aguardando o show seguinte. Não que a banda de Bauru fosse ruim, pelo contrário – com covers de Lynyrd Skynyrd, Bon Jovi e músicas próprias, o OverHead agradou o público. Mas estava por vir Marcelo Nova.

Às 1:20, quando o ex-vocalista do Camisa de Vênus entra no palco, a galera delira. “Bota pra fuder!” ecoava pelo ambiente, quando “Faça a Coisa Certa” abre o show. A aula de rock'n roll continua com “Ninguém Vai Sair Vivo Daqui”, da época da banda baiana.

Até essa altura, a guitarra de Drake Nova – de acordo com o pai Marcelo, saindo direto de seus testículos – estava um pouco baixa, mas em “Cocaína” o problema parece já resolvido e seus solos começam a enlouquecer. Em “Gotham City” vem a confirmação.

E quando Marcelo Nova puxa “Carpinteiro do Universo”, uma teoria lanço em minha mente: se Raul estivesse vivo até hoje, as pessoas nem lembrariam de suas músicas. O famoso “Toca Raul” é talvez o grito mais deprimente para sua própria carreira. Ele é da mesma época de Marcelo Nova, hoje lembrado apenas como “pai de uma VJ”. Lançaram disco juntos. Trabalharam juntos. Um morreu pobre, na miséria, só depois foi reconhecido. O outro continua sua saga, trazendo o rock'n roll na veia e homenageando seu velho amigo.

Entretanto, Marcelo Nova não é Raul Seixas. E também não matou Joana D'arc. Foi somente na sétima canção que o show começou de verdade, segundo o próprio. Foi quando “acabou o ensaio”.

E os bate-cabeças? Desnecessário. A hora ali era de curtir o melhor do rock, em sua essência, com rockabilly desde as linhas (excelentes) de baixo de Leandro Dalle às danças no palco de Nova. Tivemos até uma palhinha de “Satisfaction”, apresentando Mick Jagger em carne e osso. Ops, era o apresentador do show apenas.

O disco mais tocado foi “Panela do Diabo” - o último de Raulzito, também. E “Rock'n Roll” surge com direito até com improviso de “Highway To Hell” no meio. “Vocês estão visivelmente cansados, podem ir embora”, ironicamente dizia o baiano. Ele sabia que a galera queria mais.

E no final surge um maestro no palco. Não era preciso cantar “Hoje”, “My Way” ou “Pastor João e a Igreja Invisível”. O público fazia isso. Quem tava lá, tava para apreciar uma lenda viva do rock'n roll brasileiro. Tinha gente com vinil na mão desesperado por um autógrafo, e quando conseguiu, surtou de alegria. 

Marcelo Nova botou pra fuder em Bauru.
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Close To The Video

19 de março de 2012
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Os nossos amigos de Taubaté, a galera do The Vain divulgou hoje o teaser do clipe "Close To The Fire" (o teaser foi intitulado, num trocadilho, de "Close To The Video"). Dirigido por Zelino Lanfranchi Junior, do Cabana Café, o clipe terá sua estreia na segunda, dia 26!

Enquanto o clipe não sai, confira com a gente o teaser!

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Vanguart

17 de março de 2012
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Entrevista: Luís Morais, Lígia Ferreira, Renan Simão, Thales Schimidt, Felipe Amaral e Solon Neto
Imagens: Paulo Soucheff e Rapha Sousa
Edição: Paulo Soucheff



Confira a entrevista completa aqui e a cobertura do show no SESC Bauru.
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GR '12 | Encerramento

16 de março de 2012
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"Um pessoal sem camisa, chinelos havaianas por todos os pés, as meninas com as digníssimas blusinhas de alcinhas, cerveja gelada e bandas debaixo da árvore. Um domingo de rock, às vezes suingado, outras viajandão, mas sempre deixando a impressão do sentir-se bem. Mais do que apropriado para o último dia de Grito Rock no complexo da Estação Paulista, Centro de Bauru". 
Renan Simão

Jessica Mobílio
Textos por Aline Antunes, Aline Ramos, Lígia Ferreira, 
Jessica Mobílio, Renan Simão e Tamires Trindade
Fotos por Bruno Christophalo, Jessica Mobílio e Renan Simão

T.A.P.A
Tamires Trindade

O festival GRITO ROCK'12 teve seu encerramento no último domingo, 11 de março, no museu da Imagem e Som em Bauru.

As atrações iniciaram-se com a apresentação da companhia de teatro Todos Amando Pela Arte - T.A.P.A - de Taquaritinga.

O grupo manifestou-se através da peça de teatro "Quem casa quer casa" uma comédia de Martins Pena, que baseia-se na ironização de conflitos familiares e corriqueiros; característica esta também do autor, que trata com humor as desventuras da sociedade brasileira.

Com elenco plenamente ensaiado, a peça de linguajar rebuscado foi muito bem executada, felicitações ao diretor e ator Lynno Fernandes.

O evento Grito Rock abriu as portas para primeira apresentação desta companhia aqui em Bauru. O pessoal logo seguiu rumo em turnê para outras cidades do interior, foi gratificante tê-los recebidos.

