É Romário!

30 de setembro de 2011
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Por Laís Semis e Artur Faleiros


O segundo dia do FESTINBAU começou mais cedo nessa terça-feira, já que a programação do dia incluia, além da programação artística do Festival, duas oficinas na parte da tarde. Uma trabalhava o corpo, essa massa definida pelos participantes da oficina “Impulsos Criativos e a Criação no Corpo do Ator” como uma estrutura que nos carrega e é carregada por nós, como isto - esse 1,65 aqui, como uma parte do todo, como máquina, como tudo.

Foto por Laís Semis

- 1,65m e dentro desse 1,65 tem o infinito. Memórias físicas, memórias ancestrais. Tem uma parte do corpo que também é “isso”, uma parte do corpo não tem nome - foi fazendo leitura sobre o corpo André Capuano, ator, diretor e preparador corporal, formado pela Escola de Arte Dramática de São Paulo e professor de Teatro Físico e Máscaras.


Experimentar as esferas de vida. “Teatro é um espaço pra gente experimentar estar vivo e ponto final. O palco é um espaço pra ampliar a vida [...] ‘Impulsos Criativos e a Criação no Corpo’... e o que é isso senão vida?” se questionou refletindo sobre o nome da Oficina na sala acima das escadas, André.

Enquanto isso, nos fundos do Centro Cultural Celina Neves, a outra oficina trabalhava o texto diferenciado para cada linguagem, trabalhando as possibilidades significativas. “No princípio era o verbo”, trazia Imara Reis, por trás de seus imperceptíveis óculos vermelhos, pregando como usar as vozes em relação ao aparelho fonador e como detectar qual é a necessidade para cada tipo de trabalho, texto e personagem. Como o ator deve lidar com o texto e encará-lo além das chatices concebidas nas aulas de português. Encará-lo principalmente porque o teatro se trata de experimentações, práticas e aprimoramentos. “Na vida não somos todos Romários - temos que correr atrás da bola e treinar”, aconselhou Imara.

Foto por Laís Semis

E o quê cômico se fez presente nos diálogos e apresentações das duas oficinas que reuniu dos futebóis ensolarados dos meninos de 13 anos ao cuidado das vós setentonas presentes neste FESTINBAU.

A noite voltou com ainda mais energia na partida. Com recorde de público na casa a bilheteria acusou pouco mais de 80 entradas. O primeiro dia do “campeonato” de cenas curtas do FESTINBAU começou com nove apresentações (A apresentação “dois perdidos numa noite suja” foi remarcada pra amanhã) que duraram cerca de uma hora e meia.

No local que um dia foi a casa de Celina Neves (mãe do diretor da Cia Paulo Neves - o próprio - e avó do Thiago, um dos realizadores e articuladores do Festival) hoje subiram ao palco artistas jovens e idosos com dramas e comédias para entrar no jogo. Vários números inéditos e com artistas que pouco bateram bola com o público, outros mais experientes e demonstrando mais intimidade na tabela com os presentes e com o espaço.

Depois das apresentações, mais um ótimo bate-papo com o time de oficineiros (André Capuano e Imara Reis -do projeto Ademar Guerra) e convidados (Carlos Meloni, Presidente da Associação de Teatro de Bauru e Marco Giafferi da Cia Titius de Teatro) que trouxeram um feedback para cada uma das apresentações numa conversa mais intimista com os artistas na sala que também era o vestiário pra quem ia trocar o uniforme e entrar no palco.

Os quatro ficaram lá quase uma hora e meia para pontuar possíveis melhorias para cada um dos que haviam se apresentado. Com dicas de movimentação, voz, intenção, ação, representação etc a conversa foi fluindo. A postura da mesa demonstrava a vontade de troca e qualificação do teatro. O FESTINBAU vai indo muito bem, obrigado. Os objetivos estão sendo buscados com bastante pró-atividade e colaboração dos envolvidos e tem fluído de maneira satisfatória, gol a gol.

4h00 da madruga e estamos na sala, Artur Faleiros e Laís Semis terminando a cobertura e engatilhando o release que deve sair para divulgação no fim de semana. Movimenta Bauru, a cidade demanda e estamos prontos para a próxima partida, do nosso lado temos vários craques do teatro de Bauru que se uniram para buscar a taça.




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E com vocês, Festinbau!

29 de setembro de 2011
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Fotos por Aline Ramos e Rafael Kage
Texto por Pamela Morrison
Balada de um louco


Quarta feira, 28 de setembro, uma noite qualquer para uns e para outros uma luz no fim do túnel. Para quem esteve presente no Festinbau, Festival de Teatro Independente de Bauru, pôde sentir ao sentar na arquibancada do “circo” que sairia de lá com perspectivas maiores para si com a peça “Balada de um palhaço”, dirigida por Paulo Neves e texto de Plínio Marcos.

Arrepio logo de cara ao ouvir o palhaço Bobo Plin tocar sua sanfona. No rosto um ar de ingenuidade que encanta e na alma que diz ser um “guerreiro tentando encontrar seu ponto de equilíbrio".

O espetáculo enfatiza o homem moderno. E o embate filosófico entre o palhaço Menelão que não compreende a fase melancólica de Bobo Plin. Tornando-se o contestador de sua determinação. Peça de grande crítica social interpretada com palhaçada.

Foto: Rafael Kage
























O debate ocorrido em cena é forte. Pura crítica moralista envolvendo também a normose (patologia da normalidade/ doença de ser normal). Bobo Plin defende o erro dos seres humanos terem se tornado cães castrados por essa maldita sociedade de consumo. E te digo: vivem, ou melhor, estão presentes como cães adestrados que se acostumaram com a coleira, porque o difícil não é você parar de pensar, e sim sair da miséria de “ser”. Pois o homem normótico afirma que todos são medíocres. E isso é algo comum, rotina, trabalhar, trabalhar, trabalhar, comer, dormir, televisão.

O espetáculo entra na mente, pisa no calo do homem medíocre e a verdade o angustia. Tocando a sua ferida mais profunda, pessoas conseguem sair da peça e dizer que não gostaram ou até que não entenderam. Mentira, doeu.

A dor da humanidade é a repetição, nos sentimentos privados dos sentidos, dos sentimentos, de repente se tornou “brega” sentir. A maioria dos palhaços acabam loucos, antes louco do que não rir de si mesmo! A peça me fez refletir, e a quem prestou atenção aos detalhes das palavras também entendeu como é muito mais importante você sentir um alívio ao rir e chorar do que tentar fazer os outros rirem.

