Bauru não é sanduíche, é "meu chuchu-melão" - o olhar de quem produz

16 de março de 2011
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Chuchus e melões à parte, dá pra inferir pelo comentário como foi a Noite.
Mas, ela teve momentos tensos também, que começaram na mesma tarde do evento, quando descobrimos que a banda Pé de Macaco não chegaria à tempo para a passagem de som, prevista para às 18h. Correria.

A passagem precisou ser transferida para às 22h30, meia hora antes da casa abrir. Quem chegou cedo na balada se deparou com a porta fechada e explicações: "tivemos problemas e o bar só vai abrir daqui há 40 minutos". Passava das 23h30. Das 23h48. Lá fora, gente indo e voltando, sem desistir, se aglomerando ali na frente: às vezes a gente abusa da sorte.
Mas o Jack também teve problemas, a rede interna não estava conectando e quase não tivemos os cartões eletrônicos de consumo... 

Enfim, abrimos.
Parece que o público bauruense estava de ressaca do carnaval e não que tivesse curtido horrores, mas porque "o jovem não curte muito o carnaval e, mesmo sem frequentar, é bombardeado por todos os lados até empapoçar", ouvi da minha mãe ao telefone. É uma boa teoria; superamos a expectativa de público. Foi um dos meus melhores carnavais.

O que vi na Noite Fora do Eixo #9, assim como a Laís captou, foram jovens sedentos e uma banda tinindo, acho que todo mundo sentiu, eu vi na cara deles, vi na cara das meninas que não tiravam os olhos do palco e nem a dança do corpo. A Pé de Macaco está voando. E não era à toa.

É reflexo da turnê em quatro cidades mineiras, além do Grito Rock Ribeirão Preto. É consequência da intensidade da estrada, da reação do público, das dezenas de CDs vendidos, da responsabilidade e profissionalismo adquiridos a cada novo palco que você pisa. (O mais louco é que quando você cai na estrada, tem certeza que vai ser foda, mas não imagina quanto, e as coisas vão acontecendo, você deita na cama, esgotado e pensa, sente a vida pulsando firme: Caralho).

Ah claro, a Noite Fora do Eixo. Depois de um show eletrizante, ficou bem difícil pro Marco Nalesso & Big Bang Band. Ainda mais pensando que o quarteto faz um som instrumental, teoricamente sem carisma. Mas olha, a galera se divertiu bunito. Mais do que o público, a banda. "A gente ama Bauru", declarou o Yuri, percussionista. Em casa, durante o jantar (sanduíches de hamburguer de soja, especialidade do Grilo e suco de melão amarelinho) pra tocarem à vontade. Foi literalmente o que fizeram. Sorte nossa, o show foi enoooorme.

Olhei pro lado e não estava tão repleto como antes, em compensação tinha gente se divertindo pacas, tipo dançando de olho fechado. O poder da música.

Teve CDs de graça também. Se não venderam tantos como os Pé de Macaco, distribuíram na faixa, 20 exemplares do "Memorial", álbum lançado em 2010. Achei genial, o pessoal nem se sentiu acuado, foi lá e pegou na boa, quase no pé do Marco Nalesso, vocal e guitar. "Peguei dois, vou dar pro meu amigo", me confessou a Caror, que deu o segundo CD pro Magu, presença sempre ilustre na balada. (O Magu é um dos responsáveis por gravar a coletânea de rap Hip Hop Sem Limites (Samacô Records), que reuniu vários artisitas de rap de Bauru...)

Fim do show. Estava tranquilo, pois sabia que vinha mais pedrada pela frente. Não era o bis, era o o ápice, a "surpresinha", como anunciou o Brisa, vocal e guitar da Pé de Macaco. Em poucos minutos, sete músicos estavam no palco, uma jam que deu um puta up na balada. A troca de instrumentos, principalmente da percussão foi intensa. Só viagens instrumentais, groove pesado, elevei meu braço direito e bombei, pra baixo, pra cima. Olhava pro Lucas (Grilo), a gente não tava acreditando, sorriso de ponta a ponta, o corpo junto. O mic vazio porém, estava incomodando. Clamávamos por um letrista. E ai, fomos atrás dele, eu e o Lucas. "Vamo lá fazer uma rima, Magu?" A gente insistiu, mas a timidez venceu. Daí o Celso mostrou o Sérgio, colocamos nele e o cara representou lá em cima. Entrou no som, ou o som entrou nele.

Pouca gente sabe, mas o Sérgio esbanjou: cantou os índios da tribo Caingangues, que se instalaram na região de Bauru, uma tribo selvagem, de guerra mesmo. Quem podia imaginar? O Sérgio continuou no freestyle, rimou a terceira faixa da jam, a melhor, inclusive o som. A quarta foi a saidera. Passava das 4h20.

"Porra cara, quando a gente saiu do camarim era só névoa, a casa tava vazia", comentou o Marco. Esvaziou mesmo, bem rápido. Colamos na rodinha, no fumódromo do Jack, momento intimista total da produção com bandas, colaboradores e entusiastas. Só tinha gente que acompanha o processo de perto.

Passando de boca em boca, a gente era só sorriso, só relembrando a noite e trocando muita ideia. Acabamos concluindo duas coisas, pura filosofia das 5h da manhã: que a cena independente de Bauru (e a de várias cidades brasileiras) tem sim, uma nova cara. E, seja lá o que for isso, todos ali estavam de certa forma protagonizando um momento cultural da cidade.
A segunda conclusão é que o Bonadio está completamente por fora
  1. Essa noite foi intensa.

    Assim como a Laís, você captou bem o clima da noite no texto, acho essa visão pessoal muito importante, talvez a mais importante, ainda mais vindo de alguém como você, que realmente está no "olho do furacão" de toda essa movimentação linda que acontece em diversos cantos do país.

    Parabéns mais uma vez, pode ter certeza absoluta que essa noite foi só o começo de uma longa história.

    Abraço
    Rafa Cab.

    XUXU-MELÃO!

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