O SONSO
Renan Simão


Três das cinco bandas atrações da tarde tinham - pra nosso deleite - um sotaque diferente do nosso caipira. Los Porongas vieram do Acre (que dispensa a piada), O Jardim das Horas e O Sonso são cearenses. As três bandas são amigas, compartilham integrantes e ideias. E vieram na mesma van até Bauru!

Renan Simão
Quem abriu o dia foi O Sonso, o rock mais dançante do domingo. A voz gripada do vocalista Daniel Groove não atrapalhou a vontade de falar de desenganos amorosos, descompromissados casos, da dor de alguém que foi embora ou do gosto de quem ficou. E as guitarras setentistas, Velha Guarda, um teclado progressivo dão um que de rock-balanço pra banda.

Renan Simão
E pra fechar o set-list ainda rolaram covers de “Lindo Lago do Amor” e “Jorge Maravilha”. A tarde começou bem.


O EMPOLGANTE JARDIM DAS HORAS
Lígia Ferreira

Tudo bem que já era à tarde, mas eu diria que o domingão começou bem, ou se preferir, a semana começou bem. Jardim das Horas foi a segunda banda a se apresentar à luz do sol. Luz que por sinal parece inspirar a banda, já que senti a banda mais feliz, mais zen, mais solta que da vez passada; quando vieram tocar no Pré-Canja.

Jessica Mobílio
A vocalista, Laya Lopes, estava inspirada: “É bom tocar com o sol, né?”. Eu pensei: Olha, tocar eu não sei, mas ouvir e ver a inspiração e energia de vocês sim. Quanto gás! Bacana ver que o show é bom mesmo quando não se tem uma multidão na plateia.

Jessica Mobílio
Tá certo que o show começou com um climão ou uma pitada de comédia, com Laya implorando para o técnico do som: Arruma a base aqui pra gente, por favor. Mas nada que impedisse que o show continuasse, afinal, ele tem que continuar sempre, não é mesmo?

A tarde foi dos bordões da Laya: Chegou o batidão aí? 
Vocês gostam de rock?
Muito grata.

Por sinal, muita grato nós é que deveríamos estar, com a perfeita fusão das raízes da música brasileira com a moderna música eletrônica. Com a deliciosa e charmosa melodia vocal e performática de Laya.

No fim do show a plateia pensava:
Sim, o batidão chegou e não queremos que ele se vá. Fica Jardim das Horas. Mas a tarde apenas estava começando e muito som ainda iria rolar por debaixo do sol e da lua.




LOS PORONGAS
por Jessica Mobílio


E a tarde continuava, já tínhamos recebido O Sonso e O Jardim das Horas com seus sotaques marcantes. Espécie de raiz axial, canções que pareciam penetrar na terra e nos ouvidos de quem estava por lá. 

Bruno Christophalo
Letras e melodias poéticas que provocavam sinestesias. Aquele encontro entre o domingo e o Sol, da terra mais o verde. Los Porongas, quanto vale o show, a tarde, o encontro...

Cena intimista, das pessoas sentadas e cabeças levemente sincronizadas. E desse último dia de Grito Rock Bauru, mais da metade norte e nordeste, escolha que funcionou de forma orgânica.

Bruno Christophalo
E quem sabe se resumi em uma canção “Nada Além de esconderijo/ Muito além de tudo isso”.

Os Los Porongas se soltaram e arriscaram trechos de “the end” do The Doors. Tocaram “Lithium” do Nirvana. E ouviam-se “Já que a tarde é longa...”. E a noite ameaçava chegar, mas quem não lembraria da passagem relâmpago desses 'caras' em terras bauruenses. Amnésia é pouco. 


ROCK SEM FRESCURA!
 Aline Antunes

A SUPERSONICA é assim, uma banda que inventa suas próprias canções, sem frescura e com a necessidade de botar pra fora todas as idéias que habitam a cabeça!

Banda independente de Bauru, eles mesclam o verde com vermelho, o drive da guitarra com o groove do pandeiro. Utilizando o segredo de sair misturando tudo, juntam o peso do Led com a cultura do Caetano.

Bruno Christophalo
No último Grito Rock Bauru 2012 os Supersonicos se apresentaram contribuindo com uma dose cavalar de Rock n’Roll e mostrando toda a sensualidade que uma guitarra pode ter.

SUPERSONICA foi a penúltima banda do dia, e mostrou como é seu som, e como é fazer Rock no Brasil, e que o segredo é misturar tudo e fazer como antes, como a loucura dos Beatles e a loucura dos Mutantes!


NO BALANÇAR DE ASSOPRO
Aline Ramos

Já podíamos sentir o Grito Rock se encerrando ao passo que o sol se pôs. No palco improvisado, uma estação. O último trem estava anunciando que ia sair, era a banda Assopro apitando os últimos minutos do Grito Rock 2012.

Aperte o cinto, a viagem instrumental rumo ao rock vai começar. Não se esqueça da escaleta, é ela quem dá um toque especial. No balouçar lento, curta a psicodelia. As vezes é preciso se segurar bem pra não pender pro lado e esmagar o companheiro. Porque a trilha tem seus altos e baixos.