Aconselho a todos que não foram, que vejam o espetáculo. E por fim, perdoo quem não tem olhos para verem e ouvidos para ouvir. Então subo ao monte enquanto tenho pernas!



Fotos por Ana Beatriz Assam e Rafael Kage
Texto por Aline Ramos
Pontos de equilíbrio

Hoje eu quero os palcos de volta, quero a coxia, o público. Quero que alguém me deseje "merda". Quero boas jogadas, quero GOL! GOOOOOL??? Enquanto entram no campo, Brasil e Argentina, aproximadamente 25 pessoas discutem “Estética e Arte”.

E todo mundo ali, queria menos anestesia. Em tempos de “trabalhar, trabalhar, trabalhar, comer, dormir, televisão”. SKY, NET, novela das oito, O Astro, Mano Menezes, Borges e Neymar, para Paulo Neves, são esses os anestésicos a que se referia.

“A galera anda meio brava com o audiovisual, né?”, a equipe de cobertura se questiona. Não, não é com o audiovisual. É com a falta de sentido que o palhaço Bobo Plin reclamou minutos antes. É com a ausência da troca. Por que teatro é isso, palco e público. Ator e plateia.

Foto: Rafael Kage


Teatrólogos perdoem se estou dizendo coisas repetidas e conhecidas por vocês. Não há nada de novo. Mas é que aquele quintal de casa iluminado pelo monólogo de uma estrela solitária no céu era novidade pra mim. O que dizer do pé de pitanga, laranja de doce e laranja lima? A nossa loucura estava bem servida.

Sai de lá, querendo fazer poesia, teatro, vida. Como disse Augusto Boal, “Todos os seres humanos são atores - porque atuam - e espectadores - porque observam. Somos todos 'espect-atores'”. Pronto, virei atriz.

Bobo Plin havia dito que todo ator busca seu ponto de equilíbrio. Então entendi, que na busca alheia, posso me encontrar. Por mais clichê que possa soar, no palco da vida estamos todos nos curando, nos encontrando.

E hoje, quinta-feira, dia que o cinema estreia cinco a seis filmes, o Festinbau terá em palco, dez cenas curtas. Mostrando que esse é o pontapé para o revigoramento do teatro em Bauru. Ou seria esse só um ritual do encontro? Não importa, estamos todos nos curando.

Nota: A mesa de abertura do Festinbau, contou com a participação bauruense de Marco Giafferi da Cia Titius de Teatro. Francisco Lima Dal Col do grupo Teatro Acidental (Campinas), Fábio Valério do grupo Protótipo Tópico e com a mediação de Paulo Neves (Bauru).


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Entre putas elegantes e santos poetas

27 de setembro de 2011
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Captação e edição de vídeo por  Nicole Corradi e Ligia Motta




Fotos por Bruno Christophalo
Texto por Ana  Beatriz Assam


BAURU CHIC*

Uma bateria sem tons, uma flauta transversal, um violino, um baixo, uma guitarra e uma voz. Preciso confessar: era minha primeira vez no Shiva. Bela escolha para minha estréia. Em cima do palco e fora dele, rostos conhecidos. É sempre assim quando você nasceu em Bauru, cresceu em Bauru e ficou em Bauru. Será que morro por aqui?

O show começou logo. Mas o bar ainda não estava completamente lotado, como ficaria mais tarde. Ainda não tava difícil de respirar. Melhor assim. A Universo Elegante tinha algo, que não combinava com lotação. E teve quem fosse só pra ver a banda. Uns até chegaram tarde demais. Não ficaram. Os motivos eram totalmente justificáveis.

Oito músicas próprias. Letras inteligentes e inusitadas. Um cover do Tim Maia. “Você”. Aquela do você-é-algo-assim-é-tudo-pra-mim. Só que com um arranjo diferente. A banda a chama de Linda Monique. Por quê? Nem eles sabem.

Mas ainda tinha aquele algo. Não é clima, não é feeling. É algo. Um algo poético, dá pra arriscar dizer. Corrijam-me se eu estiver errada. O show acabou logo. Uma pena. Mas é só o segundo que a banda faz, então a gente dá um desconto.

Fato consumado, algumas informações chegariam aos poucos. Já no show da Aleluia, Bitch, segunda banda da noite, puxei papo com a Paula Buceli, a menina da flauta. “A formação atual tem menos de um mês”. Conta outra! E o pior é que é verdade.

Além da Paula, o rosto da violinista Renata Wolff também era novo pra mim na cena musical bauruense. Mas os outros músicos ali já eram conhecidos. Figurinha carimbada. Então vou dar outro desconto. O Gustavo Richieri mesmo foi o guitarrista da noite. Tocou nas duas bandas.

Outro era o David Calleja. Da Baurets, lembra? Mas dessa vez ele tava no baixo. Ainda faltam dois integrantes. Dois ex-Norman Bates: Thiago Rodrigues e Luis Paulo Domingues. O Thiago é o baterista da bateria sem os tons. Bateria minimalista.

E o Luis Paulo? Cantava, profetizava, poetizava. Olha aí o meu algo poético. Todas as letras foram compostas por ele. E agora pescando na memória conto pra vocês que esse Luis Paulo é aquele mesmo Luis Paulo que me deu umas aulas no colegial. Falou de movimento hippie e prometeu que em seguida viria o punk. Os alunos reclamaram até conseguirem ‘depor’ o cara. Aquela história do gênio mal compreendido. Pra mim, só gênio.



*Nota: Você sabia que antes de abrigar o Shiva, aquele predinho ao lado do shopping era o Bauru Chic?

ALELUIA, IRMÃOS
Texto por Aline Ramos


Eu sai de casa para ir a um show e acabei parando num culto. É, eu sei, você fez uma careta. Tudo bem, eu compreendo. Mas cerca de 200 pessoas podem confirmar essa história. É, eu garanto isso, só me deixa explicar?

Estava ventando muito em Bauru. Ele me abraçou e me deu seu último beijo sabor nicotina. Apressei meus passos, já estava atrasada. Ufa! Cheguei no Shiva, já na portaria podia sentir o calor que emanava daquele lugar.

