BNegão & os Seletores de Frequência: um dos melhores shows do Brasil

15 de junho de 2012
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Por Renan Simão
Fotos: Paulo Soucheff

Se você preferiu ficar em casa para ver o jogo da TV (Corinthians x Santos, vocês sabem) em vez de ir ao SESC Bauru ver BNegão & os Seletores de Frequência, sinto dizer que perdeu um show inédito e um dos melhores da atualidade. Inédito, pois foi o primeiro da turnê do novo disco Sintoniza Lá  (trabalho de 2012 que demorou quase nove anos para sair) e uma das melhores apresentações do País por ter um setlist de dois ótimos discos, juntar na mesma ambiência, funk, soul, música afro-brasileira e crítica social em 1h40 de show e, o principal, fazer dançar.

Eu cheguei na segunda ou terceira música (atraso feito pelo pão integral com guacamole, longa história), e a famosa “Funk até o caroço” já estava tocando. O ginásio do Sesc estava com lotação média. Acho até melhor, quem estava lá não tinha que se abarrotar para conseguir um lugar para curtir. Todo mundo era área vip de um show foda, mais ou menos assim.

Ao lado de Bernardo dos Santos, o BNegão, os Seletores de Frequência são: Robson Silva (bateria), Fabiano Moreno (guitarra) e Fábio Kalunga (baixo), Pedro Selector (trompete) e Marco Serra Grande (trombone). E olhando bem, apesar de ser um power trio com metais, o grupo consegue passar por uma grande gama de estilos (dub, ragga, soul, hardcore, funk, afro, samba) e ainda mostrar unidade. A formação do show em Bauru ganha por orgânica, sem base eletrônica e efeitos como no Enxugando Gelo. Um verdadeiro soundsystem sem sintetizador, tudo na unha.

O setlist mesclou o clássico primeiro disco da banda, Enxugando Gelo (2003), e Sintoniza Lá (2012) que saiu semanas atrás, dividindo o show em atmosferas musicais. Mais suingado no início com “Prioridades”, o ragga cheio de rimas existenciais, “Reação (Panela II)”, ragga genuíno e “Enxugando Gelo” um rap arrastado. “Dorobo”, feito com Sabotage em 2003 é o que destoa do bloco pela rapidez e força da rima.

“Proceder/Caminhar”, “Vamô” combinam com a ótima “V.V”, música sobre karma, quando a guitarra de Fabiano Moreno dá lugar ao cavaquinho e Pedro Selector, trompetista, assume a guitarra para acrescenta a gafieira ao rap e ao funk característicos da banda. 

O hardcore tem seu lugar nas influências da banda e também no show. “Qual é o Seu Nome” e “Subconsciente” fizeram uns malucos baterem a cabeça por alguns minutos de felicidade lembrando de Bad Brains. Daí pra frente o funk e o afro abriram a pista de dança. “O Processo” groove até o talo com uma linha de baixo irresistível contrasta com “Essa é Pra Tocar no Baile”, que confirma a sugestão do nome. E “Bass no Tambô” fecha o mini-set, emblemática música que dá o tom do novo álbum: um groove num caminho para África. 

Para os que não conheciam as novas músicas (que já estão disponibilizadas no site da banda), o show ainda foi repleto de homenagens a influências da banda. Lee Perry (“Out of Space”), Jorge Ben (“Hermes Trismegisto Escreveu”), Speed, da primeira formação do Planet Hemp (“Stab”), Skank (o do Planet) (“Legalize Já”), Beastie Boys, lembrando da morte de MCA (“Shazam”), Chico Science (“A Praieira”) e Sabotage com duas: “Um Bom Lugar” e “Mun Rá”. 

Para finalizar, a também clássica “Dança do Patinho” concluiu um show que deixa o gosto de ser um dos melhores do País. Essa premissa tem um caminho fácil para argumentação: a soma de músicas de um disco clássico com outro pronto para ser tachado como um, faz um setlist poderoso. Tudo isso dentro de uma atmosfera de diversos estilos que tem versatilidade para experimentar (e fazer dançar) sem deixar a bola cair, rimar, ser relevante criticamente (e fazer dançar) e carimbar clássicos e versões com um claro objetivo: fazer cantar e dançar. 

Se você preferiu ver o jogão de quarta, azar, perdeu um showzaço.




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