Bruno Christophalo


Nossos trilhos tem Cambará, árvore que vive mil anos, explicou a banda. Acho que dá pra ficar tranquilo. E mesmo no vácuo, ainda é possível se encontrar numa relfexão instrospectiva. Mas é impossível não mecher o Citoesqueleto, mesmo que Partículas Apaziguadoras venham nos acalmar.

E é no balanço dançante, suave, que nossa viagem prossegue. Alguns cuidados para reparar possíveis desregulagens no som. E a noite foi entrando cada vez mais, e o Grito Rock cada vez menos. É, estávamos no fim.

"Obrigado, obrigado, Deus abençoe vocês", assopraram.

Fotos Bruno Christophalo

Fotos por Renan Simão
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GR '12 | Música

Eu e a Banda
Texto por Renata Coelho
Fotos Ariane Theodoro

Se apresentando com a desvantagem de ser a primeira banda da noite, com a casa ainda pouco cheia, a banda bauruense “Eu e a banda” mostrou um som rock com pegada pop, ou vice versa. Duas vozes se faziam ouvir, com o guitarrista compondo uma segunda voz.


A playlist foi composta de títulos no mínimo curiosos, como “Peixe grande de olho pequeno” e “Flores na canela”. A música “Matusalém” parece refletir todo o evento no seu refrão, quando insiste em dizer que “meu grito é mais forte”. Outra canção tem como mote o refrão “silêncio é um defeito”.


Coincidência ou não, “Eu e a banda” parece ter selecionado, produzido e reproduzido cada uma dessas composições para o Grito Rock.

Ainda teve mais três bandas que se apresentaram nessa noite de GR '12 Bauru. 


João e os Poetas
 por Ana Beatriz Assam

Foi como se Lugar Comum tivesse se desprendido do resto do show.

“Ei, som, alô”. Repetida várias vezes pelo vocalista logo após a primeira música, a frase marcaria o show da João e os Poetas de Cabelo Solto. E ainda voltaria para assombrar mais vezes, entre uma faixa e outra.

O som não estava bom. Tanto para nós, como para eles. E permaneceria assim. “Não é um som fácil de passar”, eu ouviria no dia seguinte em São Carlos, por onde os caras haviam passado um dia antes de chegar a Bauru. Mas alguma coisa me diz que faltou boa vontade. E não foi por parte da banda.

Tentando superar os problemas, a João continuou seu show. Um cover de Móveis aqui, um bolero rock’n’roll ali e aos poucos, pontuaram dançarinos em meio a uma platéia tímida.

O cover de “Soma” do Strokes apareceu na setlist para comprovar a teoria que tenho com um amigo: metais fazem diferença.

Gravada especialmente para a coletânea “Is this Indie” do site Rock’n’Beats, a música faz parte de uma homenagem feita aos 10 anos do “Is this It”, primeiro álbum do Strokes.

A João é uma banda bonita de se ver em cima do palco. E apesar dos pesares, tem certas coisas que nada esconde. Os caras realmente gostam do próprio som. Está explícito.

Olhos Rasos finalizaria a noite, visivelmente triste para a banda. Mais tarde, sentada com os meninos, ao falar sobre o público escasso e os problemas no som, fui indagada com uma frase. Essa, por sua vez, marcaria minha noite.

“Porque Bauru é assim?” Juro que eu queria entender.


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Não é Los Hermanos, é Marcelo Camelo!

15 de março de 2012
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Por Luana Rodriguez
Intervenções de Laís Semis
Fotos por Wilian Olivato e Cássia Vila

Foto de Cássia Vila
Rostos conhecidos. Rostos desconhecidos. Uma multidão que se aglomerava em frente ao palco e acompanhava todas as músicas de Camelo. Foi esse o retrato do show do ex-músico dos Los Hermanos, que agora, em carreira solo, apresentava ao público o seu segundo CD, “Toque Dela”.

É complicado. Assim como a banda Extreme será sempre lembrada pelo sucesso de "More Than Words", Daniel Radcliffe por ser Harry Potter, Marcelo Camelo sempre será o cara daquela banda que toca "Anna Júlia".

E o show se iniciou com “A noite” e logo de cara a platéia percebeu que aquela linha triste, meio depressiva, se estenderia pelo resto do espetáculo. E em seguida vieram músicas como “Ô ô”, “ Tudo que você quiser” , “Menina bordada” e “Mais tarde”, e, nesse momento lágrimas já rolavam por alguns rostos.

Mas não teve jeito, o momento mais emocionante da noite foi quando Camelo tocou “Janta”, só na voz e no violão. 

"Janta" é um retrato romântico. Ela é uma canção mais popular - e não só porque caiu na boca do povo. A letra de "Janta" é muito mais fácil de se identificar nos romances sofridos do que as solitárias cinco linhas de "Saudade", em que se exige uma entrega (e um pouco de paciência, às vezes, pra aprender a admirar).

“Casa pré-fabricada”, cantada já no final também merece destaque. Como são bonitos os versos “canta o teu encanto que é pra me encantar”...