“Som, sooooom. Porra, chama o David aí”. É, eles não estavam de brincadeira. Já na passagem de som mostraram que Aleluia, Bitch era formada por putinhas. Boas putinhas, mas impacientes. Elas eram responsáveis pela liturgia da noite. Novamente você fez essa cara de espanto. Calma ai pow. É que assim, o Gustavo Richieri, o Guilherme Alquati, o João Ricardo e o Roberto Soares iam guiar o louvor na segunda parte do culto. Eles são jovens respeitáveis e exemplares, mas só até o show começar. No palco se transformam na Maria Madalena do rock alternativo sob a alcunha de “Aleluia, Bitch”.

Espera ai, me deixa chegar perto do palco. Meu deus, como esse lugar está cheio de fiéis. O show já vai começar. 1, 2, 3! All Star no pé, sorriso no rosto. Opa, a galera está animada mesmo! Tem um menino fritando do meu lado. Legal. Os corpos se movimentam, alguns pulam, outros dançam. Mãos para cima, olhos fechados. Qual é a sua prece?

O Velho Testamento é aberto e os patriarcas do indie rock são relembrados. Aleluia! Vamos para o próximo versículo. Os heróis alternativos são lembrados. Já no Novo Testamento, muitos deles transformaram vadiagem em rock. Outros multiplicaram a calça skinny e a camisa xadrez.

Estamos chegando ao Apocalipse e o menino que fritava ainda não se cansou. O Golias da bateria, Guilherme Alquati, é pura animação e caretas. O João Ricardo anuncia o fim do mundo, há quem não goste. O performático Roberto Soares, aka, Wii, já está com os cabelos molhados. E o Gustavo Richieri tá com a bola toda. Mamãe chegou pra assistir.

























Nossa, aquele menino ainda está fritando. De onde tirou tanta energia? Ele é o tiete mais fervoroso. O João anuncia mais uma vez que o Apocalipse está chegando, mas a congregação pede misericórdia. Mas não tem como, eles são santas putinhas que desejam alcançar a salvação.

Num acorde final, conseguem o perdão por tantos covers. Antes do show prometeram que esse seria o último assim, no próximo mostrarão do que são feitas as putas do indie. Amém, irmãos!


Nota: Shiva é um bar, mas quando sai, era um Templo. Você vai dizer que eu poderia ter me tocado ao ver a oração a Shiva [divindade indiana] ao lado da porta. Mas me dei conta de que o Shiva sempre é um Templo da boa música.

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Palavras de Lucidez

26 de setembro de 2011
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ou Vida Longa aos Homens de Bom Coração

Por Guilherme De Buenas

Fotos por Bianca Dias

Extremo: 1) Que está no ponto mais afastado; longe, distante. 2) Que atingiu o grau máximo.

Depois de derrubar o muro das lamentações, e pingar os sanguinolentos pontos finais na última Noite Fora do Eixo, cá estamos para elencar novidades e trazer conforto e acalento aos amantes do Harcore e derivados na cidade-sandubinha: Senhoras e Senhores, bem vindos ao digníssimo mundo mágico das Noites Fora do Eixo AO EXTREMO, e é com um inebriante brilho dos olhos que vos apresento os recém-chegados organizadores, o Canil Coletivo.

E fez-se o verbo...
Quando algumas portas se fecham, a gente tem pelo menos três formas de encarar a situação: abaixar a cabeça, colocar o rabo entre as pernas e sair fora atrás de outro pedaço; arrumar alguma janela para arrancar uns parafusos e tentar pular, ou a teceira, ARROMBAR!

Cheiro de novidade no ar, na cena underground bauruense, e em tempos de 20 anos do Nevermind, Smells Like a Teen Spirit, my frind! O Canil Coletivo nasce com o intuito de trazer rock pesado para os amantes do gênero na cidade. Simples assim.

Sempre achei que a PLURALIDADE sempre foi e será umas das grandes virtudes de grandes pessoas. Bauru passa longe de ser megalópole, mas uma das vantagens de cá, vendo a máquina por dentro, é a acolhida lindamente de neguinho de tudo o que é tribo. Como ja bem diz o hino “onde vivem neo-hippies, manos, nômades, caboclos...”. Aqui cabe tudo: cabem três vidas inteiras, cabe uma penteadeira, cabe pagodinho, sertanejo, axé e o logo da Skol no mesmo abadá, cabe festa de rap, festa de rep, programinha cult-pseudo-intelectual, bate-cabeça noisycore, tuntz tutz I gotta a feeling, enfins, tem pra todo mundo! É só chegar em ritmo de festa, cada qual no seu quadrado.


E esse é o intuito do rolê Extremo, trazer para a moçadinha um som mais pesado, que reflita outra ideologia. Assim, cada tribo se encaixando, sem erro, tem lugar para todo mundo!

Risque outro fósforo, outra vida, outra luz, outra cor e vamos as devidas considerações...

Primeira vez sempre e tenso, ninguém sabe onde colocar a mão direito, onde tá liberado, onde tem que ir com mais parcimônia... Ninguém sabia ao certo quantas pessoas marcariam presença, se tudo rolaria numa sintonia bacana, ou seja, aquela tensão sempre paira sobre a mente dos mais perfeccionistas. No frigir dos ovos tudo aconteceu da forma mais tranquila possível. Mais de 150 pessoas no rolê fritando com as bandas.

Uma vez meu pai, vulgarmente conhecido pela alcunha de Nandão me disse: “nunca abaixe a voz e não ande varrendo o chão com os olhos, você não é fracassado!”. Ouvi e compreendi, sem recíproca. Assimilei aquilo para mim como doutrina quase que espiritual, e no sábado, acreditei que todos os pais de todos aqueles músicos também tinham passado a mesma lição para eles. O fino do punk e do harcore está num poder vocal muito forte, e cada grito, liberava além de muitos decibéis, algo como “SE LIGA NA MINHA MENSAGEM, CIDADÃO”. Esse é o poder da música, fazer com que as pessoas sintam algo indescritível. É esse grito que arromba portas e destrói moinhos de vento. É disso que a gente precisa, sentir o vento em nossos rostos e arregaçar as amarras que nos prendem. Sem filtro, na veia. Só assim a gente consegue ser muito grande em poucos metros qudrados. O que nos dá coragem não e o mar nem o abismo, é a margem. Boa sensação estranha de sobreviver aos clichês e as modinhas.

Essa é a hora de ter gastrite e acordar com as mãos calejadas pelo esforço da noite anterior. Se não arregaçarmos as mangas e explodirmos toda a munição agora, o tempo amarela as fotos e te joga numa cadeira de balanço.

