A Banda Joseph Tourton e o pianista Vitor Araujo
Noite Fora do Eixo #11
Vídeo por Diogo Azuma
Fotos por Marina Wang, Diogo Zambello e Diogo Azuma
Enquanto Bauru terminava o feriado com o silêncio gritante vindo das ruas vazias, o Jack Pub abria as portas pro som com sotaque sulista. Dia 23 de junho, para alguns, mais conhecido como Noite Fora do Eixo 11, foi marcado pelas bandas Sabonetes (Curitiba – PR) e Parachamas (Blumenau – SC). A imprensa local divulgou, os fãs confirmaram presença no Facebook, Bauru estava pronta.
Já com os cabelos molhados, Alexandre ajeitou a franja que insistia cair sobre seus olhos e agradeceu quem esteve ali com um simples “valeu!”. Alex distribuiu mais sorrisos e empolgação na bateria, enquanto Paulo Henrique insistia em apontar o teto com seu baixo. Alberto que encantou toda a apresentação com seu trombone, trouxe em sua camiseta lilás, já suada, todo o desejo e espírito da banda com a frase “revolution is coming”. Mais tarde, os meninos de Blumenau, enquanto descansavam no bar pediriam pra colocar no texto a seguinte mensagem: “os Parachamas querem conquistar o mundo”. Está ai!
Canja Hip Hop
Edição: Diogo Azuma
Anjo Gabriel
A (p)Arte da Vez
O tradicional e o inovador misturados numa manhã puramente artística de domingo
Por Laura Luz
O DESFILE
Era uma intervenção por entre as barracas. Olhos atentos ou tediosos, todos voltados para aquela cena incomum na feira de domingo. Um desfile lúdico, de personagens estranhos e carregados,que bem ou mal prendiam a atenção de quem havia saído de casa com outros fins e dificilmente imaginava se deparar com algo assim.
O cenário era nada menos que a Feira do Rolo, uma feira tradicional em Bauru, com mais de 30 anos de existência localizada na Rua Júlio Prestes, bem no centro da cidade.
Meninas de saia hippie e flor no cabelo dançavam ao som da bateria da Ouro Verde junto de homens vestidos com artigos de mergulho, corcunda de tartaruga, uma barriga artificial respeitosa e tinta no corpo. O mais intrigante, na verdade, foi ver outro homem vestido de peixe, privado de sua mobilidade dos braços, com um salto alto enorme e mesmo assim desfilando sem perder a pose.
Por alguns momentos fiquei com a impressão de que aqueles meninos seminus, os moços com pé de pato, as meninas pintadas e as hipongas eram tão diferentes e tão entrosados que queriam demonstrar algo com isso.
As pessoas que compravam na feira não se privavam de dançar e às vezes faziam os mesmos passos que os artistas, talvez até por falta de espaço, mas provavelmente por compatibilidade. E quando menos se espera aí estão eles outra vez, os caras com monitores na cabeça do Grupo Embaixada de Marte, agora nem tão destacados pela quantidade de bizarrices.
Confesso que até eu mesma que tinha ido com esse intuito me assustei com a aquele desfile de figuras incomuns. Tentei olhar de frente, mas só consegui acompanhá-los por de trás das barraquinhas. Por cada feirante que passava ouvia um comentário.
Na barraca de tapioca o senhor apitava descompassado com uma empolgação ímpar de quem por anos não via algo parecido naquele lugar. Em outro canto vi um senhor bater com a mão em uma escumadeira recém- comprada ao som da bateria.
Nas casas da região mais estranhamento. Mesmo sem a tradicionalidade, pessoas saíam nas sacadas para ver aquela espécie de procissão. Não consegui detectar olhares de reprovação, mesmo porque num domingo de manhã as pessoas não parecem se preocupar com a agilidade da fila da feira.
Depois disso tudo, de toda essa magia já me sentia satisfeita por aquela manhã e até um pouco envergonhada por ter descoberto o ambiente maravilhoso da Feira do Rolo sem o intuito puro de conhecê-la. Só depois fui descobrir que aquilo tudo era, na verdade, só um convite para que o verdadeiro show começasse.