- Tá bonito? – perguntou Camelo
- Tá triste! – alguém respondeu.

Existe um problema em vender ingressos baratos, infelizmente: as pessoas compram simplesmente por se tratar de alguém ligeiramente conhecido - tal do cara do Los Hermanos - e não se importam com a música. Não respeitam nem se interessam pelo trabalho de quem quer que esteja ali em cima do palco. As conversas paralelas durante as canções foram muitas.

E o que falar dos músicos que acompanharam o show? Ah, isso é um caso a parte. Como tinha gente naquele palco. Como tinha instrumentos ali. Instrumento de sopro, de percussão, de corda. Trompete, trombone, gaita, chocalho, violão, guitarra, baixo... Os meninos da hurtmold mandaram bem.

Foto de Wilian Olivato


Ainda no show, Camelo cantou músicas como “Doce solidão”, “Pretinha” e “Copacabana”, mas o publico que acompanhava todas as músicas com palmas, foi ao delírio quando Marcelo lembrou de “Morena” e deixou o público cantar seus versos “É, morena, tá tudo bem/ Sereno é quem tem/A paz de estar em par com Deus”.

O repertório de melancolia tem sua beleza particular e é lindo à la Marcelo Camelo. É a sua essência. E também não sai disso. "Toque Dela" é um disco que não explora muito além do que já tinha sido ouvido no álbum anterior, o sentimental "Sou" (ou "Nós", se você preferir).


Foto por Wilian Olivato


E com direito a Maria Rita e samambaias distribuídas pela platéia (ensandecida) o show se encaminhou para o fim. 

As meninas se estapearam pra ficar e cuidar a pedidos de Marcelo Camelo das samambaias que enfeitavam o palco integrando um cenário verão que combinava com o som e com a camisa estampada levemente do cantor.

A saidera foi “Além do que se vê” e foi só no momento em que as luzes se acenderam que o público percebeu que o show tinha acabado. Simples assim. Não teve bis.


Confira toda a cobertura fotográfica de Wilian Olivato:
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GR 12' | Grito #EnCena

AS PALAVRAS QUE NÃO SÃO DITAS
Por Jayme Rosica
Fotos por Barbara Cavallieri

A dança não necessita de palavras, se traduz em movimentos, em passos, em com-passos. Expressão máxima do corpo humano, se distingue da música, da literatura, por ser a arte onde se diz tudo, sem que seja necessário dizer nada.

Foi assim, mais ou menos assim, praticamente assim, que o Cabaré Fora do Eixo no Celina Neves possa ser resumido.

Com um gingado pra cima, começou com um forró, embalou no break, partiu para a dança do ventre, fechando com a dança contemporanea.

Corpos rodando, e expressando o que em centenas de caracteres não conseguirei expressar fielmente por aqui.

Uma intervenção em sua mente, o rodopiar das pessoas, o rodopiar do seu pensamento.

Apresentações de uma noite em que a linguagem corpórea vence por nocaute a linguagem expressa em palavras. Mais ou menos assim, praticamente assim...

Wasimu, Bauru Breakers, Casa do Forró, Jade e Maizum, destituiram a palavra do seu trono imponente de linguagem universal, colocando suas expressões corporais combinadas ao som em seu lugar.

Simples assim...

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GR '12 | Clube do Vinil

Sobre long-plays, repúblicas e mercado
Por Laís Semis
Foto Bruno Christophalo 


Isso vai soar clichê e fantasiosamente velho, mas as festas de república mudaram. É, portarias mais caras, casas insuportavelmente mais lotadas, ninguém mais se conhece. E são poucas as que ainda se importam em trazer uma banda legal ou caprichar na discotecagem. A verdade é que elas se tornaram grandes negócios. Negócios.

É legal poder variar esse quadro. Foi num clima mais intimista que surgiu o Clube do Vinil. Intimista e saudosista. Muita gente é mais entusiasta nesses anos 00 dos vinis do que dos CDs.



Projeções sugadoras, LPs descendo por fios pelo teto, luzes coloridas, poltronas espalhadas pela sala. Reunindo esses amantes e os curiosos, o Clube do Vinil proporcionou a troca desses produtos, agradáveis troca de ideias e a criação de uma playlist conjunta em vitrolas dentro de um ambiente legal e favorável a esse tipo de iniciativa, a sede do Enxame Coletivo.

Paredes grafitadas, acervo, sala de máquinas. Esse é um ambiente que respira e exala a cultura.  É de programas assim que Bauru vem carecendo, programas menos impessoais e menos comerciais, que agreguem uma troca mais intensa e próxima entre quem participa.

Fotos por Bruno Christophalo


Fotos por Jessica Mobílio
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(Des)Monte Bazar Colaborativo

14 de março de 2012
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O e-Colab e o Enxame Coletivo co-realizam, colaborativamente o (Des)Monte Bazar e convidam grupos e pessoas interessadas a participar desta ação coletiva. O evento será na sede do coletivo, no próximo sábado (17/03) a partir das 15h.


Pensando em propiciar um ambiente favorável à trocas, tanto de produtos como de informação e conteúdo, rola comes  e bebes, projeção e discotecagem pra tornar o encontro mais dinâmico.