Aceitar parcialmente, discordar por completo. Vida longa a matilha!


Artigo DZ9
Por Bianca Dias































O frio repentino em Bauru não foi suficiente para espantantar o público no Jack nesse último sábado.

Aos poucos as pessoas foram chegando, preenchendo os espaços, todos na expectativa para ver as bandas e o frio ficou do lado de fora.

Antes dos shows começarem perguntei ao Siic, vocalista da Artigo DZ9?, quais eram suas expectativas em relação à noite: "Cada show é de um jeito, sempre uma surpresa". E realmente supreendeu. Hardcore rápido, objetivo, empolgante e letras com tom de crítica, a Artigo DZ9? mais uma vez representou muito bem a cena de Bauru e região. O som que contagiava cada vez mais uniu o público em frente ao palco e espantou o frio; nem todos se atreveram a dançar com o som, mas já foi suficiente para ver que a noite toda seria cada vez mais animada e caótica.


Noite Fora Do Eixo Ao Extremo # 666
Por João Paloso?


Enquanto o NX Zero entrava no palco do Rock in Rio...
e a Aleleuia Bitch subia no palco do Shiva....
Lá estávamos nós, assinando a marca dos três noves invertidos.

Mais uma noite extremamente barulhenta.

Esses dias, um novo-velho amigo tava me contando uma história que aconteceu em janeiro de 1985. Quando um bando de amigos loucos partiram para o Rio de Janeiro.
Era um chevette, correndo a uns trezentos quilômetros por hora, direto para um tal festivalzinho chamado "Rock in Rio".
Não tinham grana pra colocar gasolina.
Abasteciam o carro com gás de cozinha... Mandaram dois butijões de gás no porta-malas do carro, com um esquema de refrigeração de primeira.
A polícia ficava de cara...
O carro soltava uma fumaça diferente, mas não era do escapamento não...

Olhando pra trás, vimos o tempo passar muito rápido.
Aprendemos que nada tem fim.
E que nem todas a regras devem ser seguidas.

Essa é mais uma noite extrema.
Olhei para o 'De Buenas' e juntos brindamos o drink do inferno.

A primeira banda subia no palco. Artigo DZ9?
"É com interrogação mesmo! A gente sabe que os direitos devem ser conquistados pelas nossas próprias mãos".
O Artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos diz que:

"Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão".





O DZ9 responde com um "Foda-se" bem sonoro.

E aquele tal de "progresso"?
Brasil, Desordem e Regresso!

Isso sim.








Era a vez de Serginho subir ao palco.
O homem só que comanda a Feces on Display.
One-man-crazy-band.
Diretamente de São José do Rio Preto.
Um dos últimos shows dele antes da turnê no Chile.

Um som pesado... Muito pesado.
Nascemos para ser selvagens?
Creio que sim...

"Atenção, uma nova epidemia está no ar... "

É uma doença destruidora!
Pankreatite Necro Hemorrágica.

Entre os sintomas estão:

- taque cardia.
- descontrole do sistema nervoso.
- destruição dos tímpanos.
- inflamação da garganta.
- hemorragia geral, com jorramento de sangue contínuo!

Essa enfermidade age com uma velocidade incrível e vem se alastrando por todo o país.
Especialistas ainda alertam para um outro sintoma muito comum:

"Olho Seco"

(...)
Putz... percebi que meus olhos começava a secar...
Foi quando olhei para lado e vi o invisível Aran. Ele parou e disse:
- Porra precisa aumentar um pouco o som.

No final da noite estávamos conversando com Dee Dee Ramone.
Minha cabeça tava explodindo.




Captação de Imagem: Eduardo Porto e Bruno Ferrari
Edição: Marcella Azevedo e Patrícia Fassa
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TODA A ARTE EXISTENTE EM MANDAR UM FODA-SE PARA A ARTE

23 de setembro de 2011
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Por Jayme Rosica
Fotos por Diogo Azuma

Isto não é um texto, isto não é uma pseudo-liçãozinha de moral, isto não é um manifesto anti-arte, seria pretensão demais. Isto não é porra nenhuma. Isto é apenas um amontoado de idéias tortas de uma mente meio perturbada.

Vou pular a parte de falar do bar, do público presente e etc., etc. e etc., pois nada teve mais importância na ultima edição do Quarta Dimensão do que o som da banda, a Chinese Cookie Poets.


Desprenda-se de tudo que lhe é familiar no que diz respeito a música. Jogue as canções em quatro tempos na lata do lixo, jogue acordes ensaiados e concepções musico-estéticas pré-moldadas pela janela, jogue métricas para dentro de um cofre, e, por gentileza, não o abra nunca mais.



Do Rio de Janeiro, para Bauru, de guitarras,baixos e baterias para os ouvidos. Som viajado, sem uma linha seqüencial lógica, cada nota é uma surpresa, distorções, muitas distorções, e barulho, muito barulho, no melhor sentido que se possa dar à palavra.

Tinha escutado um som da banda pela internet antes do show. Mas ainda sim me surpreendi com a sonoridade das músicas ao vivo. Um soco na cara de sua face programada para ouvir belos refrões. As expressões dos músicos era de uma extrema devoção pelo som que fazem. E não é para menos.

As únicas lições de experimentalismo musical que eu já tinha ouvido eram os shows da Bonequinho de Bauru (que por sinal já são lições sensacionais). Mas ainda assim foi diferente.

Confluência sonora, uma bateria destruidora, baixo marcante e a guitarra flutuando por toda essa base sem perder a toada jamais.

Sem refrões, sem a aceitação de todos os ouvidos, sem clichês.
Somente música.
Pois isso é o que basta!


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Pés de Macaco e dedos de gorila

20 de setembro de 2011
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Sábado, 17hrs, Jack bar.

Cá estamos nós, curtindo a brisa de um sábado a tarde bem ensolarado.
Viajando com a passagem de som do Cabana Café.
Ouve-se uma voz que é algo realmente delirante, surreal e sublime.
É aquele tipo de som que você espera que nunca acabe.
Puro delírio...



Tem muita coisa aqui no Jack, alguns não vieram só para apreciar a passagem de som.
Ao mesmo tempo, tá rolando as gravações do curta-metragem “O Magnífico Corriqueiro de Ivan”, um filme independente produzido por alunos da UNESP. Vimos uma equipe enorme de diretores, cinegrafistas, produtores, atores e figurantes, como eu.

Silêncio, gravando, ação...