AS APRESENTAÇÕES
Em meio a retirada de ingresso para um passeio na Maria Fumaça na Estação Ferroviária o/a bando(a) passou e ninguém se alarmou, era realmente um humor de domingo. Chegamos em mais uma parte incrível da Feira com artesanato caprichado e de muito bom gosto. Nesse espaço que as artes do (P)Arte da Vez iam realmente acontecer. Foi como entrar em um novo plano da Feira.
Descobri que o mesmo cara com bico e pés de pato que dava gritos guturais no desfile era o coordenador de tudo aquilo. Francisco Serpa, orientador de arte dramática, é o responsável pelo TUSP, o Teatro da USP de Bauru e foi através dele e de suas parcerias com outros grupos bauruenses que a ideia dessa assembleia de arte fez-se.
Estava tudo ali: música, artes visuais, pintura, instalações permanentes de grafitagem. “Escolhi a Feira do Rolo, porque é onde as trocas acontecem e essa troca não é de valores, é de conhecimento.”, justificou Chico na apresentação do evento.
A primeira apresentação foi da performance Flores Astrais sobre a orientação de Caíque Rufato, que eu por coincidência havia conhecido no SESC em uma sessão de documentário do Dzi Croquettes. E não era a toa. Todas as referências do inigualável grupo carioca dos anos 70 estavam naquela apresentação, incluindo os sorrisos e o rebolado.
Continuava o locutor com os chamados e entre eles o anúncio “A Embaixada de Marte esta presente aqui na Feira do Rolo”. Sim. Como eu já havia me dado conta no desfile, e ao som do apito da Maria Fumaça começava a apresentação. O público desviava o olhar se esquivando de uma possível interação, mas sempre com o sorriso no rosto.
Naquele espaço por um lado se via o emergir da pintura coletiva de um quadro com o desenho do vagão e de outro se via a grafitagem feita por mais um coletivo.
A próxima atração foi a Leitura Dramática do texto “Libedade, liberdade” de Millôr Fernades, em que meninas com a cara pintada mostraram só pelo recurso da entonação de voz toda a dramaticidade daquela peça.
Seguindo, o Núcleo de Estudos Paulo Neves fez a performance teatral “Saudação” e depois o Grupo Solar com fez outra intervenção, com muita dramaticidade em uma mistura de culturas tribais.
As apresentações seguiram com uma intervenção circense no tecido e depois uma declaração dramática do próprio Chico Serpa no palco enquanto um ser humano de cueca envolvido em filme plástico era domado por uma linda moça vestida com avental e máscara, ambos do Grupo Protótipo Utópico. Eles manuseavam pedaços crus de carne de forma agressiva e deixavam as crianças de olhos arregalados.
Os malabares de Artur Faleiros também não podiam faltar e em seguida mais surpreendente do que qualquer dramatização foi a apresentação do senhor Zé Francisco, em dança, música e poesia.Era um senhor que havia passado por mim sem que eu nem notasse sua presença artística, ele saltitava como um menino e sorria um sorriso largo e puro como sugeria o nome da sua apresentação toda autoral, “Virgem”. “Bravo Zé Francisco!”.
Um grupo de dança do Ventre composto por mulheres maduras em vermelho marcava quase o fim da manhã de arte. Essas mulheres fora dos padrões estabelecidos mostraram o quão sensuais podiam ser, arrancaram gritos da platéia e sorrisos de satisfação de Chico.
Pé de Macaco subiu ao palco logo após e uma improvisação coletiva fez-se logo embaixo. Ouvindo o pedido de “Chora bateria!” de Brisa sendo atendido, a manhã incomum se encerrou.
Fui andando pelas barracas em processo de desmontamento na feira e ouvindo as músicas e outros barulhos vindos de lá. Foi assim, assim que cheguei à conclusão que era ali a real forma de se fazer arte e que valia a pena lembrá-los sempre disso.
Fotos: Laís Bellini
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Cultura para toda Bauru
A Feira de domingo no centro torna-se espaço para todas as artes
Por Laís Bellini
Bauru é uma cidade feita de pequenas outras. Os bairros formam-se à distância do centro e criam seus próprios centros. Trabalho, comércio, lazer e moradia no mesmo lugar, cada habitante no seu bairro. Mas domingo é dia de feira.