Todos os interessados em expor materiais, brechós e móveis, devem entrar em contato com o Enxame Coletivo o mais breve possível. Acessem o regulamento e a fanpage do Bazar no Facebook para mais informações.

Serviço
Data: 17/03 (Sábado)
Local: Rua Agenor Meira 12-39, Centro.
Horário: 15:00
Tel: (14) 3208-2057
Cel: (14) 9760-6646
Louise.
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GR '12 | ExpoGrito + #Pós-TV

13 de março de 2012
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Fotos por Lúcia Guimarães

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GR '12 | Discoteca Grito

Discoteca
Por Laís Semis
Foto por Ariane Theodoro

Os pontos celestiais verdes no chão formavam uma sequência de desenhos infantis que só eram vistos porque o pub estava mais vazio que de costume. O som batia lá fora, do outro lado da rua. A Duque vazia. O Jack vazio. Hoje é quinta-feira. Hoje o Grito é eletrônico. Aeromoças e Tenistas Russas estampa a camiseta do DJ. Tudo é um grupo pequeno de pessoas. Somos o bar todo dançando entre amigos.

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GR | Rio Preto | 3º dia

12 de março de 2012
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Tigre Dente de Sabre
Por Laís Semis

No dia em que o Timbre Coletivo completa um ano acontece o último dia do primeiro Grito Rock Rio Preto. Depois de uma tarde de programação intensa no SESC, com mesa sobre cinema, apresentação da Tropa Trupe, M.u.t.e., Huey, Sub Loco e o Fator Acochativo, Bnegão e Seletores de Frequência, a noite começou com as nossas já conhecidas Aeromoças e Tenistas Russas, de São Carlos. E seguiu madrugada a fora com um impulso mais eletrônico.

Há cerca de 12 mil anos, na América do Sul e do Norte existiam mamíferos com caninos de 20 centímetros, conhecidos como Tigres Dente de Sabre. Extintos. Mas não. Essa banda de Bragança Paulista, como é fácil notar, é bem peculiar. 

É pela entrada da Cervejaria Riopretana que o baterista começa tocando um trompete até o palco. Maquiados, lápis pretos exuberantes. É como se eles tivessem juntado uma porção de coisas inusitadas. Imagine um Cure, de joelhos rasgados, com alguns mega dreads dançando por baixo dos cachos oitentistas enquanto empunha um baixo. Um baterista de olhos egípcios, com uma faixa vermelha amarrada na cabeça e um peitoral falsamente arranhado por tigre enorme. É, pelo visual, não dá pra imaginar o tipo de som que eles  fazem. Uma dupla i-na-cre-di-tá-vel.

Ao fundo, o universo projetado. Com uma estranha e interminavelmente enérgica presença de palco é difícil desconcentrar os olhos deles. Na falta de um frontman, o baterista ilumina-se, dá seu próprio show; toca de pé, leva os pés até a altura dos pratos, faz muitas caras, comunica-se intensamente com o público enquanto toca. É um grande teatro.

A platéia se deixou eletrocutar. Então, ele deixa a bateria e se torna de volta ao trompete e como serpentes encantadas, a platéia se curva. É um terremoto, a galera grita, a bateria ameaça desmontar, tudo treme. Treme. O baixo vai parar na platéia. E quando o show termina, a casa continua lotada, e os impulsos eletrônicos, continuam pulsando.

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GR | Rio Preto | 2º dia

10 de março de 2012
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Ontem rolou no SESC Rio Preto, o segundo dia do Grito Rock. A programação do Festival incluiu uma Oficina de Projeções Imaginárias com o VJ Ocari, seguindo com Felipe Altenfelder debatendo o tema "Cultura colaborativa em rede" nas #Conversas Infinitas. A tarde continuou com as bandas Contos de Réis, O Jardim das Horas, O Sonso e DO AMOR. E na sequência, na Cervejaria Riopretana, o Grito trouxe Taroba, Stereomind, The Brisantinos, Visitantes e Monkberry para fechar a noite. Confira a cobertura fotográfica do Grito Rock '12 Rio Preto do dia 09/03.


Fotos por Alexandre Kaldera


Fotos por Nathalie Gingold
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GR '12 | Entrevista Vanguart

Papo de Boteco
Introdução e transcrição por Luís Morais 
Entrevista por  Luís Morais, Lígia Ferreira, 
Renan Simão (e-Colabers) e  
Thales Schimidt, Felipe Amaral e Solon Neto
Fotos por Renan Simão

A proposta era uma entrevista. Quando os 6 integrantes da Vanguart sentam na mesa e aguardam as perguntas, logo percebi que seria algo diferente. Não era aquela chatice de uma pergunta padrão e uma resposta padrão para a mesma. Era um bate papo. Uma roda de conversa. Com todos respondendo.



Só faltava o ambiente de buteco e algum som no fundo. As latas de cerveja com copos cheios de biscoitos eram o que a banda desfrutava. Em frente a eles, cerca de 10 jornalistas, fotógrafos e videomakers fazendo o seu trabalho. Que ficou muito mais divertido do que a padronizada entrevista coletiva.