Abro a minha Bavária gelada que recebi como cachê da figuração e avisto meu camarada Raul Seixas. “Vai com calma em rapaz...”

A vida é uma parada muito louca mesmo, né?
O último show da Pé. Nem dá pra acreditar.

Foram tantas viagens.
Tantas rodas.
Tantas risadas.

Como me esquecerei de momentos de pura insanidade, como quando viajamos para Assis, na “Semana da Liberdade Criativa”.

Não dá pra esquecer aquela energia pulsante, espontânea, contagiante.
Aquela cena com umas duzentas pessoas dançando e cantando eletricamente.
Uma galera que ouvia a banda pela primeira vez e até sabia as letras.
Uma das festas mais doidas que já vi.
Uma parada meio assim...

























Me lembro do primeiro show que vi da banda Pé de Macaco.
Era uma festa lá na Central, um dos lugares mais malucos do Universo.
Foi uma noite insana. Nem me lembro de muita coisa...

A banda não estava completa, alguns tinham viajado.
Foi engraçado. Os integrantes tavam meio improvisados e acabaram saindo fora no meio das músicas. Conforme o show ia rolando a banda foi se desintegrando.
No final tava só o Brisa fritando... Ele pegou a guitarra e tacou no chão.



Pode crer.
O bagulho foi intenso.
Sempre foi.

E agora um dedo de gorila...
Esse aqui é em homenagem a vocês...

Por João Paloso, nem tanto?
Fotos por Lígia Ferreira
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O passado passou rasgando

Por Guilherme De Buenas
Fotos por Lígia Ferreira

“Até 2012, se todo mundo sobreviver. Só os fortes ficarão!”

Frase esta que cabe por cá como epígrafe, desferida por Brisa antes de iniciar seu Bis. Mas calme lá, vamos ser mais lineares e começar pelo começo. Começo não, pelo milagre.

Sabadão recheadinho de opções. Teve quem colocou a beca invocada e chamou o parzinho para dançar um arrastapé, a galera que foi prestigiar o último show da e bailar ao som de Cabana Café, e eu, que estive em outro planeta, fui salvo por um milagre e cheguei em Bauru às 22h graças a duas almas lindas, espetaculares e que terão minha gratidão eterna. Sério. Ás vezes nem eu acredito que no fim tudo deu certo. Nessas horas que afirmo: é preciso fé cega!

Mas nessas mal traçadas linhas não cabe xurumelas de chapação. Vamos ao que interessa. Tenho uma ligação muito massa com o pessoal da Pé de Macaco, conheci o Pudim na matrícula, início de 2008, estávamos prestes a iniciar a vida acadêmica na mesma sala, convivi com essa nobre figura por 4 anos, muita do que sou e sei devo a ele, com certeza uma das pessoas mais fodas que eu tive o prazer de tomar muita cerveja na cidade-neón. O Cambota já era figurinha carimbada da minha sesmaria Ribeirão-pretana, sei das epopéias desse menino de longa data. Lembro como se fosse hoje do Brisa chegando na facul, cabelão no style e violão nas costas, o jovem não tinha pra onde ir, acabou ficando uns dias no Villagio 104B, minha antiga e saudosa moradia. Do Sagui vou me recordar para sempre de editar o vídeo dele do “Pau a Píxel”. Sujeito boa gente por demais, um cara definitivamente sem “gueri-gueri”. Sempre curti o som dos caras, minha vida bauruense, prestes a findar-se, tem como hino duas músicas: Relaxa, da Homem Bomba e a "Música da Naty".

Era o fim. O derradeiro. Fecha a conta, garçom que por hoje deu. Não um “hiato indefinido” igual ao Los Hermanos. Era o último mesmo. Despedidas são uma merda. É isso aí, ás vezes tudo muda e continua tudo no mesmo lugar. Um PUTA show, equalização nota dez. Redondinho ... Não dá para não destacar “O tempo não pára” e principalmente o BIS. Definitivamente o dia exato para ser “o dia mundial da compreensão”. Sorte de quem teve o prazer de fechar os olhos naquele momento. A casa caiu com a última música. Sem nomes, deixa o passado lá na casa do caralho. E era uma vez uma guitarra. De lavar a alma.



Uma breve nota sobre Cabana Café: vocês merecem todo o sucesso do mundo. Eles não são só uma banda que faz um som sensacional, são uma matilha, uma trupe, um conglomerado de malandros deveras bons de prosa! Definitivamente o fumódromo tem o elixir social. Galera boa de papo, fácil acesso, tomara que para vocês a noite tenha sido tão boa quanto para nós. Orra, tive até meu nombre dito no palco! Por mais que o tempo ateste em mudar as coisas de lugar, foi para sempre! E há de doer em quem fere ou sai ferido, não vou dizer que é ruim, ou que o gosto não me satisfaz. No começo é uma maravilha, mas no fim dói demais. Ah, só outra coisa, vocês ainda ficaram me devendo as bandas top 3, pode crê?



Por hora, fico por cá, defenestrando toda a minha perene tralha. E se os loucos curtem mesmo essa chatice medonha, vamos simbora daqui com um auditório pronto para nos aplaudir!

O tempo não pára e a gente ainda passa correndo ...


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Calm Down, Moses!

19 de setembro de 2011
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Pé na 4ª Semana da Canção Brasileira

Texto, Fotos, Captação e Edição de Imagem por Laís

Depois de “Uma Noite em 67” no Mercado Municipal (sem o sol de quase dezembro – aliás, muito o contrário disso – mas com muita alegria, alegria), a 4ª Semana da Canção Brasileira trouxe Karnak para a sexta-feira de céu escuro de nuvens sujas escondendo a clara e amarela lua lá em cima (que de tão linda até parece falsa).



O Karnak faz pouquíssimos shows por ano. Cerca de um ou dois e hoje eles estão aqui, em praça pública.

- Ele fica falando de oposto. ‘Ai, feio-bonito, branco-azul-amarelo, bacon-ervilha... Qualquer música do Karnak fala de comida, entendeu? De opostos... É uma fórmula básica! Eu não sei por que vocês estão aqui assistindo... eu tenho uma outra banda que é super famosa, chama Funk Como Le Gusta – interferiu o baixista entre músicas – isso sim é banda!

- Agora eu quero que vocês vejam ele tocando... como ele toca mal pra ca... esse m...– veio em contra-mão André Abujamra depois de mais algumas ensaiadas reclamações vindas da parte do baixista.

