Não existe favela no Cartão Postal

10 de junho de 2011
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O hip hop como salvação e o cinema como ferramenta social no filme Cartão Postal e no videoclipe Rua Augusta

Por Laura Luz

Logo em seguida ao espetáculo, enquanto a tela de cinema gigantesca do Tetro da FOB se abaixava sobre o palco, os palhaços Ching Ling e Tiba gritavam lá de trás fazendo o show deles e o clima de circo custar a passar.

Mas uma hora o riso parou, imediatamente ao começar a mostra audiovisual com o filme “Cartão Postal” outro tipo de reação foi mostrada pelo público, uma mais séria, mas não menos positiva. O público continuou pequeno, não consegui entender o porquê. Imagino talvez que seja pela quantidade de eventos na programação do Canja ou mesmo pelo frio, só sei que foi uma pena o público não ter sido maior.

O longa faz parte do projeto de Lançamento Integrado de filmes do Clube de Cinema Fora do Eixo, assim como o Videoclipe do Rapper Emicida, “Rua Algusta” e fazem parte do catálogo da distribuidora DF5.

Como na programação do Canja, durante os meses de maio e junho, o longa Cartão Postal, de Josinaldo Medeiros e Wagner Novais e o clipe Rua Augusta, serão exibidos também em cineclubes de todo país.


O filme trata de um Rio de Janeiro nas favelas, algo que já é tendência nos últimos anos, mas de uma forma bem fragmentada, com mistura de estilo de documentário, contrastando e unindo ficção e realidade a todo momento. Com flashbacks que mostram o passado, o presente e o futuro de jovens que não tem outra meta a não ser o crime e nem tem um motivo para fugir disso.

O filme todo gira em torno de um traficante, o Beiço, e também de sua vida, de sua família e de quem o rodeia, e é como que justificada por cenas de um passado turbulento e violento, como se quisesse comprovar a teoria determinista.

Toda essa história é contada pelo trabalho do projeto Cinemaneiro da Assossiação Cidadela que já atendeu desde 2002 mais de 850 jovens de 18 favelas diferentes, ou seja, o filme com 70 minutos gravados, é intercalado por curtas inteiros, que ao mesmo tempo em que completam o filme, podem ser extraídos do todo. É contado por gente que sabe do que está falando, que vive a mesma história e isso faz dele ainda mais peculiar.

Essa experiência popular audiovisual mais que produzir longas traz pra mais pessoas a idéia de cinema como ferramenta social, sem explorar a imagem de ninguém e mostrando como a 7ª arte pode ser acessível e próxima da realidade.

Logo em seguida, e sem tempo para comentários, Cambota liberou o videoclipe "Rua Augusta" do Emicida, que mesmo já tendo sido visto por mim, naquele contexto me mostrou algo mais. O filme e o clipe tinham cenários diferentes, personagens diferentes, mas carregavam uma carga social que no fundo tinha o mesmo intuito.

A história da vida de uma prostituta acompanhada durante seu dia a dia de dona de casa, mãe e profissional do sexo mostrou o quanto de angústia os olhos de alguém pode carregar.

O tempo de ir embora chegou, os sorrisos voltaram nos rostos do público com um ar de satisfação por ter ido ali e provado um pouco das artes integradas que esse Festival propõe. Na saída o frio já não era mais insuportável.

Mais informações:
Imagem: divulgação

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