O resultado da meia hora de conversa vocês leem a seguir. Sobre vários temas. Mas tudo em torno do principal: cultura. No caso, a musical. E o Vanguart deu uma aula de como as bandas novas devem se virar hoje em dia. Além de falarem sobre Lobão, Cida Moreira, festivais independentes e muito mais.

Não é uma entrevista. É a transcrição de um papo de buteco. O que vale, e muito, a pena ler.

Vocês agradeceram ao SESC por vir tocar aqui hoje. O que é tocar de graça pra galera?

Hélio Flanders: Indo bem na raiz da questão, Brasil é um país de muita grana onde todo mundo está fodido. Isso não faz muito sentido. E tocar de graça é sempre algo muito especial. O SESC é uma benção no nosso cenário. Não faz mais do que a obrigação, mas isso no nosso país já é muito. Mas não é só porque eles estão fazendo a obrigação que nós não vamos valorizar. Tocamos com um som bom para pessoas bacanas. Nós temos que valorizar quem está fazendo algo pela nossa cena cultural. Muito mais do que para a cena rock ou qualquer outra coisa.



O público que acompanha vocês, hoje (dia 7, dia do show) foi mais universitários. Mas nos shows em geral, como é?

Reginaldo Lincoln: O nosso público varia muito, mas muito mesmo. Os shows que a gente mais gosta são os shows livres, não de pagamento, mas de censura livre. Crianças assistindo shows com os pais, avôs. E ainda conseguimos manter uma comunicação muito legal durante o show. E eles gostam do momento, gostam da banda ou gostam de alguma canção em especial. E temos pessoas de várias idades, de classes sociais, etnias.
Luiz Lazarotto: E o SESC proporciona isso pra gente. Muita vezes a gente toca em balada, 2 da manhã, só pode entrar maior, e aí você pega e faz um show mais cedo, 9 da noite, censura aberta. Lembro até do último show em Araraquara que tinha um casal, um tiozinho e uma japonesa que ele a usava como guitarra até.
Reginaldo: E legal também que é a viabilidade da sobrevivência da banda. No caso o cachê, a gente vive disso. Ninguém dá dinheiro pra gente a não ser nosso show. O SESC sempre tem oportunidades ótimas de cachê, de lugar bom pra tocar com um som bom, e dá oportunidade para o público de qualquer classe, com 1 real ou 30 reais assistir aquele artista.
Fernanda Kostchak: O que eu acho legal é que pelo fato de ser gratuito começa a inspirar no público essa atitude que hoje na internet existe muito de você procurar. Você tem uma infinidade de opções na internet, só que aquela atitude de sair de casa e ir atrás de uma coisa que você gosta não é ainda do nosso cotidiano. E tendo espaço e ambiente pra isso, começa a tirar do mundo virtual onde você assiste o show que quiser gratuitamente e trazer pro espaço físico, vir aqui prestigiar uma banda, e fazer disso também seu cotidiano cultural.



E para vocês, qual é a importância dos festivais independentes?

Hélio: Sendo bem sincero, hoje no Brasil não tem essa de “eu sou isso, eu sou aquilo”. Se a gente tá lutando pelo mesmo ideal, tem que trabalhar junto e unir forças. Juntar um Grito Rock, por exemplo, que é uma das ideias mais legais dos últimos anos.
(nesse momento, Douglas lembra que o Vanguart estava no primeiro Grito Rock em Cuiabá, e Reginaldo comenta que eles venceram, e como prêmio fizeram outro show)
Douglas Godoy: Não que eu não goste de carnaval, mas o Grito Rock foi uma opção naquela época, que todo mundo queria fazer, mas ninguém tinha coragem em Cuiabá. Todo mundo achava que não ia dar certo você fazer rock no carnaval. Mas no Carnaval você pode se divertir com rock, samba, pagode...
Hélio: Falando sobre esse paralelo: o SESC tem feito um trabalho louvável. Os festivais independentes, idem. Hoje pra gente foi uma surpresa muito boa, saber que esse show está veiculado ao Grito Rock, com os coletivos daqui de Bauru, que tem tudo a ver com jovem, com universitário, especialmente com gente que batalha pela cultura. Eu acho que isso é vital. Daqui há uns anos isso vai continuar vivo dentro de vocês, eu espero. E vão passar isso pra outras pessoas, que vão pelo menos ter tempo hábil pra isso.
Reginaldo: Porque você acredita o seu tempo naquilo. Independente de você ter um ganho ou não, você faz aquilo porque você quer fazer.
Hélio: A gente faz porque é artista. Você faz porque são jornalistas, videomakers, etc. Acho que isso é uma grande troca, e parece que hoje é normal. Mas não, isso há 5 anos não existia. Ou você era o Capital Inicial ou você não era nada. E hoje a gente tem grandes bandas no Brasil que sobrevivem na medida do possível na honestidade do seu trabalho árduo e apaixonado, através disso: de Grito Rock, de festivais, de pessoas que estão aqui. A gente parou de olhar só pro nosso umbigo e tá olhando pro amanhã. Pode parecer ser meio sonhador, mas no fundo é isso. Que seja pra nós mesmo, se a gente tá pensando em algo melhor ou algo pra depois.



