Entrevista: Circo Motel

4 de junho de 2012
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Por Aline Antunes

Dia 21 de março de 2010, o Circo Motel se apresentava no primeiro Toma Roque. Esse show organizado pela minha grande parceira Pink Big Balls aconteceu em Itapeva, minha cidade natal, e eu não estava lá pra ver. Mas o fato de perder um show nunca me fez desistir de conhecer uma banda. O download amigo e o youtube estão aí pra isso!

E existe aquela frase que diz algo parecido com “Amigo de amigo meu, é meu amigo também!” Se não for isso, é quase. Pois então, Rafael Gregório, meu novo amigo!

Após fazer a resenha do clipe Sunshine da banda Circo Motel, segue a entrevista com o digníssimo vocalista.

Divugação/We Shot Them/Bea Rodrigues


O que a Virada Cultural de 2010 simbolizou para a banda? É possível notar uma mudança, e até mesmo uma evolução, do projeto “Circo Motel” para o “Sobre Coiotes e Pássaros”. Por quais fases a banda passou para que isso acontecesse?

Vou contar essas histórias juntas porque têm tudo a ver.

Depois que lançamos o EP Circo Motel, em 2009, rolou uma certa frustração em mim que tempos depois se manifestou nos caras também. Parecia mais um apanhado do que eu tinha sido até então do que uma foto do que eu era. Ali começou uma reflexão, e a gente começou a compor coisas novas. Lembro que tinhamos Sobre Coiotes e Pássaros (que não tinha esse nome), Miss Primavera e Rock n Roll ainda naquele ano.

No começo de 2010 a gente chamou o Rafael Charnet pra integrar a banda. Ele já tinha tocado com a gente por alguns meses depois do EP. O convite foi pra gravar Miss Primavera, mas ele ficou e é.

Aí vieram Dr. Twin e Metafísica (que era instrumental, porque eu tinha medo de cagar a música com uma letra, mas rolou), e veio o lance da Virada.

Esse show foi um marco, foi a primeira vez em que levamos pro palco e pras pessoas uma intenção verdadeira. É o momento da transição. Tem uns vídeos no youtube. Tem coisas que ficaram pra trás, tem coisas que cresceram desde então, está tudo ali.

Gravamos o disco a partir de 10 de julho. Foi logo depois de conhecermos o Chicão (Rafael Montorfano) e o Guto Gonzales, do Estúdio Lamparina. A gente ia pesquisar estúdios coisa e tal, mas fomos primeiro lá e não saímos nunca mais. O ambiente de lá foi definidor de certas escolhas no disco, principalmente a de gravar tudo ao vivo.

O Chicão produziu o disco, Gutão mixou, Daniel Brita masterizou. Chicão é o sexto integrante e guru espiritual do Circo, gravou altas teclas e escreveu arranjos de metais e me ensinou bastante nos de backing vocals também. Débora Lopes, Talitha Pereira e Carol Kaizuka gravaram as vozes, tudo em família. Sunshine e Bandeira foram as últimas músicas a aparecer. Bandeira era outra música e a gente bolou o arranjo dois dias antes da gravação. Foram semanas bem aventuradas.

Sobre "Coiotes e Pássaros" carrega uma forte influência da Tropicália. Foi proposital ou aconteceu com o desenrolar das composições?

Torquato Neto já era uma grande influência antes, inclusive Let`s Play That, do EP, é um poema dele. Caetano, Gil, Mutantes e Tom Zé são mesmo grandes referências. Artistas influenciados pela tropicália também são grandes pra gente, tipo o Devendra Banhart.

Quais são as grandes influências da banda?

Além do que já rolou, Rolling Stones - particularmente entre o Beggar`s Banquet e o Exile [on the Main Street] -, Tim Maia, gente do soul tipo Ottis Redding e Stevie Wonder. Aí tem as influências mais pessoais de cada um. O Rodrigão gosta muito de blues, o Charnet e o Fê são bem do groove, todos gostamos de Beatles, Bob Marley e Wailers também são bem grandes, eu sou louco por Jorge Ben, e tem as bizarrices íntimas e coisas bem velhas e finas tipo Chet Baker. Gente nova também, tem alguns contemporâneos que nos tocam, Céu, Garotas Suecas, Cidadão Instigado, Tulipa. Eu gosto bastante do Renato Godá e do Letuce. Dá pra ficar citando a noite inteira.

Como é ser artista independente, hoje, em São Paulo? 

Não sei se me vejo como um artista independente, porque não me sustento com isso, e na verdade adoro a atividade que me sustenta e miro fazer tudo junto. Feita essa ressalva, há dificuldades bem óbvias e conhecidas, mas há também facilidades e prazeres do tipo gravar um disco inteiro como você bem entender.

E fazer isso com pessoas incríveis, porque o que não falta em São Paulo são músicos, produtores, técnicos de som geniais e malucos. Sinto também que rola uma efervescência, uma coisa de um puxar o outro e todos se puxarem, é como estar num time de Neymars (ou Neymares?) e ter que fazer alguma coisa a respeito disso.

Vocês lançaram o clipe "Sunshine". Qual foi o critério de escolha da música? Quem idealizou o clipe e teve as principais idéias para o roteiro?

A gente entrou em contato com o Adolpho Veloso, que na época era amigo do Rafa, e mostramos o disco ainda inédito pra ele. Isso em final de 2010. aí ele voltou com uma ideia para Sunshine especificamente. Acho que a gente já tinha mesmo essa torcida por Sunshine. Foi a última música a ser escrita e a gente demorou muito pra entender o quanto ela é a mais indicativa do que provavelmente vamos fazer no próximo disco.

O Adolpho teve uma ideia inicial bem grandiosa, e a gente não foi capaz de executar. passou-se tempo e voltamos a falar sobre isso, aí surgiu meio conjunta a ideia simples e até mesmo simplória de juntar pessoas queridas num dia na praia e filmar isso. Ele pirou e chamou o Rafael Aflalo para ajudar. A partir dali eles dirigiram a coisa juntos. Nosso papel foi basicamente existir e se divertir. Tinha uísque e um bebê.

Foi produzido por quem?

Fizemos a produção nós mesmos, até porque foi bem simples. Botar a galera num apartamento, dividir em carros, fazer comida (essa parte é sempre com o Rodrigão, que cozinha como uma mãe). Vai uma grana, mas foi bem pouca na verdade. Os equipamentos todos foram providenciados por Adolpho e Aflalo.

Qual foi o local de filmagem?

Itaguaré, perto de Bertioga.

Quanto tempo demorou desde as filmagens, edição até o lançamento?

Gravamos em fevereiro, começo do mês. Ficou pronto em abril e começamos a mirar alguns objetivos e armar coisas para sair em maio.

Que veículos estão utilizando para a divulgação do clipe?

Os blogs são muito importantes, tem coisa de alto nível por aí nessa esfera. Deve rolar na MTV e em canais que passam vídeos. Na verdade a ideia é mostrar ao mundo, meio sem critérios. O vídeo ajuda a se comunicar com as pessoas, dizer o que passa pela mente. E já está ajudando com agenda. A gente curtiu muito essa coisa visual e vêm mais vídeos na sequência.


Gregório se despede dizendo: “Gostei das perguntas e foi bem divertido responder.”



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