A cobertura da cobertura ou por que ser colaborativo?

14 de março de 2011
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A chuva já anunciava o começo da madrugada, o som já tinha começado e o celular toca. “Quem? Gabriela? Ah, a menina da Abril! Peraí que já to indo aí na frente”, disse.

A menina da Abril se chama Gabriela Loureiro, tem 21 anos e veio acompanhar o trabalho do E-colab nas Seletivas do Grito Rock de Bauru. Acompanhada de Alexandre Resende e Laura Capanema (companheiros de Curso Abril de Jornalismo), Gabriela foi incumbida de escrever uma matéria sobre coberturas colaborativas para uma publicação do Curso Abril, a Revista Plug. 

Mas por que a gente? O E-colab existe não faz um ano e já faz tanto barulho assim? Mais ou menos.

“Sou de Santa Maria (RS) e já participei de coberturas colaborativas como a do Macondo Circus 2009. Conheci o Gabriel lá, fiquei sabendo das coberturas daqui e vim”, conta Gabriela, que admite que a proximidade de São Paulo a Bauru também contou na sua vinda para o Jack Music Bar, Bauru.

A imagem que eu tinha de alguém da Abril era de alguém sério, profissional. Mas os nossos três caros convidados são moleques como a gente, da nossa idade. Trocam ideias, querem saber como tudo funciona, mas numa boa.

Simpatia da galera da Abril
Apesar da simpatia dos nossos “supervisores” da noite, é claro que tivemos que responder a muitas perguntas. Coisa de jornalista mesmo. É chato, mas você sabe que é parte do trabalho. Por exemplo, logo na primeira noite dois repórteres de texto não puderam comparecer (ah, a chuva bauruense) e eu e o Bruno Ferrari ficamos a cargo das impressões textuais. Ficou no ar o aspecto inquisitório da pergunta: “Mas só vocês dois pra texto?”.

Ou: “Falei com umas pessoas daqui do bar e elas não sabem o que é o E-colab.”

Jornalista tem que ser chato mesmo.

Pois bem, já que a Gabriela vai observar o nosso trabalho, é justo que eu escreva sobre a função dela, a qual na verdade, é jornalismo do mesmo jeito, porém com diferenças bem visíveis. Sendo uma reportagem mais extensa, ela falou com muito mais gente nas duas noites de seletiva. Perguntava nome completo, idade e faculdade. Abordava público, bandas e, claro, a galera da colaborativa.
 
Nós aqui do E-colab, priorizamos o conteúdo das falas mais do que as informações protocolares, como nome completo, por exemplo. As famosas impressões subjetivas são marca da nossa cobertura, mas nada que exclua os dados essenciais para o leitor saber o que aconteceu no show.

Ao longo de bandas, perguntas e cervejas, um assunto se destacou na minha conversa com a Gabriela: o motivo de se participar de uma cobertura colaborativa.

Digo: “Por que é alguma coisa que gosto, música cultura. Tenho liberdade para escrever o que quiser e como quiser. É legal.” Como ela já participou de um projeto desses, sabe o que está falando e prega que as coberturas colaborativas não são esse mar de rosas, de trabalhar sem pedir nada em troca, fazer o que gosta sem grana entrando nos bolsos. E ela se defende quando brinco que esse é um discurso de quem está na Abril.

“Eu também participei de coberturas assim e isso ajudou na minha carreira. Lá na Abril também tenho liberdade no trabalho e, na verdade, me sinto mais roots que capitalista”, afirma, categórica.

Certa forma, ela está certa. Todo mundo precisa comer e está despendendo de seu tempo por alguma razão. Experiência, portfólio. Quer mostrar que fez alguma coisa legal. No entanto, num raciocínio romântico e até ingênuo demais, é bom pensar que em algum momento da sua vida você pôde fazer um trabalho do seu jeito, que ajudou a difundir uma cultura alternativa que você acreditou e gostou de fazer parte.

Não sei se é isso o que a Gabriela estava procurando, mas isso é o E-colab.  

Texto: Renan Simão
Foto: Mariana Duré

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