O que vocês não fizeram que ainda tem muita vontade de fazer?

Hélio: A gente só quer gravar bons vídeos e fazer shows legais com pessoas legais na plateia. As vezes fazemos uns shows nada a ver, com uma galera “chacoalhando joia”, pagando ingresso caro. O legal é esse que rolou hoje. Parece que foi crescendo porque a gente foi falando “ó galera, a gente tá aqui porque a gente gosta, essa é a nossa vida. Eu to com a voz ruim, mas tomei umas biritas, acho que vai rolar cantar”. Tocamos Luiz Gonzaga, tocamos Dorival Caymmi e nossas músicas. Isso foi tudo que a gente tinha pra oferecer. E a gente saiu e tinha uma menina chorando dizendo “muito obrigado, hoje foi muito legal”. Pronto, pra mim a arte é isso. “Ah, pretensioso, arte”. Não, arte é isso, como é o quadro daquele doidão que você ri dele no campus, aquilo é arte também.

E essa relação que vocês tem com Beatles, de tocar paralelo com a banda de vocês, e a cena independente, que em Bauru é muito forte, que tem muita banda independente.

Reginaldo: Tem cidades pequenas que existem uma grande manifestação autoral. E eu não vou nem cita-las. Mas São Paulo por exemplo existe uma grande manifestação do cover também.
Hélio: Infelizmente de uns 2 anos pra cá o Brasil está sendo tomado pelo cover. E a gente tem culpa nisso, porque temos um show de Beatles. Infelizmente nós temos que pagar o aluguel. É uma maneira de se vender de um modo que você gosta. A gente preferiu tocar Beatles uma vez por mês e não ter que mudar nosso som pra agradar ninguém - e nem arrumar um emprego. Não adianta se iludir ''ah, monte sua banda independente, vá tocar no Brasil que você vai pagar seu aluguel”. Você não vai pagar seu aluguel, não existe essa ilusão. É muito difícil você sobreviver fazendo sua própria música. Eu discordo daquela: “ah, mantenha seu emprego e continua sua banda”. Acho que não, acho que você tem que gastar o máximo do seu tempo com a sua arte, se não ela nunca vai pra frente, mas ao mesmo tempo você tem que dar um jeito. Isso é o “brazilian-way”, né. O nosso jeito foi tocar Beatles.
Reginaldo: Na verdade o Vanguart é um coletivo também, como o Fora do Eixo. Você tem que se manter. Você tem que ter um dinheiro. Que seja um que esteja conseguindo dinheiro pra todo mundo fazer a mesma ideia funcionar. Eu já vi isso acontecer.
Hélio: O problema é que nunca tivemos um patrão. Nós não somos de família rica, nunca tivemos alguém pagando. Nós tivemos que trabalhar, dando aula de inglês ou tocando Beatles. Então é isso, dê o seu jeito, mas nunca abandone a arte. Tem gente que se mata de trabalhar para assistir o jogo no domingo. A gente se mata de trabalhar, ou fez isso 5 anos atrás, pra poder estar viajando e tocando nos festivais, e hoje a gente vive dessa banda. Você só não pode mudar o que não deve ser mudado por conta de dinheiro. Dê outro jeito mas mantenha sua arte intacta. Isso você nunca vai se arrepender de ter feito.



No lançamento do seu primeiro CD, vocês tiveram a parceira com o Lobão. Portanto está diretamente envolvido com a história da banda. Como foi essa troca, como é a relação de vocês hoje?

Douglas: A princípio a gente nem conhecia o Lobão, a gente sabia que a revista era dele, e falamos com o pessoal dele ”ó queremos lançar o disco”. Era a mulher dele que o representava, no primeiro momento a gente nem tinha contato com ele. A gente foi ter contato com o Lobão muito tempo depois.
Hélio: Voltando ainda mais, em 99 eu me lembro que comprei na banca “A Vida é Doce”. Eu ouvi aquele disco meio trip rock e minha cabeça nunca mais voltou ao normal. Naquele disco eu chorei, sorri, me formou de alguma maneira muito profunda. Ouvi também “Noite” de 97 e “Nostalgia da Modernidade” de 94. O Lobão dos anos 80 não dizia pra mim, mas o dos anos 90 sim. Eu me lembro que no show ele falava “Nostalgia da Modernidade, 10 mil discos vendidos – um fracasso para a época”. Então ele era o fracasso dos anos 90. Mas aqueles discos disseram tanto em poética, em musicalidade, em personalidade dele falando que eu nunca mais fui o mesmo. Depois em 2006 foi curioso, a gente gravou o Som Brasil e lançou com ele ao mesmo tempo. Então, cheguei no camarim e disse “João Luiz Woerdenbag – quando sou fã eu leio a biografia – bicho, eu ouvi muito 'A Vida é Doce'. Seu disco mudou a minha vida, muito mais que 'Rubber Soul' dos Beatles ou 'Pet Sounds' dos Beach Boys”. E o Lobão ter aparecido na nossa história é algo que me emociona muito, porque é um cara que é importantíssimo pra mim. As minhas letras tem influência dele. Eu não sei até quando plagiei o Lobão. É só você digitar no Google: “Rap para o Mano Caetano” e você vê que a importância do Lobão é a mesma de um Caetano, de um Gil. É um cara que quando ele morrer, daqui 30 anos, todo mundo vai valoriza-lo e vão dizer: “O Lobão não era só aquele louco, ele era um cara muito foda”. E hoje posso dizer com o maior orgulho: O Vanguart é uma banda paralela ao Lobão. A gente é filho dele, porque é um dos maiores artistas que o Brasil já teve. E ele adotou a gente.