Terra de Oswaldo Cruz e Elpídio dos Santos, essa cidade... essa cidade conhecida como peças de retalho colorida e carnaval de marchinhas já venho tentando desvendar há um tempo. Uma cidade que mesmo ainda se reconstruindo, ainda badala diariamente o sino da sua matriz, que está no chão. É de frente para esse cenário cinematográfico de casas arquitetonicamente coloniais, cobertas pelas placas de madeira alternadas em branco e vermelho com símbolos do divino espírito santo em dourado (porque a religião é uma característica de São Luiz do Paraitinga), patrimônio histórico tombado, destruído pela enchente de 2010, que André Abujamra toca.



A receptividade de um povo que nos discursos traz o amor por um rio que lhes cerca e que há cerca de 1 ano e 9 meses lhes traiu, levando, comprometendo e destruindo tudo. Mas aos seus moradores ainda resta esperança e grandiosidade. Carregam na alma, nos imóveis e na memória as cicatrizes da enchente e ainda assim mantêm sonhos vivos e portas abertas.

- A sensação da reconstrução – me contou Abujamra depois do show frente à Matriz despedaçada – tava presente no show, a reconstrução não material, a reconstrução da alma de todo mundo, a reconstrução espiritual desse lugar que é maravilhoso e muito bonito.


Três datas movimentam o turismo por aqui: o Carnaval, a Festa do Divino Espírito Santo e a Semana da Canção (em que nos encontramos). Depois de cair e descer pelo Rio Paraibuna, contemplar dias de neblina intensa transformando araucárias e serras, incontáveis horas de filmagens e as mesmas de palestras, algumas novas amizades (alô Rio Claro, Franca, Araraquara e Rosana!), Karnak aguarda o fim da noite, marcando o fim da semana que vem chegando.



A fumaça de cor atravessando o coreto coloridamente luizense e oito músicos. Oito músicos dão muito som. Algumas partes do show do Karnak são iguais ao de Abujamra, histórias, brincadeiras de tradução, piadas. Mas o principal traço é a aura genial que o cerca. Pare para ouvir.


André Abujamra é mesmo um tradutor nato de milhares de línguas, como já tinha provado em Bauru, duas ou três semanas antes. Traduzindo até mesmo do português para o português e para o português de novo, com uma tradução diferente. (Pode isso?)

E veio um “calm down, Moses” quando Abujamra criou uma pista livre ao dividir o mar de gente à sua frente em duas partes para usá-lo de tambor humano. Divertido, interagindo completamente com a plateia, coreografado, interpretado, musicado: Karnak.


- Depois vocês pedem bis que a gente volta.



















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Diário #5: atemporalidade = intensidade

17 de setembro de 2011
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Depois de comentar sobre a intimidade com a vida virtual e o "abrir a tampa de cada dia", neste mesmo contexto, pauto a relação espaço-tempo que vem inquietando a mim e também a companheira Camila Cortielha. Estar imerso, vivendo 9 dias de festival, participando da coordenação de mais de 100 atividades significa dormir poucas horas (a média nos primeiros dias de Transborda foi de 3,5 - 4h), ser atento a possíveis brechas, estar disponível 25h por dia, facilitando temas, propondo soluções e, sobretudo, identificando perfis e pontos de estímulo pra manter a equipe em alta performance e feliz, disposta. (São dicas para uma gestão satisfatória).

Tudo isso está envolto pela intensidade de cada atividade que executamos, de cada conversa, reunião, risada, café-da-manhã, articulação ou crítica. Acho que é ela, que nos mantém. Peço ajuda aos universitários.

in.ten.si.da.de
sf (intenso+i+dade) 1 Qualidade do que é intenso. 2 Grau elevado. 3 Grau de força com que o som se produz. 4 Quantidade de eletricidade que passa por segundo num ponto dum circuito. I. do campo: valor do campo magnético que é igual à força exercida pelo campo sobre uma massa magnética igual a 1.

O tema surgiu quando percebi, na quinta passada, que a mesa do dia anterior, parecia que tinha acontecido há pelo menos 3 dias. Perguntei em volta. E a impressão era semelhante. A partir daí, começamos a observar com atenção o fenômeno e a discutir. E chegamos à intensidade. Como se aquele tanto de sentimentos, tarefas e pessoas coubessem nas 20h dos nossos dias.





Taí a Camila, uma das convidadas para a mesa "Cultura Digital e Comunicação", parceira no debate temporal

A Camila diz que essa impressão de tempo "tem muito a ver com a vibração da galera, é um contra ponto com o ambiente formal, é o lance de ter muita gente estimulada juntas, torna os momentos intensos, porque é o tempo todo, da hora que acorda até a hora que vai dormir, a gente voa no tempo".



E o Paulo, com o Clayton ao fundo; o Paulo é de Fortaleza e se tornou um grande camarada, um cara muito legal, daqueles que vc sente logo, compartilhamos discussões e até colchões 
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Diário de Bordo #4: Transborda-me mucho

14 de setembro de 2011
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No terceiro dia em Neves, a cabeça já acordava fixa em Belo Horizonte, começavam os primeiros planejamentos do Transborda (o site do festival foi hackeado, por isso o não-link): o gtalk pautava a pré-produção da cobertura. Em qualquer parte do mundo posso me sentir em casa abrindo a tampa do computador: meu trabalho está ali, bem como os meus amigos, os problemas, as lutas e visões de mundo que compartilho, o que meus amigos mais próximos estão fazendo e pensando, as músicas que mais gosto de escutar. A vida online é uma realidade impossível de ser ignorada, ela me supre, me forma e alimenta diariamente. Equilibrar os momentos on e offline é o principal desafio, transformando a rede como uma ferramenta potente para a luta diária e a busca pela evolução social (interna ou externa).




A formação híbrida e transversal está entre as características destas gerações amplamente conectadas

Assim, as boas vindas do Transborda, bateram na minha caixa de entrada com todas as orientações possíveis, logística impecável da Roberta Henriques, gestora de Sustentabilidade em BH.

Ei gente!
Como prometido, seguem as infos do Transborda.


Onde ficaremos? 
 Teremos dois QGs e pontos de hospedagem solidária: 1. Pomar da Floresta: é a casa do Outrorock, conjunto de bandas de BH. Eles usam o espaço para trabalhar e às vezes dão umas festinhas por lá.. De segunda a sexta almoçaremos no bandejão da UFMG jantaremos no Centro ou no bandejão novamente e lanches da noite e madruga e café da manhã no QG. No sábado, vocês almoçam cada um no Centro Cultural que estiverem cobrindo e jantam no centro. No domingo, todas as refeições (exceto café da manhã) no centro. 

