O que vem de cima me atinge

11 de setembro de 2011
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Texto por Leonardo Manffré
Fotos por Letícia Missurini, Flávia Battistuzzo e Aline Paes

Era quarta-feira, feriado. A cidade de Bauru estava suspensa em um ócio que parecia irritar até mesmo os mais velhos, acostumados com isso. Sonolência...

Nem os taxistas estavam com aquela grande vontade de trabalhar. Ligo para um, ligo para outro, que passa para aquele, que me dá o numero deste, que não está fazendo corridas, ou que está do outro lado da cidade.

Problemas?! Seria mais simples se ter dinheiro trocado em tempos de cartão de crédito fosse fácil.

Chego ao Shiva. Um pub requintado com uma parede de tijolos e uma ambientação característica. Um microcosmo indiano em meio a uma cidade que cheira a terra e poluição, típica do interior de São Paulo.

Sento-me discretamente em uma mesa, peço uma cerveja e, em um ambiente aconchegante, fico observando o que posso levar para casa como anotações para o texto.

Puts! Por um instante, lembro-me de que ao sair na correria de casa me esqueci do bloco e da caneta. Vou até o caixa.

- Opa, amigo, você tem um uma caneta ou um lápis para me emprestar?
Ele pega um bloquinho e me dá uma caneta.
- Fique a vontade!

Pego três folhas, e relaxo um pouco no banco. Apesar de estar em um ambiente que desconheço totalmente, com imagens que eu não sei o significado e só me parecem belas, sinto-me bem, acolhido.

Continuo observando e a discotecagem rolando...

Antes do show começar um susto: ao sair dançando do bar, um camarada deixa, sem querer, a garrafa cair e se desfragmentar, como uma granada, pelo chão. Observo a reação do cara, de idade desconhecida e profissão oculta, um pecado jornalístico. A fonte desconhecida procura o suposto dono do bar, eles conversam e eu penso: perder o cliente ou uma garrafa nova?

Após uma conversa, a atendente traz uma garrafa nova para o rapaz. Eu relaxo e quase deito na cadeira, já me sinto em casa. Peço outra cerveja.

Sobe no palco um rapaz de longos dreads e músicos. Baixo e guitarras semi-acústicos, sintetizadores e bateria. Esse era o Vitoriano de Fortaleza e sua banda.


Começam a tocar. A bateria é bem marcada e o baixo é forte, os sintetizadores e a guitarra ornamentam o som, e, quem esperava uma voz forte se surpreendeu com um sotaque cearense de uma voz fina e leve. Estilo Cidadão Instigado.

As composições de Vitoriano e o arranjo se fundem num som navegável. A chama da vela no castiçal ornamentado percebe o som e começa a dançar, não pára! Chama os dois touros da propaganda do Red Bull, logo atrás do palco. Eles continuam indo de encontro, mas, ao invés de trombarem, dão os braços e gingam em roda a cada compasso daquele ritmo alegre e circense.
























A raiva abre espaço para a alegria, tal como a forte queda da garrafa deu espaço para a compreensão. Nas palavras sotaqueadas de Vitoriano: felicidade compartilhada com uma galera massa.

Descem do palco leves, com o dever cumprido.

Leite, atuações impressionantes, flores, interpretações performáticas, Jim Morrison, risos, lamentações, Jimi Hendrix, maquiagem, corpos no chão, emoção, interação, gritos...



Após a bela apresentação do grupo Embaixada de Marte sobe no palco a Epcos, banda de Recife.
Sim, foi uma noite especial no Shiva. Bandas de uma das regiões mais caracteristicamente culturais num cenário de uma região totalmente simbólica e instigante: a Índia.

Epcos chegou tímida, logo saquei que seria algo instrumental. O guitarrista apresentou singelamente a banda, com uma humildade típica, de poucas palavras.
























Mas, separada por instrumentos, a timidez se transformava em uma comunicação fluida. Os músicos se cumprimentavam, conversavam, riam, choravam, gargalhavam entre eles através dos sons e simultaneamente o faziam com o público, que correspondia com a dança e euforia.

Tudo era comunicação!

Com variações ecléticas, os músicos pareciam também atingidos pelo ambiente multicultural de onde viviam: músicas em homenagens a praias, ritmos do nordeste, aspectos regionais...

Se a banda já tratava da união de diferentes músicos com diferentes gostos musicais ficou mais interessante ainda com a inspiração nordestina e riffs psicodélicos, pesados. Uma coisa diferente.

A vela, no castiçal, piscava atrevidamente e, só no final do show, os três lustres percebem e começam a dançar estranhamente. Só para impressionar...


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