No Ep de 2005, vocês gravaram músicas do disco solo do Flanders. Nesse EP dizia muito que é o Vanguart. Então o que é o Vanguart? E o Vanguart de 2007 é o mesmo do disco de 2011?

Douglas: Acho que dizia muito do Vanguart de 2005, assim como em 2007, e o Vanguart em 2011 é outro Vanguart, mas continua sendo igual ao mesmo tempo.
Hélio: Isso que ele falou é exatamente a verdade. Vanguart sempre foi uma banda mutável. Era uma banda que era só eu tocando voz e violão. De repente chamei a rapaziada e virou outra coisa. Em 2007, com Semáforo e músicas em português virou outra. A gente sempre buscou lançar um trabalho que diga o que você é. Sempre lançamos algo, e a partir daquilo começamos a tentar desmentir o que nós éramos. Que é um comportamento artístico por natureza. O que nós fomos em 2007, em 2009 nós desmentimos. Em 2011 nós desmentimos o que nós eramos em 2009. E no próximo álbum, obviamente faremos o mesmo. O nosso último disco é muito triste e estamos num momento muito feliz. Então logicamente a gente vai deixar de ser o que somos no próximo álbum. Acho que isso é o Vanguart. Não estamos fazendo nada novo. A gente só está deixando de ser o que nós éramos.

(Uma breve pausa do papo. Hélio termina a resposta elogiando os desenhos do David. O guitarrista passou a entrevista toda desenhando caricaturas do resto da banda, inclusive algumas nossas também. Ele justificou que “se não fizer isso ele se descontrola”).

E como é a sua relação com a Cida Moreira, Hélio?

Hélio: Bicho, eu gosto de quem morre no palco. Tem até uma frase do Emicida: “escrever é como quem vai morrer no dia seguinte”. A Cida Moreira eu a conheci em 2000, cantando Bertolt Brecht. Aí eu tava em São Paulo em 2007 e um amigo meu falou “fui no show daquela cantora que você gosta”. Fui falar com ela no camarim e me disse que conhecia Vanguart. Ela gravou “Semáforo” num projeto Pixinguinha que fez. E eu fiquei absurdamente maluco porque é uma das minhas cantoras favoritas. E desde então a Cida é uma referência pra mim, musical e pessoal. Se eu estou perdido, eu ouço um disco dela, eu ligo pra ela, eu vou na casa dela e a gente se resolve. Ela tá na capa do disco e vai participar de coisas seguintes. A gente faz shows com ela. É uma das maiores cantoras do Brasil. Por que que ela não é uma Bethania? Porque nunca agradou ninguém. No Brasil você paga um preço caro por ser isso. No show dela vai ter 400 pessoas que morrem por ela. E no show do Paralamas vai ter 10 mil que nem sabem o que tão falando. O Brasil carrega um pouco disso. Sem achar que a Cida é foda demais nem a gente. Mas você paga um preço caro pra falar a verdade no Brasil. E a Cida Moreira é isso.

Em relação ao último CD, esse parece ter uma maior preocupação com a melodia, com a poesia, com a canção. E como foi introduzir o trompete, e a Fernanda com o violino?

Hélio: O trompete eu já estava aplicando esse golpe em casa, foi natural botar em algumas músicas. A gente queria deixar de ser a gente, então naturalmente a gente mudou alguns elementos. Eu queria parar de tocar violão um pouco. Conhecemos a Fernanda fazendo um show de Bob Dylan e chamamos ela sem pretensão. Ela arranjou duas músicas: “Das Lagrimas” e “O Que A Gente Podia Ser” e vimos que era o que faltava. Então ela acabou vindo com a gente nessa loucura. Vestiu a camisa de uma maneira muito bela.

Fernanda: Tenho a ver com a história do Vanguart, nessas coisas de quebra de padrão. Violino não tem que necessariamente estar numa orquestra, tocando em casamento ou tocando nesse segmento que todo mundo o vê. E mesmo porque em muitos outros países, violino é instrumento de banda. Hoje tem o movimento “new-folk”, que virou meio carne de vaca. Mas não era bem isso que a gente queria aqui no Vaanguart. Era realmente de quebrar alguns estigmas.
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A conversa ia se encerrando ao mesmo tempo que o SESC já esperava sairmos para fechar. Algumas brincadeiras de semelhanças do produtor com o baterista, uma chamada pro Bar da Rosa e um bate-papo ia se encerrando, pelo menos naqueles cantos.

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