 O que faremos? 
 Galera do CMM (Centro Multimídia), vocês saem todo dia às 8hs para a UFMG, onde terão reunião de pauta às 9h e as mesas começam às 9:30h. A tarde rolam as oficinas até às 18h e a noite tem programação a partir de segunda-feira com a mostra de vídeos. Galera da produção e distro, vocês podem optar entre participar da produção da Semana da Comunicação ou nos ajudar nos outros eventos. Clima: Os dias estão quentes aqui em BH, tempo bem seco. A noite rola um friozinho, mas nada demais. Tragam roupas leves, um casaco pra noite. Colchões e roupas de cama: Gente, estamos com poucos colchões, quem puder trazer ajuda muito porque o pessoal da vivência está circulando faz um tempo e não tem como trazer. Façam esse esforço plis! Tragam roupa de cama e toalhas.

À noite, nesta mesma sexta-feira, terceiro dia em território mineiro, ideias inovadoras para uma cobertura colaborativa diferenciada surgia. Continua...
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*Vale a lembrança de que o diário #3 foi-me censurado recomendado tirar do ar. Quem quiser ter acesso, entrar em contato aqui: gabriel@enxamecoletivo.org
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Sobre gritos, porões e autenticidade

12 de setembro de 2011
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Foto por Paula Mello, Gabriel Coiso e Marco Milani
Texto por Aline Ramos, Jayme Rosica e Paula Mello

Aline: Pé na estrada. Bauru cada vez mais ficava distante. Eu e o Jayme seguíamos rumo a Marilia. Uma noite de muita pedrada nos aguardava na 12ª edição do HC na Cidade.

Jayme: Ao chegar na casa onde rolaria o som, o Cão Pererê, fomos muito bem recepcionados pelo pessoal do Coletivo Desdobra, galera muito gente boa, além do pessoal de Assis que também veio contribuir com a cobertura.




Aline: Só pra lembrar, antes que todos eles, um gato nos disse oi logo quando adentramos o lugar. Mas saiu correndo, não deu tempo de perguntar seu nome. Só sei que era preto.

Jayme: O Cão Pererê é um lugar com cara de hardcore, um ambiente num estilo underground, com três níveis. Chegando pela porta o andar térreo é bem aconchegante, com algumas mesas e um balcão para se adquirir a passagem do estado sóbrio para o alcoolizado.

Paula: E nesse mesmo bar, rolava uma exposição. Quem entrava no 12º HC na Cidade já se deparava com o clima do evento exposto além do som. Literalmente, os três artistas convidados, Denão, Digão e Rodrigo Salomão, tatuaram as paredes do Cão Pererê. Traços feitos por agulhas estavam ali em quadros, ilustrações, desenhos, body suits, stencils. E nos corpos de muitos presentes. Por que não? A interação das artes gritava e ecoava com os ritmos intensos e não parava nas pausas para aguardar o próximo show. Não dava pra passar batido por tanta tinta, tanta vida e no decorrer da noite descobria-se um detalhe, uma cor, uma nota. Técnicas e escolas diferentes se misturavam em trabalhos autorais bem marcados. O espaço aberto não só para ver, mas também sentir. As pulsações e expressões que não se limitaram a uma plataforma, um título.



Jayme: A confluência das linguagens dava uma sensação de movimento. Nas laterais duas escadas, uma para um andar de cima, onde fica o palco, e a outra levava para o porão, funcionando como um portal de passagem para o mundo da cobertura colaborativa onde rolava a troca de ideias e onde o pessoal fritava na cobertura via Twitter e Facebook.




Aline: Logo me senti em casa. Um porão com tanta cara, com tanta opinião. Lá tinha sido o Cola Aqui que a Paula já havia me contado. Aquele lugar tinha personalidade. Aceitava tudo, conversas, livros, música, pessoas, arte e até uma sessão amadora de fotos “a la book” da banda Epcos.



Jayme: Mas falando agora propriamente dos shows a primeira banda a entrar em cena foi a D.O.S. conterrâneos de Bauru. Uma velha conhecida da cena da música extrema, que existe desde 1999, segundo me contava o guitarrista Virtu, “essa idéia de dar espaço para a barulheira é muito boa, esse som dificilmente arrumaria espaço sem essa iniciativa dos coletivos.”


A apresentação foi insana, a gritaria e a pancadaria musical soavam uma sincronia perfeita, servindo como uma abertura perfeita para o que ainda viria pela noite.

Aline: Quando subi um pouquinho no show deles, logo ouvi “Que goela é essa?”, acho que resume a reação da galera.




Paula: É mesmo, o pessoal fica atônito. Tentando entender, sacar qual é a do som.

Aline: E você reparou nas garrafinhas de água? Será que alguém pegou isso nas fotos?

Paula: É mesmo, show regado a água. A graça era o cantil.

Jayme: Na sequência, a Zefirina Bomba subiu ao palco, tocando seu som simples e direto, com muita interação com o público, contando diversas histórias e mandando um discurso politizado a respeito da atual situação de letargia do país.



Em certas bandas, acho que isso soa meio demagógico. Porém, com a Zefirina percebe-se que isso é algo que representa uma grande autenticidade da banda que demonstra levar mesmo a série a vertente política e ideológica.




Não posso deixar de registrar que achei o show fantástico. A banda mandou sons rápidos, às vezes emendando uma música na outra, empolgando o público, não conseguia manter atenção em mais nada além da energia que esbanjavam. O encerramento foi com um cover de Nirvana, justamente com a maior porradaria já criado pela banda de Seattle, “Territorial Pissings”.

Aline: E logo em seguida subiu a EPCOS no palco do Cão Pererê. O trocadilho de que o show foi épico é inevitável. Com uma proposta diferente, o som instrumental de Johnny Guit (guitarra), Thiago Correia (Contra-Baixo) e Rodrigo Correia (Bateria) não precisava de voz pra dizer. A todo momento me questionava pra onde corriam. O som progressivo cada vez mais me deixava ansiosa. Alguma coisa estava para acontecer, era preciso correr junto para acompanhar.



