Legalê + Criolo

21 de março de 2012
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UMA RAIZ MUSICAL E SUAS RAMIFICAÇÕES

Fotos por Bruno Christophalo
Texto por Jessica Mobílio
SALVE, SALVE BAURU! 

Com o cumprimento simples, o domingo recebia uma dose enérgica de música, a reciprocidade da banda versus a platéia, o jogo do lá e cá. Tribos diferentes encontram se para ouvir a banda Legalê que abriria o show do tão esperado Criolo. Mas nada de estereótipos, porque a mistura de estilos da Legalê somada às letras carregadas de Criolo deixa qualquer classificação à parte. Público tão heterogêneo, dos pés pelados ao tênis hype. 


São oito da noite e sobe ao palco o reggae, o ska, o funk mais o rock. A Legalê inicia o show e percebe-se fãs marcados. Ouvia-se a cada canção, alguém que cantasse junto. A platéia começou tímida e espalhada, mas realmente aqueceu o que seria a noite das rodas de break dance e até faixa com a frase “Rap é compromisso”.  


Ritmo acelerado e picos de energia que se quebravam em viradas. Presença de palco que sintetizava a razão pela qual a banda estava ali.  Com as letras autorais, “Me diga tudo”, “Skala da Praia”, “Buca” foram os pontos altos do show. Sem mesmo mencionar os covers embutidos na apresentação, como disse o vocal, Vinícius Costa, "Vamos de Paralamas agora" ou "Não há dinheiro que pague...".

E pra quem não conhecia o som, facilmente aderiu. Afinal, porque a mescla de estilos (quase sempre) agrada, e ainda melhor quando a banda expressa isso.

E agora, com o agradecimento simples "Valeu Bauru", terminava a primeira virada do domingo.

Quase nove e meia da noite, "Cri-o-lo, cri-ooo-lo".



CRIOLO: O MÉRITO DE UNIR UNIVERSOS DISTINTOS 

por Renan Simão

Na real, o grande mérito do Criolo (e do Emicida também) é modificar a estética do rap nacional sem deixar o legado de Racionais MCs e outros clássicos para trás. Essa mudança gera um fenômeno visto na Antiga Dolce no domingo, e que acontece aonde quer que o Criolo vá: todos vão ao show dele, desde o cara que mora nas quebradas da cidade até o cara de camisa flanela e cabelo liso... Ambos não param de cantar durante o show.

Apesar de não entender a realidade do rap nacional, o boyzinho reproduz o discurso e, querendo ou não, se infiltra dentro desse universo que ele não conhece (e nunca vai entender). Só entende quem é de lá, eu não sou.


, não tem sucrilhos, isso não existe. É pão com manteiga e café de ontem para começar o dia. Tem padaria que não vende pão. Os cachorros “passa” e é “pex pex”... a rua é a casa do cara. Jogo do bixo come solto. As criançada tão de HK e “são só por Deus, viu”. Um mundão aonde “as criança” chora e a mãe não vê. (As aspas são contravenção, o que importa é dizer o que deve ser dito e gíria não deve ser explicada. Aliás, gíria não, dialeto).

Talvez por influência de Daniel Ganjaman, produtor do disco e literal regente do show, Criolo sai (de leve) do formato rima-batida e vai caminhar pelo reggae, afrobeat, samba e o brega. E varia o discurso também. Ele é a crença amor na clichê (clichê?) “Não Existe Amor em SP”. Beat dançante em Mariô e Bogotá (Fela e Mulato, didático, mas obrigatório). Sambinha de quintal na forte linha de frente  de que quem tá lá, “não pode amarelá”. E brega com “Freguês da Meia Noite” que seria um Cauby Peixoto no boteco falando de “furta-cor” e “doce”. (Os medalhões podem ser brega e o doido do Grajaú, não?).


Criolo é som de preto, de pardo, de favelado e ostenta isso. A sacada é que música é universal, né, mano. E se é boa, não importa cor, mais ou menos dinheiro e poder. Pode ser na quermesse, no campão ou na balada dos “boy”, Criolo não esquece que “Rap é compromisso” mas representa todo mundo... E quando começa a rimar não há fronteiras para entender a realidade de um outro universo. É tudo um, é música.

Fotos de Bruno Christophalo e Renan Simão

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