Respeitável Público

19 de março de 2011
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Texto por Laís Semis
Fotos por Diogo Zambello

Uma Kombi estacionada no meio da praça chamava a atenção de quem passava desavisado pelo calçadão. Não bastasse isso, ela era metade amarela, metade branca. Como bem lembrou o Diogo Zambello, ela era idêntica à Kombi que aparece no filme “Pequena Miss Sunshine”. Música de circo tocando. Crianças circulavam ao seu redor, enquanto o Grupo Zibaldoni se produzia e se transformava. Crianças um pouco mais tímidas sentadas nos degraus da Praça Rui Barbosa ao final da tarde. Outras, menos quietas, iam meio fugidas dos olhares dos pais tocar a água e se molhar um pouco na fonte.

- Senhoras e senhores, não percam tempo! Se aproximem! – convidava um deles ao microfone, falando como um desses personagens de desenho animado de circo. Sempre representado por um cara com chapéu, de bigodinho e um sotaque estrangeiro. Pertinente, diga-se de passagem, já que o espetáculo leva o nome de “De Gran Circo Internazionalle”.


O palhaço quis testar a Lei da Gravidade junto ao seu companheiro atrapalhado Biscoio (era esse mesmo o nome dele?). Um número de malabarismo com laranjas – e foi difícil acontecer com Biscoio comendo as frutas dos números. Com sua voz fina, engraçada e meio incompreensível (“uia” e “aaah, tááá” eram as únicas coisas claras em sua fala) e pés tortos para dentro fez a diversão do público infantil. Mas a integração num espetáculo de rua, deve acontecer e sobrou malabarismo até pro Artur Faleiros, que estava na produção do evento com o Enxame Coletivo, que teve de trocar a platéia pelo palco-praça. “Vamos ver agora como é gostoso estar do lado de cá”, disse um dos palhaços se sentando no lugar do Artur enquanto ele tomava seu posto de malabarista

Teve malabares, chicote, dança, música e também lição ambientalista.


- Jogaram papel no nosso picadeiro! – exclamou o colega palhaço. E quem jogou teve que pegar o papel e fazer cesta no baldinho das laranjas.


Folheto da programação do Grito Rock? O companheiro

Biscoito arrancou um pedaço com a boca e mastigou a programação.



Os adultos iam passando pelo calçadão e parando para assistir ao espetáculo. E o tal companheiro Biscoio continuava causando; o colega pedia postura de artista e ele fazia uma pose. Às vezes, ele fugia do controle do colega, pedindo silêncio freneticamente, correndo pela praça com o chicote e gritando, como se o palhaço tímido e atrapalhado fosse criando coragem. Mas, depois de um tempo de controle perdido, acabava se rendendo aos pedidos de atenção (e umas puxadas de barba) do colega. Ah, mas esse colega teve que pedir muitas vezes e ser muito paciente até ser atendido.


O espetáculo de rua foi bem participativo, tiraram uma moça pra dançar e um cara, o Reginaldo, que se libertou lá na frente fazendo um número com o Grupo Zibaldoni. Ele não se contentou, quis integrar mais do que com uma mera participação, quis ter seu próprio número e ao final da apresentação foi lá pegar o chapéu do colega. Biscoio correu atrás dele com um rolo de macarrão pela praça e tentou negociar o chapéu em troca de uma cerveja. Contudo, antes de chegarem a um acordo, o palhaço decidiu dar umas voltas com uma bicicleta que provavelmente arranjou com uma das crianças presentes.


Os narizes postiços da dupla de palhaços lembravam o de Pinóquio. Mas quem estava lá sabia que a diversão era totalmente verdadeira.


O Grito Rock migrou da Praça Rui Barbosa para a rua de frente à ela, no Automóvel Clube com mostras de curtas metragens relacionados de alguma forma com o Grito Rock, a Rede Fora do Eixo e a cena independente que é envolvida por tudo isso.


Os dois primeiros curtas faziam parte do Grito Doc 2010, um episódio sobre Hospedagem Solidária produzido pelo Enxame Coletivo e outro pelo Coletivo Esquina, de Brasília (DF), ilustrando um pouco do que é preciso pra fazer um evento como o Grito Rock acontecer... produção, parcerias e captação de recursos.


Em seguida, devia vir um curta sobre o Fora do Eixo, que já pelo início parecia promissor. Mas, por problemas técnicos o vídeo não foi muito longe e o documentário sobre o Festival RecBeat, de Recife, e sobre o cenário pós-internet entrou. O telão montado no andar de cima do Automóvel Clube transmitia muito do que essa cena independente que roda a América Latina tem a oferecer e contribuir.