Chegaram com “Expresso Dinamite”, nos mostraram “Horizonte” e homenagearam o Baião com “Catuama Beach”. E foi na música seguinte que entendi o que estava para irromper. Quando não era mais possível enxergar os dedos que percorriam o contra-baixo, quando a bateria gritava, a guitarra que dava graça a tudo aquilo, decidiu piar. O ampli com mal contato, não sei bem, não permitia que Johnny executasse aquilo que tanto queria, tocar! Mesmo assim o show continuou, os gêmeos epcos seguraram a barra. Arriscaram mais uma. Johnny anunciou que não dava mais. Quando vi, sua guitarra estava no chão. “No penúltimo show da turnê, a primeira vez que dá problema. Mas faz parte”, explicou depois do show.



Paula: Você já viu? Acho que a Minutos Menores começa daqui a pouco Aline.



Aline: Dificil mesmo seria ser simples para a Minutos Menores. Não que haja muita invenção em cima de suas músicas. Como eles mesmos dizem, “hard core old school”. Mesmo que menores, os minutos são intensos. O público mais ainda. O pogo começou, alguns bauruenses perdidos no meio me faziam lembrar do show na cidade sem limites no mês passado. A galera fritando no bate cabeça, o vocalista Diego Max se entregando, não resisti. Entrei. E entendi tudo, não era uma questão de violência como há quem queira estereotipar, mas sim, de uma dança que expressa tudo o que se queira dizer. Como diz uma das músicas do Planet Hemp, “atitude e HC”. As meninas pediram “mais um”, os minutos ficaram maiores. Não havia jeito melhor pra acabar um show de hard core.


Paula: Aline, tem uma foto muito da hora sua na hora que você entrou na roda.



Aline: Opa, foi genial, há tempos que queria isso.

Jayme: Cabeças pensando juntas, pensam melhor. Uma noite de bom som, de boas lembranças e de bons frutos, é a somatória geral do encontro entre a cidade-sanduíche e a terra da bolacha.

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O que vem de cima me atinge

11 de setembro de 2011
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Texto por Leonardo Manffré
Fotos por Letícia Missurini, Flávia Battistuzzo e Aline Paes

Era quarta-feira, feriado. A cidade de Bauru estava suspensa em um ócio que parecia irritar até mesmo os mais velhos, acostumados com isso. Sonolência...

Nem os taxistas estavam com aquela grande vontade de trabalhar. Ligo para um, ligo para outro, que passa para aquele, que me dá o numero deste, que não está fazendo corridas, ou que está do outro lado da cidade.

Problemas?! Seria mais simples se ter dinheiro trocado em tempos de cartão de crédito fosse fácil.

Chego ao Shiva. Um pub requintado com uma parede de tijolos e uma ambientação característica. Um microcosmo indiano em meio a uma cidade que cheira a terra e poluição, típica do interior de São Paulo.

Sento-me discretamente em uma mesa, peço uma cerveja e, em um ambiente aconchegante, fico observando o que posso levar para casa como anotações para o texto.

Puts! Por um instante, lembro-me de que ao sair na correria de casa me esqueci do bloco e da caneta. Vou até o caixa.

- Opa, amigo, você tem um uma caneta ou um lápis para me emprestar?
Ele pega um bloquinho e me dá uma caneta.
- Fique a vontade!

Pego três folhas, e relaxo um pouco no banco. Apesar de estar em um ambiente que desconheço totalmente, com imagens que eu não sei o significado e só me parecem belas, sinto-me bem, acolhido.

Continuo observando e a discotecagem rolando...

Antes do show começar um susto: ao sair dançando do bar, um camarada deixa, sem querer, a garrafa cair e se desfragmentar, como uma granada, pelo chão. Observo a reação do cara, de idade desconhecida e profissão oculta, um pecado jornalístico. A fonte desconhecida procura o suposto dono do bar, eles conversam e eu penso: perder o cliente ou uma garrafa nova?

Após uma conversa, a atendente traz uma garrafa nova para o rapaz. Eu relaxo e quase deito na cadeira, já me sinto em casa. Peço outra cerveja.

Sobe no palco um rapaz de longos dreads e músicos. Baixo e guitarras semi-acústicos, sintetizadores e bateria. Esse era o Vitoriano de Fortaleza e sua banda.


Começam a tocar. A bateria é bem marcada e o baixo é forte, os sintetizadores e a guitarra ornamentam o som, e, quem esperava uma voz forte se surpreendeu com um sotaque cearense de uma voz fina e leve. Estilo Cidadão Instigado.

As composições de Vitoriano e o arranjo se fundem num som navegável. A chama da vela no castiçal ornamentado percebe o som e começa a dançar, não pára! Chama os dois touros da propaganda do Red Bull, logo atrás do palco. Eles continuam indo de encontro, mas, ao invés de trombarem, dão os braços e gingam em roda a cada compasso daquele ritmo alegre e circense.
























A raiva abre espaço para a alegria, tal como a forte queda da garrafa deu espaço para a compreensão. Nas palavras sotaqueadas de Vitoriano: felicidade compartilhada com uma galera massa.

Descem do palco leves, com o dever cumprido.

Leite, atuações impressionantes, flores, interpretações performáticas, Jim Morrison, risos, lamentações, Jimi Hendrix, maquiagem, corpos no chão, emoção, interação, gritos...



Após a bela apresentação do grupo Embaixada de Marte sobe no palco a Epcos, banda de Recife.
Sim, foi uma noite especial no Shiva. Bandas de uma das regiões mais caracteristicamente culturais num cenário de uma região totalmente simbólica e instigante: a Índia.

Epcos chegou tímida, logo saquei que seria algo instrumental. O guitarrista apresentou singelamente a banda, com uma humildade típica, de poucas palavras.
























Mas, separada por instrumentos, a timidez se transformava em uma comunicação fluida. Os músicos se cumprimentavam, conversavam, riam, choravam, gargalhavam entre eles através dos sons e simultaneamente o faziam com o público, que correspondia com a dança e euforia.

Tudo era comunicação!

Com variações ecléticas, os músicos pareciam também atingidos pelo ambiente multicultural de onde viviam: músicas em homenagens a praias, ritmos do nordeste, aspectos regionais...

Se a banda já tratava da união de diferentes músicos com diferentes gostos musicais ficou mais interessante ainda com a inspiração nordestina e riffs psicodélicos, pesados. Uma coisa diferente.

A vela, no castiçal, piscava atrevidamente e, só no final do show, os três lustres percebem e começam a dançar estranhamente. Só para impressionar...


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