A feira que acontece todo domingo próxima à Praça Rui Barbosa reuni habitantes de diversos bairros da cidade. A feira estende-se até o final da rua onde se instalou também a Feira do Rolo. Mais à esquerda, próximo à Ferrovia, encontramos a Feira de Artesanato. Três feiras em uma só são a atração de toda a cidade, de todos os bairros que passam a semana em seus cotidianos, pouco se envolvendo com o resto da cidade.
O domingo na feira faz os habitantes da cidade se tornar bauruenses, usufruírem do espaço público em comunhão com outros. Uns estão para vender, outros para comprar, outros ainda só para comer um pastel e aproveitar o fim do final de semana.
Com a proposta do TUSP, Teatro da USP, e apoio da Secretária de Cultura de Bauru e de parceiros culturais como o Enxame Coletivo, a Embaixada de Marte, o Palco Fora do Eixo, a Banda Pé de Macaco, o Solar Grupo de Teatro,a Feira ganhou um novo atrativo. Performances de diversos grupos já detalhados pela Laura no texto acima tornaram o espaço da feira, um ambiente prazeroso de convivência.
A intenção era unir vários artistas em ações de colaboração. "Durante o evento me senti em casa, com um relaxamento e uma diversão que nunca havia experimentado antes. A platéia, os atores, o espaço, todos colaborando para a celebração da maior troca de artes que participamos", conta o animado Xyco Peres, organizador.
O evento acontece todo terceiro domingo do mês sempre com novas bandas e atrações na Feira Estação Arte da Ferroviária de Bauru. Esse foi o primeiro, trouxe um público novo para os artistas, integrando cultura com a utilização do espaço público da cidade.
Portanto, utilizemos o espaço, aproveitemos nossa cidade com arte, cultura.
Esse é o gosto de ver e ouvir o que temos aqui na cidade e que é bom!
Valorizemos nossos artistas e apreciemos uma manhã de domingo, as terceiras!
Marcha da Liberdade - Bauru
Por João Paloso
A causa do outro também era minha. Formávamos um só grito.
O que estava em jogo era a liberdade de lutar pela liberdade.
O direito de se expressar livremente sem ser esculachado pela polícia,
como aconteceu em São Paulo.
O direito de lutar pacificamente.
Lutar contra o medo. Lutar contra o medo de lutar.
Lutar por todos. Pela coletividade, pelo amor e pela arte.
Apologia?
Sim, eu faço apologia. Faço apologia pelo que acredito.
Faço apologia todos os dias.
E os malucos na praça rui barbosa? Eles sim tinham muito pra dizer.
Eles, sim, são esculachados pela polícia diariamente.
Negados e renegados pela sociedade.
São muitos outros direitos humanos em jogo.
Direitos iguais pra todos! Esse é o grito.
"Lutar, criar, poder popular"
A marcha continua andando e a cada passo se torna mais forte.
Porque nós nunca nos renderemos às leis da Babilônia.
Liberdade, para muitos, pode ser um conceito liberal. Já li um texto do Clodoaldo Cardoso, meu professor de Ética e Filosofia, que tratava da diferença da liberdade liberal e da liberdade marxista, social. Ele dizia que “para o liberalismo, que vê a realidade unicamente do ponto de vista do indivíduo, liberdade é um direito natural e individual de expressão, autodeterminação e associação e igualdade, o acesso de todos aos direitos civis e políticos” Ok! Interessante. Devemos ser livres e iguais (perante a lei).
Mas e a liberdade de ser digno? Onde fica a dignidade humana em toda essa discussão construída? Não sei não. Só sei que uma marcha pela liberdade foi construída aqui em Bauru por estudantes que viram seus direitos serem atingidos.
O que faltou nisso tudo? Aglomeração de tantos mais diversos grupos que estariam ali simplesmente pedindo por dignidade. No Brasil muitos não o tem. O conceito que permeia toda a sociedade brasileira, assim, não procura associar a liberdade a direitos sociais e dignos. Poucos estavam ali, naquela marcha, pedindo por ter o que comer todos os dias. E aqui, escrevo isso, não pra ser mais um texto sobre a pobreza no Brasil, ou sobre o sofrimento do povo, escrevo falando sobre a liberdade que estes não tem de serem dignos da própria vida e desconhecerem, em muitas situações, o próprio direito que têm de reivindicar por isso. Peço, aqui, portanto, que lutemos sim por liberdade, que continuemos esta luta, mas que seja uma luta, antes de tudo por dignidade, um direito de todos e que a todos não chega. Peço por um direito e um conceito de liberdade social.
Triste voltar à realidade
Canja Verde
Por Ana Laura Mosquera
Fotos por Bruno Christophalo
Canja no parque – a vez do Hip Hop: Dom Black, Slim Rimografia, Thiago Beats e Emicida
Logo no domingo à tarde, quando estava chegando no Vitória Régia para o Festival, vi uns moleques andando de skate perto do parque, alegres e cantando versos de Triunfo, do Emicida. Abri um sorriso no rosto e tive a certeza de que o show da noite seria sensacional. E foi.
Após uma pequena demora para o início do show devido ao acumulo de atrasos durante o dia todo, era em torno das dez da noite quando “Da Ponte Pra Cá”, dos Racionais MC’s começou a ecoar nas caixas de som do Festival Canja 2011 vindo das pickups de DJ Nyack, para o delírio de quem estava esperando o rapper paulistano há algum tempo.
Em seguida uma marcha militar começa a soar e Leandro Roque de Oliveira, o Emicida entra em cena, abrindo a apresentação com “Rinha (Já ouviu falar?)”, enquanto seu parceiro Nyack pedia para o público levantar suas mãos para o alto, sendo prontamente atendido na saudação de boas vindas para seu parceiro.
Com um flow que não parava nunca, Emicida disparava como uma metralhadora de rimas. Num dos pontos altos do show, pediu para o público levantar objetos e improvisou versos com eles. “Se você é sangue-bom levante suas mãos para o alto!” cantava junto com DJ Nyack, que deixou as pickups de lado por um momento para se juntar ao MC nessa música.
“Já que o rei não vai virar humilde, eu vou fazer o humilde virar rei”, canta um dos versos de Triunfo. E assim foi a apresentação de Emicida, uma celebração à cultura da rua, aos “maloqueiros”, à “quebrada”. E mesmo para quem não é desse meio era possível sentir a energia vinda da multidão e catalisada pelo rap que unia todos em uma só vibe. “A rua é nóiz”.
Infelizmente o show de Emicida teve que ser encurtado devido ao horário de entrega do Parque, cancelando o show da banda Seychelles, que tocaria em seguida.
Mas quando o último beat tocou, quando o último verso foi cantado e o “boa noite”, o agradecimento e a despedida foram ditos, Leandro Roque de Oliveira já tinha cumprido sua missão há tempos. Fez com que todos voltassem para casa mudados de alguma forma e, com certeza, com alegria estampada no rosto, como aquele sorriso que este que vos escreve já tinha dado mais cedo e que agora se repetia, com uma maior intensidade.
Obrigado, Emicida.
Canja no Parque - Sincopé e Pé de Macaco
Fotos por Jessica Mobilio e Lígia Ferreira
Canja no Parque - Vitrola Vil e Mantis
Entre artes e oficinas
“Quatro rodas? Só se for duas bikes”
Bate papo, cafezinho e a construção de uma cena
Por Renata Coelho, repórter Jornal Júnior
Canja Rock
Foto por Dayvison Domingues
Quando Mendigos Viram Poetas
Lei do tempo, agricultura natural e sobrevivência do planeta
B-boys, breaking e o rap consciente
Canja Vibe
Balaio Urbano
Onze de junho, Jack Pub, onze e meia da noite. Estava ali pela única coisa que poderia ter feito com que eu saísse de casa em uma noite gelada às vésperas de uma prova no sábado de manhã: música boa. E a noite foi de esperas e perguntas respondidas.